Atropina Sublingual e a Sialorreia

A sialorreia é caracterizada pelo excesso de salivação ou pela incapacidade de conter a saliva na boca, causando efeitos negativos importantes na saúde e na qualidade de vida do indivíduo, pois afeta a higiene, a nutrição, o sono, a fala e pode gerar estigma.

Esse é um sintoma comum em doenças neurológicas, como a paralisia cerebral e em pacientes com sequelas decorrentes de acidente vascular cerebral.

Existem diversas formas de controle da sialorreia descritas na literatura, como terapia medicamentosa, aplicação de toxina botulínica, radioterapia e procedimentos cirúrgicos.

Contudo, algumas dessas abordagens podem não ser viáveis em alguns casos e o ideal é que se opte, sempre que possível, por formas de tratamento menos invasivas.

O uso da Atropina para o tratamento de Sialorreia Intensa

No Brasil, a atropina pode ser encontrada em duas formas farmacêuticas: como solução injetável, que tem como uma das indicações o uso como pré-anestésico para reduzir a produção de saliva, e na forma de colírio, que é utilizada em exames e tratamentos oftalmológicos.

Na prática clínica, há relatos de que o uso do colírio de atropina também ocorre de modo off-label por via sublingual, com o objetivo de controlar a sialorreia, pois promove a inibição local das secreções.

Os estudos disponíveis sobre a eficácia da atropina no tratamento da sialorreia são escassos e apresentam limitações importantes, sendo que muitas vezes não fica claro qual foi a forma farmacêutica da atropina avaliada no estudo.

Ainda assim, esses estudos fornecem evidências que podem ser úteis ao se considerar o uso sublingual da atropina no tratamento da sialorreia.

As evidências disponíveis até o momento não nos permitem afirmar que o uso da atropina por via sublingual é eficaz no tratamento da sialorreia.

Na maioria dos casos, o benefício da atropina na redução da saliva é temporário ou os efeitos adversos (boca excessivamente seca, constipação e retenção urinária) inviabilizam a continuidade do uso.

É importante ressaltar ainda que a utilização do colírio oftalmológico por via sublingual pode aumentar as chances de erros de medicação, como a administração por via incorreta e erros de dose.

Tendo em vista a escassez de tratamentos para a sialorreia, é importante considerar que alguns pacientes podem se beneficiar com o uso desse medicamento nessas condições, no entanto, é necessário que a relação entre potenciais riscos e benefícios dessa alternativa terapêutica seja avaliada individualmente, de maneira rigorosa e contínua.

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