
A cirurgia é, muitas vezes, o único tratamento que pode aliviar, corrigir e salvar vidas, apesar de seus riscos inerentes; não controláveis. Embora os procedimentos cirúrgicos tenham essa finalidade, falhas evitáveis de segurança podem ocorrer e causar danos físicos e psíquicos irreparáveis ao cliente, familiares e profissionais, quando medidas de segurança não são sistematicamente adotadas.
Nesta perspectiva, iniciativas de aumentar os padrões de qualidade para tornar a assistência cirúrgica segura vem acontecendo em nível mundial, conhecido como Segundo Desafio Global de Segurança do Paciente, contemplando medidas essenciais nas etapas críticas do atendimento perioperatório a serem incorporadas dentro da rotina das salas de operações.
As medidas contemplam 10 objetivos essenciais para a cirurgia segura que deverão estar apresentadas em uma lista de verificação de segurança cirúrgica “checklist”.
O checklist de Cirurgia Segura consiste em uma lista formal utilizada para identificar, comparar e verificar o cumprimento às etapas críticas de segurança e, assim, minimizar os riscos evitáveis mais comuns que colocam em risco as vidas e o bem-estar dos clientes cirúrgicos. Esse instrumento se utiliza das estratégias de comunicação oral e escrita para a sua condução e não possui caráter regulatório.
Sendo assim, o presente Protocolo Multiprofissional Assistencial apresentará as estratégias de segurança cirúrgica, baseadas nas recomendações do manual “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009) e do “Protocolo Cirurgia Segura”, do Ministério de Saúde (MS, 2013), alinhadas ao contexto institucional, a serem implementadas por meio de um Checklist, construído seguindo os princípios de simplicidade, de ampla aplicabilidade e de possibilidade de mensuração, que contempla os 10 objetivos essenciais para a cirurgia segura:
- Certificar-se de que é o paciente certo e o sítio cirúrgico
- Proteger o paciente da dor, minimizando os riscos
- Ter capacidade para reconhecer dificuldades respiratórias e um plano de ação pronto.
- Preparar-se para identificar e agir em caso de grande perda sanguínea.
- Evitar induzir reações alérgicas ou à medicação que tragam riscos ao paciente.
- Usar métodos para minimizar o risco de infecções de sítio cirúrgico.
- Evitar a retenção de compressas ou instrumentos em feridas cirúrgicas.
- Identificar de maneira precisa todos os espécimes cirúrgicos.
- Comunicar e trocar informações críticas sobre o paciente.
Estabelecer vigilância de rotina sobre a capacidade, o volume e os resultados cirúrgicos.
O Público Alvo
Clientes (adulto e infantil) hospitalizados ou em atendimento ambulatorial submetidos à procedimentos cirúrgicos em caráter eletivo e de urgência que implicam em incisão, excisão, manipulação e suturas de tecidos, e que, geralmente, requeiram anestesia regional ou geral ou sedação profunda para controle da dor.
RESPONSABILIDADES Equipe Multiprofissional
- Conhecer o presente Protocolo e as medidas que garantem a promoção da cirurgia segura.
- Compartilhar os saberes interprofissionais específicos e comuns em colaboração no planejamento, na execução e na avaliação das intervenções, antes, durante e após o procedimento cirúrgico, para a tomada de decisão.
- Envolver o cliente e a sua família no planejamento diário dos cuidados.
- Confirmar a identificação do cliente em todos os procedimentos a serem realizados.
- Participar frequentemente de educações continuada.
- Participar ativamente na condução e registro do Checklist de Cirurgia Segura (Apêndice A).
- Notificar qualquer risco identificado e evento adverso ocorrido no Aplicativo de Vigilância em Saúde e Gestão de Riscos Assistenciais Hospitalares (Vigihosp).
Responsável Técnico – RT/Chefe de Unidade
- Supervisionar os cuidados prestados e o cumprimento de todas as etapas do Checklist de Cirurgia Segura.
- Realizar/providenciar o levantamento dos indicadores de segurança/qualidade.
