Modelo Calgary de Avaliação Familiar (MCAF)

O cuidado centrado na família tornou-se um dos pilares fundamentais da assistência em saúde, especialmente na enfermagem. Famílias não são apenas espectadores do processo de adoecimento; elas influenciam, são influenciadas e participam ativamente de todo o percurso de cuidado.

A saúde e a doença de um indivíduo estão intrinsecamente ligadas ao seu contexto familiar. No entanto, abordar a família de forma eficaz requer mais do que apenas perguntar o nome dos parentes; exige uma ferramenta estruturada e profunda.

É aí que o Modelo Calgary de Avaliação Familiar (MCAF) entra como um mapa essencial. Desenvolvido por teóricos da família na Universidade de Calgary (Canadá), este modelo oferece uma estrutura clara para nós, enfermeiros, avaliarmos a estrutura, o desenvolvimento e o funcionamento de uma família.

Para um estudante de enfermagem, dominar o MCAF significa transformar o cuidado individual em cuidado holístico e centrado na família, garantindo que as intervenções sejam culturalmente sensíveis e sustentáveis.

O que é o Modelo Calgary de Avaliação Familiar (MCAF)?

O MCAF é uma ferramenta de avaliação abrangente dividida em três categorias principais, que nos permitem olhar a família de diferentes ângulos:

Avaliação Estrutural

Esta esfera mapeia quem são os membros da família e como eles se relacionam, fornecendo o esqueleto do sistema familiar.

O Que Avalia:

    • Estrutura Interna: Quem faz parte do grupo (membros, subsistemas – conjugal, parental, fraternal).
    • Estrutura Externa: Os laços com a comunidade e o sistema de apoio social (amigos, vizinhos, grupos religiosos, profissionais de saúde).
    • Contexto: Raça, etnia, classe social, religião, e o ambiente (onde a família vive).

Nossas Ferramentas:

    • Genograma: Diagrama visual que representa a família ao longo de gerações (pelo menos três), incluindo eventos significativos, mortes e doenças.
    • Ecomapa: Diagrama que representa as relações da família com sistemas externos (escola, trabalho, igreja, serviços de saúde), mostrando a natureza desses vínculos (fortes, fracos, estressantes).

Avaliação do Desenvolvimento

Esta esfera analisa o ciclo de vida da família e como ela lida com as transições previsíveis (e imprevisíveis).

O Que Avalia:

  • O estágio do ciclo de vida em que a família se encontra (ex: casal jovem, família com filhos adolescentes, família no final da vida) e as tarefas que são esperadas em cada estágio.
  • Foco: Como a família se adapta a eventos como o nascimento de um filho, a saída dos filhos de casa, o divórcio, o adoecimento crônico ou a morte. O enfermeiro avalia se a família está “presa” em uma tarefa de desenvolvimento ou se está conseguindo progredir de forma saudável.

Avaliação do Funcionamento

Esta é a esfera mais dinâmica, que examina como a família interage e resolve problemas.

O Que Avalia:

    • Instrumental: Como a família realiza as tarefas diárias e práticas (alimentação, finanças, cuidado do doente).
    • Expressivo: Como a família se comunica (expressão de emoções, crenças, aliança, resolução de problemas).
  • Foco: A comunicação é fundamental aqui. Avaliamos se a comunicação é clara ou ambígua, se há excesso de emoção ou hostilidade, e como os membros demonstram afeto. A disfunção nessa área frequentemente sabota a adesão ao tratamento.

Por que o MCAF é importante na Enfermagem?

O modelo ajuda o profissional a:

  • Compreender o contexto familiar que influencia o paciente.
  • Identificar fatores de apoio ou risco dentro da família.
  • Desenvolver planos de cuidado mais humanizados.
  • Criar intervenções adequadas ao modo como a família funciona.
  • Reconhecer situações de vulnerabilidade, sobrecarga e conflitos.
  • Atuar com comunicação terapêutica.

A enfermagem, que está na linha de frente do cuidado, frequentemente precisa compreender as dinâmicas familiares para garantir adesão ao tratamento, orientar cuidadores e estabelecer relações terapêuticas efetivas.

Aplicação prática do MCAF no contexto clínico

Na prática, o profissional entrevista a família utilizando perguntas abertas, aplicando recursos como:

  • Genograma: representação gráfica da estrutura familiar.
  • Ecomapa: mapa visual das relações da família com o ambiente externo.

Essas ferramentas ajudam a identificar padrões de saúde, doenças hereditárias, relações de apoio, conflitos e recursos disponíveis.

Cuidados de Enfermagem Baseados no MCAF

O MCAF não é apenas uma ferramenta de diagnóstico; ele é o guia para o nosso plano de intervenção.

  1. Identificação de Recursos: Ao construir o Ecomapa, o enfermeiro identifica redes de apoio que podem ser mobilizadas para auxiliar no cuidado do paciente (ex: um grupo religioso pode ajudar com refeições ou transporte).
  2. Educação Orientada: Se a família estiver no estágio de luto (Desenvolvimento), a intervenção se focará em facilitar a expressão emocional (Funcionamento Expressivo), em vez de apenas focar nas tarefas práticas (Funcionamento Instrumental).
  3. Resolução de Conflitos: Se o Genograma mostrar um histórico de conflito familiar (Estrutural), o enfermeiro pode atuar como um mediador, ajudando a família a estabelecer uma comunicação mais clara para garantir a segurança do paciente.
  4. Envolvimento Ativo: O MCAF reforça que as metas de saúde devem ser negociadas com a família, garantindo que o plano de cuidados seja realista e aceito por todos os membros chave.

O Modelo Calgary de Avaliação Familiar permite que o estudante e o profissional de enfermagem tenham uma visão ampliada da família como unidade de cuidado. Ele organiza a prática clínica, facilita o vínculo entre profissional e família e contribui para intervenções mais eficazes e humanizadas.

Compreender a estrutura, o desenvolvimento e o funcionamento familiar é essencial para qualquer profissional que deseje realizar um cuidado integral e centrado na pessoa.

Referências:

  1. WRIGHT, L. M.; LEAHEY, M. Enfermeiras e Famílias: Um Guia para a Avaliação e Intervenção na Família. 6. ed. São Paulo: Lidel, 2021. (Esta é a obra seminal onde o MCAF é detalhado).
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Guia Prático para o Agente Comunitário de Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2020. (Buscar a aplicação de ferramentas de avaliação familiar na atenção básica). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br
  3. WRIGHT, Lorraine M.; LEAHEY, Maureen. Nurses and Families: A Guide to Family Assessment and Intervention. 6. ed. Philadelphia: F.A. Davis Company, 2013. Disponível em: https://fadavis.com
  4. BOUSSO, Regina Szylit; ÂNGELO, Margareth. Modelo Calgary de Avaliação Familiar: aplicação no contexto brasileiro. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 11, n. 4, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rlae/a/8jtnyT9X7NzyLDLZr7EqCqc 

Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)

A ansiedade é um dos transtornos emocionais mais prevalentes na população, e compreender formas adequadas de avaliação é fundamental tanto para profissionais da saúde mental quanto para estudantes e trabalhadores da enfermagem que lidam diariamente com pacientes em sofrimento emocional. Entre os instrumentos mais utilizados no mundo está o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), criado pelo psiquiatra Aaron T. Beck.

