A pressão intracraniana é a pressão resultante da presença de três componentes dentro de da caixa craniana:
- Componente parenquimatoso: Constituído pela estruturas encefálicas;
- Componente liquórico: Constituído pelo LCR (líquido cefalorraquidiano) nas cavidades ventriculares e do espaço subaracnoide;
- Componente vascular: Caracterizado pelo sangue circulante.
O crânio é definido como um sistema fechado, heterogêneo e dependente de fenômenos respiratórios e circulatórios. O valor da PIC varia de 0 a 15 mmHg, quando a pressão liquórica intraventricular é medida com o paciente em decúbito dorsal e com a cabeça levemente elevada. Em condições para manter o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) constante. Esse controle ocorre mediante a constrição e dilatação das arteríolas cerebrais e fechamento e abertura dos esfíncteres pré-capilares.
Dessa forma, enquanto um aumento pressórico arterial origina a constrição vascular encefálica, evitando que o aumento da pressão arterial sistêmica (PAS) cause aumento do FSC e da PIC, a queda da pressão arterial sistólica acarreta dilatação vascular encefálica, diminuindo assim a resistência vascular cerebral (RVC), visando à manutenção do FSC. Com isso, é mantida a pressão de perfusão cerebral (PPC), adequada para o funcionamento eficaz das atividades cerebrais.
O Encéfalo normal tem a capacidade de autorregulação do fluxo sanguíneo (FSC), assegurando um fluxo sanguíneo constante ao encéfalo através dos vasos cerebrais.
A teoria de Monro-Kellie afirma que o volume intracraniano é igual ai volume do encéfalo mais o volume do sangue cerebral acrescido do volume do líquido cefalorraquidiano. Qualquer alteração no volume de algum desses componentes, bem com a adição de uma lesão, pode levar a um aumento da PIC. Para uma autorregulação efetiva, os níveis de dióxido de carbono (que é um potente vasodilatador cerebral) devem estar em uma faixa aceitável, bem como PAM e a PIC.
A PPC é definida como gradiente existente entre a pressão arterial média (PAM) e a PIC, sendo aceitáveis valores acima de 70 mmHg.
PPC = PAM – PIC
PIC Valor normal ≤ 15 mmHg
O fluxo sanguíneo cerebral tem relação direta com a RVC: FSC = PPC / RVC
Hipertensão Intracraniana (HIC)
A hipertensão intracraniana é caracterizada pela elevação da pressão intracraniana. Os valores de referência para o tratamento da HIC devem ser acompanhados pelo monitoramento da pressão intracraniana com valores de:
PIC < 10 mmHg: Valor normal
PIC entre 11 e 20 mmHg: Levemente elevada
PIC entre 21 e 40 mmHg: Moderamente elevada
PIC > 41 mmHg: Gravemente elevada
As causas mais comuns de hipertensão intracraniana são:
- Traumatismo craniencefálico;
- Acidentes Vasculares encefálicos;
- Tumores Cerebrais;
- Cirurgias intracranianas;
- Infecções cerebrais (encefalites, meningites);
- Hidrocefalia;
- Encefalopatia hepática fulminante;
- Síndromes associados à diálise;
- Cetoacidose diabética;
- Hipoxia.
Sinais e Sintomas
- Cefaléia;
- Náuseas com vômito em jato;
- Edema de papila;
- Alteração de força motora (paresia e plegia).;
- Alterações mentais (déficit de memória, desorientação, apatia, depressão);
- Alterações de personalidade;
- Alterações de nervos cranianos;
- Crises convulsivas;
- Alterações de nível de consciência (agitação, sonolência, coma);
- Tríade de Cushing (hipertensão arterial, bradicardia e alterações do padrão respiratório);
- Alterações do padrão respiratório (Cheyne Stokes, hiperventilação neurogênica, apnêustica, atáxica);
- Alterações pupilares (anisocoria, midríase, e alteração de fotorreação).
Diagnóstico
- Levantamento de dados do histórico do paciente;
- Exame físico geral e neurológico;
- Tomografia computadorizada;
- Ressonância magnética;
- Doppler transcraniano;
- Exame de fundo de olho.
