Aquecer Fluídos Intravenosos no Micro-Ondas: Saiba por que não deve fazer isso!

O aquecimento de soluções intravenosas e subcutâneas pode ser fundamental para prevenir a hipotermia pós-operatória, já que a diminuição da temperatura corporal por líquidos frios pode ser significante quando grandes volumes de soluções parenterais são administrados.

A hipotermia é uma complicação comum na ressuscitação fluídica da hipovolemia dos pacientes. Os fluidos intravenosos (IV) quentes demonstraram ser um adjunto na reposição de volume para evitar esta complicação.

 O uso de fornos de micro-ondas para aquecer soluções cristaloides intravenosas, como a de cloreto de sódio a 0,9% (solução salina), teve início nos anos 1980.

Apesar de esse ser um método simples, rápido e amplamente disponível, a temperatura inicial não tem sido levada em conta no aquecimento das soluções.

A prática usual é colocar bolsas de 500 ml no forno de micro-ondas e aquecê-las durante 60 segundos à potência máxima; quando bolsas de 1.000 ml são usadas, o tempo é costumeiramente ajustado para 120 segundos.

Como a temperatura final dependerá da inicial, diferenças consideráveis poderão existir caso não sejam usados parâmetros mais precisos. Isso pode levar a soluções insuficientemente ou excessivamente aquecidas.

Uma prática muito comum é a estocagem de fluidos parenterais em depósitos onde a temperatura não é controlada. A temperatura desses fluidos tende a se equalizar com aquela do local onde são armazenados. Isso pode levar a diferenças significantes entre as temperaturas de soluções armazenadas no verão e no inverno.

Aquecer tais soluções com micro-ondas, usando sempre os mesmos ajustes, pode levar a temperaturas finais significativamente diferentes, já que as temperaturas iniciais são também bastante diversas.

O procedimento usual é ajustar os fornos de micro-ondas, de qualquer modelo ou potência, para a potência máxima e aquecer bolsas de 500 ml de solução salina durante um minuto, dobrando esse tempo para bolsas de 1.000 ml, sem considerar a temperatura inicial.

Não existem determinações legais na ANVISA/MS para o uso do forno de micro-ondas para aquecimento de soluções eletrolíticas. Nesse sentido, máquinas automáticas de aquecimento de fluidos intravenosos podem ser usadas, evitando a utilização de fornos de micro-ondas e de cálculos para seu uso, assim como microfissuras na embalagem, queimaduras, trombose venosa e hemólise geradas por superaquecimento.

Referências:

  1. Esnaola NF, Cole DJ. Perioperativenormothermiaduring major surgery: is it important? AdvSurg. 2011;45:249-63;
  2. Bagatini A, Nascimento L. Aquecimento de soluções cristalóides em forno de microondas: segurança e toxicidade. RevBrasAnestesiol. 1997; 47(3):237-44;
  3. Sieunarine K, White GH. Full thicknessburnandvenousthrombosisfollowingintravenousinfusionofmicrowaveheatedcrystalloidfluids. Burns 1996; 22: 658–69;
  4. Meyer et al. Estudo experimental do aquecimento adequado de solução cristaloide por micro-ondas e dedução de equação para seu cálculo. RevBrasCirPlást. 2012;27(4):518-22;

Manta Térmica: Prevenção da HIPOTERMIA

A hipotermia é definida como a temperatura corporal central menor que 36ºC e representa uma das complicações mais comuns durante o procedimento anestésico cirúrgico, incidente que atinge aproximadamente 70% dos pacientes.

Ocorre devido a abolição das respostas comportamentais após a indução anestésica, aumento da exposição do paciente ao meio ambiente (salas refrigeradas), inibição da termorregulação central induzida pelos anestésicos, redistribuição interna do calor, aberturas da cavidade torácica ou abdominal e infusão de soluções frias.

Uma boa parte dos pacientes em POI podem ficar internados para a recuperação em uma UTI, em temperatura ambiente amena, o que também pode prejudicar no controle térmico.

A Manta Térmica é indicado para a prevenção e tratamento da hipotermia em pacientes cirúrgicos, pós- cirúrgicos, pacientes na área de espera pré-operatória, gestante com calafrios durante anestesia epidural devido à hipotermia, ou qualquer paciente que sinta desconforto em qualquer área do ambiente frio das Unidades de Terapia Intensiva.

