Doenças intestinais: conhecendo os principais tipos

O intestino é um dos órgãos mais importantes e complexos do corpo humano. Ele participa da digestão, da absorção de nutrientes, da formação das fezes e ainda abriga grande parte do nosso sistema imunológico. Por isso, quando algo não vai bem no intestino, as consequências podem ser sentidas em todo o organismo.

As doenças intestinais são variadas e podem ter causas infecciosas, inflamatórias, anatômicas, autoimunes ou até tumorais. Conhecer os principais tipos, seus sinais clínicos e os cuidados de enfermagem é essencial para qualquer estudante ou profissional da área da saúde.

Nesta publicação, vamos abordar com clareza os principais tipos de doenças intestinais, desde os parasitas até o câncer colorretal.

Infecções e Invasores: Quando Micro-Organismos Causam Problemas

São as doenças mais comuns, muitas vezes agudas, que podem afetar o intestino.

Infecções Bacterianas:

    • O que são: Causadas por bactérias como Salmonella, Escherichia coli ou Shigella, geralmente por meio de alimentos ou água contaminados.
    • Sintomas: Diarreia, cólicas abdominais, febre, náuseas e vômitos. A gravidade varia muito, mas podem levar à desidratação.
    • Cuidados de Enfermagem: Focar na hidratação (soro de reidratação oral ou endovenosa em casos graves), monitorar sinais vitais e o balanço hídrico, orientar sobre higiene das mãos e preparo de alimentos.

Verminoses (Helmintíases):

    • O que são: Infecções causadas por vermes parasitas, como lombrigas (Ascaris lumbricoides) e tênias (Taenia solium). Transmissão por alimentos contaminados ou falta de saneamento básico.
    • Sintomas: Dor abdominal, diarreia, anemia, perda de peso e, em casos de Ascaris, tosse e eliminação do verme pelas fezes.
    • Cuidados de Enfermagem: Educar sobre higiene, saneamento básico e o tratamento medicamentoso. Orientar sobre o preparo correto dos alimentos e a importância da lavagem das mãos.

Condições Inflamatórias: A Guerra Interna

Aqui, o sistema imunológico tem um papel central, causando inflamação crônica do intestino.

Colite:

    • O que é: Inflamação do cólon (intestino grosso). Pode ser causada por infecções, isquemia, uso de medicamentos, ou doenças autoimunes como a Retocolite Ulcerativa.
    • Sintomas: Dor abdominal, diarreia, urgência para evacuar, sangramento retal.
    • Cuidados de Enfermagem: Controlar a dor, monitorar sangramento, orientar sobre o uso de medicamentos (anti-inflamatórios, imunossupressores) e apoiar o paciente no manejo de uma doença crônica.

Doença de Crohn:

    • O que é: Outra doença inflamatória intestinal (DII), mas que pode afetar qualquer parte do trato digestivo, da boca ao ânus, de forma segmentada.
    • Sintomas: Diarreia, dor abdominal intensa, perda de peso, febre, fadiga e, em alguns casos, lesões perianais.
    • Cuidados de Enfermagem: Acompanhamento nutricional, monitoramento dos sintomas, educação sobre a doença e sobre os medicamentos imunossupressores e biológicos.

Síndrome do Intestino Irritável (SII):

    • O que é: Um distúrbio funcional do intestino. Não causa inflamação ou danos ao órgão, mas altera sua motilidade.
    • Sintomas: Dor e desconforto abdominal, inchaço, diarreia e/ou constipação, que melhoram após a evacuação. Os sintomas variam e são muito influenciados pelo estresse.
    • Cuidados de Enfermagem: Focar no apoio psicológico e na educação. Orientar sobre o manejo do estresse, dietas específicas (como a FODMAP) e a importância de manter um diário alimentar.

Obstáculos e Tumores: Quando a Passagem é Bloqueada ou Alterada

Essas condições alteram a anatomia e a função do intestino, podendo ser agudas ou crônicas.

Apendicite:

    • O que é: Inflamação do apêndice, um pequeno órgão em forma de dedo ligado ao intestino grosso.
    • Sintomas: Dor que começa ao redor do umbigo e se move para o lado inferior direito do abdômen, febre, náuseas e perda de apetite. É uma emergência cirúrgica!
    • Cuidados de Enfermagem: Avaliar a dor (usando escalas), monitorar sinais vitais, preparar o paciente para a cirurgia (jejum, acesso venoso) e oferecer cuidados no pós-operatório (controle da dor, deambulação precoce).

