Meningite: A Inflamação Agressiva que Exige Ação Imediata

A Meningite é uma condição que causa pânico instantâneo em qualquer serviço de saúde, e com razão. Não é apenas uma infecção; é a inflamação das meninges – as membranas protetoras que envolvem o cérebro e a medula espinhal.

Por estar tão perto do Sistema Nervoso Central (SNC), a meningite pode progredir rapidamente para danos cerebrais, perda auditiva, sequelas neurológicas graves ou até mesmo a morte, muitas vezes em questão de horas.

Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, o conhecimento e a vigilância são as ferramentas mais poderosas contra essa doença. Saber reconhecer os sinais e agir na “hora de ouro” é o que salva vidas.

O que é meningite?

Meningite é a inflamação das meninges — as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Essas membranas são essenciais para proteger o sistema nervoso central contra traumas e infecções. Quando há uma inflamação, ocorre acúmulo de células, proteínas e outras substâncias no líquido cefalorraquidiano (LCR), o que pode comprometer a função neurológica.

A meningite pode ter diferentes causas: bactérias, vírus, fungos, protozoários ou até processos não infecciosos, como traumas, tumores ou reações a medicamentos.

O Que Acontece? Entendendo a Inflamação

A meningite é causada, na maioria das vezes, por vírus ou bactérias que invadem a corrente sanguínea e chegam ao líquido cefalorraquidiano (LCR) e, consequentemente, às meninges.

Meningite Bacteriana (A Forma Mais Grave)

  • Agentes Comuns: Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e Haemophilus influenzae.
  • Velocidade: É a forma mais perigosa e de progressão mais rápida. Ocorre uma inflamação intensa que pode levar à sepse, choque e coagulação intravascular disseminada (CIVD), especialmente no caso do meningococo.
  • Tratamento: É uma emergência! Requer internação imediata e antibioticoterapia intravenosa de amplo espectro em altas doses.

Meningite Viral (A Mais Comum e Geralmente Leve)

  • Agentes Comuns: Enterovírus (a causa mais frequente), vírus do herpes (raro, mas grave) e vírus da caxumba.
  • Velocidade: Geralmente tem um curso mais brando e é autolimitada. É a mais comum, mas raramente fatal em pessoas com bom sistema imunológico.
  • Tratamento: Não existe tratamento específico para o vírus (a menos que seja o Herpes), o foco é no suporte (hidratação, controle da dor e da febre).

Meningite fúngica

Essa forma é mais rara e costuma ocorrer em pacientes com imunossupressão, como aqueles com HIV/Aids, neoplasias, uso prolongado de corticóides ou outros fatores que comprometem a imunidade. O tratamento é prolongado, com antifúngicos específicos, e a resposta depende bastante da imunidade do paciente.

Outras meningites (parasitária, não infecciosa)

Também existem meningites causadas por parasitas (protozoários) ou por processos não infecciosos, como traumas, tumores ou reações autoimunes ou a determinadas drogas. Essas formas são menos comuns, mas não devem ser esquecidas no raciocínio diagnóstico.

Epidemiologia no Brasil

No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica, com casos esperados ao longo do ano. Observa-se uma sazonalidade: as meningites bacterianas têm maior incidência durante o outono e inverno, e as virais tendem a aparecer mais na primavera e no verão.

Segundo dados recentes, a doença meningocócica (causada por Neisseria meningitidis) tem grande importância epidemiológica. Além disso, o Brasil lançou um plano nacional para combater as meningites até 2030, com metas ambiciosas de redução de mortalidade e controle de casos preveníveis por vacina.

Sinais Clássicos: A Tríade da Suspeita

Os sintomas iniciais da meningite podem se parecer com uma gripe, mas evoluem rapidamente para a tríade clássica que exige nossa alerta máximo:

  1. Cefaleia Intensa: Uma dor de cabeça súbita e excruciante, diferente de qualquer dor comum.
  2. Febre Alta: Acompanhada de calafrios.
  3. Rigidez de Nuca (Sinal de Kernig e Brudzinski): O paciente tem dificuldade ou dor intensa ao tentar encostar o queixo no peito. Este é o sinal mais característico da irritação meníngea.
  • Em Bebês e Recém-Nascidos: Os sinais podem ser inespecíficos: irritabilidade extrema, sonolência excessiva, choro inconsolável, recusa alimentar e, o sinal mais físico, a fontanela (moleira) abaulada e tensa.
  • Sinal de Alerta: A presença de petéquias (pequenas manchas vermelhas ou roxas na pele que não desaparecem à pressão) sugere infecção meningocócica e sepse.

O Diagnóstico: A Punção Lombar

O diagnóstico definitivo é feito pela análise do Líquido Cefalorraquidiano (LCR), obtido através da Punção Lombar (PL).

Aspecto do LCR

    • Bacteriana: LCR turvo, alto número de leucócitos (neutrófilos), glicose baixa e proteínas altas.
    • Viral: LCR claro, leucócitos moderados (linfócitos), glicose normal.
  • Cuidados de Enfermagem na PL: Auxiliar o médico no posicionamento do paciente (posição fetal), garantir a técnica asséptica rigorosa e monitorar o paciente após o procedimento para detectar cefaleia pós-punção (que pode ocorrer).

Outros diagnósticos

  • Anamnese e exame físico: levantando histórico clínico, sinais neurológicos, febre, rigidez de nuca, entre outros.
  • Exames laboratoriais: punção lombar para coletar o líquido cefalorraquidiano (LCR) é fundamental. No LCR, analisa-se célula (contagem), glicose, proteínas, cultura, gram, PCR, dependendo do agente suspeito.
  • Hemocultura: pode identificar a bactéria em cultura sanguínea.
  • Exames de imagem: em alguns casos, pode-se fazer tomografia ou ressonância para verificar se há contraindicação à punção lombar ou se há complicações.
  • Notificação: no Brasil, todos os casos suspeitos ou confirmados de meningite devem ser notificados ao sistema de vigilância, conforme orientações do Ministério da Saúde.

Tratamento

O tratamento depende do tipo de meningite:

  • Meningite bacteriana: é emergencial. Antibióticos de largo espectro são iniciados o mais rápido possível, muitas vezes antes mesmo da confirmação do agente, porque cada hora conta para diminuir o risco de morte ou sequelas. Corticosteroides, como a dexametasona, podem ser usados em alguns protocolos para reduzir a inflamação e prevenir complicações neurológicas.
  • Meningite viral: como já mencionado, na maioria dos casos o manejo é de suporte — hidratação, controle de febre, monitoramento neurológico, repouso. Se o vírus identificado for, por exemplo, um herpesvírus, pode haver tratamento antiviral.
  • Meningite fúngica: o tratamento é prolongado, com antifúngicos específicos, e costuma exigir internação para monitorização. A resposta depende bastante da imunidade do paciente.
  • Outros tipos: no caso parasitário ou não infeccioso, o tratamento será dirigido conforme a causa — pode haver antiparasitários, terapia imunossupressora, cirurgia, dentre outras abordagens, de acordo com o diagnóstico.

Além disso, é importante o suporte clínico: reposição de fluidos, evitar hipertensão intracraniana, controlar convulsões se surgirem, tratar febre, entre outras medidas.

Prevenção

Como estudante de enfermagem, é importante estar atento à prevenção da meningite, especialmente das formas bacterianas mais perigosas:

  • Vacinação: no Brasil, há vacinas disponibilizadas no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para prevenir alguns tipos de meningite bacteriana. Por exemplo, a vacina meningocócica C conjugada, a meningocócica ACWY, a vacina pneumocócica (contra Streptococcus pneumoniae) e a pentavalente (inclui Haemophilus influenzae tipo b).
  • Quimioprofilaxia: em contatos próximos com casos de meningite meningocócica, pode ser indicado antibiótico preventivo
  • Higiene e controle de transmissão: como a bactéria pode se transmitir por gotículas respiratórias, a higiene das mãos, evitar compartir talheres ou objetos pessoais em surtos, e adotar boas práticas de saúde pública são medidas relevantes. Além disso, há políticas de saúde pública para aumentar a cobertura vacinal e reduzir a mortalidade. No Brasil, por exemplo, foi lançado o Plano Nacional para derrotar as meningites até 2030.