Médico Cirurgião
- Realizar consulta pré-operatória.
- Esclarecer ao cliente e familiares sobre os riscos cirúrgicos, e se consentida a cirurgia, providenciar a assinatura do Termo de Esclarecimento, Ciência e Consentimento para Procedimentos Cirúrgicos (Apêndice B).
- Realizar demarcação de sítio cirúrgico, quando for o caso, no pré-operatório.
- Prescrever os cuidados pré-operatórios.
- Prescrever a antibioticoterapia profilática.
- Informar a equipe interprofissional sobre os riscos e pontos críticos do procedimento cirúrgico no intraoperatório.
- Conduzir/Realizar o procedimento cirúrgico.
- Participar da conferência das compressas e instrumentais utilizados, ao término da cirurgia.
Médico Anestesista
- Realizar consulta pré-anestésica.
- Esclarecer ao cliente e familiares sobre os riscos anestésicos, e se consentida a cirurgia, providenciar as assinaturas dos Termos de Esclarecimento, Ciência e Consentimento para Anestesia e Sedação (Apêndice C) e, se necessário, para Transfusão de Hemocomponentes (Apêndice D).
- Decidir e aplicar o anestésico mais indicado.
- Checar o aparelho de anestesia, no intraoperatório.
- Informar a equipe interprofissional sobre os riscos e pontos críticos no procedimento cirúrgico (via aérea difícil, risco de aspiração e alergias conhecidas).
- Promover a monitorização hemodinâmica do cliente e a administração do antibiótico profilático, no intraoperatório.
- Atentar ao manejo e recuperação, garantindo a estabilidade do estado geral do cliente.
- Avaliar o cliente e da alta da Sala de Recuperação Pós Anestésica-SRPA.
Enfermeiro Assistencial (Unidade Assistencial, Centro Cirúrgico e SRPA)
- Garantir que os cuidados pré-operatórios e a organização do prontuário estejam adequados, antes de encaminhar o cliente ao local em que será realizado o procedimento cirúrgico.
- Realizar ou supervisionar a equipe de enfermagem no preenchimento do Checklist de Cirurgia Segura em suas diferentes etapas (Preparo do cliente; Antes da indução anestésica e da incisão cirúrgica e Antes do cliente sair da sala operatória).
- Confirmar a presença de reserva sanguínea no Hemocentro, no pré-operatório, e registrar.
- Gerenciar os recursos humanos de enfermagem e materiais necessários na sala operatória.
- Capacitar a equipe de enfermagem para prestar uma assistência que garanta a segurança do cliente no perioperatório.
Técnico de Enfermagem (Unidade Assistencial, Centro Cirúrgico e SRPA)
- Implementar as intervenções para o pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório prescritas e/ou estabelecidas em rotina.
- Comunicar ao enfermeiro qualquer intercorrência durante a assistência prestada.
- Realizar a conferência e o registro do Checklist de Cirurgia Segura de acordo com cada etapa.
- Preparar e montar a sala operatória com materiais e equipamentos de acordo com o procedimento a ser realizado e os riscos cirúrgicos levantados (seguir rotina estabelecida na unidade).
- Conferir a integridade, a quantidade e a validade dos materiais a serem utilizados, antes da cirurgia. Posicionar o eletrocautério no cliente, antes da incisão cirúrgica.
- Contar as compressas utilizadas junto ao médico cirurgião e instrumentador, ao término da cirurgia.
- Identificar e encaminhar as peças anatômicas/culturas, ao término da cirurgia.
- Fixar as etiquetas de esterilização no prontuário, ao término da cirurgia.
- Monitorar e acompanhar o cliente na SRPA. Instrumentador (Centro Cirúrgico)
- Preparar e montar a sala operatória com materiais e equipamentos de acordo com o procedimento a ser realizado e os riscos cirúrgicos levantados.
- Preparar o instrumental cirúrgico de acordo com o tipo de cirurgia.
- Conferir a integridade, a quantidade e a validade dos materiais utilizados (seguir rotina estabelecida na unidade).