Este artigo apresenta, de forma clara e natural, tudo o que você precisa saber sobre o BAI: sua estrutura, como interpretar os resultados, onde pode ser aplicado, bem como os cuidados de enfermagem relacionados ao acolhimento e observação clínica de pessoas com sinais de ansiedade.

O que é o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)?

O BAI é um questionário psicométrico desenvolvido por Aaron Beck e colaboradores com o objetivo de medir a intensidade dos sintomas de ansiedade. Ele é amplamente utilizado em consultórios, ambulatórios, hospitais e pesquisas científicas por ser simples, rápido e eficaz.

Diferente de avaliações clínicas subjetivas, o BAI quantifica a ansiedade por meio de pontuações, permitindo acompanhamento ao longo do tempo e comparação entre avaliações.

Como o BAI é estruturado?

O instrumento é composto por 21 itens, cada um descrevendo um sintoma comum de ansiedade. O paciente deve avaliar a intensidade desses sintomas nos últimos dias, atribuindo notas de 0 a 3:

  • 0 = Ausente
  • 1 = Leve
  • 2 = Moderado
  • 3 = Grave

Os itens incluem sintomas físicos e cognitivos, como:

  • Sensação de desmaio
  • Taquicardia
  • Tremores
  • Sudorese
  • Medo de perder o controle
  • Pensamentos catastróficos

Ao final, as pontuações são somadas, resultando em uma classificação da ansiedade que varia de mínima a grave.

Interpretação da pontuação do BAI

Embora o BAI não substitua avaliação clínica profissional, ele fornece um indicativo importante:

  • 0 a 10 pontos – Ansiedade mínima
  • 11 a 19 pontos – Ansiedade leve
  • 20 a 30 pontos – Ansiedade moderada
  • 31 a 63 pontos – Ansiedade grave

Quanto maior a pontuação, maior a necessidade de avaliação especializada e, em alguns casos, intervenção imediata.

Importância: Um escore alto (moderado ou grave) sinaliza a necessidade de uma avaliação psiquiátrica mais aprofundada e o início ou intensificação de intervenções terapêuticas.

Quando utilizar o BAI?

O instrumento é útil em diversos cenários, como:

Na Atenção Básica

Profissionais podem utilizá-lo como triagem, especialmente em pacientes que relatam queixas emocionais, insônia ou sintomas somáticos não explicados.

Em Ambientes Hospitalares

Pacientes internados frequentemente vivenciam ansiedade devido ao adoecimento, procedimentos invasivos e incertezas. O BAI ajuda a identificar quem precisa de suporte emocional adicional.

Em atendimentos psicológicos e psiquiátricos

É uma ferramenta muito empregada para acompanhamento longitudinal, ajudando a avaliar resposta ao tratamento e progressão da ansiedade.

Em pesquisas científicas

Por ser padronizado e validado, o BAI é amplamente utilizado em estudos nacionais e internacionais sobre saúde mental.

Limitações do Inventário de Ansiedade de Beck

Nenhum instrumento psicométrico é perfeito, e o BAI também possui limitações:

  • Foca mais em sintomas físicos, podendo superestimar ansiedade em pessoas com doenças médicas (como hipertireoidismo ou arritmias).
  • Não faz diagnóstico, apenas indicação de intensidade.
  • Depende da autopercepção do paciente, podendo ser influenciado por negação, vergonha ou hipervigilância.

Cuidados de enfermagem diante de um paciente com ansiedade

A enfermagem desempenha papel fundamental na identificação e acolhimento de pessoas com sofrimento psíquico. Entre os principais cuidados estão:

Triagem e Avaliação Inicial

Em muitos serviços de saúde, o enfermeiro pode aplicar o BAI como parte da triagem inicial, fornecendo ao médico ou psiquiatra um dado objetivo sobre a intensidade da ansiedade do paciente.

Monitoramento da Intervenção

O BAI é uma excelente ferramenta para medir a eficácia do tratamento. Se o paciente estiver em terapia farmacológica ou psicológica, a repetição periódica do BAI (ex: a cada mês) nos ajuda a ver se o escore está diminuindo e se o paciente está respondendo ao tratamento.

Comunicação Empática

A ansiedade, especialmente a grave, é angustiante. Ao aplicar o BAI, o enfermeiro deve usar a oportunidade para validar os sentimentos do paciente (ex: “Entendo que as palpitações são muito difíceis de lidar”) e reforçar a necessidade de tratamento.

Intervenções de Enfermagem

Para pacientes com escores moderados ou graves, iniciamos intervenções de conforto e controle, como exercícios de respiração diafragmática e técnicas de relaxamento, enquanto aguardam a avaliação especializada.

Observação clínica cuidadosa

Mudanças visíveis como inquietação, sudorese, tremores, dificuldade para respirar e fala acelerada devem ser reconhecidas.

Acolhimento e comunicação terapêutica

Ouvir sem julgamentos, demonstrar empatia e criar um ambiente seguro para que o paciente possa falar sobre seus sentimentos.

Orientações claras

Explicar procedimentos, rotinas e motivos de intervenções pode reduzir significativamente a ansiedade no contexto hospitalar.

Encaminhamento adequado

Quando o BAI indica ansiedade moderada ou grave, ou quando há prejuízo importante na vida do paciente, é essencial encaminhar para avaliação psicológica ou psiquiátrica.

Promoção de ambiente mais confortável

Reduzir estímulos excessivos, garantir privacidade e permitir a presença de acompanhante, quando possível.

O Inventário de Ansiedade de Beck é uma ferramenta valiosa e de fácil aplicação para avaliar a intensidade da ansiedade. Profissionais e estudantes de enfermagem, ao compreender seu funcionamento, podem utilizá-lo como complemento às observações clínicas, contribuindo para um cuidado mais humano, integral e acolhedor.