Cuidados de Enfermagem na Meningite

A enfermagem desempenha um papel central no manejo de pacientes com meningite, desde a admissão até a alta (ou alta para ambulatório, quando aplicável). Aqui estão os principais cuidados e responsabilidades:

Admissão e monitorização

Quando o paciente chega ao serviço com suspeita de meningite, a enfermagem deve:

  • Avaliar sinais vitais imediatamente e com frequência, porque a instabilidade hemodinâmica pode ocorrer.
  • Observar o nível de consciência, usando escalas como a Glasgow, para detectar alterações neurológicas rapidamente.
  • Avaliar a presença de rigidez de nuca e outros sinais meníngeos.
  • Preparar e apoiar a punção lombar, garantindo assepsia, cuidados de conforto ao paciente, explicando o procedimento (se possível) e monitorando após a coleta.

Administração de medicamentos

  • Administrar os antibióticos prescritos para meningite bacteriana, conforme ordem médica. Verificar os horários, doses, compatibilidades e reações adversas.
  • Se forem prescritos corticosteroides, garantir sua administração no tempo correto para maximizar o benefício fisiológico.
  • Prover analgésicos e antipiréticos para alívio da dor de cabeça e da febre.
  • Em caso de tratamento antiviral ou antifúngico, acompanhar os regimes de medicamentos e monitorar efeitos colaterais.

Suporte geral

  • Manter hidratação: verificar balanço hídrico, peso, ingestão e eliminação de líquidos.
  • Controlar a temperatura corporal: orientar resfriamento, administrar antipiréticos, monitorar para sinais de hipertermia ou hipotermia.
  • Monitorar sinais de aumento da pressão intracraniana: avaliação neurológica frequente, observação de pupilas, dor de cabeça, vômitos, alterações no nível de consciência. Se houver suspeita de hipertensão intracraniana, comunicar rapidamente a equipe médica.
  • Garantir repouso adequado, em ambiente calmo, escuro ou com luz baixa, para reduzir a fotofobia e o desconforto.
  • Prevenir complicações: por exemplo, risco de convulsão, de trombose por imobilização, de úlceras de pressão, de pneumonia por aspiração (se o nível de consciência estiver alterado).

Educação e suporte ao paciente e à família

  • Orientar o paciente (e a família) sobre o diagnóstico, a importância do tratamento, os riscos de complicações e a evolução esperada.
  • Explicar a necessidade de isolamento, se houver, e as medidas que devem ser seguidas para evitar a transmissão (dependendo do agente).
  • Incentivar a adesão ao tratamento e ao seguimento ambulatorial, quando houver alta hospitalar.
  • Envolver a família no monitoramento: ensinar sinais de alerta que indicam piora, como convulsões, sonolência excessiva, febre persistente, vômitos intensos, confusão.

Alta e seguimento

  • Participar da elaboração do plano de alta, garantindo que o paciente (ou a família) entenda a medicação, o acompanhamento ambulatorial, a necessidade de reavaliações neurológicas.
  • Encaminhar para reabilitação, se houver sequelas neurológicas (como déficit motor, auditivo, cognitivo), e interagir com fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros profissionais.
  • Registrar tudo no prontuário: anotações de evolução neurológica, administração de medicamentos, complicações e educação ao paciente/família.

Possíveis complicações e sequelas

A meningite, especialmente a bacteriana, pode deixar sequelas sérias se não tratada rapidamente ou ainda, apesar do tratamento. Entre as complicações mais comuns estão:

  • Hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro)
  • Convulsões
  • Déficits neurológicos: por exemplo, surdez, dificuldades motoras, déficit cognitivo
  • Abscessos cerebrais
  • Síndrome de Waterhouse-Friderichsen (em meningococcemia): insuficiência adrenal aguda devido à hemorragia nas glândulas suprarrenais
  • Morte, se o tratamento for tardio ou se o paciente desenvolver choque séptico

Por isso, a atuação da enfermagem no diagnóstico precoce, intervenção, monitoramento e educação é vital para minimizar esses riscos.

A meningite é uma condição grave que demanda rapidez no diagnóstico e na intervenção. Como futura enfermeira ou enfermeiro, você terá um papel essencial tanto na fase aguda quanto na recuperação e na prevenção. Entender os diferentes tipos — bacteriana, viral, fúngica —, conhecer os sinais, saber os cuidados de enfermagem e colaborar nas estratégias de prevenção é fundamental para salvar vidas e reduzir danos.

A vacinação, a vigilância epidemiológica e a notificação são ferramentas poderosas para prevenir surtos e proteger populações vulneráveis. E no dia a dia hospitalar, a vigilância da enfermagem, o manejo adequado e o suporte ao paciente e à família são pilares para um atendimento eficaz.

Referências:

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Meningites Bacterianas Agudas: Diagnóstico e Manejo. Disponível em: https://www.sbp.com.br/. (Buscar diretrizes mais recentes sobre manejo e vacinação).
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Vigilância Epidemiológica das Meningites. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/dathi/publicacoes/manual-de-vigilancia-epidemiologica-das-meningites.
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. “Meningite”. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/meningite.
  4.  MANUAL MSD. “Meningite bacteriana aguda”. Versão para saúde familiar. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,%20da%20medula%20espinhal%20e%20dos%20nervos/meningite/meningite-bacteriana-aguda.
  5. COFEN. “Plano Nacional para derrotar as meningites até 2030 visa reduzir óbitos em 70%”. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/plano-nacional-para-derrotar-as-meningites-ate-2030-visa-reduzir-casos-em-50-e-obitos-em-70/.
  6. TUA SAÚDE. “Meningite: o que é, tipos, sintomas e tratamento”. Disponível em: https://www.tuasaude.com/meningite/.
  7. CENTRO DE NEUROLOGIA E NEUROCIRURGIA OSWALDO CRUZ. “Meningite”. Disponível em: https://www.hospitaloswaldocruz.org.br/centro-especializado/neurologia-e-neurocirurgia/meningite/. SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS. “Meningite”. Disponível em: https://www.saude.mg.gov.br/meningite.
  8. BRASIL. Ministério da Saúde. Informe epidemiológico – meningite. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/meningite/situacao-epidemiologica/dados-epidemiologicos/informe-meningite.pdf.

Demência por Corpos de Lewy

A demência por corpos de Lewy (DCL) é uma condição neurodegenerativa progressiva que combina características da doença de Alzheimer e da doença de Parkinson. Ela é uma das principais causas de demência em idosos e representa um desafio diagnóstico por sua apresentação clínica variada e flutuante.

Compreender seus sintomas, causas e cuidados é essencial para oferecer assistência humanizada e eficaz, especialmente no contexto da enfermagem.

O que é a demência por corpos de Lewy?

A Demência por Corpos de Lewy é uma doença neurodegenerativa causada pelo acúmulo de proteínas anormais no cérebro, chamadas Corpos de Lewy.

  • O Mecanismo: Esses corpos são feitos principalmente de uma proteína chamada alfa-sinucleína. Quando essa proteína se agrupa e se deposita em certas áreas do cérebro, ela danifica as células nervosas.
  • As Áreas Afetadas: Os Corpos de Lewy se depositam em duas regiões principais:
    1. Córtex Cerebral: Afeta o pensamento, a memória e a percepção.
    2. Tronco Encefálico: Afeta a regulação do sono e o controle dos movimentos (o que causa o parkinsonismo).
  • A Conexão com o Parkinson: A DCL compartilha a mesma proteína (alfa-sinucleína) que causa a Doença de Parkinson. Muitos pacientes com DCL desenvolvem sintomas motores que são idênticos aos do Parkinson, e vice-versa, tornando o diagnóstico precoce um grande desafio.

Causas e fatores de risco

As causas exatas ainda não são totalmente compreendidas, mas a DCL está relacionada a processos degenerativos cerebrais semelhantes aos observados no Alzheimer e no Parkinson.