- Realizar a contagem dos instrumentais cirúrgicos junto ao médico cirurgião, ao término da cirurgia.
OPERACIONALIZAÇÃO DO CHECKLIST DE CIRURGIA SEGURA
- A estrutura do Checklist de Cirurgia Segura integra a verificação das medidas críticas gerais de segurança nas etapas pré-operatória e intraoperatória em três momentos, descritos a seguir: ü Antes do encaminhamento do cliente ao centro cirúrgico (registrada na unidade assistencial) ü 2. Antes da indução anestésica e da incisão cirúrgica (conduzida e registrada na sala operatória) ü 3. Antes do cliente sair da sala operatória (conduzida e registrada na sala operatória).
- O Checklist de Cirurgia Segura deverá ser conduzido oralmente no intraoperatório por um único profissional e na presença de toda equipe cirúrgica, cabendo a todos o envolvimento e responsabilidade compartilhada.
- O condutor do Checklist de Cirurgia Segura no intraoperatório deverá solicitar a confirmação do cumprimento às medidas essenciais de segurança à equipe e registrar. Caso algum item do Checklist não esteja em conformidade, a verificação deverá ser interrompida para uma tomada de decisão, que poderá ser até o cancelamento da cirurgia. As observações, justificativas e não conformidades deverão ser registradas no verso do Checklist de Cirurgia Segura e no prontuário.
- O profissional responsável pela condução do Checklist de Cirurgia Segura no intraoperatório (sala operatória) será o Técnico de Enfermagem do Centro Cirúrgico designado para exercer a função de circulante de sala.
Em situações especiais, qualquer membro da equipe interprofissional cirúrgica poderá assumir a responsabilidade em conduzir o Checklist de Cirurgia Segura.
|
- O Checklist preenchido deverá ser arquivado no prontuário, com as assinaturas do profissional de enfermagem responsável na etapa pré-operatória e do condutor e dos médicos anestesista e cirurgião (Staffs e Residentes) na etapa intraoperatória.
O preenchimento do Checklist de Cirurgia Segura não substitui a obrigatoriedade do registro no prontuário das avaliações e intervenções realizadas.
Preparo Pré-Operatório do Cliente
O preparo pré-operatório do cliente hospitalizado consiste nos procedimentos a serem realizados em um período compreendido de 24 horas que antecedem o procedimento cirúrgico. São eles:
- a) Identificação do cliente (Responsabilidade de execução: Equipe Interprofissional)
– Confirmar a identificação do cliente por meio da pulseira; da placa à beira leito, se for o caso; dos dados de identificação no prontuário e pela confirmação verbal do cliente, se possível.
Notas:
- Em casos de crianças ou clientes incapacitados, um tutor ou familiar poderá assumir a função de identificação.
- O cliente não deverá ser encaminhado ao Centro Cirúrgico sem pulseira de identificação ou com uma pulseira com integridade prejudicada.
- b) Tipo de Precaução (Responsabilidade de execução: Equipe Interprofissional)
– Realizar os cuidados pré-operatórios seguindo as determinações dos tipos de precauções: padrão; contato; respiratório por aerossóis; respiratório por gotículas e/ou reverso.
Nota: Em situações de pandemia, seguir rotina e fluxo estabelecidos.
- c) Jejum (Responsabilidade pela prescrição: Médico; Responsabilidade pela execução: Enfermagem)
- Orientar previamente ao cliente sobre a necessidade e o tempo de jejum prescrito. Recomenda-se 8 horas de jejum para alimentos sólidos.
- Monitorizar a glicemia capilar e observar sinais de hipoglicemia (sudorese, tremores, palidez, náuseas, etc.).
Inconformidades: Informar ao médico qualquer não conformidade quanto ao cumprimento do tempo de jejum, tanto para mais quanto para menos, e presença de eventos indesejados. Registar a orientação e conduta no prontuário.
- d) Punção Venosa (Responsabilidade de execução: Enfermagem)
– Manter pérvio o cateter intravascular periférico (18 -20 Fr) ou o cateter intravascular central.
