O universo da diabetes é vasto e complexo. Por muito tempo, nos acostumamos a falar principalmente em Diabetes Tipo 1 e Tipo 2, além da gestacional. No entanto, a ciência está sempre avançando, e com ela, nosso entendimento sobre as nuances dessa doença crônica.
Recentemente, a Federação Internacional de Diabetes (IDF) tem promovido discussões e levantado a possibilidade de uma nova classificação, a Diabetes Tipo 5. Essa categorização, embora ainda em debate e não amplamente consolidada na prática clínica global, representa um passo importante para um olhar mais individualizado e preciso sobre a doença.
Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, é crucial estar por dentro dessas discussões. Afinal, uma classificação mais detalhada pode significar diagnósticos mais precisos, tratamentos mais personalizados e, consequentemente, um cuidado de enfermagem mais efetivo e humano. Vamos entender o que é essa “nova” Diabetes Tipo 5 e por que ela é tão relevante?
Por Que Uma Nova Classificação? A Limitação das Categorias Tradicionais
Por décadas, a divisão entre Diabetes Tipo 1 e Tipo 2 foi a base do nosso entendimento.
- Diabetes Tipo 1: Doença autoimune, onde o corpo destrói as células do pâncreas que produzem insulina. Geralmente surge na infância ou adolescência e exige uso de insulina desde o diagnóstico.
- Diabetes Tipo 2: Mais comum, associada a resistência à insulina (o corpo não usa a insulina de forma eficaz) e/ou deficiência progressiva na produção de insulina. Ligada a fatores genéticos, obesidade e sedentarismo.
No entanto, com o avanço das pesquisas e a observação clínica, percebeu-se que muitos pacientes não se encaixavam perfeitamente nessas duas caixas. Existem subtipos com características distintas que podem responder de forma diferente a tratamentos. A ideia da Diabetes Tipo 5 surge, então, da necessidade de refinar essa classificação para oferecer um cuidado mais direcionado.
O que é o Diabetes Tipo 5?
O Diabetes Tipo 5, antes conhecido como “diabetes relacionado à desnutrição” ou “diabetes tropical” (desde 1955 em regiões como a Jamaica), caracteriza-se por uma grave deficiência na secreção de insulina devido ao comprometimento do desenvolvimento das células beta pancreáticas, muitas vezes gerado por desnutrição calórico-proteica na infância ou até mesmo no período intrauterino .
Diferentemente do tipo 1, não há reação autoimune, e ao contrário do tipo 2, não se trata de resistência à insulina .
Esse tipo de diabetes costuma atingir jovens de até 30 anos com IMC abaixo de 18,5–19 kg/m². A escassez de insulina – e não a resistência – é sua marca principal, e há uma prevalência estimada entre 20 e 25 milhões de pessoas, principalmente na Ásia e África.
Por que a IDF reconheceu o Tipo 5?
Embora tenha sido identificado há muito tempo, esse padrão não havia sido oficialmente reconhecido como tipo distinto, dificultando o diagnóstico e cuidados direcionados.
Em janeiro de 2025, especialistas (como a Dra. Meredith Hawkins e o Dr. Nihal Thomas) apresentaram evidências robustas diferenciando o Tipo 5 dos tipos 1 e 2, com sua secreção insulinopênica característica.
No Congresso Mundial da IDF, em abril de 2025, ocorreu a aprovação unânime da classificação oficial.
A decisão também incluiu a formação de um grupo de trabalho para desenvolver diretrizes de diagnóstico e tratamento nos próximos anos.
Como identificar e diferenciar o Tipo 5?
O diabetes tipo 5 pode ser confundido com os tipos já conhecidos, especialmente o tipo 1, devido à idade jovem e peso baixo. No entanto, há sinais que apontam para essa nova classificação:
- Ausência de anticorpos autoimunes;
- Ausência de cetoacidose, apesar da hiperglicemia;
- Resposta ruim ou hipoglicemia risco com insulina convencional;
- História de sofrimento nutricional prolongado na infância.
Por Que Essa Classificação é Importante Para Nós, profissionais de enfermagem?
Mesmo que a Diabetes Tipo 5 não esteja no nosso livro didático padrão ainda, a discussão sobre ela já nos traz insights valiosos:
- Olhar Holístico para o Paciente: Reforça que a diabetes não é apenas uma doença do açúcar no sangue. Ela afeta múltiplos sistemas do corpo, incluindo o sistema nervoso central. Isso nos lembra de ir além da glicemia e considerar o estado cognitivo, o humor e as queixas neurológicas dos nossos pacientes diabéticos.