Entre os fatores de risco estão:

  • Idade avançada (acima de 60 anos);
  • História familiar de demência;
  • Presença de mutações genéticas específicas;
  • Sexo masculino (levemente mais prevalente).

Manifestações clínicas

O que diferencia a DCL do Alzheimer ou do Parkinson é a combinação de três grupos de sintomas que a enfermagem precisa monitorar de perto:

Flutuações Cognitivas

  • O que são: São variações significativas e imprevisíveis no nível de atenção, alerta e pensamento do paciente. Em um momento, o paciente pode estar lúcido e conversando; horas depois, ele pode estar totalmente confuso, sonolento e desorientado.
  • Cuidados de Enfermagem: Registrar e comunicar essas flutuações. Elas podem ser confundidas com delirium ou piora da doença, mas na DCL, são uma característica central.

Alucinações Visuais Recorrentes

  • O que são: O paciente vê coisas que não estão lá. Essas alucinações são tipicamente visuais, detalhadas e recorrentes (por exemplo, “ver” crianças, animais ou pessoas estranhas na sala).
  • Cuidados de Enfermagem: Nunca discutir ou confrontar o paciente sobre a alucinação, pois isso aumenta a ansiedade. Validar o sentimento do paciente (ex: “Entendo que você está assustado, mas aqui estamos seguros”) e tentar mudar o foco ou o ambiente.

Parkinsonismo

  • O que são: Sinais motores semelhantes à Doença de Parkinson: rigidez muscular, lentidão de movimentos (bradicinesia) e, por vezes, tremores.
  • Cuidados de Enfermagem: Aumentam o risco de quedas e a dificuldade na alimentação e higiene. O cuidado é focado na prevenção de quedas e na assistência durante as refeições.

Outros Sinais Cruciais

  • Distúrbio Comportamental do Sono REM (DBCSR): O paciente “encena” seus sonhos. Ele pode gritar, espernear ou se debater durante o sono, pois perde a paralisia muscular natural que ocorre durante a fase REM.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico e requer avaliação cuidadosa do histórico e dos sintomas. Exames complementares ajudam a descartar outras causas de demência.

Entre os exames mais utilizados estão:

  • Ressonância magnética (RM) para descartar lesões estruturais;
  • Tomografia por emissão de fóton único (SPECT) para avaliar a dopamina;
  • Exames neuropsicológicos para avaliar a cognição e a memória.

A confirmação definitiva só pode ser feita por estudo histopatológico após o óbito, mas os critérios clínicos são altamente sensíveis quando aplicados corretamente

Tratamento e manejo

Não existe cura para a DCL, mas há tratamentos que ajudam a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

  • Medicamentos inibidores da colinesterase (como a rivastigmina) podem auxiliar na cognição e no comportamento;
  • Levodopa pode ser usada para sintomas motores, embora a resposta nem sempre seja completa;
  • Cuidados com medicamentos antipsicóticos: devem ser evitados ou usados com cautela, pois podem agravar sintomas motores e causar reações adversas graves;
  • Fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional são fundamentais para manter a funcionalidade.

Cuidados de Enfermagem

O tratamento da DCL é sintomático e exige um plano de cuidados que priorize a segurança e a estabilidade.

  1. Segurança e Prevenção de Quedas: Devido à bradicinesia, rigidez e às flutuações cognitivas, o risco de queda é muito alto.
    • Intervenção: Adaptar o ambiente, usar alarmes de cama e auxiliar o paciente durante a deambulação.
  2. Manejo de Medicações: Muitos pacientes são tratados com inibidores da colinesterase (usados no Alzheimer), que ajudam nas flutuações cognitivas.
    • Alerta: A DCL tem uma sensibilidade extrema a antipsicóticos convencionais. Muitos desses medicamentos podem piorar drasticamente os sintomas motores (parkinsonismo) e o estado mental do paciente. O enfermeiro deve estar atento a qualquer prescrição e reação adversa.
  3. Ambiente Calmo e Rotina: O paciente com DCL se beneficia de um ambiente calmo, com pouca estimulação e uma rotina diária previsível. Isso minimiza a confusão e a ansiedade.
  4. Comunicação Consistente: Usar frases curtas, claras e uma abordagem tranquila. O paciente pode esquecer rapidamente as instruções devido às flutuações.

Prognóstico e evolução

A DCL é uma doença progressiva, com evolução variável entre os indivíduos. Em média, o tempo de sobrevida após o diagnóstico é de 5 a 8 anos. A abordagem humanizada e o acompanhamento multiprofissional são fundamentais para preservar a dignidade e a qualidade de vida do paciente.

A demência por corpos de Lewy é uma condição complexa, que exige sensibilidade, conhecimento técnico e trabalho em equipe. O papel do enfermeiro é essencial, não apenas no manejo clínico, mas também no apoio emocional e educativo, garantindo um cuidado centrado no paciente e em sua família.

Referências:

  1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NEUROLOGIA (ABN). Demência com Corpos de Lewy. Disponível em: https://www.abneuro.org.br/.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas: Doença de Alzheimer. (Muitas diretrizes de demência abordam a DCL em comparação). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-em-vigor/pcdt-doenca-de-alzheimer-versao-final.pdf
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Demência por Corpos de Lewy: diagnóstico e manejo. Brasília, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude. 
  4. ALZHEIMER’S ASSOCIATION. Lewy Body Dementia (LBD). 2024. Disponível em: https://www.alz.org/alzheimers-dementia/what-is-dementia/types-of-dementia/lewy-body-dementia. 
  5. NATIONAL INSTITUTE OF NEUROLOGICAL DISORDERS AND STROKE (NINDS). Lewy Body Dementia Fact Sheet. 2024. Disponível em: https://www.ninds.nih.gov.

Wake Up Stroke

Imagine a cena: você vai dormir se sentindo bem, acorda e percebe que não consegue mexer um lado do corpo ou que sua fala está arrastada. Essa é a realidade assustadora de quem sofre um Wake-Up Stroke (AVC ao acordar), um tipo de Acidente Vascular Cerebral que acontece durante o sono ou no período em que a pessoa está dormindo, e os sintomas só são notados ao despertar.

Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, o Wake-Up Stroke representa um desafio particular.

Por que?

Porque o tempo é cérebro no AVC, e a ausência de um horário claro de início dos sintomas complica a janela de tratamento. Entender essa condição e como abordá-la é crucial para otimizar as chances de recuperação dos nossos pacientes. Vamos mergulhar nesse mistério?

O Que É o Wake-Up Stroke? O AVC Silencioso da Noite

Um AVC tradicional tem um horário de início dos sintomas bem definido – a pessoa estava bem em um momento e, de repente, sente a boca torta, o braço fraco ou a fala enrolada. Isso é fundamental para decidir o tratamento, especialmente a trombólise (uso de medicamentos para dissolver o coágulo), que tem uma “janela de tempo” limitada.

No Wake-Up Stroke, a pessoa acorda com os sintomas neurológicos e não consegue dizer quando eles começaram. Isso significa que o momento exato do AVC é desconhecido. Por convenção, para fins de tratamento, a última vez que o paciente foi visto bem (geralmente ao ir para a cama na noite anterior) é considerada o “tempo zero” do AVC. Isso, muitas vezes, coloca o paciente fora da janela de tratamento padrão para a trombólise venosa.

Por que acontece?

O AVC ao acordar, na maioria das vezes, é um AVC isquêmico (causado por um coágulo que bloqueia uma artéria no cérebro). Durante o sono, há variações na pressão arterial e na frequência cardíaca que podem favorecer a formação ou deslocamento de coágulos.

Os Desafios do Diagnóstico e Tratamento: O Relógio Está Contra Nós

A grande questão do Wake-Up Stroke é a janela terapêutica. A trombólise venosa com alteplase, o principal tratamento para o AVC isquêmico agudo, é mais eficaz e segura se administrada em até 4,5 horas do início dos sintomas. Se não sabemos quando o AVC começou, como decidir?