Nota: Clientes sem dispositivo intravenoso não precisarão ser puncionados somente para serem encaminhados ao Centro Cirúrgico. Nestes casos, o acesso venoso poderá ser providenciado pelo Médico Anestesista quando o cliente for admitido na sala operatória.
- e) Preparo gastrointestinal e vesical (Responsabilidades: Médico-prescrição e Enfermagem-execução)
- Prescrever o tipo de solução; o método de aplicação e o intervalo, quando for indicado.
- Realizar o preparo intestinal, quando prescrito, seguindo os passos descritos no Procedimento Operacional Padrão Institucional (POP) “Lavagem intestinal retrógrada”.
- Esvaziar as bolsas de colostomia e vesical, se for o caso, antes do encaminhamento ao Centro Cirúrgico.
- f) Higiene corporal (Responsabilidade de execução: Enfermagem)
– Seguir as normatizações descritas no Quadro 1, quanto à frequência; ao tipo de degermante e ao horário do banho, de acordo com o tipo de cirurgia.
CIRURGIA |
FREQUÊNCIA |
DEGERMANTE |
HORÁRIO |
Cirurgias cardíacas; com implantes/próteses ou em clientes colonizados e/ou infectados com bactérias multirresistentes |
3 vezes |
Clorexidina 2% degermante |
1º banho – 16h
2º banho – 22h
3º banho – 5h
4° banho – 10h**
**quando cirurgia cardíaca agendada para o período da tarde. |
Outras cirurgias eletivas de grande porte. |
1 vez |
Sabonete neutro |
2 horas antes da cirurgia. |
Cirurgias eletivas de pequeno e médio porte |
1 vez |
Sabonete neutro |
Banho a ser realizado na manhã da cirurgia |
Cirurgias de urgência |
– |
Sabonete neutro |
À critério da avaliação da equipe assistente. |
Cirurgias de emergência |
– |
– |
– |
- g) Higiene bucal (Responsabilidade de execução: Enfermagem)
– Seguir as normatizações descritas no Quadro 2, quanto ao tipo de limpeza bucal e à escolha do produto, de acordo com o tipo de cirurgia. Consultar a Rotina Operacional Padrão InstitucionalEnfermagem (ROP) “Uso de solução bucal a base de digluconato de clorexidina 0,12%”.
TIPO DE CIRURGIA |
MODO |
TEMPO |
Cirurgias de grande porte: cardíacas e com
implantes/próteses
|
1. Limpeza com escova e creme dental ou com gaze embebida com solução dentifrícia, a depender do nível de consciência e orientação do cliente.
2. Antissepsia com solução bucal a base de digluconato de clorexidina 0,12%, por meio de bochecho ou aplicação de gaze embebida, a depender do nível de consciência e orientação do cliente. |
Máximo 2 horas antes
da cirurgia
**cirurgia cardíaca, no
momento de cada
banho |
Demais
procedimentos cirúrgicos |
2. Limpeza com escova e creme dental ou com gaze embebida com solução dentifrícia, a depender do nível de consciência e orientação do cliente. |
2 horas antes da cirurgia |
Cirurgia de urgência |
3. A critério da avaliação da equipe assistente. |
– |
- h) Tricotomia (Responsabilidade de execução: Enfermagem)
- Realizar a tricotomia nas áreas do procedimento cirúrgico e de posicionamento de eletrodos no tórax, quando prescrito ou indicado.
- Realizar tricotomia, no máximo, duas horas antes do procedimento cirúrgico.
- Utilizar, preferencialmente, tesouras ou tricotomizador elétrico. Evitar o uso de lâminas.
- Avaliar e registrar a presença de marcas, erupções, lesões, verrugas e demais anormalidades da pele no local da incisão cirúrgica.
- i) Remoção de próteses, adornos e de vestimentas (Responsabilidade de execução: Enfermagem)
- Perguntar ao cliente e retirar quaisquer adornos (brincos, colares, piercing, relógios, pulseiras, cintos, prendedores de cabelo, anéis, unhas e cílios postiços e outros) e próteses (exemplos: prótese dental e lentes de contato), assegurando destinação correta para guarda.
