Circulação Fetal

A circulação fetal é estruturada para suprir as necessidades de um organismo em crescimento rápido num ambiente de hipóxia relativa (ausência de oxigênio). 

A única conexão entre o feto e o meio externo é a placenta, que o serve nas funções de intestinos (suprimento de nutrientes), rins (retirada dos produtos de degradação) e pulmões (trocas gasosas). Por isso, através dos vasos sanguíneos do cordão umbilical, o feto recebe todo o apoio de oxigênio, nutrientes e excreção de substâncias, por meio da mãe através da placenta.

Com isso, existem três estruturas importantes para a circulação do feto: ducto venoso, ducto arterial e forame oval.

No feto, a placenta tem a sua resistência vascular baixa, ou seja, é a resistência que precisa ser vencida para poder empurrar o sangue adiante, por meio do sistema circulatório e, assim, gerar um fluxo.

Além disso, a placenta recebe cerca de 40% do débito cardíaco fetal (volume de sangue ejetado pelo ventrículo esquerdo para a artéria aorta a cada minuto), resultando em uma pressão sistêmica baixa.

Opostamente, os pulmões do feto estão cheios de fluido, resultando em uma alta resistência vascular (maior dificuldade para a passagem de sangue) e menos de 10% do débito cardíaco vai para os pulmões.

O sangue oxigenado da placenta passa pela veia umbilical e se divide ao entrar no abdome do feto. A maioria desse sangue oxigenado flui através do ducto venoso (vaso fetal que comunica a veia umbilical com a veia cava inferior) e, a seguir, para o átrio direito, o sangue restante perfunde o fígado.

O sangue proveniente do ducto venoso entra no átrio direito e, por causa de um efeito de fluxo, é desviado para o forame oval para o lado esquerdo do coração e da aorta.

Dessa forma, nesse compartimento o sangue que possui um alto teor de oxigênio vindo da veia cava é misturado com o sangue minimamente oxigenado vindo das veias pulmonares, pois os pulmões consomem oxigênio e não o produz.

Já o ducto arterial, quando desvia o sangue da artéria pulmonar para a artéria aorta, tem a função de proteger os pulmões da sobrecarga e permite que o ventrículo direito se fortaleça para a sua total capacidade funcional ao nascimento.

O restante do fluxo de retorno da veia cava inferior mistura-se ao retorno da veia cava superior e seio coronário e passa para o ventrículo direito.

O sangue que chega ao átrio esquerdo e, seguidamente, ao ventrículo esquerdo e a aorta ascendente, artérias coronárias e cérebro é, consequentemente, o mais saturado com que será dirigido através do canal arterial para a parte inferior do corpo do feto.

O baixo fluxo pulmonar fetal é mantido às custas da elevada resistência vascular pulmonar. Vários fatores estimulam esta vasoconstricção como acidose, catecolaminas alfa-adrenérgicas e estimulação nervosa simpática, porém não há dúvidas que a hipóxia é o principal fator determinante da vasoconstricção pulmonar fetal.

Devido à alta resistência ao fluxo sanguíneo pulmonar, apenas uma pequena quantia (aproximadamente 7% do débito cardíaco combinado) de sangue circula pelos pulmões, o restante é dirigido, através do canal arterial para a aorta descendente.

Depois do nascimento do bebê o ducto arterial, o ducto venoso, o forame oval e os vasos umbilicais não são mais necessários e, por isso, se contraem e são “esmagados” pelo átrio esquerdo e pelo pulmão que se expandiu.

O fechamento do ducto arterial pode ser mediado pela bradicinina, uma substância liberada pelos pulmões durante a sua distensão inicial.

Além disso, depois do nascimento, quando o bebê começa a respirar, gradualmente para de circular sangue entre o bebê e a placenta conforme a respiração se estabiliza. Aos poucos, o padrão circulatório do bebê vai se modificando para o padrão adulto.

Referências:

  1. FERNANDES J, Caraciolo. Physiologic transition from intrauterine to extrauterine. UptoDate. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/physiologic-transition-from-intrauterine-to-extrauterine-life?search=circula%C3%A7%C3%A3o%20fetal&sectionRank=1&usage_type=default&anchor=H3&source=machineLearning&selectedTitle=1~118&display_rank=1#H3> 
  2. MATTOS, Sandra S. Fisiologia da circulação fetal e diagnóstico das alterações funcionais do coração do feto. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo , v. 69, n. 3, p. 205-207, Sept. 1997 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X1997000900013&lng=en&nrm=iso&gt;. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X1997000900013.
  3. Student Midwife Studygram. Disponível em: <https://studentmidwifestudygram.co.uk/about/> 
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