Gangrena de Fournier

gangrena de Fournier, também conhecida como fasceíte necrosantesíndrome de Mellené ou síndrome de Fournier, é caracterizada por uma infecção aguda dos tecidos moles do períneo, com celulite necrotizante secundária a germes anaeróbicos ou bacilos gram-negativos, ou ambos. A infecção pode desenvolver-se sob pele aparentemente normal, dissecando o tecido com necrose. Seu nome é uma homenagem ao médico francês Jean Alfred Fournier.

A fasceíte necrotizante é frequentemente diagnosticada em pacientes debilitados, e a porta de entrada pode ser identificada quase sempre. O anorreto possui espaços potenciais com planos fasciais resultando em alastramento rápido da infecção.

A infecção pode ser decorrente de:

  • extensão de abscesso perirretal
  • escaras de decúbito infectadas
  • instrumentação urológica ou retal

A maior parte dos casos tem como foco patologias ou procedimentos anorretais e urológicos. Vasectomia, diverticulite, exame anorretal e biópsia de mucosa retal são associados a essa condição. Atraso no diagnóstico é evitado por exames frequentes no períneo de pacientes admitidos com dor perineal e sepse concomitante.

Como é tratado?

O tratamento consiste no uso de antibióticos de largo espectro, cobrindo anaeróbios e gram-negativos. Cirurgia pode ser necessária. O tratamento da causa é influi na evolução da história natural da doença.

Também incluem-se na terapia (focando melhor cicatrização) a oxigenoterapia hiperbárica (OHB) e os triglicerídeos de cadeia média (TCM) como óleo de girassol.

O Prognóstico

A despeito do tratamento, a fasceíte necrotizante permanece com altos índices de mortalidade: 25 a 52%.

O melhor resultado é obtido em pacientes jovens (idade abaixo de 60 anos), com gangrena localizada no períneo, sem complicações sépticas, com hemoculturas negativas.

A realização de colostomia para derivação fecal pode ser uma opção para melhorar a evolução do quadro.

O tempo de intervalo entre o início da infecção e o tratamento é crucial para o prognóstico. Pacientes com duração dos sintomas até quatro dias têm melhor prognóstico, enquanto que o tempo de sintomatologia acima de 7 dias está associado a alto índice de mortalidade.

