Você já ouviu falar na Síndrome de Burnout? Você sabia que é uma Síndrome comum aos profissionais de enfermagem?
Apesar da Síndrome de Burnout ser pouco conhecida, ela está mais próxima de nós do que você imagina! Está relacionada aos agentes patogênicos de Doenças profissionais, que compõe o anexo II da Previdência Social desde 1996, e atualizado em 2010.
Mas afinal, o que é Burnout?
É uma síndrome psicológica que se desenvolve devido a presença crônica de estresse relacionado ao trabalho. É composta de três vertentes: a exaustão emocional, despersonalização e a diminuição de realização profissional. Está mais presente em pessoas que executam algum tipo de atividade em que é necessário o relacionamento com pessoas de forma mais direta e próxima.
Antes de aprofundar o assunto, já queria chamar a atenção para nossa categoria! A síndrome se desenvolve com maior frequência em profissões em que o contato e a relação pessoal estão presentes. E como já é conhecido por todos, a enfermagem é a ciência desempenhada para cuidar do outro. Estamos o tempo todo nos relacionando. Então aqui vai um alerta!
Quais as 3 vertentes que envolvem a Síndrome de Burnout?
- Exaustão emocional: caracteriza-se pelo esgotamento físico e emocional. O trabalhador sente-se sobrecarregado e exaurido de recursos físicos e emocionais. Esta é a manifestação mais óbvia e fundamental para definir a Síndrome, é a reação causada em resposta à sobrecarga de trabalho, aos conflitos sociais e ao estresse devido às exigências do trabalho.
- Despersonalização: ocorre como reação à exaustão emocional. É a tentativa do indivíduo se proteger ou lidar com o esgotamento, e leva a um distanciamento e ao desenvolvimento de atitudes negativas e insensíveis no trabalho, e em relação as pessoas de seu convívio.
- Diminuição de realização profissional: surge à medida que a despersonalização progride. O trabalhador começa a despender menos energia na realização do trabalho, passa a ficar menos horas no ambiente profissional; isso interfere na qualidade do seu desempenho, e logo o sentimento de incompetência e de falta de realização aparecem. Essa 3ª vertente fica mais evidente quando ocorre falta de recursos relevantes.
Embora alguns estudos estejam sendo feitos, ainda não temos dados estatísticos concretos sobre a Síndrome de Burnout no Brasil, mas acredita-se que a incidência da patologia deve estar próxima a identificada em outros países.
Num estudo realizado num hospital público brasileiro, dos 52 participantes da área de enfermagem:
- 48,07% possuíam outro vínculo empregatício;
- 46,15% pensavam em abandonar a profissão;
- Em relação à vertente exaustão emocional: 25% sentiam-se em determinadas vezes exaustos emocionalmente e 7,7% sentiam-se frequentemente exaustos emocionalmente nas atividades desempenhadas no trabalho.
- Sobre a satisfação quanto ao ambiente físico de trabalho: 25% afirmaram estar totalmente insatisfeitos.
Nessa categoria foram analisados os aspectos quanto a iluminação, espaço físico, ventilação, temperatura, higiene e salubridade. O estudo discute ainda a extensa jornada de trabalho destes profissionais, e o quanto esta impacta na qualidade da assistência de enfermagem.
Em outro estudo realizado em três instituições de ensino no interior do estado de São Paulo mostrou que os participantes possuíam uma carga horária de trabalho superior ao contrato de 36 horas semanais, o que podia refletir num déficit no quadro de pessoal da instituição e necessidade de complementação salarial. Também mostrou que as duas instituições que possuíam uma melhor percepção da qualidade da assistência de enfermagem, apresentaram menores níveis de burnout em comparação a terceira. O que demonstra que a presença da síndrome compromete de forma negativa a qualidade da assistência de enfermagem.
Mas, e as causas da Síndrome de Burnout?
Podemos citar as características do sistema hospitalar e a economia de consumo, ou seja, exigir do trabalhador mais produção. O aumento de produtividade faz com que o trabalhador despenda mais tempo ao trabalho, e consequentemente se afaste das atividades como lazer, convívio social e familiar. Isso influencia na qualidade de vida do profissional e afeta sua saúde.