Antigamente, muitos pacientes com Wake-Up Stroke eram excluídos da trombólise. No entanto, a medicina evoluiu, e hoje temos ferramentas que nos ajudam a identificar pacientes que ainda podem se beneficiar.

  • Ressonância Magnética (RM) de Crânio: Essa é a principal ferramenta. Através de sequências específicas (como FLAIR e difusão), a RM pode ajudar a estimar se o AVC é “recente” (menos de 4,5 horas) ou mais antigo.
    • Sequência de Difusão (DWI): Mostra áreas de infarto agudo (onde o tecido cerebral está morrendo) que aparecem rapidamente após o AVC.
    • Sequência FLAIR: Demora um pouco mais para mostrar alterações (horas).
    • “Mismatch” DWI-FLAIR: Se a lesão aparece na difusão, mas não na FLAIR, isso sugere que o AVC é recente (provavelmente dentro da janela de 4,5 horas). Esse achado permite que esses pacientes sejam considerados para a trombólise.
  • Trombectomia Mecânica: Mesmo que o paciente esteja fora da janela da trombólise venosa, se tiver uma oclusão de grande vaso cerebral (identificada por angiotomografia ou angioressonância), ele ainda pode ser elegível para a trombectomia mecânica (retirada do coágulo por um cateter), que tem uma janela de tempo mais estendida (até 24 horas em casos selecionados, dependendo da área do cérebro em risco).

Sinais de Alerta: Identificando um Possível Wake-Up Stroke

Embora os sintomas só sejam notados ao acordar, eles são os mesmos de qualquer AVC. Nós, profissionais de enfermagem, precisamos estar aptos a identificá-los rapidamente:

  • FAST (Face, Arm, Speech, Time):
    • F (Face – Face): Um lado do rosto caído ao sorrir ou pedir para mostrar os dentes.
    • A (Arm – Braço): Fraqueza ou dormência em um braço ao tentar levantá-los.
    • S (Speech – Fala): Dificuldade para falar (fala arrastada, incompreensível) ou para entender.
    • T (Time – Tempo): Chamar o SAMU/Emergência imediatamente. Embora o tempo de início seja desconhecido, a urgência é a mesma!
  • Outros Sinais:
    • Confusão mental súbita.
    • Alteração súbita na visão em um ou ambos os olhos.
    • Dificuldade súbita para andar, tontura, perda de equilíbrio ou coordenação.
    • Dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente.

Cuidados de Enfermagem: Nossa Atuação Imediata e Abrangente

No caso de um paciente que chega com suspeita de Wake-Up Stroke, nossa conduta é decisiva:

  1. Prioridade e Rapidez: Receber o paciente como uma urgência neurológica. O tempo entre a chegada ao hospital e o início do tratamento (Door-to-Needle Time) precisa ser o menor possível.
  2. Anamnese Focada: Obter o máximo de informações da família ou acompanhantes sobre a última vez que o paciente foi visto bem, medicações em uso, histórico de doenças (hipertensão, diabetes, arritmias, tabagismo).
  3. Avaliação Neurológica Rápida:
    • Escala de Glasgow: Para avaliar o nível de consciência.
    • NIHSS (National Institutes of Health Stroke Scale): Essencial para quantificar o déficit neurológico. Essa escala deve ser realizada rapidamente e de forma precisa, pois orienta o tratamento.
  4. Monitorização Constante:
    • Sinais Vitais: Pressão arterial (manter em níveis que garantam perfusão cerebral, mas evitem hemorragia), frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação de oxigênio, temperatura.
    • Glicemia Capilar (HGT): Realizar imediatamente, pois hipo ou hiperglicemia podem mimetizar ou agravar os sintomas do AVC.
  5. Preparação para Exames:
    • Acesso Venoso: Garantir pelo menos dois acessos venosos calibrosos.
    • Exames Laboratoriais: Coletar sangue para coagulograma (INR, PTTa), hemograma, eletrólitos, função renal, entre outros.
    • Eletrocardiograma (ECG): Realizar ECG de 12 derivações para avaliar arritmias.
    • Tomografia Computadorizada (TC) de Crânio Imediata: Para excluir sangramento cerebral. Se não houver sangramento, o paciente pode ser elegível para RM.
  6. Gerenciamento da Via Aérea e Ventilação: Garantir que o paciente esteja com via aérea pérvia e boa oxigenação. Se necessário, elevar a cabeceira do leito para prevenir broncoaspiração.
  7. Preparação para o Tratamento: Se o paciente for elegível para trombólise, preparar a medicação (Alteplase), bomba de infusão, e monitorar o paciente rigorosamente para sinais de complicação (hemorragia).
  8. Suporte e Educação à Família: Explicar a situação, a necessidade de agilidade e as etapas do tratamento. A família geralmente está em choque e precisa de informações claras e apoio.
  9. Registro Preciso: Documentar minuciosamente o tempo de chegada, os achados da avaliação, os exames realizados, as medicações administradas e a resposta do paciente.

O Wake-Up Stroke, embora desafiador pela incerteza do tempo, é um campo onde a inovação diagnóstica e a agilidade da equipe de enfermagem fazem uma diferença monumental. Estar preparado para identificar, agir e coordenar o cuidado com excelência é a nossa contribuição vital para esses pacientes que, ao acordar, se deparam com a realidade de um AVC.

Referências:

  1. AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA) / AMERICAN STROKE ASSOCIATION (ASA). Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke, Dallas, v. 50, n. 12, p. e344-e418, dez. 2019. Disponível em: https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/STR.0000000000000211. (É fundamental consultar a edição mais recente das diretrizes da AHA/ASA, pois elas são atualizadas com base nas últimas pesquisas, incluindo Wake-Up Stroke).
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Linha de Cuidado do Acidente Vascular Cerebral (AVC). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_acidente_vascular_cerebral.pdf
  3. CAMPOS, P. M. C. et al. Tratamento do acidente vascular cerebral isquêmico agudo: uma revisão da literatura. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 106-111, 2016.

Entenda sobre a Neuropatia Diabética

Se você está estudando enfermagem ou já atua na área, com certeza já se deparou com pacientes com diabetes. Essa condição crônica exige um cuidado integral, e uma das complicações mais comuns e impactantes é a neuropatia diabética.

Para nós, futuros profissionais de enfermagem, entender essa condição em detalhes é crucial para oferecermos um cuidado eficaz e compassivo. Vamos juntos desmistificar a neuropatia diabética e descobrir como ela afeta nossos pacientes?

O Que Acontece com os Nervos no Diabetes? Uma Explicação Simples

Imagine seus nervos como fios elétricos que transmitem mensagens por todo o seu corpo, permitindo que você sinta, se mova e controle diversas funções. No diabetes, níveis elevados de glicose no sangue ao longo do tempo podem danificar esses “fios”, especialmente os menores e mais distantes, como os dos pés e das pernas. Essa lesão progressiva é o que chamamos de neuropatia diabética.

Existem diferentes tipos de neuropatia diabética, afetando diferentes partes do corpo e causando uma variedade de sintomas. A mais comum é a neuropatia periférica, que afeta os nervos dos membros.

Mas também podemos ter a neuropatia autonômica, que atinge os nervos que controlam funções involuntárias como a digestão, a frequência cardíaca e a pressão arterial; a neuropatia focal ou mononeuropatia, que afeta um único nervo; e a neuropatia proximal, que causa dor e fraqueza nas coxas, quadris e nádegas.