- Checar se as unhas das mãos da cliente estão sem esmalte, preferencialmente, ou com algum de coloração clara. Caso contrário, providenciar remoção do esmalte.
- Vestir roupa hospitalar, sem o uso de peças íntimas.
- j) Demarcação de lateralidade (Responsabilidade pela execução: Médico Cirurgião)
- Realizar a demarcação do sítio cirúrgico em casos de lateralidade (direito e esquerdo), de estruturas múltiplas (p. ex. dedos das mãos, membros inferiores, costelas) e de níveis múltiplos (p.ex. coluna vertebral).
- Realizar a demarcação do sítio cirúrgico com o símbolo de um alvo “¤” sobre a pele, tala gessada e/ou curativo, se for o caso.
- Utilizar marcador permanente específico (caneta dermográfica) para a demarcação do sítio cirúrgico.
- Realizar a demarcação, preferencialmente e se possível, com o cliente acordado e consciente, que confirmará o local da intervenção.
- k) Providência de reserva sanguínea (Responsabilidades: Médico-prescrição e Enfermagem-execução)
- Prescrever, coletar e encaminhar a amostra de sangue do cliente para prova cruzada, quando indicado, no mínimo 24 horas antes da cirurgia.
- Confirmar a reserva sanguínea no Hemocentro por meio de contato telefônico. Registrar a confirmação da reserva sanguínea no prontuário.
Notas: validade da prova cruzada é de 72 horas; em crianças até 4 meses de idade, proceder também à coleta de amostra de sangue da mãe.
l) Organização do prontuário (Responsabilidade de execução: Enfermagem e Escrituração/Secretário) O prontuário deverá ser encaminhado ao Centro Cirúrgico junto ao cliente, constando:
- – Dados de identificação do cliente;
- – Prescrição médica;
- – Evolução médica e de enfermagem;
- – Formulário de sinais vitais;
- – Ficha de avaliação pré-anestésica;
- – Termos de consentimentos (Cirúrgico, Anestésico e de Hemotransfusão) informados assinados;
- – Resultados laboratoriais, de biópsia e de imagem;
- – Checklist de Cirurgia Segura;
- – Documentos diversos específicos.
Notas importantes:
- Ficha de avaliação pré-anestésica e os termos de consentimentos cirúrgico, anestésico e de hemotransfusão deverão ser providenciados pelo médico durante o atendimento ambulatorial do cliente, a não ser que a indicação cirúrgica ocorra no período de hospitalização.
- Em clientes admitidos para a realização de procedimentos cirúrgicos eletivos, sem prévia internação, o preenchimento do checklist e organização do prontuário será conduzido pelo enfermeiro da Sala de Internação.
- O Termo de Consentimento de Hemotransfusão é indicado quando há previsão de risco de grande perda sanguínea (> 500 mL, em adultos, ou 7mL/Kg, em crianças).
Observações
Na presença de alguma não conformidade justificada no preparo pré-operatório, o enfermeiro da Unidade Assistencial ou da Sala de Internação deverá informar ao enfermeiro do Centro Cirúrgico, para análise da situação, junto à equipe cirúrgica, e permissão para o encaminhamento.

Estrutura de apresentação do Checklist de Cirurgia Segura destacando o momento “Antes do Encaminhamento do Cliente ao Centro Cirúrgico.
INTRAOPERATÓRIO
III- Recepção do Cliente no Centro Cirúrgico (Responsável pela execução: Enfermagem)
- Confirmar a identificação do cliente (nome completo, número de registro e data de nascimento), por meio da tripla checagem (pulseira, identificação no prontuário e confirmação com o próprio cliente ou responsável) e comparar as informações com o mapa cirúrgico.
- Confirmar o cumprimento dos cuidados pré-operatórios prescritos no Checklist de Cirurgia Segura e a apresentação da documentação obrigatória.
