As lesões brancas da cavidade oral constituem um complexo conjunto de entidades, cuja principal característica clínica se evidencia pela presença de áreas esbranquiçadas na boca. Sua etiologia é extremamente variada, sendo que certas lesões não apresentam uma causa única, mas o resultado da interação de diversos fatores.
As principais lesões brancas da cavidade oral que podemos encontrar são:
A Candidíase Oral
É a infecção micótica mais comum da cavidade oral causada pelo fungo do gênero Candida, especialmente C. albicans, embora outras espécies possam estar envolvidas.
É considerada o principal agente etiológico da candidíase, infecção oportunista relacionada a fatores locais e sistêmicos. Quando ocorre ruptura do equilíbrio biológico, geralmente resultante de fatores predisponentes (patológicos, fisiológicos, imunológicos e mecânicos), há um aumento na multiplicação e/ou invasão de leveduras nos tecidos, instalando-se então a infecção.
Geralmente está associada a indivíduos debilitados, imunocomprometidos ou que estejam fazendo uso abusivo de antibióticos, trazendo assim conseqüências mais graves
Clinicamente se apresenta sob as formas: aguda (pseudomembranosa, atrófica), crônica (atrófica, hiperplásica), muco-cutânea (localizada, familial, associada à síndromes).
Caracteristicamente, as lesões bucais da candidíase aguda são placas ou nódulos brancos, entre moles e gelatinosos, que crescem centrifugamente e confluem. As placas são compostas por fungos, resíduos ceratóticos, células inflamatórias, células epiteliais descamadas, bactérias e fibrina.
A remoção das placas ou pseudomembranas com uma compressa de gaze deixa uma superfície eritematosa, erosada ou ulcerada, frequentemente visível.
As infecções pela Cândida devem ser diferenciadas de várias entidades, incluindo a escara associada com queimaduras químicas, as ulcerações traumáticas, as placas mucosas da sífilis e as lesões ceratóticas.
Quando estão presentes lesões vermelhas isoladas da candidíase atrófica aguda, elas devem ser diferenciadas das reações medicamentosas e das queimaduras térmicas.
A Leucoplasia
É definida a leucoplasia como uma mancha ou placa branca da cavidade oral, não removível à raspagem, que não pode ser caracterizada clínica ou microscopicamente como outra enfermidade.
Atualmente, o termo leucoplasia é utilizado apenas como um termo clínico, valendo salientar, entretanto, que este termo não traz qualquer conotação quanto às alterações histopatológicas.
A leucoplasia é a lesão cancerizável mais freqüente da cavidade oral, desenvolvendo-se em qualquer região. No entanto, a mucosa jugal, o lábio inferior e a língua têm sido as áreas mais afetadas.
Sua etiologia está relacionada, na maioria dos casos, a hábitos como tabagismo, e outras vezes é considerada idiopática. Sua ocorrência se dá principalmente em pacientes de meia idade, do sexo masculino.
As lesões apresentam-se como placas que podem variar de uma área branca impalpável, fracamente translúcida, a lesões espessas, corrugadas, papilomatosas e endurecidas.
A Leucoplasia Pilosa Oral
A leucoplasia pilosa oral é uma doença causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV) e caracteriza-se pela formação de uma placa esbranquiçada, normalmente unilateral e localizada na borda lateral da língua.
Apresenta, na sua superfície, vilosidades microscópicas semelhantes a pêlos e, ao contrário da candidíase, não pode ser retirada com uma espátula. Em alguns casos pode ser bilateral e/ou acometer o dorso da língua e da mucosa jugal (parte interna das bochechas).
Considerada um marcador dermatológico para a infecção pelo HIV, a leucoplasia pilosa oral era um indicador de mau prognóstico, mas este quadro mudou completamente com o tratamento anti-retroviral atual.
Esta leucoplasia já não é uma infecção exclusiva dos pacientes com HIV/AIDS e pode ser observada também em usuários de drogas e pacientes transplantados em uso de imunossupressores.
O tratamento pode ser feito com o uso local de ácido retinóico ou por cauterização química com ácido tricloroacético, procedimento que deve ser realizado apenas por médicos, devido aos riscos de queimaduras pelo ácido.
Alguns cuidados
- Reuniões educativas (palestras, grupos de reflexão, mostra de vídeos, etc) sobre o câncer, visando à mobilização e conscientização para o auto- cuidado, à importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de boca, à quebra dos preconceitos e à diminuição do medo da doença;
- Reuniões específicas para o ensino do auto-exame da boca e sobre fatores de risco de câncer de boca;
- Exame da cavidade bucal;
- Prestação de cuidados gerais de saúde bucal (tratamento dentário,inclusive);
- Encaminhamento ao nível secundário de casos suspeitos;
- Exame da cavidade bucal e detecção de lesões suspeitas;
- Biópsia;
- Tratamento de lesões benignas simples.
Referências
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