Os Sinais Sutis e os Sintomas Incômodos: Como a Neuropatia se Manifesta

A neuropatia diabética pode se desenvolver de forma lenta e gradual, e os sintomas podem variar bastante de pessoa para pessoa. Em alguns casos, a pessoa pode nem perceber os sinais no início. Mas, com o tempo, os nervos danificados começam a enviar sinais anormais ou a não enviar sinais corretamente, levando a uma série de sintomas:

  • Perda de Sensibilidade: Este é um dos sintomas mais comuns e perigosos. A pessoa pode perder a capacidade de sentir dor, temperatura ou toque nos pés e nas mãos. Isso significa que pequenos ferimentos, cortes, bolhas ou queimaduras podem passar despercebidos, evoluindo para problemas mais sérios como úlceras e infecções.
  • Sensações Anormais: Além da perda de sensibilidade, muitas pessoas com neuropatia periférica experimentam sensações estranhas, como formigamento, dormência, queimação, pontadas ou choques, especialmente à noite. Essas sensações podem ser leves no início, mas podem se tornar intensas e interferir no sono e na qualidade de vida.
  • Dor: A dor neuropática pode ser lancinante, constante ou intermitente, e muitas vezes é descrita como uma queimação profunda. Ela pode piorar à noite e ser difícil de controlar com analgésicos comuns.
  • Fraqueza Muscular: A neuropatia pode afetar os nervos que controlam os músculos, levando à fraqueza, principalmente nas pernas e nos pés. Isso pode causar dificuldade para caminhar, tropeçar com frequência e ter problemas de equilíbrio.
  • Problemas de Coordenação: A perda de sensibilidade e a fraqueza muscular podem afetar a coordenação dos movimentos, tornando atividades simples como abotoar uma camisa ou segurar objetos mais difíceis.
  • Deformidades nos Pés: A fraqueza muscular e a perda de sensibilidade podem levar a alterações na estrutura dos pés, como dedos em garra, joanetes e arcos caídos. Essas deformidades aumentam o risco de pressão em áreas específicas, facilitando o surgimento de úlceras.

Quando a neuropatia afeta o sistema nervoso autônomo, os sintomas podem ser ainda mais diversos:

  • Problemas Digestivos: Náuseas, vômitos, constipação ou diarreia podem ocorrer devido ao comprometimento dos nervos que controlam a motilidade intestinal. A gastroparesia (retardo no esvaziamento do estômago) é uma complicação comum.
  • Problemas Cardiovasculares: A neuropatia autonômica pode afetar a frequência cardíaca e a pressão arterial, levando a tonturas ao levantar (hipotensão ortostática) ou a um ritmo cardíaco anormal.
  • Problemas Urinários: Dificuldade para esvaziar a bexiga, incontinência urinária ou infecções urinárias frequentes podem ser sinais de neuropatia autonômica na bexiga.
  • Disfunção Erétil: Nos homens, a neuropatia autonômica pode afetar os nervos responsáveis pela ereção.
  • Sudorese Anormal: Algumas pessoas podem apresentar aumento ou diminuição da sudorese, especialmente à noite.
  • Dificuldade em Reconhecer a Hipoglicemia: A neuropatia autonômica pode interferir nos sinais de alerta da hipoglicemia, tornando mais difícil para a pessoa perceber quando o açúcar no sangue está baixo.

O Olhar Atento da Enfermagem: Nossos Cuidados Essenciais

Para nós, profissionais de enfermagem, o cuidado ao paciente com neuropatia diabética exige uma abordagem multidisciplinar e atenta a todos os aspectos da vida do paciente.

Nossas ações visam principalmente:

  • Avaliação Detalhada: Realizar uma avaliação completa do paciente, incluindo histórico da diabetes, controle glicêmico, sintomas neurológicos, exame físico focado (sensibilidade tátil, dolorosa, vibratória, reflexos), avaliação dos pés e da marcha.
  • Educação para o Autocuidado: Este é um pilar fundamental. Precisamos educar o paciente sobre a importância do controle glicêmico rigoroso para prevenir a progressão da neuropatia, os cuidados diários com os pés (inspeção, higiene, hidratação, uso de calçados adequados), a importância de evitar traumas e como identificar sinais de alerta (ferimentos, alterações na cor ou temperatura dos pés).
  • Manejo da Dor: A dor neuropática pode ser debilitante. Trabalhamos em conjunto com a equipe médica para implementar estratégias de controle da dor, que podem incluir medicamentos específicos para dor neuropática, terapias não farmacológicas (exercícios, acupuntura, estimulação nervosa elétrica transcutânea – TENS) e orientações sobre técnicas de relaxamento.
  • Prevenção de Lesões nos Pés: A perda de sensibilidade aumenta muito o risco de lesões nos pés. Nossas orientações devem ser enfáticas sobre a inspeção diária dos pés (inclusive entre os dedos), a lavagem cuidadosa e a secagem completa, o uso de meias de algodão sem costuras e sapatos confortáveis e adequados, e a importância de evitar andar descalço. Qualquer ferimento, por menor que seja, deve ser avaliado por um profissional de saúde.
  • Promoção da Mobilidade e Prevenção de Quedas: A fraqueza muscular e os problemas de equilíbrio aumentam o risco de quedas. Devemos orientar sobre exercícios de fortalecimento muscular e equilíbrio, avaliar o ambiente doméstico em busca de fatores de risco para quedas e, se necessário, recomendar o uso de dispositivos de auxílio à marcha.
  • Manejo dos Sintomas Autonômicos: Para pacientes com neuropatia autonômica, os cuidados serão direcionados aos sintomas específicos. Isso pode incluir orientações sobre mudanças posturais para evitar a hipotensão ortostática, manejo da dieta e horários das refeições para problemas digestivos, orientações sobre o controle da bexiga e encaminhamento para avaliação urológica, e discussão sobre o manejo da disfunção erétil.
  • Monitorização e Detecção Precoce de Complicações: Acompanhar regularmente o paciente, observando sinais de progressão da neuropatia ou surgimento de complicações como úlceras nos pés, infecções ou alterações cardiovasculares.
  • Suporte Emocional: Viver com neuropatia diabética pode ser frustrante e impactar a qualidade de vida. Oferecer escuta ativa, empatia e apoio emocional é fundamental para ajudar o paciente a lidar com os desafios da condição.

Cuidando dos “Fios da Vida”: Uma Abordagem Holística

A neuropatia diabética é uma complicação séria que exige um cuidado de enfermagem abrangente e individualizado. Nosso papel vai além de tratar os sintomas; envolve educar, prevenir complicações e promover a melhor qualidade de vida possível para nossos pacientes.

Ao entendermos a complexidade dessa condição e suas diversas manifestações, podemos oferecer um cuidado mais eficaz e compassivo, ajudando nossos pacientes a “cuidar dos seus fios da vida” da melhor maneira possível.

Referências:

  1. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (ADA). Standards of Medical Care in Diabetes—2024. Diabetes Care, v. 47, Supplement 1, p. S1-S263, 2024. (Consultar seção sobre neuropatia). Disponível em: https://diabetesjournals.org/care/article/47/Supplement_1/S1/15386/1-Standards-of-Medical-Care-in-Diabetes-2024.
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. São Paulo: SBD, 2019. (Consultar capítulo sobre neuropatia diabética). Disponível em: https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/DIRETRIZES-SBD-2019.pdf.
  3. DYCK, P. J.; ALBERS, J. W.; ANDREWS, J. L.; et al. Diabetic polyneuropathy: update on research definition, diagnostic criteria, and nosologic principles. Diabetes Care, v. 34, n. 6, p. 1432-1437, 2011. Disponível em: https://diabetesjournals.org/care/article/34/6/1432/37259/Diabetic-Polyneuropathy-Update-on-Research.

Paralisia Cerebral (PC)

paralisia cerebral (PC) é um grupo de distúrbios motores permanentes causados por danos ao cérebro em desenvolvimento, geralmente antes, durante ou logo após o nascimento. Ela afeta o movimento, a postura e o tônus muscular, podendo ser acompanhada por alterações sensoriais, cognitivas e de comunicação.

A PC é classificada em três grupos principais, de acordo com as características motoras: espástica, discinética e atáxica.

Grupo Espástico (Espasticidade)

Caracterizado por rigidez muscular e dificuldade de movimento devido à hipertonia (aumento do tônus muscular). É o tipo mais comum, representando cerca de 70-80% dos casos. Divide-se em:

  • Hemiplegia espástica: Afeta um lado do corpo (braço e perna do mesmo lado). Geralmente, a função das pernas é menos comprometida que a dos braços.
  • Diplegia espástica: Predominantemente afeta as pernas, com menor comprometimento dos braços. É comum em prematuros.
  • Quadriplegia espástica: Envolve todos os membros, tronco e face, sendo a forma mais grave. Frequentemente associada a outras condições, como epilepsia e dificuldades de deglutição.

