Desnutrição Infantil: Kwashiorkor e o Marasmo

As pessoas ficam desnutridas se não conseguem utilizar ou absorver suficientemente os nutrientes dos alimentos ingeridos devido a doenças como a diarreia ou outras de longo prazo, como o HIV e tuberculose ou em infecções agudas que aumentam o risco de desenvolver desnutrição.

O período mais crítico para a desnutrição é dos seis meses – quando as mães geralmente começam a complementar a alimentação do leite materno – até os 2 anos de idade. Entretanto, crianças com menos de cinco anos, adolescentes, mulheres grávidas ou em período de amamentação, idosos e pessoas com doenças crônicas também são consideradas vulneráveis.

Estima-se que apenas 3% das 20 milhões de crianças com desnutrição aguda grave recebam o tratamento necessário para salvar suas vidas.

Origens da Desnutrição

 A desnutrição pode originar-se de forma:

  • primária : baixo nível socioeconômico – pobreza, privação nutricional, más condições ambientais levando a infecções e hospitalizações frequentes, baixo nível educacional e cultural, negligência, falta de amamentação, privação afetiva. Neste caso a correção da dieta bastará para que se obtenha a cura.
  • secundária: apesar de haver oferta existem outros fatores que impedem a ingestão e absorção dos alimentos – má-absorção, estenose do piloro, ou aumentam a sua necessidade – hipertireoidismo. Sua evolução estará na dependência da doença que a ocasionou.
  • mista: situação em que os dois mecanismos estão envolvidos.

A baixa ingestão energética leva o organismo a desenvolver mecanismos de adaptação: queda da atividade física em comparação com crianças normais; parada no crescimento (falta de ganho de peso e altura) e alteração da imunidade.

Grau de Gravidade

A desnutrição pode ser classificada por diversos critérios, porém no Estado de São Paulo, utiliza-se percentis (valores que dividem o conjunto ordenado de dados obtidos em 100 partes iguais). Os percentis de corte escolhidos foram 10 e 90. Assim, considera-se normal valores compreendidos entre os dois.

A gravidade da desnutrição também pode ser classificada segundo critérios de Gomez, em 1º, 2º e 3º graus, conforme a perda de peso apresentada pela criança.

  • Desnutrição de 1º grau ou leve – o percentil fica situado entre 10 e 25% abaixo do peso médio considerado normal para a idade.
  • Desnutrição de 2º grau ou moderada – o déficit situa-se entre 25 e 40 %.
  • Desnutrição de 3º grau ou grave – a perda de peso é igual ou superior a 40%, ou desnutridos que já apresentem edema, independente do peso.

Formas de Manifestações Clínicas da Desnutrição

  1. Marasmo: criança fica com baixa atividade, pequena para a idade, membros delgados devido a atrofia muscular e subcutânea, costelas proeminentes, pele se mostra solta e enrugada na região das nádegas, apresenta infecções constantes, comumente é irritadiça e seu apetite é variável.
  2. Kwashiorkor: déficit importante de estatura, massa muscular consumida, tecido gorduroso subcutâneo preservado, alterações de pele dos membros inferiores, alterações dos cabelos, hepatomegalia, face de lua, anasarca e baixa concentração sérica de proteínas e albumina, área perineal frequentemente irritada com dermatites e escoriações devido a diarreias. Apatia exagerada, raramente responde a estímulos e não apresenta apetite.
  3. Marasmo-Kwashiorkor: a origem pode ser de um marasmo que entrou em déficit proteico ou um Kwashiorkor que passou a sofrer déficit energético. Estão presentes: retardo da estatura, do desenvolvimento neuro psicomotor e queda da resistência imunológica.

MARASMO

KWASHIORKOR

Lactente (menores de 2 anos)

Grave privação ou absorção prejudicada de proteína, energia, vitaminas e minerais

Desenvolve-se lentamente; DPE crônica

Perda severa de peso

Perda muscular grave com perda de gordura

Crescimento: < 60% do peso para a idade

Ausência de edema detectável

Ausência de fígado gorduroso

Ansiedade, apatia

Apetite pode ser normal ou prejudicado

Cabelo ralo, fino e seco; facilmente arrancado

Pele seca, fina e enrugada

Lactentes mais velhos e crianças novas (1 a 3 anos)

Ingestão inadequada de proteína ou, mais comumente, infecções

Inicio rápido; DPE aguda

Alguma perda de peso

Alguma atrofia muscular, com retenção de alguma gordura corporal

Crescimento: 60% a 80% do peso para a idade

Edema

Fígado aumentado, gorduroso

Apatia, irritabilidade, tristeza

Perda de apetite

Cabelo seco e quebradiço; facilmente arrancado; cor alterada; torna-se liso

A pele desenvolve lesões

Tratamento para a desnutrição

O tratamento da desnutrição está intimamente relacionado com aumento de oferta alimentar, que deve ser feito de forma gradual em função dos distúrbios intestinais que podem estar presentes. Após a reversão deste quadro, fornecer dieta hipercalórica para a recuperação do peso da criança; corrigir distúrbios hidroeletrolíticos, acidobásicos e metabólicos e tratar das patologias associadas; obtenção de adesão da mãe ao tratamento, o que irá facilitar a recuperação da criança em menor tempo e com maior intensidade.

Por se tratar de um problema, em sua maioria das vezes, social é importante que a equipe de saúde esteja atenta, encaminhando esta família para assistentes sociais, comunidades de bairro e pastorais da criança para que consigam algum tipo de auxílio para suprirem suas carências.

A não criação de vínculo mãe-filho também pode levar uma criança a desenvolver desnutrição em função da negligência. Outras vezes a falta de informação leva a um preparo inadequado dos alimentos, levando a família a alimentar-se com uma dieta pouco nutritiva.

Os profissionais não podem culpar a família pela debilidade de seus filhos, cabe a nós orientá-los para evitar danos à saúde de nossas crianças e adolescentes, promovendo o fortalecimento do vínculo da criança com a família, com informação.

Referências:

  1. CARRAZA, F.R. et al Introdução ao Estudo dos Agravos Nutricionais. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8ºed. São Paulo: Sarvier, 1994. p.609-612
  2. CARRAZA, F.R. Desnutrição. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8ºed. São Paulo: Sarvier, 1994.p. 635-643
  3. IONEMOTO, H.F. & PETLIK, M.E.I. Anemias Carenciais. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8ºed. São Paulo: Sarvier, 1994.
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