Classificação Internacional para a Segurança do Paciente da OMS

A grande função desta parte da Classificação Internacional para a Segurança do Paciente (CISP) é poder descrever o incidente em uma categoria específica, bem como descrever o que ele causou ao paciente, ou seja, é dar as características que dão o “diagnóstico” do incidente, bem como sua “repercussão clínica”. Sendo assim, aqui estão as duas categorias que são fundamentais quando pensamos no paciente, dentro da CISP.

Incidentes, apenas recordando, são eventos ou circunstâncias que poderiam resultar, ou resultaram, em dano desnecessário ao paciente.

Tipos de Incidente

  • Circunstância de Risco (reportable circumstance): é uma situação em que houve potencial significativo de dano, mas não ocorreu um incidente;
    • Exemplo: a escala de enfermagem de uma UTI está defasada em um determinado plantão.
  • “Quase – erro” (“near-miss”): incidente que não atinge o paciente;
    • Exemplo: uma enfermeira iria colocar uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, mas percebe antes de instalar.
  • Incidente sem dano(no harm incident): um evento que ocorreu a um paciente, mas não chegou a resultar em dano;
    • Exemplo: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, mas o sangue é compatível e o paciente não tem reação.
  • Incidente com dano = EVENTO ADVERSO (harmful incident): incidente que resulta em dano para um paciente (danos não intencionais decorrentes da assistência e não relacionadas à evolução natural da doença de base).
    • Exemplo: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação febril.

Incidentes de uma natureza comum agrupados por características semelhantes.

Existem 13 tipos de incidente (Tabela 1), que por sua vez, se abrem em sub-grupos que ajudam à entender o que se caracteriza em cada um dos 13 grupos, bem como a detalhar mais a classificação do tipo de incidente, facilitando o agrupamento, a análise e a divulgação.

Tabela 1 – Tipos de Incidente

1 Administração clínica
2 Processo clínico/ Procedimentos
3 Documentação
4 Infecção hospitalar
5 Medicação/ Fluídos endovenosos
6 Hemoderivados
7 Nutrição
8 Gases/ Oxigênio
9 Equipamento médico
10 Comportamento
11 Acidentes com o paciente
12 Estrutura
13 Gerenciamento de recursos/ Organizacional

Desfechos do Paciente

Conceitos que dizem respeito ao impacto sobre o paciente, que é inteiramente ou em parte atribuível a um incidente.

Inclui-se aqui 3 características. As duas primeiras são descritivas, por exemplo, o tipo de dano foi um trauma craniano em uma queda do paciente, o impacto social e econômico pode ser medido em função da sequela que ele teve e do tempo de reabilitação que precisará.

Quanto ao Grau de Dano, este é variável e deve ser visto em função das informações da Tabela 2. Interessante ressaltar aqui que quando lembramos dos grupos de incidentes, as Circunstâncias de Risco, os “Quase-erros” e os Incidentes sem Dano sempre causam NENHUM dano, enquanto que os EVENTOS ADVERSOS devem ser detalhados entre leves, moderados, graves ou responsáveis por óbito.

  • Tipo de Dano
  •  Impacto Social/Econômico
  • Grau de Dano

Tabela 2 – Grau de Dano

NENHUM Nenhum sintoma, ou nenhum sintoma detectado e não foi necessário nenhum tratamento.
LEVE Sintomas leves, perda de função ou danos mínimos ou moderados, mas com duração rápida, e apenas intervenções mínimas sendo necessárias (ex.: observação extra, investigação, revisão de tratamento, tratamento leve).
MODERADO Paciente sintomático, com necessidade de intervenção (ex.: procedimento terapêutico adicional, tratamento adicional), com aumento do tempo de internação, com dano ou perda de função permanente ou de longo prazo.
GRAVE Paciente sintomático, necessidade de intervenção para suporte de vida, ou intervenção clínica/cirúrgica de grande porte, causando diminuição da expectativa de vida, com grande dano ou perda de função permanente ou de longo prazo.
ÓBITO Dentro das probabilidades, em curto prazo o evento causou ou acelerou a morte.

 Tabela 3 – Grau de Dano conforme o grupo de Incidentes

Circunstância de Risco          Nenhum
“Quase-Erro”          Nenhum
Incidente sem Dano          Nenhum
Evento Adverso Leve

Moderado

Grave

Óbito

Tabela 4 – Exemplos de Eventos Adversos conforme o Grau de Dano

Leve Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação alérgica (coceira no corpo), que precisa de uma avaliação de um médico que prescreve uma dose de anti-alérgico, cessando os sintomas.
Moderado Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação alérgica intensa que resulta em mais dois dias de internação para controle dos sintomas, sendo que esses dois dias não eram previstos dentro da causa inicial da internação.
Grave Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação anafilática, que o leva a ir para a UTI sob intubação e ventilação mecânica.
Óbito Ex.: a enfermeira coloca uma bolsa de sangue em um paciente homônimo àquele que deveria receber esta bolsa, e o paciente desenvolve uma reação anafilática, que o leva a ir para a UTI sob intubação e ventilação mecânica. O paciente desenvolve uma pneumonia na UTI e vai a óbito por choque séptico.

Referência:

  1. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). The Conceptual Framework for the International Classification for Patient Safety v1.1. Final Technical Report and Technical Annexes, 2009. Disponível em: http://www.who.int/patientsafety/taxonomy/en/

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