Esclerose lateral amiotrófica (ELA)

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurológica rara, progressiva e devastadora, que afeta diretamente os neurônios motores, responsáveis por controlar os movimentos voluntários do corpo. Embora seja mais conhecida por ter afetado o físico do cientista Stephen Hawking, a ELA é um desafio mundial de saúde, pela ausência de cura e pela grande dependência que os pacientes desenvolvem ao longo da evolução da doença.

Neste artigo, vamos explorar de forma clara o que é a ELA, suas manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento, a importância do cuidado de enfermagem e os principais avanços que vêm sendo estudados.

O que é a ELA?

A ELA é uma doença neurodegenerativa progressiva que ataca seletivamente os neurônios motores. Esses neurônios são as células nervosas responsáveis por levar a informação do cérebro e da medula espinhal para os músculos, controlando o movimento voluntário.

  • “Esclerose Lateral”: Refere-se ao endurecimento (esclerose) das vias nervosas na medula espinhal (lateral).
  • “Amiotrófica”: Significa “sem nutrição muscular” (a: sem; myo: músculo; trofia: nutrição), indicando que os músculos, sem receberem os comandos nervosos, atrofiam e enfraquecem.
  • O Mecanismo da Doença: Por razões ainda desconhecidas (cerca de 90% dos casos são esporádicos), os neurônios motores superiores (no cérebro) e inferiores (na medula) morrem. Com a morte desses “cabos de comando”, o cérebro perde a capacidade de iniciar e controlar o movimento muscular. O resultado é a fraqueza muscular, que se agrava progressivamente.
  • O Que Não É Afetado: O aspecto mais crucial para o cuidado é que a ELA não afeta as funções cognitivas (a inteligência, a memória e a consciência), nem os sentidos (visão, audição, tato). O paciente está totalmente ciente e lúcido de sua condição.

Causas e fatores de risco

A causa exata da ELA ainda não é totalmente compreendida. Em cerca de 90 a 95% dos casos, ela surge de forma esporádica, sem histórico familiar aparente. Já em 5 a 10% dos casos, há associação com mutações genéticas hereditárias.

Entre os fatores que podem aumentar o risco estão:

  • Idade, geralmente entre 40 e 70 anos;
  • Sexo masculino (ligeiramente mais comum nos homens);
  • Histórico familiar da doença;
  • Exposição a toxinas ambientais e ocupacionais (ainda em estudo);
  • Alterações genéticas específicas, como a mutação no gene C9orf72.

Manifestações clínicas

A ELA se caracteriza pela evolução lenta, mas contínua, de sintomas relacionados à perda de função muscular. Entre os principais sinais estão:

  • Fraqueza muscular em braços, pernas ou músculos da fala e da deglutição;
  • Atrofia muscular visível;
  • Espasmos musculares (fasciculações);
  • Dificuldade na fala (disartria);
  • Problemas de deglutição (disfagia);
  • Comprometimento respiratório, que surge em estágios mais avançados.

Com o tempo, a dependência aumenta, exigindo suporte ventilatório, alimentação alternativa por sonda e assistência contínua de enfermagem.

Diagnóstico

Não existe um exame único que confirme a ELA. O diagnóstico é clínico e exige a exclusão de outras doenças. O processo geralmente inclui:

  • Avaliação neurológica detalhada;
  • Eletromiografia (EMG), que mede a atividade elétrica dos músculos;
  • Ressonância magnética, para descartar outras condições;
  • Exames laboratoriais complementares.

O diagnóstico precoce é importante para iniciar medidas de suporte, planejar os cuidados e oferecer melhor qualidade de vida ao paciente.

Tratamento e manejo

Atualmente, a ELA não tem cura, mas existem medicamentos e intervenções que ajudam a retardar a progressão e a melhorar os sintomas.

  • Riluzol: primeiro medicamento aprovado, que pode prolongar discretamente a sobrevida.
  • Edaravona: disponível em alguns países, com efeito antioxidante que pode beneficiar certos pacientes.
  • Terapias de suporte: fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento multiprofissional são essenciais.
  • Suporte ventilatório e nutricional: quando a doença compromete respiração e deglutição.

Cuidados de Enfermagem

Na ELA, o tratamento medicamentoso visa apenas retardar levemente a progressão. O verdadeiro tratamento de suporte e a gestão da qualidade de vida é o grande foco da enfermagem.

Suporte Respiratório (A Prioridade)

  • Monitoramento: Avaliar a função pulmonar do paciente de forma contínua.
  • VNI (Ventilação Não Invasiva): O enfermeiro é essencial na adaptação e no manejo da VNI (BIPAP ou CPAP), que deve ser iniciada assim que a insuficiência respiratória for detectada, geralmente à noite. O uso da VNI alivia a fadiga muscular respiratória.
  • Cuidados com Aspiração: O paciente pode necessitar de traqueostomia e ventilação mecânica invasiva. Nesses casos, o manejo do ventilador e a aspiração de vias aéreas são cuidados de enfermagem críticos.

Suporte Nutricional e Prevenção de Aspiração

  • Avaliação da Disfagia: Monitorar a deglutição do paciente durante as refeições. A disfagia leva à desnutrição e, principalmente, ao risco de aspiração pulmonar.
  • Gastrostomia (GTT): Auxiliar o paciente e a família na decisão da GTT (sonda diretamente no estômago). O enfermeiro garante o manejo correto da sonda, a administração da dieta e a limpeza do estoma.

Gestão da Mobilidade e Prevenção de Lesões

  • Prevenção de Quedas: Garantir a segurança do ambiente, auxiliar na deambulação e no uso de dispositivos (andadores, cadeira de rodas).
  • Cuidados com a Pele: A imobilidade aumenta o risco de úlceras por pressão. O enfermeiro deve realizar mudanças de decúbito rigorosas, higiene da pele e uso de superfícies de alívio de pressão.

Comunicação e Apoio Psicossocial

  • Comunicação Alternativa: Como a fala é perdida, auxiliar o paciente a usar métodos alternativos (pranchas de comunicação, aplicativos de computador controlados pelo movimento dos olhos).
  • Dignidade: A enfermagem deve sempre conversar com o paciente, e não sobre ele, mantendo o foco em sua consciência e autonomia, que permanecem intactas.

Perspectivas futuras

Avanços na genética, na biologia molecular e em terapias celulares abrem caminhos promissores para o futuro. Estudos com terapia gênica, células-tronco e novos medicamentos estão em andamento, com o objetivo de retardar a degeneração neuronal e melhorar a qualidade de vida.

A esclerose lateral amiotrófica é uma doença desafiadora, que exige cuidado multiprofissional e sensibilidade diante das necessidades do paciente e de sua família. Embora a cura ainda não seja uma realidade, a evolução da ciência e o cuidado humanizado proporcionam suporte essencial para manter dignidade e qualidade de vida.

Referências:

  1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ABRELA). O que é ELA? Disponível em: https://abrela.org.br/.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Esclerose Lateral Amiotrófica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-em-vigor/pcdt-esclerose-lateral-amiotrofica-versao-final.pdf
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Esclerose lateral amiotrófica (ELA). Brasília, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/esclerose-lateral-amiotrofica-ela
  4. INSTITUTO NACIONAL DE DOENÇAS NEUROLÓGICAS E AVANÇADAS (NINDS). Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) Fact Sheet. 2024. Disponível em: https://www.ninds.nih.gov/health-information/patient-caregiver-education/fact-sheets/amyotrophic-lateral-sclerosis-als-fact-sheet
  5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ABrELA). Informações sobre ELA. São Paulo, 2025. Disponível em: https://www.ela.org.br

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