- Monitoramento Abrangente: Em pacientes com diabetes (especialmente Tipo 2) que apresentam queixas cognitivas ou alterações de humor, isso nos alerta para a possibilidade de uma disfunção mais complexa. Podemos registrar essas observações e comunicá-las à equipe.
- Terapias Futuras: Se essa classificação se consolidar, ela poderá abrir portas para tratamentos mais específicos que visem a resistência à insulina cerebral, o que exigirá de nós um conhecimento aprofundado sobre novas terapias e seus cuidados.
- Educação ao Paciente: Ao entender melhor as interconexões da doença, podemos educar nossos pacientes sobre a importância do controle glicêmico não apenas para evitar complicações renais ou visuais, mas também para a saúde cerebral a longo prazo.
- Pesquisa e Desenvolvimento: Para quem se interessa por pesquisa em enfermagem, essa é uma área em efervescência, com muitas oportunidades para contribuir com o conhecimento sobre como a diabetes afeta o cérebro e como a enfermagem pode atuar.
Tratamento e cuidados de enfermagem
Embora não exista ainda um protocolo definitivo, espera-se que o manejo seja diferente:
- Atenção nutricional: Estratégias para recuperar o estado nutricional e combater deficiências micronutricionais.
- Uso cauteloso de insulina: Em muitos casos, doses convencionais pioram o quadro. A introdução deve ser lenta, sob monitoramento rigoroso.
- Medicamentos orais: Em regiões com recursos limitados, podem ser eficazes e mais acessíveis.
- Abordagem integrada: Inclui avaliação de comorbidades, monitorização de glicemia e acompanhamento contínuo.
O papel da enfermagem envolve:
- Registro detalhado do histórico nutricional e familiar
- Monitoramento da glicemia e sinais de hipoglicemia
- Auxílio na educação do paciente sobre nutrição e uso de antidiabéticos
- Colaboração com nutricionistas e médicos no plano terapêutico
A classificação oficial do Diabetes Tipo 5 pela IDF remete a um avanço significativo na compreensão da doença. Saber identificar essa forma de diabetes e aplicar cuidados adequados pode transformar a prática clínica e melhorar significativamente a vida de muitos pacientes jovens e desnutridos.
Para o estudante de enfermagem, esse conhecimento amplia a capacidade de atuação e consolida uma abordagem mais criteriosa e humanizada na assistência à diabetes.
Referências:
- INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. IDF launches new type 5 diabetes working group. 2025. Disponível em: https://idf.org/news/new-type-5-diabetes-working-group/
- DIABETES. Entenda o que é diabetes tipo 5, nova forma de classificação da doença. CNN Brasil, 17 abr. 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/entenda-o-que-e-diabetes-tipo-5-nova-forma-de-classificacao-da-doenca
- MEDICALXPRESS. Research leads to designation of new type of diabetes: Type 5. 9 abr. 2025. Disponível em: https://medicalxpress.com/news/2025-04-diabetes.html
- MEDSCAPE. Malnutrition‑Related Diabetes Officially Named ‘Type 5’. 11 abr. 2025. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/malnutrition-related-diabetes-officially-named-type-5-2025a10008pd
- VERYWELLHEALTH. What Is Type 5 Diabetes? A New Form of Diabetes Linked to Childhood Malnutrition. 2025. Disponível em: https://www.verywellhealth.com/type-5-diabetes-11733288
- AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (ADA). Standards of Medical Care in Diabetes—2025. Diabetes Care, Alexandria, v. 48, suppl. 1, jan. 2025. Disponível em: https://diabetesjournals.org/care/issue/current. (É fundamental consultar a edição mais recente dos “Standards” da ADA, pois eles incorporam as discussões e classificações mais atualizadas).
-
FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DIABETES (IDF). IDF Diabetes Atlas. 10. ed. Brussels, Belgium: International Diabetes Federation, 2021. Disponível em: https://diabetesatlas.org/. (A IDF é a fonte primária para as discussões sobre novas classificações. Consultar as últimas edições do Atlas e publicações no site oficial da IDF para informações sobre a Diabetes Tipo 5).









