O termo quimioterapia é utilizado na área da saúde para designar tratamento de neoplasias, porém a sua definição correta é de uma substância química, isolada ou não que tem por objetivo tratar uma patologia tumoral ou não.
Assim, denominam-se agentes quimioterápicos antineoplásicos ou citostáticos, os fármacos usados para o tratamento de neoplasias quando a cirurgia ou radioterapia não é possível ou é ineficaz e como adjuvantes para cirurgia. Elas têm como finalidade: curar, melhorar a sobrevida e/ou promover efeito paliativo.
A grande maioria dos agentes quimioterápicos antineoplásicos é de natureza tóxica e sua administração exige grande cuidado e habilidade. Cometer um erro durante o manuseio ou na administração de um desses medicamentos pode levar a efeitos tóxicos graves, não apenas para o cliente, mas também para o profissional que prepara e administra estes medicamentos.
Por essas razões, a enfermagem deve ter além de habilidades psicomotoras, o conhecimento científico sobre a ação dos agentes quimioterápicos e o preparo do cliente, bem como estar assegurado de equipamentos de proteção individual que atendam as exigências para a administração de quimioterápicos antineoplásicos.
Além disso, o enfermeiro deve ter conhecimento, à respeito da velocidade de aplicação, efeitos colaterais, toxicidade dermatológica e cuidados de enfermagem.
Competência na Instalação e Manipulação de Quimioterápicos
A administração deve ser realizada por enfermeiro, conforme definição da Resolução COFEN n. 210/1998 e n. 257/2001 (COFEN, 1998; COFEN, 2001).
CLASSIFICAÇÃO DOS QUIMIOTERÁPICOS ANTINEOPLÁSICOS
Classificação dos antineoplásicos conforme a estrutura e função em nível celular
- Agentes alquilantes: mostarda nitrogenada e derivados (mecloretamina, ciclofosfamida, clorambucil), etilenamina, epoxidos (dibromomanitol, dibromocitrol), alquil sifonatos (bussulfan), nitrosouréias (carmustine, lomustine, streptomizicin), diaquitriazenes (dacarbazina), streptozocina, ifosfamida, melfalan, cisplatina, estramustina, melfalano, tiopeda, semustina, dacarbazina, carboplatina;
- Agentes antimetabólicos: metotrexato, são análogos da purina (6-mercapturina, 6-tioguanina, azatioprina), análogos da pirimidina (5-flurouracil, citosin-arabinosidio);
- Antibióticos antitumorais: antacíclicos (doxorubicina, daunublastina, epirubicina, idarubicina), bleomicina, mitomicina, mitoxotrona;
- Plantas alcalóides: grupo da vincristina e vimblastina, paclitaxel, teniposido e etoposido;
- Outras classificações: hidroxilréias, asparaginase;
Classificação dos antineoplásicos conforme as reações dermatológicas locais
- Quimioterápicos vesicantes: provocam irritação severa com formação de vesículas e destruição tecidual quando extravasados;
- Quimioterápicos irritantes: causam reação cutânea menos intensa quando extravasados (dor e queimação sem necrose tecidual ou formação de vesículas); porém, mesmo que adequadamente infundidos, podem ocasionar dor e reação inflamatória no local da punção e ao longo da veia utilizada para aplicação;
- Quimioterápicos não vesicantes/irritantes: não causam reação cutânea quando extravasados e não provocam dor e queimação durante a administração;
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS QUIMIOTERÁPICOS ANTINEOPLÁSICOS
Os quimioterápicos antineoplásicos podem ser administrados pelas vias: oral, intramuscular, subcutânea, endovenosa, intrarterial, intrapleural, intravesical, intra-retal, intratecal e intraperitoneal.
Via oral
Vantagens
- As mesmas de outra medicação administrada por essa via
Desvantagens
- As mesmas de outra medicação administrada por essa via
Potenciais complicações
- Complicações específicas de cada agente
Cuidados de enfermagem na via oral
- Manusear os quimioterápicos com luvas de procedimentos ;
- Orientar e assistir o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Diluir a droga em água e administrá-la logo em seguida;
- Comunicar com o médico imediatamente, se o cliente vomitar;
- Administrar antiemético prescrito, se presença de vômitos persistentes;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva.
Via intramuscular
Vantagens
- As mesmas de outra medicação administrada por essa via.
Desvantagens
- As mesmas de outra medicação administrada por essa via.
Potenciais complicações
- Lipodistrofias e abcessos.