Como reflexo dessa prática, não é incomum os profissionais de enfermagem terem mais de um vínculo empregatício e cargas horarias elevadas. Mas é importante ressaltar que a prática da enfermagem requer atenção, esforço emocional, mental e físico; sendo que um déficit em um desses parâmetros corrobora prejuízos na qualidade da assistência prestada, podendo expor o paciente à riscos.
Além dessas, estão entre as causas do desencadeamento da Síndrome de Burnout:
- a insatisfação e falta de reconhecimento profissional;
- as longas jornadas de trabalho;
- o número insuficiente de profissionais;
- a alta exposição do profissional à riscos físicos e químicos;
- o desgaste provocado pelo constante contato com os pacientes;
- o sofrimento e a morte;
- os conflitos interpessoais;
- o achatamento salarial;
- a alta responsabilidade que a profissão exige;
- a complexidade do cuidado de enfermagem;
- a alta demanda de pacientes;
- a falta de apoio e de motivação;
- pacientes estressados e;
- o ambiente insalubre.
Mesmo que o estresse seja um fenômeno individual, as causas de desencadeamento da síndrome parecem ser comuns, independentemente da ocupação do profissional de enfermagem; o que sugere uma característica da cultura profissional, com determinantes de estresse relacionados ao indivíduo, ao cargo e à instituição.
Como a Síndrome de Burnout se manifesta?
Como já dito anteriormente, o indivíduo tem perda da sua qualidade de vida, o que influencia seu convívio social e familiar, além de trazer prejuízos ao trabalho. O indivíduo assume atitude de frieza frente aos pacientes, evitando envolver-se, e essa relação vem acompanhada de irritabilidade por parte do profissional.
O estresse rompe com equilíbrio psicofisiológico, e obriga a utilização de energia extra como estratégia de enfrentamento. Dependendo da intensidade e tempo de duração desse estado, o indivíduo pode apresentar consequências físicas e psicológicas graves, principalmente se não desenvolver mecanismos adaptativos.
O estresse gera a liberação do hormônio cortisol (glicocorticoide), após ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, e então se liga à receptores presentes nos leucócitos e pode levar a imunossupressão. Como consequência algumas doenças podem surgir como por exemplo: alergias, psoríase, caspa e seborreia, hipertensão, diabetes, herpes, graves infecções, problemas respiratórios como asma e rinite, intoxicações, alterações gastrointestinais como úlcera, gastrite, diarreia e náuseas, alteração de peso, depressão, ansiedade, hiperatividade, hipervigilância, distúrbios do sono, disfunções sexuais e alterações do ciclo menstrual.
O sistema cardiovascular tem papel importante para adaptação ao estresse e age aumentando a frequência cardíaca, a contratilidade, o débito cardíaco e a pressão arterial.
Em relação ao estresse psíquico, ocorre déficit de atenção e concentração, alterações de memória, lentificação do pensamento, desconfiança, paranoia e aumenta o risco para suicídio.
A Síndrome de Burnout tem sido considerada um problema de saúde pública, mas o caminho a ser percorrido é longo para mudar a realidade das condições de trabalho da nossa categoria. Pergunte a algum profissional de enfermagem que conhece que logo perceberá que este está exposto a grande parte das causas da síndrome. Abordar o assunto, e torná-lo conhecido pode ser uma solução para que novas estratégias sejam criadas a fim de evitar a Síndrome de Burnout. E talvez apostar num ambiente de trabalho que forneça qualidade de vida ao trabalhador seja a melhor saída!
Referências Bibliográficas:
Silva J L L; Dias A C; Teixeira L R. Discussão sobre as causas da Síndrome de Burnout e suas implicações à saúde do profissional de enfermagem. Aquichan. 2012; 12(2):144-159.
Gasparino R C; Guirardello E B. Ambiente da prática profissional e burnout em enfermeiros. Ver Rene.2015; 16(1):90-6.
Sá A M S; Silva P O M; Funchal B. Burnout: o impacto da satisfação no trabalho m profissionais de enfermagem. Psicologia & Sociedade. 2014; 26(3):664-674.
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