Grupo Discinético (Movimentos Involuntários)

Caracteriza-se por movimentos descontrolados e variações no tônus muscular (hipotonia ou hipertonia flutuante). Representa cerca de 10-15% dos casos. Subdivide-se em:

  • Atetóide: Movimentos lentos, contorcidos e involuntários, principalmente nas extremidades.
  • Distônico: Posturas anormais e movimentos repetitivos devido à contração muscular sustentada.

Grupo Atáxico (Problemas de Equilíbrio e Coordenação)

O tipo menos comum (cerca de 5-10% dos casos), caracterizado por:

  • Hipotonia (tônus muscular diminuído) na infância.
  • Dificuldades de equilíbrio e coordenação (ataxia), com marcha instável e tremores intencionais.
  • Dificuldades em movimentos precisos, como escrever ou pegar objetos pequenos.

Cuidados de Enfermagem

A paralisia cerebral exige uma abordagem de enfermagem especializada, focada na promoção da qualidade de vida, prevenção de complicações e apoio à família. Os cuidados variam conforme o tipo e a gravidade da PC, mas alguns princípios são essenciais:

Cuidados Gerais

Avaliação contínua:

  • Monitorar funções vitais, tônus muscular, mobilidade e sinais de dor.
  • Observar alterações na deglutição, respiração e comunicação.

Prevenção de úlceras por pressão:

  • Mudar o paciente de posição a cada 2-3 horas (se acamado).
  • Usar colchões e coxins de alívio de pressão.
  • Manter a pele limpa e hidratada.

Controle da dor e espasticidade:

  • Auxiliar na administração de medicamentos (ex.: toxina botulínica, baclofeno).
  • Aplicar técnicas de posicionamento e alongamento suave.

 Nutrição e hidratação:

  • Ajustar dieta conforme dificuldades de mastigação/deglutição (alimentos pastosos ou uso de sonda, se necessário).
  • Monitorar peso e hidratação para evitar desnutrição.
  1. Cuidados Específicos por Tipo de PC

 Pacientes com PC Espástica (Hemiplegia, Diplegia, Quadriplegia)

  • Alongamentos e exercícios passivos para evitar contraturas.
  • Uso de órteses (talas, palmilhas) para alinhamento postural.
  • Estimular movimentos funcionais (ex.: treino de marcha na diplegia).

Pacientes com PC Discinética (Atetose/Distonia)

  • Auxiliar no controle postural (cadeiras adaptadas, suportes).
  • Proteger contra movimentos involuntários (ex.: usar grades no leito).
  • Adaptar objetos para facilitar a preensão (talheres engrossados).

Pacientes com PC Atáxica

  • Oferecer apoio na marcha (andadores, barras de apoio).
  • Estimular exercícios de equilíbrio e coordenação.
  • Ambiente seguro para evitar quedas (piso antiderrapante).

Cuidados Respiratórios

  • Fisioterapia respiratória para pacientes com quadriplegia ou dificuldades de tosse.
  • Aspiração de vias aéreas, se necessário (em casos de secreção excessiva).
  • Evitar refluxo gastroesofágico (posicionamento elevado após alimentação).

A enfermagem desempenha um papel vital no cuidado integral ao paciente com PC, desde a estabilização clínica até o apoio à autonomia e inclusão. Cuidados individualizados e humanizados fazem a diferença na evolução desses pacientes.

Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de atenção à pessoa com paralisia cerebral. Brasília, 2013.
  2. KUBAN, K. C. K.; LEVITON, A. Cerebral palsy. New England Journal of Medicine, 1994.
  3. OMS. Paralisia cerebral. Genebra: OMS, 2022.
  4. ROSENBAUM, P. et al. A report: The definition and classification of cerebral palsy. Developmental Medicine & Child Neurology, 2007.

Discinesia Tardia

A discinesia tardia é um distúrbio do movimento que se manifesta por contrações musculares involuntárias e repetitivas. Ela é um efeito colateral comum do uso crônico de medicamentos antipsicóticos, que são utilizados para tratar condições como esquizofrenia e transtorno bipolar.

O que causa a discinesia tardia?

A causa exata da discinesia tardia ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada a alterações nos níveis de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor importante para o movimento e o humor.

Os antipsicóticos atuam bloqueando os receptores de dopamina, o que pode levar a um desequilíbrio nesse neurotransmissor e, consequentemente, aos movimentos involuntários característicos da discinesia tardia.

Quais são os sintomas?

Os sintomas da discinesia tardia podem variar em gravidade e podem afetar diferentes partes do corpo. Os mais comuns incluem:

  • Movimentos involuntários da face: como protrusão da língua, movimentos mastigatórios, piscar rápido e contorções faciais.
  • Movimentos involuntários das extremidades: como tremores, torções e movimentos rápidos e repetitivos.
  • Movimentos involuntários do tronco: como inclinações e contorções.

Quem está mais em risco?

O risco de desenvolver discinesia tardia aumenta com:

  • Uso prolongado de antipsicóticos: quanto mais tempo uma pessoa usar esses medicamentos, maior o risco.
  • Uso de altas doses de antipsicóticos: doses mais altas aumentam o risco.
  • Idade avançada: idosos são mais suscetíveis.
  • Sexo feminino: mulheres parecem ser mais propensas a desenvolver a doença.
  • História familiar de discinesia tardia: a predisposição genética pode aumentar o risco.

Como a discinesia tardia é diagnosticada?

O diagnóstico da discinesia tardia é feito por um profissional de saúde, geralmente um neurologista ou psiquiatra, com base nos sintomas do paciente e em um exame físico. Não existem exames específicos para confirmar o diagnóstico, mas a avaliação clínica é fundamental.

Qual é o tratamento?

Não existe cura para a discinesia tardia, mas o tratamento pode ajudar a controlar os sintomas. As opções de tratamento incluem:

  • Redução da dose ou troca do medicamento antipsicótico: em alguns casos, reduzir a dose ou mudar para outro medicamento pode ajudar a aliviar os sintomas.
  • Uso de outros medicamentos: existem medicamentos que podem ajudar a reduzir os movimentos involuntários, mas eles podem ter efeitos colaterais significativos.
  • Terapia ocupacional: a terapia ocupacional pode ajudar o paciente a aprender a lidar com os sintomas e a realizar suas atividades diárias.

Prevenção

A melhor forma de prevenir a discinesia tardia é utilizar os antipsicóticos de forma cuidadosa e monitorar regularmente os pacientes que fazem uso desses medicamentos. É importante que os médicos pesem os benefícios e os riscos dos antipsicóticos antes de prescrevê-los e que os pacientes informem seus médicos sobre quaisquer sintomas novos ou agravantes.

Cuidados de Enfermagem

  • Monitoramento dos sintomas: O enfermeiro deve realizar avaliações regulares para identificar e documentar a gravidade dos movimentos involuntários, observando a frequência, duração e intensidade. É importante utilizar escalas de avaliação específicas para a discinesia tardia, como a Escala de Avaliação de Movimentos Involuntários (AIMS).
  • Educação do paciente e da família: É fundamental orientar o paciente e seus familiares sobre a discinesia tardia, suas causas, sintomas e tratamento. O enfermeiro deve esclarecer dúvidas, fornecer informações sobre a importância do acompanhamento médico e auxiliar na adesão ao tratamento.
  • Monitoramento dos efeitos colaterais dos medicamentos: O enfermeiro deve estar atento aos efeitos colaterais dos medicamentos utilizados no tratamento da discinesia tardia, como sonolência, tontura e outros. É importante comunicar qualquer alteração ao médico responsável.
  • Promoção da segurança: Pacientes com discinesia tardia podem apresentar dificuldades para realizar atividades diárias devido aos movimentos involuntários. O enfermeiro deve adaptar o ambiente e auxiliar o paciente a realizar suas atividades com segurança, evitando quedas e outros acidentes.
  • Suporte emocional: A discinesia tardia pode causar impacto significativo na qualidade de vida do paciente e de sua família. O enfermeiro deve oferecer suporte emocional, ouvindo as queixas e preocupações do paciente e de seus familiares.
  • Encaminhamento para outros profissionais: O enfermeiro deve identificar a necessidade de encaminhamento para outros profissionais de saúde, como fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, que podem auxiliar no tratamento da discinesia tardia.
  • Registro e comunicação: É essencial que o enfermeiro registre todas as observações e intervenções realizadas, comunicando-as à equipe multidisciplinar para garantir a continuidade do cuidado.