Como monitorizar a pressão intracraniana

Pode detectar precocemente o aumento da PIC e a necessidade de adoção de um tratamento adequado, a fim de manter a circulação encefálica efetiva mediante preservação da PPC e garantir a oferta adequada de oxigênio e glicose. Os profissionais que podem estar medindo este tipo de procedimento são os : Médicos e cirurgiões (colocação do cateter de PIC no centro cirúrgico); Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem: Verificam e anotam os valores da PIC, além de otimizar a prescrição de enfermagem de forma fraccionada, para garantir a assistência de enfermagem adequada.
Os cateteres podem ser inseridos em diversas posições:
- Intraventricular;
- Subaracnóide;
- Subdural;
- Epidural;
- Intraparequimatoso.
A monitorização ideal é a intraventricular, pois permite a drenagem de LCR no controle da hipertensão intracraniana e a recalibração do sistema com o cateter em posição; porém nem sempre é possível acessar o ventrículo devido ao edema ou à compressão. Nesse caso, opta-se pela posição intraparenquimatosa, que passa a ser a técnica de primeira escolha.
A curva da PIC possui três componentes, gerados pela pulsação arterial do círculo de Willis e do parênquima cerebral.
A onda P1 é chamada onda de percussão e representa o pulso arterial sistólico, costuma a ser mais alta das ondas. Na medida em que a complacência intracraniana diminui, as ondas P2 e P3 se igualam à onda P1 e posteriormente a ultrapassam.
Onda P2 é a onda de Maré (Tidal), reflete a diástole complacência P1 > P2. E a onda P3 é a onda dicrótica, fechamento da válvula aórtica. P1 <P2 = HIC
As Ondas A, também chamadas de platô, são ondas rápidas e espontâneas que variam entre 50 e 200 mmHg, surgindo em intervalos variáveis, têm duração de 5 a 20 minutos e caem espontaneamente. Ondas tipo platô indicam modificações do volume vascular dentro do compartimento craniano. As alterações que comprometem a perfusão cerebral são consideradas mau prognóstico.
As Ondas B, são ondas pequenas e rítmicas, tem a menor duração (30 segundos a 2 minutos) e menor amplitude que a onda A (até 50 mmHg) As Ondas B são observadas em pacientes com diminuição da complacência e retenção de CO² e em paciente com respiração Cheyne Stokes.
As Ondas C são pequenas, rítmicas e rápidas, com frequência de 6 por minuto e não têm significado clínico. Quando aparecem, é sinal de aumento da pressão intracraniana.Mau funcionamento do cateter devido à obstrução ocorre quando a PIC é maior que 50 mmHg.
Complicações relacionadas ao cateter
Infecção: Geralmente ocorre por colonização do cateter quando o tempo de permanência excede 5 dias, e mau funcionamento do cateter devido à obstrução, que ocorre quando a PIC é maior do que 50 mmHG.
Cuidados de Enfermagem ao Técnico de Enfermagem
- Monitorizar o quadro neurológico (Escala de Glasgow utilizada por enfermeiros).
- Monitorar a pressão intracraniana e checar seu sistema, garantindo a pressão da leitura;
- Anotar o aspecto e o volume do líquido cefalorraquidiano (presença de DVE – Derivação Ventricular Extrema);
- Manter a permeabilidade do cateter inserido no ventrículo;
- Anotar em prontuário do paciente as medidas de PIC;
- Manter o paciente com a cabeça elevada a 30º;
- Manter o alinhamento da cabeça do paciente com o resto do corpo, evitando a flexão do pescoço e a rotação da cabeça;
- Avaliar presença ou ausência de movimentos involuntários, como convulsões, espasmos, decorticação e descerebração;
- Avaliar a presença ou ausência de reflexos;
- Avaliar parâmetros hemodinâmicos e anotá-los no prontuário do paciente;
- Evitar manobras que possam alterar a pressão intratorácica, causando interferência na pressão intracraniana, como manobra de Valsalva, reflexo de vômito, reflexo de tosse, flexão do quadril, etc;
- Monitorar ventilação mecânica se for o caso;
- Manter via aérea permeável;
- Avaliar nível de sedação;
- Trocar diariamente o curativo da inserção do cateter de monitorização;
- Avaliar sinais e sintomas de infecção, principalmente associados ao cateter de monitorização;
- Realizar procedimentos de higiene e conforto para o paciente;
- Controlar rigorosamente eliminação vesicointestinal;
- Manter paciente e familiares orientados quanto aos procedimentos que estão sendo realizados.
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