Podemos tomar por vertigem, ilusões de movimento do corpo ou do ambiente. Muitos autores associam à vertigem um caráter rotatório, diferenciando assim de tontura.
O sistema vestibular, o sistema nervoso (central ou periférico), o estado emocional, os olhos, o coração, o sistema respiratório, os rins, o estado hematológico e as articulações podem contribuir para o surgimento de tontura.
Causas
A vertigem é um sintoma e abrange diversas doenças e síndromas. Pode ser causada por um variado número de patologias (ou doenças) que podem afetar o sistema vestibular periférico ao nível do ouvido interno (vertigem periférica) ou o sistema nervoso central (vertigem central).
Genericamente, as causas de vertigem dividem-se em agudas, agudas recorrentes ou crónicas. São apresentados, seguidamente, alguns exemplos mais comuns de cada uma:
1 – Vertigens agudas
1.1 – Agudas com defict auditivo:
- Cerumen no CAE;
- Otite média: infecção no ouvido médio (Serosa, supurada, Colesteatomatosa);
- Labirintite: viral, bacteriana ou auto-imune;
- Traumatismo crânio-encefálico (fratura petrosa, fístula perilinfática);
- Ingestão medicamentosa / substâncias tóxicas.
1.2 – Agudas sem defict auditivo:
- Nevrite Vestibular: é a 3ª causa mais comum de vertigem. Geralmente é incapacitante e associada a náuseas e vómitos. Tem a duração de 3 a 5 dias e poderá ser precedida de infecção viral. O prognóstico é bom;
- AVC cerebeloso;
- Doenças desmielinizantes como, por exemplo, a esclerose múltipla. Pode ser o1º sintoma em 5-12% dos casos;
- Cerebelite aguda;
- Tumor de fossa posterior;
- Vertigem central posicional.
2 – Vertigens agudas recorrentes
2.1 – Duração de segundos a minutos:
- Vertigem posicionalparoxística benigna (VPPB): Há deslocação de otólitos (frequentemente chamados “cristais” do ouvido) para os canais semicirculares (que são “sensores de movimento”). O canal mais frequentemente afetado é o posterior. Os episódios são curtos, por vezes, com desequilíbrio residual durante horas. Não há perda auditiva;
- Pré-sincope: causa tontura e não vertigem e pode ter múltiplas causas sistémicas;
- Epilepsia;
2.2 – Duração de minutos a horas:
- Equivalentes migranosos;
- Ansiedade / Ataques de Pânico;
- “MotionSickness”: Tem maior prevalência na enxaqueca e ocorre quando há um conflito de aferências sensoriais vestibulares e visuais;
2.3 – Duração de horas a dias:
- Síndrome de Meniére: Doença idiopática associada ao aumento da pressão endolinfática. O seu diagnóstico é clínico e é caracterizado por crises vertiginosas com duração de horas, hipoacúsia flutuante geralmente nas baixas frequências e acufenos com agudização nas crises. Pode haver sensação de plenitudeaural. A sua história natural é imprevisível.
- Fístula perilinfática;
- Doenças metabólicas.
3 – Vertigens crônicas (desequilíbrio)
3.1 – Centrais (neoformações, deformidades congénitas, doenças metabólicas, …)
3.2 – Periféricas (presbiestasis, ototóxicos, radiação, meningite, labirintite, malformações hereditárias, …)
Diagnóstico
A história clínica ajuda ou permite ao médico distinguir entre vertigem e outras formas de tontura ou perturbação do equilíbrio. O diagnóstico é feito pela clínica (sinais e sintomas do doente) com auxílio de exames auxiliares de diagnóstico.
1. História Médica Prévia
- Antecedentes Otorrinolaringológicos ou Neurológicos;
- Doenças crônicas endócrinas ou metabólicas;
- Fatores de risco cardiovasculares;
- Infeções prévias;
- Traumatismos;
- Medicação habitual.
