Onfalite

A Onfalite é uma infecção da pele e tecidos moles do umbigo e regiões circundantes. Se não for tratada, pode atingir uma maior área da parede abdominal e os tecidos mais profundos ou causar infeção disseminada.

A doença localizada caracteriza-se por drenagem purulenta ou com cheiro fétido através do coto umbilical, associada a edema, eritema e maior sensibilidade cutânea na região periumbilical.

No adulto, a onfalite aguda resulta da retenção de secreções por deficiente higiene, especialmente quando a depressão cupuliforme do umbigo é muito acentuada. Pode haver ainda a onfalite crônica granumatosa.

Diagnóstico

Patologia Clínica

Alterações no leucograma como aumento da contagem de leucócitos, neutrofilia ou neutropenia, relação neutrófilos imaturos/total superior a 0,2, e trombocitopenia assim como a elevação dos marcadores laboratoriais de inflamação (proteína C reactiva, procalcitonina e velocidade de sedimentação) são indicadores de infeção bacteriana sistémica (1,4).

O exame bacteriológico do exsudado do umbigo (coloração Gram e exame cultural) deve ser realizado sempre que possível antes de iniciada antibioterapia. Na suspeita de envolvimento sistémico, deve realizar-se hemocultura e punção lombar para cultura do líquido cefalo-raquidiano.

Imagiologia

Na suspeita de complicações abdominais pode estar indicada realização de radiografia do abdómen (presença de ar ectópico intra-abdominal), ecografia abdominal (espessamento da fáscia e músculos, necrose muscular ou presença de alterações anatómicas) e de tomografia computorizada do abdómen (melhor caracterização da extensão de envolvimento muscular/fascial).

Tratamento

Cirurgia

A cirurgia pode ser necessária no tratamento das complicações, nomeadamente da fasceíte necrosante.

Antibioterapia

No tratamento de recém-nascidos com onfalite não complicada está indicada a administração parentérica de antibióticos com sensibilidade para agentes Gram-positivo e Gram-negativo, sendo a combinação de uma penicilina anti-estafilococos e um aminoglicosídeo a mais utilizada no tratamento empírico.

Em comunidades com elevada prevalência de S. aureus meticilinorresistente, a vancomicina deve ser usada em vez da penicilina.

Na presença de complicações abdominais (como a fasceíte e a mionecrose) ou quando a resposta ao tratamento anterior se demonstra insuficiente, é aconselhável uma melhor cobertura dos microorganismos anaeróbios, sendo a associação de metronidazol e de clindamicina (em substituição da penicilina) uma adequada opção.

O tratamento deve ser ajustado de acordo com os estudos microbiológicos e com a sensibilidade dos microrganismos isolados. A terapêutica antibiótica deverá ter uma duração mínima de 10 dias, podendo nas situações não complicadas e nos lactentes maiores ser completada por via oral.

A melhoria clínica, com redução visível dos sinais inflamatórios, deve ser notada nas primeiras 12 a 24 horas depois do início dos antibióticos. A ausência de resposta à terapêutica pode significar progressão da doença, imunodeficiência ou presença de defeitos anatómicos como a persistência de úraco ou do canal onfalo-mesentérico.

Referências:

  1. Gomella T et al. Neonatology, Procedures, On-Call Problems, Diseases and Drugs. Lange, 6th edition.
  2. World Health Organization (http://www.who.int/en/), acessado em 06-04-2021
  3. Cochrane database (www.cochrane.org), acessado em 06-04-2021
  4.  Royal College of Paediatrics and Child Health. The Blue Book – Manual of Childhood Infections. Oxford University. 2011.
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