Para nós, estudantes de enfermagem, acompanhar a jornada do paciente dentro do hospital é uma parte fundamental do aprendizado.
Mas essa jornada tem um ponto final: a alta hospitalar. E acreditem, não existe apenas um jeito de um paciente deixar o hospital. Existem diferentes tipos de alta, cada um com suas particularidades e implicações para o cuidado.
Entender essas nuances é essencial para garantirmos uma transição segura e adequada para o paciente e sua família. Vamos juntos desmistificar os tipos de alta e o nosso papel nesse processo?
O Ciclo se Completa: A Importância da Alta Hospitalar
A alta hospitalar marca a conclusão da fase de tratamento agudo dentro da instituição. É o momento em que o paciente, após receber os cuidados necessários, apresenta condições clínicas para continuar sua recuperação em outro ambiente, seja em casa, em outra instituição de saúde ou sob cuidados paliativos.
Uma alta bem planejada e executada é crucial para garantir a continuidade do tratamento, prevenir complicações e promover a autonomia do paciente. Para nós, profissionais de enfermagem, participar ativamente desse processo é uma demonstração de cuidado integral e de responsabilidade profissional.
Alta Médica: O “OK” do Médico para Seguir em Frente
A alta médica é o tipo mais comum e esperado de saída do hospital. Ela ocorre quando o médico responsável avalia que o paciente atingiu os critérios de estabilidade clínica, que a condição que motivou a internação está resolvida ou controlada o suficiente para o seguimento ambulatorial ou domiciliar. A decisão da alta médica é estritamente clínica e baseada na avaliação do profissional.
Nosso papel aqui é fundamental: mesmo antes da decisão formal da alta, estamos acompanhando de perto a evolução do paciente, observando sinais de melhora, administrando a medicação prescrita e fornecendo os cuidados necessários. Após a comunicação da alta médica, preparamos o paciente para a saída, revisamos as orientações médicas e de enfermagem, esclarecemos dúvidas do paciente e da família sobre o plano de cuidados domiciliar, agendamentos de consultas de seguimento e fornecemos informações sobre medicamentos, dieta e atividades permitidas. Garantir que o paciente e seus cuidadores se sintam seguros e informados para dar continuidade ao tratamento em casa é uma das nossas prioridades.
Alta Administrativa: Questões Burocráticas que Impactam a Saída
A alta administrativa ocorre por motivos não clínicos, geralmente relacionados a questões burocráticas ou administrativas da instituição ou do plano de saúde do paciente. Isso pode acontecer, por exemplo, quando o tempo de internação autorizado pelo convênio se esgota e não há justificativa clínica para prorrogação, ou em casos de transferências compulsórias por questões contratuais.
Nessas situações, nosso papel é de mediador e defensor do paciente. Precisamos entender a situação, explicar claramente ao paciente e à família os motivos da alta administrativa, buscar alternativas dentro da instituição ou junto ao serviço social para garantir uma transição o mais suave possível e assegurar que o paciente não seja prejudicado na continuidade do seu tratamento. A comunicação eficaz e a busca por soluções que atendam às necessidades do paciente são cruciais nesse tipo de alta.
Alta por Transferência: Seguindo o Cuidado em Outro Nível
A alta por transferência ocorre quando o paciente necessita de cuidados em outro nível de complexidade ou em outra especialidade não disponível na instituição atual. Isso pode envolver a transferência para uma unidade de terapia intensiva em outro hospital, para uma clínica de reabilitação, para um hospital especializado ou até mesmo para uma instituição de longa permanência.
Nesse processo, a nossa atuação é essencial para garantir a segurança e a continuidade do cuidado. Precisamos preparar um resumo completo do histórico do paciente, dos exames realizados, do tratamento instituído, da evolução clínica e dos cuidados de enfermagem prestados. Garantir a comunicação eficaz com a equipe que receberá o paciente, fornecer todas as informações relevantes e acompanhar a transferência, quando necessário, são passos importantes para uma transição bem-sucedida.
Evasão: A Saída sem Consentimento e suas Implicações
A evasão ou alta a pedido contra o parecer médico ocorre quando o paciente decide deixar o hospital sem a autorização da equipe médica, mesmo sendo orientado sobre os riscos dessa decisão para sua saúde. Essa situação pode ser motivada por diversos fatores, como discordância com o tratamento, questões pessoais ou financeiras.
Nossa responsabilidade aqui é informar claramente o paciente sobre os riscos da evasão, registrar no prontuário a sua decisão e as orientações fornecidas, colher a assinatura do paciente (ou de um responsável, se aplicável) em um termo de responsabilidade e comunicar imediatamente a equipe médica. É importante tentar entender os motivos da decisão do paciente e, se possível, oferecer alternativas ou esclarecimentos que possam reconsiderar sua saída.
Desistência do Tratamento: Uma Decisão Difícil e Respeitada
A desistência do tratamento é uma situação delicada em que o paciente, capaz e orientado, manifesta o desejo de interromper o tratamento médico proposto. Essa decisão deve ser tomada de forma livre e esclarecida, após o paciente receber todas as informações sobre os riscos e benefícios da continuidade do tratamento e as possíveis consequências da sua decisão.
Nosso papel é garantir que o paciente tenha todas as informações necessárias para tomar essa decisão, oferecer apoio emocional, esclarecer dúvidas e registrar detalhadamente no prontuário a manifestação da vontade do paciente e as orientações fornecidas pela equipe médica e de enfermagem. É fundamental respeitar a autonomia do paciente, mesmo que discordemos da sua decisão, e garantir que ele receba os cuidados paliativos adequados, se necessário.
Óbito: O Fim da Jornada e o Cuidado na Despedida
O óbito marca o fim da vida do paciente dentro da instituição hospitalar. Embora não seja um tipo de “alta” no sentido tradicional, é a última forma de saída do paciente do hospital e exige cuidados específicos da equipe de enfermagem.
Nesse momento delicado, nosso papel é oferecer conforto e apoio à família, seguir os protocolos institucionais para a confirmação do óbito, preparar o corpo do paciente com dignidade e respeito, realizar os cuidados pós-morte e auxiliar nos trâmites burocráticos necessários. A empatia, o respeito e a sensibilidade são fundamentais nesse momento de despedida.
A Enfermagem na Transição: Garantindo um Cuidado Contínuo e Seguro
Em todos os tipos de alta hospitalar, a enfermagem desempenha um papel crucial na transição do cuidado. Seja fornecendo informações, mediando conflitos, garantindo a segurança ou oferecendo apoio emocional, nossa atuação é fundamental para que a saída do paciente do hospital ocorra da melhor forma possível, respeitando suas necessidades e garantindo a continuidade do cuidado em outros ambientes.
Entender os diferentes tipos de alta e o nosso papel em cada um deles é um passo importante para nos tornarmos profissionais de enfermagem completos e comprometidos com o bem-estar dos nossos pacientes.
Referências:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no SUS (HumanizaSUS). Brasília: Ministério da Saúde, 2004. (Consultar diretrizes sobre o processo de alta hospitalar). Disponível em: https://www.google.com/search?q=https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf.
- HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS. Processo de Alta Hospitalar. São Paulo: Hospital Sírio-Libanês, [s.d.]. Disponível em: https://www.google.com/search?q=https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/sua-internacao/Paginas/processo-de-alta.aspx.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA. Diretrizes para a Alta Hospitalar. São Paulo: SBCM, [s.d.]. Disponível em: https://www.google.com/search?q=https://sbcm.org.br/.