Prevenção da discinesia tardia

A prevenção da discinesia tardia é um aspecto importante dos cuidados de enfermagem. O enfermeiro deve:

  • Monitorar o uso de antipsicóticos: É fundamental monitorar o uso de antipsicóticos, observando a necessidade de ajuste da dose ou a troca do medicamento.
  • Identificar fatores de risco: O enfermeiro deve identificar os fatores de risco para o desenvolvimento da discinesia tardia, como idade avançada, sexo feminino e uso prolongado de antipsicóticos.
  • Promover a adesão ao tratamento: É importante que o enfermeiro incentive a adesão ao tratamento, esclarecendo as dúvidas do paciente e da família sobre a importância da medicação.

Referência:

  1. Andrade, L. A. F., Bertolucci, P. H. F., & Pereira, J. S.. (1984). Discinesia tardia: I. fisiopatologia e tratamento. Arquivos De Neuro-psiquiatria, 42(4), 362–370. https://doi.org/10.1590/S0004-282X1984000400008

AVC Isquêmico, Hemorrágico e Transitório: As diferenças

Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ocorre quando o suprimento de sangue para o cérebro é interrompido, causando danos às células cerebrais. Existem três tipos principais de AVC, cada um com suas características distintas:

AVC Isquêmico

  • Causa: Ocorre devido a um bloqueio em uma artéria que leva sangue ao cérebro, geralmente por um coágulo sanguíneo.
  • Sintomas: Os sintomas são semelhantes aos outros tipos de AVC, incluindo fraqueza ou paralisia em um lado do corpo, dificuldade para falar, visão turva e confusão.
  • Tratamento: O tratamento geralmente envolve medicamentos para dissolver o coágulo, como o ativador do plasminogênio tecidual (t-PA). Em alguns casos, pode ser necessária uma cirurgia para remover o coágulo.

AVC Hemorrágico

  • Causa: Ocorre quando um vaso sanguíneo no cérebro se rompe, causando sangramento dentro do tecido cerebral.
  • Sintomas: Os sintomas são semelhantes ao AVC isquêmico, mas a dor de cabeça súbita e intensa é mais comum.
  • Tratamento: O tratamento depende da localização e da gravidade do sangramento. Pode envolver medicamentos para controlar a pressão arterial, cirurgia para reparar o vaso sanguíneo ou procedimentos para drenar o sangue.

Ataque Isquêmico Transitório (AIT)

  • Causa: Também chamado de “mini AVC”, ocorre quando o fluxo sanguíneo para o cérebro é temporariamente interrompido, geralmente por um coágulo pequeno que se dissolve rapidamente.
  • Sintomas: Os sintomas são os mesmos do AVC, mas duram menos de 24 horas e geralmente desaparecem completamente.
  • Importância: Embora os sintomas sejam temporários, o AIT é um sinal de alerta para um possível AVC futuro. É crucial procurar atendimento médico imediatamente.

Em resumo:

Característica AVC Isquêmico AVC Hemorrágico AIT
Causa Bloqueio de uma artéria Ruptura de um vaso sanguíneo Bloqueio temporário de uma artéria
Sintomas Fraqueza, dificuldade para falar, visão turva, confusão Semelhantes ao AVC isquêmico, mas com dor de cabeça intensa Semelhantes ao AVC, mas duram menos de 24 horas
Tratamento Medicamentos para dissolver o coágulo, cirurgia Medicamentos, cirurgia, drenagem Não há tratamento específico, mas é importante procurar atendimento médico

É fundamental lembrar que o tempo é crucial no tratamento do AVC. Quanto mais rápido o paciente receber atendimento médico, maiores são as chances de recuperação.

Referência:

  1. Rede D´Or

Tudo sobre a Neuralgia do Trigêmeo

A neuralgia do trigêmeo é uma condição dolorosa que afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face. Essa condição se caracteriza por dores intensas e repentinas, que podem ser descritas como choques elétricos ou facadas. A dor geralmente se concentra em uma área específica do rosto, como a bochecha, queixo ou testa.

O que causa a neuralgia do trigêmeo?

A causa exata da neuralgia do trigêmeo nem sempre é conhecida, mas a principal causa identificada é a compressão do nervo trigêmeo por um vaso sanguíneo. Essa compressão pode causar inflamação e irritação do nervo, levando às dores características.

Outras possíveis causas incluem:

  • Esclerose múltipla: Uma doença autoimune que ataca o sistema nervoso central.
  • Tumores: Tanto no cérebro quanto nos nervos cranianos.
  • Infecções: Como herpes zoster.
  • Trauma: Lesões na cabeça ou rosto.

Quais são os sintomas da neuralgia do trigêmeo?

Os principais sintomas da neuralgia do trigêmeo são:

  • Dores intensas e repentinas: As crises podem durar de alguns segundos a alguns minutos.
  • Gatilhos: A dor pode ser desencadeada por atividades como mastigar, falar, escovar os dentes ou até mesmo uma brisa leve no rosto.
  • Áreas afetadas: A dor geralmente se concentra em uma das três divisões do nervo trigêmeo: oftálmica (testa e olho), maxilar (bochecha) ou mandibular (queixo e lábios).

Como a neuralgia do trigêmeo é diagnosticada?

O diagnóstico da neuralgia do trigêmeo é feito por um neurologista, com base nos sintomas relatados pelo paciente e em exames complementares, como:

  • Ressonância magnética: Para identificar a compressão do nervo por um vaso sanguíneo ou outras possíveis causas.
  • Tomografia computadorizada: Pode ser utilizada para avaliar a estrutura óssea e identificar possíveis lesões.

Tratamentos para a neuralgia do trigêmeo

O tratamento da neuralgia do trigêmeo varia de acordo com a gravidade dos sintomas e a causa da doença. As opções de tratamento incluem:

  • Medicamentos:
    • Carbamazepina e gabapentina: Os medicamentos mais utilizados para controlar a dor.
    • Outros medicamentos: Baclofeno, oxcarbazepina, pregabalina, etc.
  • Tratamentos minimamente invasivos:
    • Injeções de botox: A toxina botulínica pode bloquear a transmissão dos sinais de dor.
    • Radiofrequência: Um procedimento que utiliza ondas de rádio para destruir as fibras nervosas que transmitem a dor.
  • Cirurgia:
    • Descompressão microvascular: Um procedimento cirúrgico para aliviar a compressão do nervo trigêmeo por um vaso sanguíneo.
    • Rizotomia: Um procedimento que destrói as raízes do nervo trigêmeo para interromper a transmissão da dor.

Cuidados de Enfermagem

Avaliação da dor:

    • Utilizar escalas de dor adequadas para monitorar a intensidade e frequência das crises dolorosas.
    • Identificar os fatores desencadeantes da dor (estímulos táteis, mastigação, fala).
    • Avaliar a eficácia dos medicamentos e outras intervenções para o controle da dor.

Administração de medicamentos:

    • Administrar os medicamentos prescritos pelo médico, como analgésicos, anticonvulsivantes e outros, de acordo com a prescrição médica.
    • Monitorar os efeitos colaterais dos medicamentos.

Promoção do conforto:

    • Criar um ambiente tranquilo e calmo para o paciente.
    • Auxiliar em atividades de higiene e conforto.
    • Ensinar técnicas de relaxamento e distração para ajudar a aliviar a dor.