Inconformidades: Se o Checklist não for apresentado ou estiver incompleto com algum cuidado indicado não realizado ou com algum documento não apresentado, exceto quando situações especiais, será necessário discutir com a equipe a decisão por aguardar a resolução da inconformidade ou o cancelamento da cirurgia.
Situações especiais: 1. Cliente externo com indicação de cirurgia eletiva encaminhado diretamente ao Centro Cirúrgico e 2. Cliente internado com indicação de cirurgia de urgência.
- Encaminhar o cliente à sala operatória de destino, previamente preparada de acordo com o procedimento programado. Orientar e acomodar o cliente.
- Preencher e fixar a placa de identificação do cliente (nome completo; registro hospitalar; data de nascimento e descrição do tipo de cirurgia e de anestesia) na porta da sala cirúrgica.
IV – Na Sala de Cirurgia (Responsável pela execução: Equipe Interprofissional)
- a) Antes da indução anestésica (CHECK IN) e da incisão cirúrgica (TIME OUT)
O condutor do Checklist de Cirurgia Segura, em voz alta, junto a toda equipe presente, deverá solicitar aos profissionais que se apresentem informando o nome completo e a função, e ao cliente que se apresente informando o nome completo, a data de nascimento, o procedimento cirúrgico e o local da cirurgia, caso seja capaz de responder. E a seguir, direcionará aos profissionais para que confiram, confirmem e informem a realização dos pontos críticos primordiais contemplados nos 10 objetivos essenciais para a cirurgia segura, conforme demonstração abaixo:
Direcionamento |
Medidas Essenciais de Segurança |
Ação Esperada |
Equipe
Interprofissional |
Identificação do Cliente |
Conferir e confirmar o nome completo, o registro hospitalar e a data de nascimento do cliente por meio da pulseira de identificação, do prontuário, do relato verbal do cliente e da placa de identificação da sala operatória. |
Médico Cirurgião |
Procedimento a ser realizado. |
Relatar. |
Sítio cirúrgico/demarcação |
Demonstrar o local e, se for o caso, a lateralidade. |
Disposição dos exames |
Relatar os tipos de exames e o local de disposição. |
Médico Anestesista
|
Via aérea difícil
|
Se confirmado, informar os materiais providenciados, como videolaringoscópio e máscara laríngea, e informar a presença do médico anestesista auxiliar. |
Risco de aspiração
|
Se confirmado, administrar medicamentos pró cinéticos (nome, dose e horário) e informar os materiais providenciados. |
Alergia conhecida
|
Se confirmado a alergia a algum medicamento, informar as opções indicadas. |
Avaliação pré-anestésica
|
Informar os dados relatados em ficha de avaliação pré-anestésica, assim como os exames solicitados em avaliação; checar os preditores de via aérea difícil realizados ambulatoriamente. |
Acesso venoso
|
Descrever o tipo de acesso venoso (central ou periférico); calibre do dispositivo; local e permeabilidade. |
Monitorização hemodinâmica
|
Relatar os parâmetros e a funcionalidade
(parâmetros mínimos: pressão arterial não invasiva; frequência cardíaca, saturação de oxigênio e cardioscopia). |
Profilaxia antimicrobiana
|
Relatar o antibiótico profilático, a dose e a hora da administração. A administração deve ocorrer de 0 a 60 minutos antes da incisão cirúrgica. |
Aparelho de anestesia |
Confirmar a realização do teste de funcionalidade do aparelho de anestesia, seguindo recomendações do fabricante. |
Médicos Cirurgião e Anestesista |
Previsão dos pontos críticos do procedimento cirúrgico |
Se pontos críticos, relatar (risco de grande perda sanguínea, presença de comorbidades, tempo prolongado da cirurgia, risco de parada cardiorrespiratória e outros) e apresentar o plano de intervenção. |
Enfermagem
|
Sala operatória montada e equipada |
Relatar os materiais e equipamentos reunidos e preparados. |
Eletrocautério posicionado |
Demonstrar o local de posicionamento da placa de eletrocautério. A placa deverá estar bem aderida à pele em área limpa, seca, sem pelos, bem vascularizada, com maior massa muscular e longe de proeminências ósseas; o mais próximo possível da incisão cirúrgica e com menor risco de ser molhada. |

Estrutura de apresentação do Checklist de Cirurgia Segura destacando o momento “Antes da Indução Anestésica e da Incisão Cirúrgica.