Referências:

  1. BECK, A. T. et al. An Inventory for Measuring Clinical Anxiety: Psychometric Properties. Journal of Consulting and Clinical Psychology, v. 56, n. 6, p. 893-897, 1988.
  2. CUNHA, J. A. Manual da Versão em Português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
  3. BECK, A. T.; STEER, R. A. Beck Anxiety Inventory Manual. San Antonio: Psychological Corporation, 1993. Disponível em: https://www.pearsonclinical.com
  4. GAMA, C. S. et al. Adaptação brasileira do Inventário de Ansiedade de Beck. Archives of Clinical Psychiatry, v. 27, n. 2, p. 48-54, 2000.
    Disponível em: https://www.scielo.br/j/rpc/a/H7b8NpQcrGgVP822h6W7GLw. 
  5. OMS – Organização Mundial da Saúde. Anxiety Disorders. Disponível em: https://www.who.int

Escala de Avaliação Comportamental Neonatal de Brazelton

A chegada de um bebê é um momento único, mas também é um período que exige atenção especial à saúde e ao desenvolvimento. Para compreender melhor como o recém-nascido se adapta ao mundo fora do útero, a Escala de Avaliação Comportamental Neonatal de Brazelton (NBAS – Neonatal Behavioral Assessment Scale) é uma ferramenta essencial.

Desenvolvida pelo pediatra americano T. Berry Brazelton na década de 1970, essa escala vai muito além de um simples exame físico: ela permite avaliar a forma como o bebê interage, responde a estímulos e regula suas funções fisiológicas e comportamentais.

O que é a Escala de Brazelton?

A Escala de Brazelton é um instrumento padronizado que analisa o comportamento de recém-nascidos, geralmente entre o 1º e o 28º dia de vida. Seu objetivo é observar e entender como o bebê responde a estímulos externos e como regula suas funções internas, auxiliando profissionais de saúde e pais na compreensão das necessidades e capacidades do neonato.

Diferente de exames puramente clínicos, a NBAS considera aspectos como vigília, sono, respostas motoras, atenção e autorregulação, oferecendo um panorama completo do desenvolvimento inicial.

Estrutura da Escala

A Escala de Brazelton avalia 28 itens comportamentais e 18 itens relacionados a reflexos, mas, para fins de compreensão prática, esses aspectos podem ser divididos em sete áreas principais:

Habitação (Habituation)

Avalia a capacidade do recém-nascido de se adaptar a estímulos repetidos, como luzes fortes ou sons altos. Um bebê com boa capacidade de habitação consegue “ignorar” estímulos não importantes, poupando energia.

Orientação (Orientation)

Analisa como o bebê reage e direciona a atenção a estímulos visuais e auditivos, como a voz dos pais ou um objeto em movimento.

Motor

Verifica o tônus muscular e a qualidade dos movimentos, observando força, coordenação e postura.

Variedade de estados

Identifica os diferentes estados de consciência do bebê, como sono profundo, sono leve, sonolência, alerta e choro.

Regulação do estado

Observa como o recém-nascido mantém ou muda seu estado de alerta, principalmente quando exposto a estímulos.

Controle autonômico

Relaciona-se à estabilidade de funções involuntárias, como respiração, cor da pele e tremores.

Reflexos primitivos

Inclui reflexos como sucção, preensão palmar e o reflexo de Moro, que indicam integridade neurológica.

Estados comportamentais segundo Brazelton

Além da avaliação das áreas, a NBAS descreve seis estados comportamentais que ajudam na interpretação das respostas do bebê:

  1. Sono profundo: sem movimentos corporais, respiração regular.
  2. Sono leve: alguns movimentos corporais, respiração irregular, olhos fechados.
  3. Sonolento: olhos semiabertos ou fechando lentamente.
  4. Alerta tranquilo: olhos abertos, pouca movimentação, atento ao ambiente.
  5. Alerta ativo: olhos abertos, movimentos corporais mais intensos.
  6. Choro: som vocal alto, expressa desconforto ou necessidade.

Importância para a enfermagem

Para o profissional de enfermagem, especialmente em unidades neonatais ou de alojamento conjunto, a Escala de Brazelton é uma ferramenta que:

  • Auxilia na identificação precoce de alterações no comportamento ou no desenvolvimento neurológico.
  • Permite orientar os pais sobre como interagir melhor com o bebê.
  • Ajuda na individualização do cuidado, respeitando o ritmo e as necessidades do neonato.

Cuidados de enfermagem relacionados à aplicação da Escala

  • Ambiente calmo: realizar a avaliação em local silencioso e com iluminação suave para evitar sobrecarga de estímulos.
  • Observação minuciosa: anotar respostas sutis do bebê, como expressões faciais e mudanças no padrão respiratório.
  • Manuseio adequado: garantir conforto, posicionamento seguro e evitar manipulações excessivas.
  • Interação com a família: explicar os resultados de forma simples, destacando pontos positivos e áreas que precisam de atenção.
  • Registro completo: documentar todas as observações no prontuário, pois podem ser úteis para acompanhamento clínico.

A Escala de Avaliação Comportamental Neonatal de Brazelton é uma ponte entre ciência e sensibilidade. Ela permite que profissionais de saúde não apenas detectem problemas precocemente, mas também compreendam e valorizem as competências inatas do recém-nascido.

Para o estudante de enfermagem, conhecer essa escala é um passo importante para oferecer um cuidado mais humano e centrado no bebê e na família.

Referências:

  1. BRAZELTON, T. Berry; NUGENT, J. Kevin. The Neonatal Behavioral Assessment Scale. 4. ed. London: Mac Keith Press, 2011. Disponível em: https://www.mackeith.co.uk/shop/the-neonatal-behavioural-assessment-scale-4th-edition/.
  2. CARVALHO, Ana Cláudia de Souza; LOPES, Maria Helena Barbosa; FIGUEIREDO, Maria do Carmo. A aplicação da Escala de Brazelton na avaliação de recém-nascidos. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 66, n. 2, p. 287–292, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000200019. 

Escala de Dor BPS

A dor é uma experiência subjetiva e complexa, especialmente em pacientes críticos que podem não conseguir comunicar seu desconforto de forma clara.

Para auxiliar na avaliação da dor nesses casos, a Escala de Dor BPS (Behavioral Pain Scale) é uma ferramenta amplamente utilizada.

Nesta publicação, vamos explorar o que é a Escala de Dor BPS, como ela funciona, sua importância e como aplicá-la na prática clínica.

O Que é a Escala de Dor BPS?

A Escala de Dor BPS é uma ferramenta comportamental utilizada para avaliar a dor em pacientes críticos, especialmente aqueles que estão sedados, intubados ou incapazes de se comunicar verbalmente. Ela foi desenvolvida para fornecer uma avaliação objetiva da dor com base em sinais comportamentais e fisiológicos.

Como Funciona a Escala de Dor BPS?

A Escala de Dor BPS avalia três critérios principais, cada um com uma pontuação que varia de 1 (sem dor) a 4 (dor intensa). A pontuação total varia de 3 a 12, sendo que quanto maior a pontuação, maior a intensidade da dor.