As Principais Indicações de uso da Manta Térmica

  • Indicado o uso em recém-nascidos e crianças submetidas às cirurgias, pois são mais suscetíveis à hipotermia;
  • Uso indicado em pacientes queimados, devido o alto risco de hipotermia;
  • Prevenção da hipotermia em pacientes idosos, devido o reduzido percentual de gordura ou massa muscular;
  • Diminui efeitos negativos da hipotermia em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos, resultando na redução de incidência de infecções de feridas cirúrgicas e tempo de recuperação pós-anestésica;
  • Uso indicado para pacientes com baixo peso corporal em cirurgias gerais, devido o risco de hipotermia;
  • Pacientes politraumáticos graves são indicados à prevenção da hipotermia, devido o risco associado a sangramento;
  • Infusão de grandes volumes de cristalóides, colóides ou derivados sanguíneos é indicado o uso de manta térmica para prevenir hipotermia;
  • Uso indicado para prevenir hipotermia irreversível e coagulopatia hipotérmica por transfusão sanguínea de infusão rápida;
  • Quando o paciente apresenta hipotermia no pré-operatório, o uso da manta térmica é indicado para prevenir hipotermia intra-operatória;
  • Em ambientes cirúrgicos com baixas temperaturas;
  • O uso da manta térmica para prevenir a hipotermia, reduz o tempo de recuperação do paciente e, consequentemente, seu tempo de hospitalização;
  • Sistema de micro temperatura controlada;
  • Fluxo de ar ativo em circuito paralelo de corrente de ar por convecção garantindo distribuição uniforme e contínua de ar quente no corpo do paciente.

Cuidados de Enfermagem

  • Posicionar a unidade de aquecimento próximo ao paciente e conectar a uma tomada apropriada;
  • Colocar a Manta térmica sobre o paciente com o lado perfurado próximo à pele;
  • Conectar a mangueira de ar à manta térmica, segurar o bocal da mangueira de ar com uma mão e pressionar a presilha do bocal com o polegar. Segurar a aba superior da entrada da manta com a outra mão, deslocar o bocal para a abertura e soltar a presilha do bocal;
  • Ligar;
  • Selecionar a temperatura e fluxo de ar apropriado;
  • Se o acesso ao tórax for desejado, romper cuidadosamente a área da fenda central;
  • Se for desejado acesso ao pé, romper cuidadosamente abrindo as áreas de fenda localizadas ao longo da borda abaixo da entrada da manta;
  • Monitorar continuamente a temperatura do paciente enquanto o sistema de aquecimento estiver ligado;
  • Não utilizar a manta térmica próximo a anestésicos inflamáveis, devido possível perigo de explosão;
  • Evitar contato com laser ou eletrodo eletrocirúrgico ativo com o material da manta, pois pode ocorrer combustão rápida;
  • Todas as feridas do paciente devem ser cobertas durante a utilização da manta térmica;
  • Não aplicar calor diretamente a feridas abertas;
  • Cautela ou interrupção do uso em pacientes durante cirurgias vasculares quando uma artéria que leve a uma extremidade for fechada;
  • Não aplicar a manta térmica a membros isquêmicos;
  • Utilizar com cautela e monitorar cuidadosamente ao utilizar em pacientes com doença vascular periférica severa;
  • Se ocorrer hipotensão, considerar reduzir a temperatura do ar ou desligar a unidade de aquecimento;
  • Se ocorrer algum mau funcionamento na unidade de aquecimento, esta deve ser desligada e notificada a ocorrência ao serviço de assistência técnica;
  • Garantir que o paciente esteja seco;
  • Monitorar continuamente a temperatura do paciente e regularmente os sinais vitais. Reduzir a temperatura do ar ou interromper a terapia quando a nomotermia for atingida.

Referência:

  1. Pagnocca ML, Tai EJ, Dwan JL. Controle de temperatura em intervenção cirúrgica abdominal convencional: comparação entre os métodos de aquecimento por condução e condução associada à convecção. Rev Bras Anestesiol. 2009;59(1):55-66.
  2. Panossian C, Simões CM, Milani WRO, Baranauskas MB, Margarido CB. O uso da manta térmica no intraoperatório de pacientes submetidos à prostatectomia radical está relacionado com a diminuição do tempo de recuperação pósanestésica. Rev Bras Anestesiol. 2008;58(3):220-6.