Cuidados de Enfermagem

  • Oferecer informações sobre o prognóstico ao cliente sempre que possível, para que o paciente fique sempre informado sobre sua atual situação de saúde;
  • Oferecer um ambiente calmo e agradável, para seu maior conforto;
  • Estimular o cliente a falar sobre seu medo em relação a morte, para que se possa estabelecer um vínculo de confiança e apoio;
  • Monitorar sempre que possível o estado emocional do cliente, a fim de se observar as inseguranças do cliente que necessite de intervenção;
  • Oferecer ajuda psicológico, para que o cliente e familiares tenha um apoio psicológico para superar o momento difícil;
  • Monitorar e avaliar os sinais vitais (PA, TAX, FC, FR, SPO2) de 2/2 horas, atentando para o registro de enfermagem, para que possa evidenciar a evolução do cliente, e na existência de normalidade se tome medidas cabíveis;
  • Avaliar nível de consciência, para que possa evidenciar possível agravamento do quadro clinico do cliente e/ ou mesmo gravidade da sepse;
  • Providenciar de imediato o acesso venoso pérvio de grande calibre, para agilizar quando for necessário a infusão venosa;
  • Ofertar oxigênio a 5 ml/min quando os níveis de saturação de O2 estiverem abaixo dos parâmetros normais (95-100%), para melhora a oferta de oxigênio e conforto respiratório ao cliente;
  • Manter cabeceira elevada a 45° e repouso no leito, para que possa trazer uma posição de conforto que facilite a respiração e as trocas gasosas;
  • Monitorar a intensidade da dor utilizando a escala de dor (nota de 0-10), a fim de se ter uma mensuração de dor do cliente para posteriormente estabelecer qual conduta melhor para tratá- la;
  • Administrar analgésico, quando prescrito ou quando necessário (sob protocolo institucional), atentando o registro no prontuário do cliente;
  • Avaliar junto ao paciente, se a medicação está surgindo efeito sobre a dor, para que possa comunicar a equipe medica sobre a inexistência ou persistência da dor, se caso houver.
  • Realizar curativos diários para se evitar processo infeciosos que posam lesionar a pele;
  • Enfatizar a realização da hidratação da pele com solução umectante, mantendo a pele hidratada e evitar ressecamento e possível lesão no local do abcesso;
  • Orientar ao paciente a não romper o abcesso na pele, pois pode ocasionar uma ferida e possível contaminação da pele;
  • Administrar antibioticoterapia prescrita, atentando para a diluição e a administração corretas desses medicamentos;
  • Avaliar o sentimento do cliente sobre seu corpo, para identificar as ameaças potenciais à autoestima;
  • Enfatizar o cliente a verbalizar suas preocupações, para que favoreça um diálogo e vínculo de ajuda do profissional para com o cliente;
  • Encorajar o cliente e a parceira a compartilhar as suas preocupações individuas uns com os outros, para manutenção da autoestima;
  • Assegurar o emprego de técnica asséptica adequada no manuseio das áreas necrosadas, para evitar complicação da infecção;
  • Aconselhar se necessário à realização de desbridamento da ferida, para favorecer o processo de cicatrização e se ter maior área de absorção das substancias tópicas;
  • Documentar local, tamanho e aspecto da área necrosada, a fim de se ter registro da evolução do tratamento;
  • Realizar diariamente o curativo oclusivo com substância adequada, para promover a cicatrização da área afetada;
  • Documentar surgimento de mudanças na pele e mucosas, a fim de evidenciar possíveis sinais que indiquem alteração na pele e mucosas;
  • Monitorar sinais flogísticos na pele (dor, edema, calor e rubor) que possa evidenciar sinais de infecção existente;
  • Documentar local, tamanho e aspecto da lesão, permitindo acompanhamento da evolução durante o tratamento da lesão;
  • Assegurar o emprego de técnica adequada no  cuidado da ferida, utilização de substâncias apropriadas para o grau da lesão;
  • Realizar diariamente o curativo com solução e substância adequado, para promover a cicatrização das lesões;
  • Administrar a antibioticoterapia conforme prescrição, seguindo rigorosamente os horários, a fim de se ter o sucesso terapêutico;
  • Explicar para o cliente sobre o tempo prolongado do antibiótico endovenoso, a fim de esclarecer suas dúvidas;
  • Instruir o paciente a tomar a medicação conforme recomendado e não interromper o tratamento, sem o conhecimento do médico, ainda que melhore, para que não ocorra a resistência do microrganismo em relação ao medicamento e abandono precoce do tratamento;
  • Informar ao paciente as reações adversas mais frequentemente relacionadas ao uso da medicação e que, diante a ocorrência de qualquer uma delas, comunicar a equipe de enfermagem e/ou médica, a fim de sanar a intercorrência;
  • Atentar para, antes da administração, avalie: os antecedentes de hipersensibilidade à droga, pois pacientes alérgicos a outras substâncias podem desenvolver reações à medicação administrada;
  • Oferecer antibióticos por via oral acompanhados de água ou após as refeições, para se evitar irritação gástrica.

Referências:

  1. DOS SANTOS LUGÃO DE SOUZA, Flávia; CARVALHO GOMES, Fábio; NORMA SUELI BRAGA VALLE, Norma; EMERICK COELHO, Elciana. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PORTADOR DA SÍNDROME DE FOURNIER: UMA PESQUISA INTEGRATIVA. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PORTADOR DA SÍNDROME DE FOURNIER: UMA PESQUISA INTEGRATIVA, [S. l.], p. fournier, 25 fev. 2019. Disponível em: https://www.mastereditora.com.br/periodico/20190407_140735.pdf. Acesso em: 2 fev. 2021.

Classificação de Wagner: Úlceras do Pé Diabético

Pé Diabético

O pé diabético é uma das principais complicações do diabetes mellitus (DM), sendo causa frequente de internações hospitalares. Os custos destas internações e o ônus social constituem um grave problema de saúde.

Foram desenvolvidos vários métodos para classificação de úlceras do pé diabético, porém nenhuma teve ampla aceitação, dificultando as comparações dos achados científicos neste campo, sendo então, o modelo de Classificação de Wagner, descrito pelo médico ortopedista Wagner FW. Jr., em meados de 1987, onde este sistema de classificação constitui o fundamento a partir do qual são desenvolvidos estudos subsequentes, e tem servido para possibilitar a comunicação entre os pesquisadores e médicos, e permitir a comparação dos pacientes tratados em várias partes do mundo.