Critérios Avaliados

  1. Expressão Facial
    • 1 ponto: Relaxada.
    • 2 pontos: Parcialmente tensionada.
    • 3 pontos: Totalmente tensionada.
    • 4 pontos: Contraída, com expressão de dor.
  2. Movimentos dos Membros Superiores
    • 1 ponto: Sem movimentos.
    • 2 pontos: Movimentos parciais.
    • 3 pontos: Movimentos de proteção.
    • 4 pontos: Agitação ou movimentos descontrolados.
  3. Ventilação (Resposta ao Ventilador Mecânico)
    • 1 ponto: Tolerância ao ventilador.
    • 2 pontos: Tosse ou resistência ocasional.
    • 3 pontos: Resistência frequente ao ventilador.
    • 4 pontos: Incapacidade de ventilar adequadamente.

Importância da Escala de Dor BPS

A Escala de Dor BPS é essencial para:

  • Identificar a Dor em Pacientes Não Comunicativos: Permite avaliar a dor em pacientes que não podem expressar verbalmente seu desconforto.
  • Guiar o Tratamento: Ajuda a equipe de saúde a tomar decisões sobre a administração de analgésicos e outros tratamentos para o alívio da dor.
  • Monitorar a Eficácia do Tratamento: Avalia se as intervenções estão sendo eficazes no controle da dor.

Como Aplicar a Escala de Dor BPS?

A aplicação da Escala de Dor BPS deve ser feita por profissionais treinados, seguindo estes passos:

  1. Observação do Paciente: Avalie a expressão facial, os movimentos dos membros superiores e a resposta ao ventilador mecânico.
  2. Atribuição de Pontuação: Dê uma pontuação para cada critério com base nas observações.
  3. Cálculo da Pontuação Total: Some as pontuações dos três critérios.
  4. Interpretação dos Resultados:
    • 3-4 pontos: Dor ausente ou leve.
    • 5-6 pontos: Dor moderada.
    • 7-12 pontos: Dor intensa.

Cuidados de Enfermagem no Uso da Escala de Dor BPS

A equipe de enfermagem desempenha um papel crucial na aplicação e interpretação da Escala de Dor BPS. Aqui estão os principais cuidados:

  1. Treinamento Adequado: Certifique-se de que a equipe está familiarizada com os critérios e a forma de aplicação da escala.
  2. Observação Atenta: Monitore o paciente de forma contínua para identificar mudanças no comportamento que possam indicar dor.
  3. Registro das Avaliações: Documente as pontuações e as intervenções realizadas para o controle da dor.
  4. Comunicação com a Equipe: Compartilhe os resultados da avaliação com a equipe multidisciplinar para garantir um tratamento adequado.

Limitações da Escala de Dor BPS

Embora seja uma ferramenta valiosa, a Escala de Dor BPS tem algumas limitações:

  • Subjetividade: A avaliação depende da interpretação do profissional.
  • Influência de Sedativos: Pacientes sedados podem apresentar respostas comportamentais reduzidas.
  • Não Avalia Todos os Tipos de Dor: A escala é mais eficaz para dor aguda e pode não capturar dor crônica ou neuropática.

A Escala de Dor BPS é uma ferramenta essencial para avaliar a dor em pacientes críticos que não podem se comunicar verbalmente. Com sua aplicação adequada, a equipe de saúde pode garantir um tratamento mais humanizado e eficaz, promovendo o conforto e o bem-estar dos pacientes.

Referências:

  1. AZEVEDO-SANTOS, Isabela Freire; ALVES, Iura Gonzalez Nogueira; CERQUEIRA NETO, Manoel Luiz de; BADAUÊ-PASSOS, Daniel; SANTANA-FILHO, Valter Joviniano; SANTANA, Josimari Melo de. Validação da versão Brasileira da Escala Comportamental de Dor (Behavioral Pain Scale) em adultos sedados e sob ventilação mecânica. Brazilian Journal of Anesthesiology, v. 67, n. 3, p. 271-277, 2017. ISSN 0034-7094. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.bjan.2015.11.006.
  2. Pinheiro, A. R. P. de Q., & Marques, R. M. D.. (2019). Behavioral Pain Scale e Critical Care Pain Observation Tool para avaliação da dor em pacientes graves intubados orotraquealmente. Revisão sistemática da literatura. Revista Brasileira De Terapia Intensiva, 31(4), 571–581. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20190070

Classificação de Ferida Diabética da Universidade do Texas

O pé diabético é uma complicação grave e frequente do diabetes mellitus, podendo evoluir para infecções, ulcerações e até amputações, quando não tratado adequadamente. Para que o manejo seja mais eficaz, a Universidade do Texas desenvolveu uma classificação bastante utilizada na prática clínica. Ela auxilia médicos e profissionais de enfermagem na avaliação do risco e no planejamento do tratamento.

Compreender essa classificação é essencial para os estudantes e profissionais da saúde, pois permite identificar o estágio da lesão, prevenir complicações e oferecer o cuidado adequado a cada situação.

Como funciona a classificação da Universidade do Texas?

A classificação avalia o pé diabético a partir de graus e estágios.

  • Graus (0 a 3): descrevem a profundidade da lesão.
  • Estágios (A a D): indicam a presença ou ausência de infecção e isquemia (redução do fluxo sanguíneo).

Essa combinação fornece um panorama detalhado da condição, sendo fundamental para orientar a conduta clínica.

Os Graus: A Profundidade da Lesão

Os graus de 0 a 3 indicam o quanto a ferida penetrou nos tecidos do pé:

Grau Descrição da Lesão (Profundidade) Significado Clínico
Grau 0 Lesão Pré-Ulcerativa ou Pós-Ulcerativa A pele está intacta, mas há alto risco de desenvolver úlcera (ex: calosidade espessa, deformidade óssea).
Grau 1 Úlcera Superficial A úlcera atinge apenas a pele (epiderme e derme), sem atingir tendões, cápsulas articulares ou osso.
Grau 2 Úlcera Profunda (Penetra Tendão ou Cápsula) A úlcera se aprofundou e atinge estruturas como tendões ou cápsulas articulares.
Grau 3 Úlcera com Envolvimento Ósseo ou Articular A úlcera atingiu o osso ou a articulação (osteomielite). É a lesão mais profunda.

Os Estágios: A Complicação da Lesão

Os estágios de A a D acrescentam informações cruciais sobre o estado da ferida, que têm um impacto direto no prognóstico do paciente:

Estágio Condição Clínica Significado Clínico
Estágio A Sem Infecção e Sem Isquemia A ferida está “limpa”, sem sinais de infecção e a circulação para o pé é adequada. (Melhor prognóstico).
Estágio B Infecção Presente A ferida apresenta sinais clínicos de infecção (pus, vermelhidão, calor).
Estágio C Isquemia Presente A circulação do pé está comprometida. A falta de suprimento sanguíneo prejudica a cicatrização.
Estágio D Infecção e Isquemia Presentes A ferida está infectada e o pé apresenta má circulação. (Pior prognóstico e alto risco de amputação).

