Profissional: valorize-se!

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Nossa área é bem ampla e se expande em três categorias. Auxiliar, técnico e enfermeiro. Pela cultura que temos no Brasil, todo mundo que é da área da saúde, em que exerce a função de cuidar do próximo,  é muitas vezes intitulado pelos mais leigos como enfermeiro.

Não é só pelo rótulo que temos pelos demais, vai muito além. É importante saber que cada categoria exerce uma função importante, e que todas dependem umas das outras para que uma equipe possa fluir bem.

Você, técnico de enfermagem, ou que está cursando,  ao atuar em campo de estágio ou até mesmo exercendo sua função, identifique-se ao paciente que é um técnico de enfermagem. Mostre aos pacientes em que está sob sua responsabilidade, que um técnico de enfermagem está atuando e servindo cuidados ao próximo. Temos que ter mais  reconhecimento no campo de trabalho. Somos nós que estamos a frente do paciente sempre. Nunca tenha vergonha de seu cargo. Você é muito  importante tanto quanto um enfermeiro. Muitas vezes eles dependem de nós.

Esteja sempre se atualizando profissionalmente. Há sempre normas e procedimentos sendo mudado pelo nosso conselho. Foque-se mais nos estudos técnicos, sempre busque saber mais sobre aquelas doenças em que você tem sempre no seu ambiente de trabalho.

Valorize seu colega de trabalho! Gerar desavenças é muito ruim, isso pode gerar conflitos e acabar atrapalhando muitas vezes seu trabalho e o ambiente em si. Os pacientes precisam de um ambiente harmonioso e tranquilo, eles precisam muito da gente para batalharem contra depressão  causada por suas doenças. Evite o máximo trazer seus problemas pessoais dentro do seu setor.  Respeito ao próximo sempre.

Não se rebaixe! Nossa profissão é linda e muitas das vezes confortante. Você ficará pelo menos satisfeito quando ver que um pouco daquilo que você fez, ajudou o enfermo a evoluir bem! Adoro quando eu vejo meus pacientes indo embora, com um sorriso e satisfação estampado no rosto. Não serão todos que lhe agradecerão pelo seu empenho, mas leve consigo que no subconsciente daquele, estará agradecido eternamente por ter passado por uma fase difícil.

Como qualquer outra profissão, há seus altos e baixos. Voce lidará com intercorrências, e até óbitos. Não se desanime. Faz parte da nossa profissão dar o melhor de si que nem sempre irá evoluir bem. Você só não pode ficar sentido com isso. E nem ser frio. Você tem o papel de acostumar num ambiente no qual você lida com vidas, de diversas complexidades.

‘Me ajude.”

Era madrugada, e a luz do quarto foi acesa. Uma técnica de enfermagem veio me socorrer, pois eu quase havia caído da cama, embaraçado com sonda, dreno e soro. Apesar de ter recebido orientação para não me levantar sem ajuda, “achei” que não teria problema. Afinal, sou médico!

A enfermeira chegou minutos depois da técnica. Os tubos estavam no lugar. O médico plantonista posteriormente veio me examinar. “Quer um sedativo?”, perguntou.

Fui colocado na cama. Adormeci. Horas depois, que pareceram segundos, fui acordado. Hora do banho. No leito? Sim. Estava de “castigo” e voltaria a tomar o “banho” na cama. No chuveiro seria imprudente.

Compressas e água nada morna. A mesma técnica, de olhar cansado por mais uma noite acordada, procurava me animar. Quase no final do “banho”, recebeu ajuda do técnico mais antigo do hospital. Meu velho companheiro de batalhas chegava ao plantão e soube de mim. Ele me aplicou uma injeção — de ânimo. Disse que eu ficaria bem. Acreditei.

No centro cirúrgico, por trás de máscaras nada venezianas, outros técnicos ajudavam o anestesista. O cirurgião não abria mão de sua instrumentadora e também técnica de enfermagem. Que time!

Depois de um longo período, retornei ao trabalho. Deixei de ser paciente e voltei a ser o irrequieto e impaciente médico. Não mais encontrei vários dos técnicos que tanto me ajudaram. Os médicos e enfermeiros, muitos com pós-graduação e especialistas, lá estavam. Mas cadê aqueles meus anjos? A vida segue. Os tempos são outros, e maioria dos rostos é desconhecida. Gente muito jovem.

Técnicos de enfermagem são formados em cursos de até dois anos, a maioria tem que trabalhar para pagar sua graduação, que inclui apenas alguns meses de parte prática. Representam mais de 75% dos profissionais da assistência aos hospitalizados. São soldados cambaleantes num exército desorganizado com muitos generais que passam ao largo. Como soldados, acabam sendo lembrados como os do panteão dos desconhecidos.

Recebem em média um salário mínimo e meio mensal, para uma jornada de 12 horas, a cada dois dias. A maioria precisa de um segundo emprego, sendo obrigada a trabalhar de madrugada de duas a três vezes por semana, com apenas um final de semana livre ao mês.

A rotatividade é enorme, chegando a 40% ao ano em diversos hospitais privados, pois inexiste estímulo técnico, social ou financeiro.

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Diferentemente de médicos, técnicos com mais de cinco anos de experiência no campo de batalha são uma raridade. Os “donos do sistema” dizem que há falta de “mão de obra qualificada”, e esses neo-escravistas acham que basta investir em tecnologia, para diminuir a incidência e a gravidade dos erros na saúde.

Um craque pode ganhar jogos, mas equipes bem treinadas e integradas ganham campeonatos. Os técnicos de enfermagem não são o problema; ao contrário, fazem parte da solução.

Alfredo Guarischi é médico

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