Orientações sobre autocuidado:

    • Ensinar o paciente a identificar e evitar os fatores desencadeantes da dor.
    • Orientar sobre a importância de uma dieta leve e macia durante as crises dolorosas.
    • Incentivar a prática de atividades físicas leves, como caminhadas, quando a dor estiver controlada.

Promoção da saúde bucal:

    • Orientar sobre a importância da higiene bucal adequada, pois problemas dentários podem desencadear crises de dor.

Suporte psicológico:

    • Oferecer escuta ativa e empatia ao paciente e sua família.
    • Encaminhar para acompanhamento psicológico, se necessário.

Educação sobre a doença:

    • Explicar a fisiopatologia da neuralgia do trigêmeo de forma clara e concisa.
    • Informar sobre as opções de tratamento disponíveis, incluindo medicamentos, terapias e procedimentos cirúrgicos.
    • Esclarecer dúvidas sobre a doença e o tratamento.

Diagnósticos de enfermagem:

  • Dor crônica relacionada à neuralgia do trigêmeo.
  • Déficit no autocuidado relacionado à fadiga e à dor.
  • Ansiedade relacionada ao diagnóstico e à dor crônica.
  • Distúrbio do sono relacionado à dor e ao desconforto.

Intervenções de enfermagem:

  • Administrar analgésicos de acordo com a prescrição médica.
  • Ensinar técnicas de relaxamento e distração.
  • Promover um ambiente tranquilo e livre de estímulos.
  • Auxiliar o paciente em atividades de higiene e conforto.
  • Orientar sobre a importância de uma dieta leve e macia.
  • Estimular a prática de atividades físicas leves.
  • Oferecer suporte emocional ao paciente e sua família.
  • Encaminhar para acompanhamento psicológico, se necessário.

Qual é o prognóstico da neuralgia do trigêmeo?

O prognóstico da neuralgia do trigêmeo varia de caso para caso. Com o tratamento adequado, a maioria dos pacientes experimenta alívio da dor. No entanto, a doença pode ser crônica e exigir tratamento contínuo.

Importante: É fundamental buscar atendimento médico especializado para um diagnóstico preciso e tratamento adequado da neuralgia do trigêmeo.

Referências:

  1. Dr. Erich Fonoff: https://www.erichfonoff.com.br/neuralgia-do-trigemeo/
  2. Rede D’Or São Luiz: https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/neuralgia-do-trigemeo
  3. Alves, T. C. A., Azevedo, G. S., & Carvalho, E. S. de .. (2004). Tratamento famacológico da neuralgia do trigêmeo: revisão sistemática e metanálise. Revista Brasileira De Anestesiologia, 54(6), 836–849. https://doi.org/10.1590/S0034-70942004000600015
  4. Revista FT: https://revistaft.com.br/os-cuidados-de-enfermagem-ao-paciente-com-dor-cronica-neuralgia-do-trigemeo-depressao-e-o-cuidado-da-enfermagem/

Doença e Síndrome de Moyamoya

A Doença de Moyamoya é uma condição cerebrovascular rara e progressiva que se caracteriza pelo estreitamento das artérias carótidas internas e seus ramos.

Este estreitamento leva à formação de uma rede de vasos sanguíneos colaterais na base do cérebro, que tentam compensar a redução do fluxo sanguíneo.

A origem do nome

O nome “Moyamoya” vem do japonês e significa “nuvem de fumaça”, uma alusão à aparência nebulosa desses vasos colaterais em exames de imagem.

Causas e Fisiopatologia

Embora a etiologia exata da Doença de Moyamoya seja desconhecida, acredita-se que fatores genéticos possam desempenhar um papel importante, especialmente em indivíduos de origem japonesa.

A doença pode estar associada a outras condições, como neurofibromatose, anemia falciforme e síndrome de Down.

Na Doença de Moyamoya, ocorre um estreitamento crônico das artérias carótidas internas, levando a um suprimento sanguíneo insuficiente ao cérebro e, consequentemente, a uma carência de oxigênio.

Para compensar, o cérebro desenvolve uma rede de vasos colaterais. No entanto, esses vasos são mais frágeis e podem romper, causando hemorragias cerebrais.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas da Doença de Moyamoya variam, mas frequentemente incluem ataques isquêmicos transitórios, acidentes vasculares cerebrais e, em alguns casos, hemorragias cerebrais.

Em crianças, pode ocorrer declínio intelectual, convulsões e movimentos involuntários.

O diagnóstico é feito através de exames de imagem, como angiografia por ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada, que revelam o estreitamento das artérias e a presença da rede vascular anormal.

Tratamento e Prognóstico

O tratamento da Doença de Moyamoya é principalmente cirúrgico, visando restaurar o fluxo sanguíneo adequado ao cérebro.

As opções incluem procedimentos como a anastomose direta e a encefaloduroarteriossinangiose indireta.

O prognóstico da doença varia. Sem tratamento, pode levar a complicações graves e até fatais. No entanto, com intervenção cirúrgica adequada e acompanhamento médico, muitos pacientes conseguem levar uma vida relativamente normal.

Alguns Cuidados

  • Monitoramento Neurológico: Observar sinais de déficits neurológicos, como fraqueza, alterações na fala ou convulsões.
  • Prevenção de AVC: Acompanhar sinais vitais e realizar exames periódicos para detectar sinais precoces de acidente vascular cerebral.
  • Cuidados Pós-Operatórios: Após a cirurgia de revascularização, é importante monitorar sinais de infecção, garantir a administração adequada de medicamentos e avaliar a cicatrização.
  • Educação do Paciente e Família: Informar sobre a doença, o tratamento e as medidas preventivas para evitar lesões que possam levar a sangramentos.

Estes são aspectos gerais e cada paciente pode necessitar de cuidados específicos. É importante seguir as orientações da equipe médica e manter uma comunicação efetiva com todos os envolvidos no tratamento.

Referências:
  1. https://www.scielo.br/j/anp/a/73Y3WPvVXtwT77hZHgZSM4f/?format=pdf
  2. https://victorbarboza.com.br/doenca-de-moyamoya/

Hematoma Subdural Vs Epidural

Uma das diferenças entre hematoma subdural e epidural é a localização do sangramento.

Entenda as diferenças

O hematoma subdural ocorre quando há acúmulo de sangue entre a dura-máter e as membranas aracnoides, que são camadas que revestem o cérebro.

O hematoma epidural ocorre quando há acúmulo de sangue entre a dura-máter e o crânio.

Essa diferença se deve ao tipo de vaso sanguíneo que se rompe em cada caso.

No hematoma subdural, geralmente são veias de baixa pressão que se rompem, enquanto no hematoma epidural, geralmente são artérias de alta pressão que se rompem .

Outra diferença é a velocidade de formação e evolução dos hematomas. O hematoma epidural se forma rapidamente, pois o sangue arterial flui com mais força e comprime o cérebro.

O hematoma subdural se forma mais lentamente, pois o sangue venoso flui com menos força e demora mais para causar sintomas . Por isso, o hematoma epidural costuma causar um quadro clínico mais grave e urgente do que o hematoma subdural.

Além disso, os hematomas subdurais e epidurais têm formas diferentes na tomografia computadorizada (TC) de crânio, que é o exame usado para diagnosticá-los.

O hematoma epidural tem uma forma de lente biconvexa, limitada pelas suturas do crânio. O hematoma subdural tem uma forma de meia-lua, que pode se expandir por todo o espaço subdural .

O tratamento dos hematomas subdurais e epidurais depende da gravidade dos sintomas, do tamanho e da localização dos hematomas. Em alguns casos, pode ser necessário realizar uma cirurgia para drenar o sangue e aliviar a pressão no cérebro .

Referência:

  1. Lacerda, F. H., Rahhal, H., Soares, L. J., Ureña, F. del R. M., & Park, M.. (2017). Seguimento de hematoma epidural intracraniano com ultrassonografia bidimensional. Revista Brasileira De Terapia Intensiva, 29(2), 259–260. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20170036