Exemplo de aplicação prática

Um paciente pode ser classificado como Grau II, Estágio C: isso significa que há uma úlcera profunda atingindo tendão ou cápsula articular, acompanhada de isquemia, mas sem sinais de infecção.

Já um Grau III, Estágio D indica a forma mais grave, onde existe comprometimento ósseo ou articular, associado a infecção e isquemia.

Cuidados de Enfermagem

Nosso papel é de vigilância constante e intervenção especializada:

  1. Avaliação e Documentação: A cada curativo, é nosso dever classificar a lesão de acordo com o Texas. Documentar o grau, o estágio, o tamanho e as características da ferida no prontuário.
  2. Manejo da Infecção (Estágio B e D): Administrar antibióticos conforme a prescrição, realizar a limpeza da ferida (debridamento) e monitorar os sinais de sepse (febre, taquicardia, confusão).
  3. Cuidados com a Isquemia (Estágio C e D): Orientar a proteção da perna contra traumas e frio, e nunca massagear a área. Monitorar pulsos periféricos e a temperatura da pele, alertando o médico sobre qualquer sinal de piora circulatória.
  4. Alívio da Pressão (Grau 0 a 3): O principal cuidado é o offloading (alívio de peso). Orientar o paciente a não pisar sobre a úlcera, utilizar botas especiais ou muletas. O alívio de pressão é essencial para a cicatrização de todos os graus.
  5. Educação em Saúde: Enfatizar a importância do controle glicêmico rigoroso, que é a base para a prevenção e o tratamento de todas as complicações do pé diabético.

A Classificação da Universidade do Texas é a nossa bússola no cuidado das lesões diabéticas. Dominá-la nos permite ser mais assertivos, eficazes e verdadeiramente defensores da integridade física e da qualidade de vida dos nossos pacientes.

Referências:

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023–2024). São Paulo: SBD, 2023. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/.
  2. ARMSTRONG, D. G. et al. Validation of a diabetic wound classification system. The contribution of depth, infection, and ischemia to risk of amputation. Diabetes Care, v. 20, n. 5, p. 855-859, 1997. Disponível em: https://diabetesjournals.org/care/article/20/5/855/20703/Validation-of-a-diabetic-wound-classification
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_cuidado_doencas_cronicas.pdf

Classificação de Killip na SCA

A classificação de (ou Killip-Kimball) é um sistema de pontuação que desempenhou papel fundamental na cardiologia desde há mias de três décadas, tendo sido usada como um critério de classificação para muitos outros estudos.

Durante o período de evolução do IAM, a migração dos portadores de uma classe mais baixa para uma mais alta está associada independentemente com elevação da mortalidade em muitos estudos, enquanto que os que evoluem com uma baixa pontuação têm uma menor probabilidade de morrer dentro dos primeiros 30 dias.

Como surgiu a classificação de Killip?

Em Outubro de 1967, os médicos Thomas Killip e John Kimball publicam no The American Journal of Cardiology a experiência de dois anos com 250 pacientes tratados por infarto agudo do miocárdio em uma unidade coronariana. A publicação falava de um sistema que, mais tarde, ficou conhecido como classificação Killip, que usamos até hoje no cenário de síndrome coronariana aguda.

Critérios de Classificação

  • Killip 1 (81/250 pacientes): sem sinais clínicos de insuficiência cardíaca, com ausculta pulmonar normal – cerca de um terço dos pacientes;
  • Killip 2 (96/250 pacientes): achados consistentes com insuficiência cardíaca leve a moderada (presença de B3, estertores pulmonares bibasais ou distensão venosa jugular) – cerca de um terço dos pacientes;
  • Killip 3 (26/250 pacientes): IC grave ou edema pulmonar franco;
  • Killip 4 (47/250 pacientes): choque cardiogênico, em que há evidência pulmonar e sistêmica de baixo débito cardíaco.

Este estudo tem, contudo, limitações, principalmente por ter sido uma série de casos, não cega, sem desfechos objetivos, não ajustada para fatores de confusão e não validada independentemente, além de ter sido feito em uma população de 250 indivíduos.

Apesar de todas estas dificuldades mostrou-se muito útil e a classificação de Killip permanece sendo empregada.

Referências:

  1. Killip T, Kimball JT. Treatment of myocardial infarction in a coronary care unit: a two year experience of 250 patients. Am J Cardiol. 1967; 20:457-464. ISSN 0002-9149
  2. http://en.wikipedia.org/wiki/Killip class

Escala de Serviço da Enfermagem: O que é, como funciona e como torná-la eficiente

Organizar o trabalho em uma unidade de saúde exige planejamento, principalmente quando falamos da equipe de enfermagem. Uma das ferramentas fundamentais para garantir que todos os turnos estejam cobertos com segurança e eficiência é a escala de enfermagem.

Se você é estudante, enfermeiro, gestor ou simplesmente alguém curioso para entender melhor como essa organização funciona na prática, este artigo vai te ajudar a compreender todos os detalhes sobre a elaboração e funcionamento das escalas de enfermagem.

O que é uma escala de serviço de enfermagem?

A escala de enfermagem é um documento organizacional que define os turnos e horários de trabalho dos profissionais de enfermagem durante um determinado período — que pode ser diário, semanal, quinzenal, mensal ou até mesmo anual.

Ela garante que a assistência seja prestada de forma contínua, 24 horas por dia, todos os dias da semana. Dessa forma, a escala permite que os serviços de saúde funcionem de forma organizada, sem sobrecarga para a equipe e sem deixar os pacientes desassistidos.

Quem é responsável por elaborar a escala?

A elaboração da escala geralmente fica sob a responsabilidade do enfermeiro-chefe ou gestor da equipe de enfermagem. No entanto, ela pode envolver também outros profissionais da gestão hospitalar, médicos e até mesmo o setor de medicina do trabalho, dependendo da estrutura da instituição.

Para montar a escala corretamente, o gestor precisa levar em consideração:

  • A carga horária prevista na legislação trabalhista (geralmente 44 horas semanais, podendo variar para 30 horas em alguns locais);
  • A quantidade de profissionais disponíveis;
  • As competências individuais da equipe;
  • As necessidades específicas da unidade.

Além disso, é fundamental garantir que os horários estejam dentro da legalidade e que haja cobertura suficiente em todos os turnos, principalmente em áreas críticas como pronto-socorro e UTI.

Como os períodos de escala são definidos?