Graus de Risco

  • Grau 0 – Pé em risco de ulceração, mas com ausência de úlceras.
  • Grau 1 – Úlceras superficiais com perda total da pele; sem infecção e comumente de etiologia neuropática. Presentes em áreas de pressão, tais como as extremidades metatársicas, mas podem ocorrer nos dedos ou outros locais.
  • Grau 2 – Principalmente neuropáticas e mais profundas, frequentemente penetrando no tecido subcutâneo. Têm infecção, mas sem envolvimento ósseo. O diagnóstico de infecção é geralmente feito com a evidência de secreção purulenta, inflamação e celulite. Febre geralmente ausente. Em mais de 70% dos pacientes, uma média de 3 a 5 microrganismos são observados em cultura.
  • Grau 3 – Celulite, formação ocasional de abcesso, osteomielite.
  • Grau 4 – Presença de gangrena no ante pé.
  • Grau 5 – Presença de gangrena em todo o pé.

Alguns Cuidados de Enfermagem com o Pé diabético

– Pacientes deverão ser avaliados pelo menos uma vez ao ano e aqueles que possuem alto risco, devem ser avaliados periodicamente a cada 1 a 6 meses e que as ações de educação terapêutica sejam aplicadas para aqueles pacientes identificados como de alto risco para surgimento das ulcerações, principalmente quando o local possui recursos materiais escassos;

–  A educação preventiva contribui para a redução de complicações futuras, principalmente as amputações não-traumáticas;

– O Autocuidado, onde o profissional pode acompanhar os pacientes com maior risco de desenvolvimento do pé diabético e orientar quanto ao autocuidado, salientando também a questão do bom controle glicêmico;

– O acompanhamento periódico com a Enfermagem, para prevenir complicações em pés;

– É recomendado que durante a anamnese, a coleta de dados deverá abordar questionamentos diretos relacionados aos sinais e sintomas. Neste momento da avaliação, é necessário que um enfermeiro tenha conhecimento sobre os mecanismos causais das lesões e dos sinais para detecção da evolução de uma infecção;

– Algumas medidas de prevenção do pé diabético ficam sob responsabilidade da educação em saúde fornecida pela equipe de enfermagem, tais como o cuidado com a pele e unhas, o uso de sapatos terapêuticos, higiene diária e outros;

– A higiene diária dos pés, seguida da secagem eficaz de toda a extensão do pé e espaços interdigitais é uma medida positiva na prevenção de úlceras;

– Salientar para o paciente a importância do exame dos pés diário e rotineiro.

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Enfisema Subcutâneo

Enfisema Subcutâneo

Você já ouviu falar sobre o Enfisema Subcutâneo? 

É uma afecção rara, constituída pela entrada de ar nos tecidos logo abaixo da pele. Em geral ele é uma complicação que sobrevém a algum procedimento, acidente invasivo ou a algumas infecções.

O enfisema subcutâneo pode ser causado pela introdução inadvertida de ar dentro do tecido, pela produção de gás no interior dele ou por infecções como, por exemplo, na gangrena gasosa ou não enterocolite necrotizante.

Assim, ele pode estar associado ao pneumotórax (perfuração dos pulmões), fratura óssea, ruptura do tubo brônquico e ruptura do esôfago, entre outras condições devidas a traumas contundentes, esforço por vômitos, ferimentos por bala ou por armas brancas e, raramente, por procedimentos médicos como endoscopia, cateter venoso, intubação e broncoscopia.

O enfisema subcutâneo aparece como um suave abaulamento da pele que, quase sempre, causa apenas sintomas de pouca intensidade. Mesmo quando extenso, costuma não ter consequências clínicas significativas, apesar de ser extremamente desconfortável. Só é uma complicação grave se causa obstrução respiratória ou circulatória.

Geralmente ele ocorre na pele da parede torácica ou do pescoço, mas também pode ocorrer em outras partes do corpo, como nos braços, pernas e dorso. Ele se manifesta como um inchaço macio na pele. Ao exame físico, o médico observa uma tumefação sonora à percussão, sem alteração da pele que a cobre. A palpação dá a sensação de achatamento de pequenas bolhas de ar e na ausculta ouve-se uma crepitação gasosa.

O diagnóstico do enfisema subcutâneo depende de uma história médica que levante as possíveis causas e de um minucioso exame físico. Em geral ele se apresenta como uma elevação lisa na pele e ao palpá-lo o médico sentirá uma sensação incomum de crepitação (estalido) devido ao deslocamento do gás pelo tecido.

Na maioria dos casos, o enfisema subcutâneo é autolimitado e o tratamento é conservador. Por vezes consiste na colocação de drenos subcutâneos, conectados a sacos de drenagem.

A evolução do enfisema subcutâneo é benigna, mas as condições que o causam podem ser muito graves e por vezes requerem hospitalização.