2. História da doença atual
É de extrema importância a caracterização precisa dos sintomas e a sua temporalidade:
- Início súbito ou insidioso das queixas;
- Episódio inicial ou recorrente;
- Duração das queixas (segundos, minutos, horas ou dias). A vertigem nunca é permanente ou contínua. Mesmo numa lesão vestibular permanente, o sistema nervoso central é capaz de se adaptar ao “defeito” de forma a que a vertigem vá desaparecendo ao fim de dias ou semanas. As vertigens ou tonturas constantes que duram meses não são de causa vestibular. Podem sim existir episódios frequentes de vertigem/tontura ao longo de meses;
- Fatores de agravamento ou desencadeantes como por exemplo determinados movimentos (por exemplo, deitar na cama para dormir ou levantar da cama ao acordar) ou ansiedade, stress ou fatores emocionais…
- Sintomas acompanhantes como a hipoacusia, acufeno (zumbido no ouvido), náuseas(enjoo), vómitos, cefaleias (ou dores de cabeça) ou outros sintomas.
3. Exame Físico
- Otoscopia;
- Exame Neurológico (Pares cranianos, Postura, Coordenação, Marcha, Propriocepção, Nistagmo, …);
- Exame Vestibular (Nistagmo, Reflexo Vestibulo-Ocular..);
4. Exames Auxiliares de Diagnóstico
Os exames auxiliares de diagnóstico devem ser usados criteriosamente, a saber:
- Audiometria;
- Testes Sanguíneos (Serologia, bioquímica, …);
- Imagiologia (tomografia computorizada (TAC) e ressonância magnética (RM), etc..);
- Testes vestibulares – os testes vestibulares não são diagnósticos mas auxiliam nesse mesmo diagnóstico. Alguns dos exames realizados são a Videonistagmografia, Electrococleografia, VHIT, Posturografia Dinâmica, entre outros.
O médico responsável pelo diagnóstico da vertigem é o Otorrinolaringologista (especialista em otorrinolaringologia).
Complicações
As complicações da vertigem dependem da patologia de base. Nas causas otorrinolaringológicas algumas das complicações são a surdez e/ou acufeno (zumbidos) permanentes.
As quedas e fraturas são outra complicação potencialmente grave sobretudo no idoso.
Tratamento
Na vertigem, o tratamento depende das causas subjacentes, que como vimos anteriormente podem ser inúmeras. Veja mais informação em causas da vertigem e seu tratamento em cada uma das patologias relacionadas.
Existem alguns medicamentos ou remédios que permitem fazer um controle sintomático (aliviar os sintomas). Genericamente, o tratamento medicamentoso sintomático baseia-se em medicamentos como os supressores vestibulares, os anti-histamínicos, as benzodiazepinas e os antiemeticos. Esta medicação ajuda no controlo dos sintomas, ou seja, são “medicamentos antivertiginosos”.
Após um síndrome vertiginoso por uma lesão vestibular periférica vai haver compensação central desse défice. A reabilitação vestibular auxilia na recuperação em doentes com hipofunção vestibular periférica uni ou bilateral. Pensa-se que também tem utilidade nas causas centrais.
Um doente com vertigem prefere ficar em repouso, no entanto a reabilitação vestibular vai obriga-lo a realizar exercícios que constituem um desafio promovendo a adaptação e substituição estratégica contrariando desta forma a inatividade que tem efeitos secundários adversos (perda da condição física e psicológica que constituem o principal obstáculo à sua recuperação).
O tempo de resolução da doença, ou seja, o tempo que demora a passar, é muito variável entre patologias podendo ser mais célere com o recurso à terapêutica (mais uma vez dependendo da patologia).
O doente nunca deve automedicar-se ou tentar qualquer tipo de tratamento caseiro ou natural sem consultar primeiro o médico otorrinolaringologista, sob pena de poder agravar o seu quadro clínico. A medicação referida deve ser sempre prescrita pelo seu médico assistente que deverá tomar sempre de acordo com a receita médica.
Referências:
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