As escalas podem variar de acordo com a dinâmica da instituição. Veja abaixo os principais modelos adotados no Brasil:

Escala Diária

É mais rara e costuma estar inserida dentro de modelos maiores. Define o horário do profissional para cada dia, mas, por oferecer pouca previsibilidade, não é a mais indicada para o planejamento pessoal dos colaboradores.

Escala Mensal

É a mais comum nos hospitais. Nela, os turnos são organizados com antecedência para o mês inteiro, permitindo que os profissionais se programem melhor. No entanto, pode haver alterações de última hora, dependendo da demanda da instituição.

Escala Anual

Utilizada em instituições que precisam de previsibilidade a longo prazo, a escala anual organiza os turnos para todo o ano. É mais estável e permite que o profissional antecipe compromissos, folgas em feriados, entre outros.

Tipos de escala de serviço enfermagem

Escala Fixa

Nesse modelo, os profissionais trabalham sempre nos mesmos horários e turnos. É comum em locais com rotina mais previsível, como clínicas e ambulatórios. Apesar de ser mais fácil de organizar, pode não ser flexível o suficiente para lidar com variações no fluxo de pacientes.

Escala Rotativa

Permite que os profissionais se revezem entre turnos de manhã, tarde e noite, em ciclos. Isso ajuda a equilibrar a carga de trabalho e pode evitar desgastes relacionados ao excesso de trabalho noturno ou diurno.

Escala de Plantão

Utilizada em setores como emergência e terapia intensiva. Os profissionais trabalham em plantões longos, geralmente de 12 ou 24 horas, seguidos de períodos de descanso. A vantagem é a flexibilidade, mas exige atenção ao cansaço e à recuperação do profissional.

Escala por Demanda

Aplicada em unidades com fluxo de pacientes muito variável. Os profissionais são chamados conforme a necessidade, o que pode aumentar ou reduzir a equipe dependendo do movimento. Exige bom planejamento para garantir atendimento adequado.

Quais são as jornadas de trabalho mais comuns?

As escalas também variam conforme o tipo de jornada adotada. Veja os modelos mais utilizados:

Escala 6 x 1

O profissional trabalha por seis dias seguidos e tem um dia de folga. A carga horária diária é ajustada conforme a necessidade, respeitando a jornada semanal máxima.

Escala 12 x 36

Muito comum em hospitais, esse modelo permite que o profissional trabalhe por 12 horas e folgue por 36 horas. É vantajosa por proporcionar períodos maiores de descanso, mas exige atenção à recuperação do trabalhador.

Escala 12 x 60

Parecida com a anterior, mas com 60 horas de descanso. É uma opção cada vez mais usada e permite que o profissional cumpra 36 horas semanais com menos frequência de comparecimento.

Escala 24 x 48

Menos comum, essa escala consiste em 24 horas de trabalho seguidas por 48 horas de descanso. Embora permita mais folgas, é fisicamente extenuante e requer cuidado com a saúde do profissional.

Questões legais que precisam ser consideradas

Ao elaborar a escala, é essencial conhecer a legislação trabalhista vigente, especialmente a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Alguns pontos importantes:

  • A jornada padrão é de 8 horas diárias, podendo ter até 2 horas extras, totalizando 10 horas (Art. 58 e 59 da CLT).
  • O intervalo intrajornada, ou pausa para almoço, deve ter no mínimo 1 hora para jornadas superiores a 6 horas (Art. 71).
  • As horas noturnas (das 22h às 5h em áreas urbanas) devem ser pagas com adicional noturno e são contadas com 52 minutos e 30 segundos cada (Art. 73).

Além disso, o gestor precisa respeitar os acordos coletivos firmados com o sindicato da categoria, que podem trazer regras específicas sobre folgas, plantões e horas extras.

Como montar uma escala de enfermagem eficiente?

Montar uma escala eficiente vai além de apenas preencher horários. É preciso considerar aspectos técnicos, legais e humanos. Algumas recomendações importantes:

Conheça bem a legislação

Antes de tudo, o responsável pela escala deve estar bem informado sobre as leis trabalhistas e os tipos de contrato existentes na equipe. Isso evita erros que podem causar processos ou desgastes internos.

Avalie a demanda da instituição

Entender quais são os horários de maior movimento ajuda a alocar mais profissionais nos momentos críticos. Essa análise pode ser feita com base em registros anteriores, sazonalidades ou observações da rotina.

Mantenha o diálogo com a equipe

A transparência na construção da escala é essencial para o bom clima no ambiente de trabalho. Quando a equipe entende os critérios e sente que não há favorecimento, os conflitos diminuem e a colaboração aumenta.

Seja flexível quando possível

Imprevistos acontecem. Ter uma equipe de apoio ou banco de horas pode ajudar a suprir faltas inesperadas ou cobrir licenças. A flexibilidade também pode ser um diferencial para reter talentos na instituição.

A escala de enfermagem é uma ferramenta essencial para o funcionamento adequado das instituições de saúde. Ela garante que os pacientes recebam assistência ininterrupta e que os profissionais atuem dentro dos limites legais e com qualidade de vida.

Mais do que apenas uma grade de horários, a escala bem feita respeita a complexidade do cuidado, o valor do tempo e o bem-estar dos trabalhadores da saúde.

Referências:

  1. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
  2. FERNANDES, M. A.; MIGUEL, A. C. A. Gestão de Pessoas em Serviços de Saúde. 1. ed. São Paulo: Martinari, 2015.
  3. SOUZA, T. S.; OLIVEIRA, R. L. Planejamento de escalas de trabalho na enfermagem: um desafio para o gestor. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 2017. Disponível em: https://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/recom/article/view/1481

Escala de Faces Wong Baker

A Escala de Faces Wong-Baker é uma ferramenta amplamente utilizada para avaliar a intensidade da dor, especialmente em crianças e em adultos com dificuldades de comunicação. Ela consiste em uma série de faces com expressões que vão de um sorriso radiante (sem dor) a uma expressão de choro intenso (dor máxima).

Como Funciona?

A escala apresenta uma série de rostos, cada um com uma expressão facial diferente, que vai desde um rosto sorridente (indicando ausência de dor) até um rosto chorando e contorcido (indicando dor intensa). A criança é convidada a escolher o rosto que melhor representa a dor que está sentindo naquele momento.

Por que usar a Escala de Faces Wong-Baker?

  • Facilidade de uso: A escala é simples e intuitiva, sendo fácil de entender para crianças a partir dos 3 anos de idade.
  • Comunicação não verbal: Permite que crianças pequenas, que ainda não dominam a linguagem verbal, expressem a intensidade da dor.
  • Visualização da dor: A representação visual da dor facilita a compreensão da criança sobre o que está sentindo e como pode comunicar isso ao adulto.
  • Consistência na avaliação: A escala proporciona um método padronizado para avaliar a dor, permitindo comparar a intensidade da dor ao longo do tempo.

Como utilizar a escala?