b) Antes do cliente sair da sala cirúrgica (CHECK OUT)
O condutor do Checklist de Cirurgia Segura, em voz alta, junto a equipe presente, direcionará aos profissionais para que confiram, confirmem e informem a realização dos pontos críticos primordiais contemplados nos 10 objetivos essenciais para a cirurgia segura, conforme demonstração abaixo:
Direcionamento |
Medidas Essenciais de Segurança |
Ação Esperada |
Enfermagem
Médico Cirurgião
Instrumentador |
Contagem final de instrumentais |
Confirmar se confere a contagem de instrumentais e de compressas.
Caso a contagem final não apresente o mesmo resultado da contagem inicial, será necessário examinar todos os campos, recipientes de descarte, rampers, feridas cirúrgicas ou obter imagens radiológicas. |
Contagem final de compressas |
Enfermagem |
Peça anatômica identificada e com requisição preenchida |
Quando se aplica, confirmar a realização da dupla checagem da identificação do cliente (nome completo e RG) e da peça anatômica (tipo, local e |
Enfermagem |
|
data e horário de coleta), juntamente com o médico cirurgião. |
Cultura identificada e com requisição preenchida |
Quando se aplica, confirmar a realização da dupla checagem da identificação do cliente (nome completo e RG) e da amostra biológica (descrição da amostra e local anatômico, data e horário de coleta), juntamente com o médico cirurgião. |
Etiquetas de esterilização fixadas no prontuário. |
Confirmar a fixação das etiquetas de esterilização no prontuário. |
Equipe
Interprofissional |
Presença de não conformidades |
Quando se aplica, relatar, registrar e notificar |
Pontos críticos na recuperação pós-operatória |
Se presente preocupações da equipe com a evolução do cliente no pós-operatório imediato, relatar, registrar e discutir o plano de intervenções. |
Registros do procedimento
intraoperatório |
Confirmar o registro da:
v Descrição cirúrgica
v Prescrição Médica
v Ficha Intraoperatória (Anestesia)
v Ficha de Consumo de Materiais
|

Estrutura de apresentação do Checklist de Cirurgia Segura destacando o momento “Antes do cliente Sair da sala operatória.
PÓS-OPERTÓRIO IMEDIATO
VI -Na Sala de Recuperação Pós Anestésica – SRPA
- a) Admissão na SRPA (Responsável pela execução: Equipe Multiprofissional)
Implementar cuidados relacionados:
- Admissão e acolhimento;
- Exame físico: geral; cardiorrespiratório; motor; neurológico; vascular;
- Prevenção de hipotermia;
- Administração de medicamentos;
- Controle da dor e promoção de conforto;
- Manutenção da integridade da pele e segurança dos dispositivos;
- Permeabilidade de drenos;
- Avaliação da ferida operatória;
- Mensuração dos débitos de drenos e cateteres, quando presentes;
- Balanço hídrico;
- Orientações e apoio psicológico;
- Monitorização dos Sinais Vitais (Quadro 3).
Parâmetros Vitais |
Valores Normais de Referência |
1° hora |
2° hora |
3° hora |
Pressão Arterial Sistêmica |
Pressão Sistólica – 100 a 120 mmHg Pressão Diastólica – 60 a 80 mmHg |
Cada 15 min |
Cada 30min |
Cada 1 hora |
Frequência Respiratória |
16 – 20 rpm |
Frequência Cardíaca |
60 – 100 rpm |
Temperatura corporal |
35,1 – 37,7°C |
Quadro 3. Valores normais para referência dos sinais vitais
Não conformidades: Qualquer alteração identificada, deve-se comunicar ao médico anestesista e/ou cirurgião responsável.