Aderências Intestinais:

    • O que são: Bandas de tecido cicatricial que se formam após cirurgias abdominais, traumas ou infecções.
    • Sintomas: Podem ser assintomáticas ou causar obstrução intestinal, levando a dor abdominal tipo cólica, inchaço, náuseas e vômitos.
    • Cuidados de Enfermagem: Monitorar sinais de obstrução intestinal, oferecer cuidados de conforto e, no pós-operatório, monitorar a ferida cirúrgica e incentivar a deambulação.

Pólipos Intestinais:

    • O que são: Crescimentos de tecido na parede interna do intestino. A maioria é benigna, mas alguns podem se tornar cancerosos.
    • Sintomas: Geralmente assintomáticos, mas podem causar sangramento retal ou alterações nos hábitos intestinais.
    • Cuidados de Enfermagem: Educar sobre a importância do rastreamento (colonoscopia) e da remoção dos pólipos. Preparar o paciente para exames e procedimentos.

Câncer Colorretal:

    • O que é: O crescimento de células malignas no cólon ou no reto.
    • Sintomas: Sangramento nas fezes, anemia, alteração nos hábitos intestinais, dor abdominal, perda de peso.
    • Cuidados de Enfermagem: Atuar na prevenção (educação sobre colonoscopia de rastreamento), no suporte ao paciente durante o tratamento (quimioterapia, radioterapia, cirurgia) e no cuidado de estomas (ostomias), se necessário.

Problemas Vasculares e Anorretais

Estas condições afetam as veias e a passagem final do trato intestinal.

Hemorroidas:

    • O que são: Veias inchadas e inflamadas no ânus e na parte inferior do reto.
    • Sintomas: Sangramento indolor, coceira, dor e, em casos mais graves, a presença de uma protuberância no ânus.
    • Cuidados de Enfermagem: Educar sobre hábitos intestinais saudáveis (dieta rica em fibras, hidratação), evitar esforço excessivo para evacuar e orientar sobre banhos de assento com água morna para alívio.

Diverticulite:

    • O que é: Inflamação dos divertículos, que são pequenas bolsas na parede do cólon.
    • Sintomas: Dor abdominal no lado esquerdo inferior, febre, calafrios, náuseas e alteração do ritmo intestinal.
    • Cuidados de Enfermagem: Focar no controle da dor, administrar antibióticos e, em casos mais leves, orientar sobre uma dieta líquida. Em casos graves, preparar para a cirurgia.

Nosso Papel Crucial: Acolher, Educar e Cuidar

O intestino é um reflexo de muitos aspectos da nossa vida, da alimentação ao estresse. Como profissionais de enfermagem, nossa atuação vai muito além de procedimentos técnicos. Somos os educadores, os ouvintes e os defensores do paciente.

  • Anamnese Detalhada: Questionar sobre hábitos intestinais, dieta, uso de medicamentos e histórico familiar é o primeiro passo para identificar um problema.
  • Avaliação Holística: Observar a aparência do paciente, seu nível de dor, seus sinais vitais e o estado do abdômen (distensão, ruídos intestinais).
  • Educação em Saúde: Explicar a importância da fibra, da água, do exercício físico e do rastreamento de câncer.
  • Suporte Emocional: Muitas doenças intestinais, especialmente as crônicas, causam grande impacto psicológico. Oferecer um ombro amigo e encaminhar para apoio psicológico é fundamental.

Entender as doenças intestinais é entender uma parte fundamental da saúde humana. Com nosso conhecimento, podemos ser a bússola que guia o paciente para o diagnóstico, o tratamento e a recuperação, garantindo que o universo intestinal funcione em harmonia.

Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas: Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt/arquivos/2021/pcdt-doenca-de-crohn-e-retocolite-ulcerativa.pdf
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE COLOPROCTOLOGIA (SBCP). Doenças Intestinais. Disponível em: https://www.sbcp.org.br/
  3. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. (Consultar capítulos sobre avaliação gastrointestinal e cuidados de enfermagem).

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