  1. Explique para a criança: Use uma linguagem simples e adequada à idade da criança para explicar o que cada rosto representa.
  2. Apresente as opções: Mostre à criança todas as faces da escala, uma de cada vez, e pergunte qual delas mais se parece com o que ela está sentindo.
  3. Incentive a escolha: Deixe que a criança escolha livremente o rosto que considera mais adequado.
  4. Registre o resultado: Anote o rosto escolhido pela criança para acompanhar a evolução da dor.

Vantagens da Escala de Faces Wong-Baker

  • Versatilidade: Pode ser utilizada em diferentes contextos clínicos e para avaliar diversos tipos de dor.
  • Validade e confiabilidade: A escala possui boa validade e confiabilidade, sendo amplamente utilizada e estudada.
  • Aceitação pelas crianças: A maioria das crianças se sente confortável em utilizar a escala.

Limitações da Escala

  • Subjetividade: A avaliação da dor é subjetiva e pode variar de acordo com a interpretação da criança e do profissional de saúde.
  • Dificuldade em crianças muito pequenas: Crianças muito pequenas podem ter dificuldade em compreender o conceito de dor e em escolher um rosto.
  • Influência cultural: A expressão facial da dor pode variar entre diferentes culturas, o que pode influenciar a escolha da criança.

A Escala de Faces Wong-Baker é uma ferramenta valiosa para avaliar a dor em crianças, proporcionando uma comunicação mais eficaz entre a criança e o profissional de saúde. Ao utilizar essa escala, é possível identificar a intensidade da dor, monitorar a evolução do tratamento e tomar decisões mais adequadas para o manejo da dor pediátrica.

Observação: É importante ressaltar que a Escala de Faces Wong-Baker é apenas uma das ferramentas disponíveis para avaliar a dor em crianças. A escolha da escala mais adequada dependerá das características individuais da criança e do contexto clínico.

Referências:

  1. SILVA, A. B.; PEREIRA, C. A. C. Índice de Barthel: validação em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 18, n. 1, p. 1-8, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/GwvZjxCGwVyhtjDv4kWPQpc/?format=pdf.
  2. Oliveira A. M, Cunha Batalha L. M, Fernandes A. M, Castro Gonçalves J, , Viegas R. G. Uma análise funcional da Wong-Baker Faces Pain Rating Scale: linearidade, discriminabilidade e amplitude. Revista de Enfermagem Referência [Internet]. 2014;IV(3):121-130. Recuperado de: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=388239973017

Escala de dispneia do MRC

A falta de ar, ou dispneia, é um sintoma comum em diversas condições clínicas, como doenças pulmonares, cardíacas e até ansiedade. Para avaliar a gravidade desse sintoma de forma objetiva, os profissionais de saúde utilizam a Escala de Dispneia do MRC (Medical Research Council).

Nesta publicação, vamos explicar o que é essa escala, como ela funciona e por que é tão útil na prática clínica.

O Que é a Escala de Dispneia do MRC?

A Escala de Dispneia do MRC foi desenvolvida pelo Medical Research Council do Reino Unido e é amplamente utilizada para classificar a intensidade da falta de ar em pacientes com doenças respiratórias crônicas, como DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) e asma.

Ela é simples, rápida e pode ser aplicada em diferentes contextos, desde consultas ambulatoriais até avaliações hospitalares.

Como Funciona a Escala?

A escala é composta por cinco graus, que variam de 0 a 4, de acordo com a limitação que a falta de ar causa nas atividades diárias do paciente. O paciente é questionado sobre como a dispneia afeta sua rotina, e o profissional de saúde classifica o grau de acordo com as respostas.

Graus da Escala de Dispneia do MRC

Grau Descrição
0 Sem falta de ar, exceto durante exercícios intensos.
1 Falta de ar ao caminhar rápido ou subir ladeiras.
2 Caminha mais devagar que pessoas da mesma idade devido à falta de ar ou precisa parar para respirar ao caminhar em ritmo normal.
3 Para para respirar após caminhar cerca de 100 metros ou após alguns minutos em terreno plano.
4 Falta de ar ao realizar atividades simples, como vestir-se ou falar, ou incapaz de sair de casa devido à falta de ar.

Como Aplicar a Escala de Dispneia do MRC?

A aplicação da escala é simples e pode ser feita em poucos minutos. Siga estes passos:

  1. Explique a Escala ao Paciente: Descreva cada grau de forma clara e acessível.
  2. Faça Perguntas Objetivas: Pergunte como a falta de ar afeta as atividades diárias, como caminhar, subir escadas ou realizar tarefas domésticas.
  3. Classifique o Grau: Com base nas respostas, classifique o paciente em um dos graus da escala.

Exemplo de Perguntas:

  • “Você sente falta de ar ao caminhar rápido ou subir ladeiras?”
  • “Precisa parar para respirar ao caminhar em terreno plano?”
  • “A falta de ar impede você de realizar atividades simples, como vestir-se ou falar?”

Por Que a Escala de Dispneia do MRC é Importante?

A escala é uma ferramenta valiosa para:

  1. Avaliar a Gravidade da Dispneia: Identificar o impacto da falta de ar na qualidade de vida do paciente.
  2. Monitorar a Evolução do Paciente: Comparar os graus ao longo do tempo para avaliar a resposta ao tratamento.
  3. Tomar Decisões Clínicas: Auxiliar na escolha de terapias e intervenções, como reabilitação pulmonar ou oxigenoterapia.
  4. Facilitar a Comunicação: Padronizar a descrição da dispneia entre profissionais de saúde.

Cuidados de Enfermagem na Avaliação da Dispneia

A equipe de enfermagem desempenha um papel crucial na aplicação da Escala de Dispneia do MRC. Aqui estão algumas dicas:

  1. Seja Empático: A falta de ar pode ser angustiante. Ouça o paciente com atenção e ofereça suporte emocional.
  2. Explique o Objetivo: Deixe claro que a avaliação ajudará a planejar o tratamento.
  3. Registre os Dados: Anote o grau de dispneia no prontuário e compartilhe as informações com a equipe multidisciplinar.
  4. Monitore Sinais de Alerta: Observe sinais de gravidade, como cianose (coloração azulada da pele) ou uso de musculatura acessória para respirar.

Limitações da Escala de Dispneia do MRC

Apesar de ser amplamente utilizada, a escala tem algumas limitações:

  • Subjetividade: Depende da percepção do paciente sobre sua falta de ar.
  • Não Avalia Outros Sintomas: Não considera tosse, fadiga ou outros sintomas associados.
  • Contexto Específico: É mais útil para doenças respiratórias crônicas e pode não ser aplicável em outras condições.