Cuidados de enfermagem na via intramuscular
- Diluir os fármacos em pequena quantidade de diluentes;
- Fazer anti-sepsia rigorosa no local de aplicação;
- Administrar o quimioterápico em até 5 ml para cada aplicação em adulto e 3ml para criança;
- Utilizar uma agulha de menor calibre;
- Fazer rodízios dos locais de aplicação;
- Orientar e assistir o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva.
Via arterial
Vantagens
- Aumento da dose para tumores com diminuição dos efeitos colaterais sistêmicos
Desvantagens
- Requer procedimento cirúrgico para colocação do cateter
Potenciais complicações
- Sangramento e embolia
Cuidados de enfermagem na aplicação por via arterial
- Observar posicionamento e fixação do cateter;
- Retirar o cateter fazendo compressão por 5 minutos ou mais;
- Fazer curativo após a retirada do cateter;
- Orientar e assistir o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva.
Via intratecal
Vantagens
- Maiores níveis séricos da antineoplásico no liquido cérebro-espinhal
Desvantagens
- Requer punção lombar ou colocação cirúrgica do reservatório ou um cateter implantável para a administração da droga
Potenciais complicações
- Cefaléia; confusão; letargia; náuseas e vômitos; convulsões
Cuidados de enfermagem na aplicação por via intratecal
- Posicionar adequadamente o cliente em decúbito lateral, para favorecer a punção;
- Manter o cliente em repouso pelo menos por duas horas após receber a quimioterapia para prevenir cefaleia;
- Orientar e assistir o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva.
Via intrapleural
Vantagens
- Esclerose da parede da pleura para prevenir a recidiva de derrame pleural
Desvantagens
- Requer inserção do dreno de tórax
Potenciais complicações
- Dor; infecção
Cuidados de enfermagem na aplicação por via intrapleural
- Auxiliar o médico durante a drenagem pleural;
- Posicionar o cliente em decúbito lateral ou sentado com o dorso livre e os braços;
- Amparados para o médico fazer a aplicação do quimioterápico antineoplásico;
- Ocluir o cateter ou dreno e manter a medicação no espaço intrapleural entre 20 minutos a 2 horas, conforme prescrição médica;
- Fazer mudança de decúbito a cada 15 minutos;
- Manipular o cateter utilizando técnica asséptica;
- Orientar e assistir o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva.
Via intravesical
Vantagens
- Exposição direta da superfície da bexiga à droga
Desvantagens
- Requer inserção do cateter de Folley
Potenciais complicações
- Infecções do trato urinário, cistite, contratura da bexiga, urgência urinária, reações alérgicas à droga
Cuidados de enfermagem na aplicação por via intravesical
- Orientar o cliente a fazer restrição hídrica por 8 a 12 horas antes da sondagem;
- Fazer o cateterismo vesical com sonda vesical de demora e se for retirá-la após a infusão fazer com a sonda de alívio;
- Aplicar o quimioterápico antineoplásico;
- Fazer mudança de decúbito de 15 em 15 minutos;
- Orientar que a quimioterapia deverá ficar retida por maior tempo possível;
- Drenar o quimioterápico e retirar a sonda;
- Assegurar técnica asséptica;
- Orientar e assistir o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva.
Via endovenosa
Vantagens
- Efeito imediato e completa disponibilidade da medicação.
Desvantagens
- Esclerose venosa, hiperpigmentação da pele.
Potenciais complicações
- Infecção, flebite, formação de vesículas ou necrose quando extravasado o antineoplásico.
Cuidados de enfermagem na aplicação por via endovenosa
- Puncionar veia calibrosa;
- Escolher a veia periférica mais distal dos membros superiores e de maior calibre acima das áreas de flexão;
- Fixar o dispositivo de uma maneira que facilite a visualização do local da inserção do cateter para a avaliação de extravasamento;
- Certificar se o acesso venoso está pérvio com soro fisiológico ou água destilada antes de iniciar a quimioterapia;
- Usar three way para facilitar na manipulação medicamentosa;
- Administrar o quimioterápico antineoplásico em bolus, infusão rápida e lenta ou contínua, conforme prescrição médica;
- Não administrar quimioterápicos vesicantes sob infusão contínua através de um acesso venoso periférico;
- Interromper a infusão quando houver: edema, hiperemia, diminuição ou parada do retorno venoso e dor no local da punção;
- Seguir protocolo da instituição em caso de extravasamento do quimioterápico;
- Lavar a veia puncionada com SF 0,9% antes de retirar o dispositivo da punção
- Fazer compressão local por 3 minutos após a retirada do dispositivo para evitar o refluxo do quimioterápico e sangue;
- Observar presença de complicações locais associados à administração dos quimioterápicos por veia periférica: flebite, urticária, vasoespasmo, dor, eritema, descoloração, hiperpigmentação venosa e necrose tecidual secundária ao extravasamento;
- Assistir e orientar o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva.