- b) Alta da SRPA (Responsável pela execução: Médico Anestesita)
- O estado geral do cliente deverá ser avaliado detalhadamente. Como critério para alta da SRPA, o valor da escala de Aldrete/Kroulik deverá ser maior ou igual a 8; em clientes que foram submetidos à anestesia espinhal, o valor da escala de Bromage para alta deverá ser 2, 1 ou 0.
- Os clientes hemodinamicamente estáveis e que foram submetidos a cirurgias de pequeno porte, sem intercorrências, poderão ser encaminhados, imediatamente, para as enfermarias, a critério do médico anestesista.
MÉTRICAS DE MONITORAMENTO
- Número de cirurgias em local errado/mês e ano
- Número de cirurgias em paciente errado/mês e ano
- Número de procedimentos errados/mês e ano
- Taxa de adesão completa ao Checklist de Cirurgia Segura
Referências:
- ALEX B. HAYNES et al. A Surgical Safety Checklist to Reduce Morbidity and Mortality in a Global Population. N Engl J Med., 360, p. 491-499, 2009.
- ASKARIAN M, et al. Effect of surgical safety checklists on postoperative morbidity and mortality rates, Shiraz, Faghihy Hospital, a 1-year study. Qual Manag Health Care, v.20, p. 293–7. 2011.
- BERALDO, Carolina Contador; DE ANDRADE, Denise. Higiene bucal com clorexidina na prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 34, n. 9, p. 707-714, 2008.
- BERGS, J., LAMBRECHTS, F., SIMONS, P., VLAYEN, A., MARNEFFE, W., HELLINGS, J. et al. Barriers and facilitators related to the implementation of surgical safety checklists: a systematic review of the qualitative evidence. BMJ Qual Saf., v. 24, n. 12, p. 776-86, 2015.
- BOHMER AB et al. The implementation of a perioperative checklist increases patients’ perioperative safety and staff satisfaction. Acta Anaesthesiol Scand, v. 56, p. 332-8, 2012.
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Assistência Segura: Uma Reflexão Teórica Aplicada à Prática. Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde. Brasil: Anvisa,2017.Disponível em: http://www.saude.pi.gov.br/uploads/divisa_document/file/374/Caderno_1_–_Assist%C3%AAncia_Segura_–_Uma_Reflex%C3%A3o_Te%C3%B3rica_Aplicada_%C3%A0_Pr%C3%A1tica.pdf
- Agência Nacional De Vigilância Sanitária – ANVISA. Critérios diagnósticos de infecção relacionada à assistência à saúde. 2013.
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Manual de higienização das mãos em serviços de saúde. Brasil: Anvisa, 2007. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_maos/ficha_tecnica.htm
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Brasília: Anvisa, 2017. 126p. Disponível em: < http://www.riocomsaude.rj.gov.br/Publico/MostrarArquivo.aspx?C=pCiWUy84%2BR0%3D>.
- EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES – EBSERH. Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Protocolo: Prevenção de Infecção Cirúrgica. Unidade de Vigilância em Saúde e Qualidade Hospitalar/Setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente do HCUFTM, Uberaba, 2017. 13p. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt–br/hospitaisuniversitarios/regiao–sudeste/hc–uftm/documentos/protocolos–assistenciais/prt–svssp–003prevencao–de–infeccao–cirurgica–versao–pdf
- EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES – EBSERH. Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Procedimento Operacional Padrão: Lavagem intestinal retrógada. Serviço de Educação em Enfermagem da Divisão de Enfermagem HC-UFTM, Uberaba, 2020. 9p. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt–br/hospitais–universitarios/regiao–sudeste/hcuftm/documentos/pops/pop–de–010–lavagem–intestinal–retrograda.pdf
- MALACHIAS MVB, SOUZA WKSB, PLAVNIK FL, RODRIGUES CIS, BRANDÃO AA, NEVES MFT, et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol., 2016; 107(3Supl.3):1-83
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