A Escala de Dispneia do MRC é uma ferramenta simples e eficaz para avaliar a falta de ar e seu impacto na vida do paciente. Para a equipe de enfermagem, dominar essa escala é essencial para oferecer um cuidado mais humanizado e preciso, especialmente no manejo de doenças respiratórias crônicas.

Referências:

  1. Prefeitura de Campinas
  2. https://www.heldernovaisbastos.pt/ficheiros/dispneia_mmrc.pdf
  3. EBSERH

Escalas utilizadas em Pediatria

Na pediatria, a avaliação precisa e completa de cada paciente é fundamental para um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz.

As escalas desempenham um papel crucial nesse processo, fornecendo uma forma objetiva e padronizada de medir diversos aspectos do desenvolvimento e da saúde da criança. Neste post, vamos explorar as principais escalas utilizadas na pediatria atualmente, destacando sua importância e aplicabilidade.

O que são Escalas em Pediatria?

As escalas em pediatria são instrumentos de avaliação que utilizam critérios específicos para medir diferentes parâmetros, como o desenvolvimento neuropsicomotor, a dor, a gravidade de doenças e a qualidade de vida. Elas são compostas por um conjunto de itens ou perguntas que são aplicados ao paciente ou aos seus cuidadores, permitindo a obtenção de uma pontuação final que reflete o nível de desenvolvimento ou a intensidade de um determinado sintoma.

Por que as Escalas são Importantes?

  • Objetividade: As escalas fornecem uma medida objetiva e quantificável de diversos aspectos do desenvolvimento infantil, facilitando a comparação entre diferentes pacientes e a monitorização da evolução ao longo do tempo.
  • Padronização: Ao utilizar escalas padronizadas, os profissionais de saúde garantem que a avaliação seja realizada de forma consistente, minimizando a influência de fatores subjetivos.
  • Comunicação: As escalas facilitam a comunicação entre os diferentes profissionais envolvidos no cuidado da criança, permitindo uma troca de informações mais precisa e eficiente.
  • Tomada de decisão: Os resultados obtidos através das escalas auxiliam na tomada de decisões sobre a necessidade de intervenções terapêuticas e na escolha do tratamento mais adequado.

Principais Escalas Utilizadas em Pediatria

Existem diversas escalas utilizadas na pediatria, cada uma com suas especificidades e aplicações. Algumas das mais comuns incluem:

Escalas de Desenvolvimento

    • Escala de Apgar: Avalia a vitalidade do recém-nascido nos primeiros minutos de vida.
    • Escala de Denver II: Avalia o desenvolvimento motor, linguístico, social e pessoal de crianças de 0 a 6 anos.
    • Bayley Scales of Infant and Toddler Development: Avalia o desenvolvimento cognitivo, linguístico, motor e socioemocional de bebês e crianças pequenas.
    • Escala de Griffiths: Avalia o desenvolvimento global de crianças de 0 a 8 anos.
    • Escala de Gross Motor Function Measure (GMFM): Avalia a função motora grossa em diversas posições e atividades, especificamente para crianças com paralisia cerebral.
    • Escala Motora Infantil (IMS): Avalia o desenvolvimento motor em crianças de 1 a 18 meses.
    • Escala de Vineland: Avalia as habilidades adaptativas, como comunicação, vida diária, socialização e habilidades de lazer.

Escalas de Avaliação Funcional

    • Escala de Peabody: Avalia o desenvolvimento motor fino e grosso em crianças de 0 a 5 anos.
    • Escala de Bayley: Avalia o desenvolvimento cognitivo, linguístico, motor e socioemocional de bebês e crianças pequenas.
    • Escala de Hammersmith: Avalia a função manual em crianças com paralisia cerebral.

Escalas de Dor:

    • Escala Facial de Dor de Wong-Baker: Utiliza desenhos de faces com diferentes expressões para avaliar a intensidade da dor em crianças a partir dos 3 anos.
    • Escala Numérica: Utiliza uma escala de 0 a 10 para que a criança indique a intensidade da dor.
    • Escala Visual Analógica (EVA): Utiliza uma linha com âncoras verbais (nenhuma dor a dor máxima) para que a criança indique a intensidade da dor.
    • FLACC (Face, Legs, Activity, Cry, Consolability): Avalia cinco parâmetros comportamentais: expressão facial, movimentos das pernas, atividade, choro e consolabilidade.
    • CPOT (Children’s Pain Observation Tool): Avalia a dor em crianças mais novas, observando expressões faciais, choro, movimentos corporais e consolabilidade.
    • Escala de dor do Children’s Hospital of Eastern Ontario (CHEOPS): é uma escala de avaliação de dor pós-operatória; pode também ser usada para monitorar a efetividade de intervenções para redução de dor e desconforto.

Outras Escalas

    • Escala de Braden: Avalia o risco de desenvolvimento de úlceras por pressão.
    • Escala de Coma de Glasgow: Avalia o nível de consciência em crianças.
    • Escala de Ramsay: Avalia a sedação em crianças.
    • Escala Withdrawal Assessment Tool (WAT-1): é uma ferramenta de avaliação de sintomas de abstinência que pode ser utilizada em pediatria. Ela é aplicada no primeiro dia de desmame de pacientes que receberam infusões ou bolus regulares de opióides ou benzodiazepínicos por um período prolongado.
    • Escala de PEWS (pediatric early warning score): é um protocolo de pontos que avalia sinais vitais de crianças de 0 a 16 anos para identificar deterioração clínica. O objetivo é aumentar a segurança do paciente, reduzir o número de eventos graves e facilitar o acompanhamento da evolução clínica.

As escalas são ferramentas indispensáveis para a avaliação completa e precisa das crianças. Ao fornecerem informações objetivas e padronizadas sobre o desenvolvimento, a saúde e o bem-estar infantil, as escalas auxiliam os profissionais de saúde a tomar decisões mais precisas e a oferecer um cuidado mais individualizado e eficaz.

É importante ressaltar que a escolha da escala mais adequada depende da idade da criança, da queixa principal e dos objetivos da avaliação. A utilização das escalas deve ser sempre realizada por profissionais de saúde qualificados.

Referências:

  1. Amoretti, C. F., Rodrigues, G. O., Carvalho, P. R. A., & Trotta, E. de A.. (2008). Validação de escalas de sedação em crianças submetidas à ventilação mecânica internadas em uma unidade de terapia intensiva pediátrica terciária. Revista Brasileira De Terapia Intensiva, 20(4), 325–330. https://doi.org/10.1590/S0103-507X2008000400002
  2. COREN-SP
  3. SEDREZ, Elisa da Silva; MONTEIRO, Janine Kieling. Avaliação da dor em pediatria. Hospital Moinhos de Vento. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. IIUniversidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil, 28 out. 2019. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/reben/a/MJ7FdLTXpHbHjLYGSY3rcNx/?lang=pt&format=pdf&gt;.