Via retal
Vantagens
- As mesmas de outra medicação administrada por essa via
Desvantagens
- As mesmas de outra medicação administrada por essa via
Cuidados de enfermagem na aplicação por via intra retal
- Fazer lavagem intestinal, conforme prescrição médica;
- Aplicar o medicamento evitando extravazamento;
- Orientar o cliente a manter o quimioterápico por maior tempo possível e mudar de decúbito sempre que possível;
- Orientar e assistir o cliente com relação aos efeitos colaterais;
- Fazer anotações de enfermagem descritiva;
Procedimento para administração de quimioterápicos
- Verificar a identificação do cliente, medicamento, dose, via e tempo de administração na prescrição médica;
- Rever o histórico de alergia à medicamentos com o cliente e no prontuário;
- Antecipar e planejar possíveis efeitos colaterais e toxicidade sistêmica importante;
- Rever os dados laboratoriais e outros testes adequados;
- Escolher os equipamentos e dispositivos adequados;
- Explicar o procedimento ao cliente e ao acompanhante;
- Informar que os quimioterápicos são lesivos para as células normais e que as medidas de proteção usadas pela equipe minimizam sua exposição ao medicamento;
- Administrar antieméticos ou outras medicações prescritas;
- Administrar o quimioterápico;
- Monitorar o cliente em intervalos programados durante todo o período de administração de medicamentos;
- Não descartar qualquer dispositivo utilizado em qualquer procedimento na área de cuidado do cliente.
Intervenções de enfermagem frente ao tratamento com os quimioterápicos antineoplásicos
- Avaliar cavidade oral quanto à presença de mucosites e gengivites.
- Fazer a higienização dos dentes com cautela, nos clientes que apresentarem hemorragias gengivais.
- Incentivar o cliente a fazer a higiene oral com escova macia ou com o dedo enrolado na gaze com soro fisiológico e solução alcalina (bicarbonato de sódio) na ausência de hemorragia.
- Incentivar o cliente a fazer bochecho com solução de nistatina 30 minutos após a higiene oral, mantendo-a na boca por 2 minutos e deglutindo após, conforme prescrição médica.
- Liberar a dieta após 20 minutos do bochecho com solução de nistatina.
- Avaliar a aceitação alimentar e documentar.
- Oferecer alimentação leve 2h antes do início da quimioterapia.
- Evitar frituras para minimizar a possibilidade de vômitos para o cliente.
- Administrar antiemético antes da quimioterapia, se prescrito.
- Avaliar a eficácia do antiemético.
- Evitar líquidos durante as refeições .
- Estimular ingestão hídrica 2 litros/dia ou mais.
- Evitar odores desagradáveis na enfermaria.
- Investigar, medicar e proporcionar o conforto na ocorrência de dor.
- Manter os lábios do cliente lubrificados.
- Registrar o peso diariamente e fazer balança hídrico rigoroso.
- Estimular a deambulação, quando possível.
- Observar, comunicar e registrar presença de reações adversas.
Referências:
- FONSECA, S.M. et. Al. Manual de quimioterapia antineoplásica, Rio de Janeiro: Reichmann &Affonso, 2000, 164p.
- MILLER, D. Quimioterapia. In: Administração de medicamentos. Rio de Janeiro: Reichmann &Affonso, p. 369-82, 2002.
- ARCHER, E, et al. Protocolo de quimioterapia. In: Procedimentos e protocolos. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2005, 408p.
- ADAMI, N.P, et al. Extravasamento de drogas antineoplásicas: notificação e cuidados prestados. Rev. Brás. Cancerologia, v. 47 n. 2, p. 147-51, 2001.
- ROCHA, F.L.R.. MARZIALE, M.H.P.. ROBAZZI, M.L.C.C. Perigos potenciais a que estão expostos os trabalhadores de enfermagem na manipulação de quimioterápicos antineoplásicos: conhecê-los para prevení-los. Rev. Latino-am Enfermagem, v. 12, n. 3, p. 511-7, 2004.
- Conselho Federal de Enfermagem (COFEn). Resolução 210 de 01 de julho de 1998. Dispõe sobre a atuação dos profissionais de enfermagem que trabalham com quimioterápicos antineoplásicos. In: COFEn. Documentos Básicos de Enfermagem. São Paulo, 2001. p. 207.
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