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Técnica de enfermagem conta como teve ideia de improvisar incubadora com bacia para bebê prematura no Piauí

Maurian trabalha na área de saúde há quase 20 anos e, no dia 12 de abril, estava de plantão no Hospital Milton Reis. No início da noite, recebeu a notícia de que uma jovem havia dado à luz sozinha a uma bebê de apenas 26 semanas.

“Eu esperava encontrar um feto. De repente me disseram que a bebê estava viva. Perguntei ‘onde?’ e me levaram até a mãe e bebê, ligadas pelo cordão umbilical. Quando mexi na bebê, ela chorou. Só no hospital, cortamos o cordão. Eu a envolvi, agasalhei, medi a saturação e coloquei uma máscara de oxigênio. A menor máscara tampava todo o rostinho dela, uma bebê minúscula”, contou.

 

Segundo a técnica, Elisa começou recebendo um alto fluxo de oxigênio, 10 litros por minutos. Cerca de 1 hora depois, o fluxo foi reduzido para 8 litros.

Técnica de enfermagem conta como teve ideia de improvisar incubadora para bebê prematura que viajou por 8 horas — Foto: Arquivo Pessoal

Ao g1, a técnica relatou que um médico, enfermeiros e técnicos reconheceram não ter os equipamentos necessários de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e a necessidade de transferir a bebê para outro hospital.

“Eu perguntei ao médico se já tínhamos conseguido uma vaga para transferência, para atendimento em outro hospital, ele disse que não. Então falei pra ele ‘doutor, vou improvisar uma incubadora ou ela não vai resistir’. Fui caçar, achei o depósito de plástico, higienizei e preparei com a ajuda de duas colegas”, relatou.

 

Em hospitais, a incubadora neonatal é um equipamento assistencial, onde bebês prematuros recebem cuidados especiais, crescem e se desenvolvem.

Para que Elisa Vitória viajasse com segurança foram feitos alguns furos para a saída de ar no depósito de plástico. A recém nascida também foi enrolada em papel alumínio e cobertores.

“Nós somos um hospital de pequeno porte. Nossa capacidade é limitada, é municipal, porém somos avançados devido ao quadro de profissionais”, destacou a técnica de enfermagem Maurian de Araújo.

 

Por volta das 23h30, a profissional, um motorista e mãe e a bebê saíram de Baixa Grande do Ribeiro e viajaram quase 600 km, por oito horas, até Teresina. Maurian fez todo o percurso com a bebê no colo.

A gente não imaginava que ela iria sobreviver. Louvo a Deus por ter me colocado no caminho da Flávia e da Elisa, por ter me usado para ajudá-las”, contou.

“Foi muita adrenalina. O momento mais emocionante aconteceu em Angical, quando a bebê começou a gemer muito, mais alto. Falei pro motorista ‘não pare, vou precisar examinar ela’, levantei a tampa e ela havia feito xixi e cocô. Comecei a gritar ‘glória, glória’, pois ali soube que ela iria sobreviver”, completou Maurian.

Gravidez de risco

 

Os desafios da mãe Flávia de Sousa Lira, de 23 anos, começaram antes mesmo da gravidez. Vítima de violência doméstica do pai de Elisa, em junho de 2021 ela sofreu um aborto devido às agressões. Ao engravidar novamente, desde o início a gravidez foi considerada de risco.

Ainda assim, a gestação evoluía bem. Contudo, no dia 11 de abril, aos seis meses de gestação, Flávia começou a sentir dores. Ela procurou um médico, fez uma ultrassom e tudo estava aparentemente normal. Na tarde do dia seguinte, as dores aumentaram e ela achou que estava sofrendo um novo aborto.

“Eu achei que a minha filha também não ia sobreviver. Perdi um filho na barriga há pouco tempo e os médicos falaram que minha gravidez agora era de risco. Até quando nasceu a Elisa, e ela teve que lutar. Não consegui olhar pra ela quando nasceu, pensei que viria morta”, confessou a mãe.

Mãe deu à luz sozinha e contou com ajuda do filho de seis anos para conseguir socorro — Foto: Arquivo pessoal

Filho de seis anos ajudou a mãe

 

No momento, só estavam em casa ela e seu filho Jonas Gabriel, de 6 anos, que tinha acabado de chegar da escola. Durante duas horas a mulher continuou sentindo dores e, quando não aguentava mais, pediu para o filho buscar ajuda.

“Ele pegou meu celular e pela foto de perfil reconheceu minha mãe e ligou pra ela. Mas não deu tempo, quando deu 19h eu tive a Elisa, em pé mesmo, e nesse momento uma vizinha entrou na minha casa e me ajudou a segurar a neném”, contou Flávia.

 

Em estado de choque ainda, Flávia disse que não conseguiu sequer olhar para a criança, mesmo deitada com ela no colo, porque imaginou que ela pudesse estar morta. Mas em poucos minutos Elisa começou a chorar. A sensação foi de muito alívio.

Mãe já ganhou presente de aniversário

Há 14 dias, Elisa e a mãe estão no Ciamca. A mãe da bebê contou que cada novo dia é uma vitória. Elisa reage muito bem aos cuidados médicos e tem evoluções que surpreendem a própria equipe médica.

Atualmente, Flávia, que faz aniversário na sexta-feira (29), conta que seu maior sonho e desejo para o Dia das Mães é voltar para casa com Elisa e reunir seus três filhos para comemorar. Além da bebê a mãe também tem o Jonas Gabriel, de 6 anos, e a pequena Esther, de 3 anos.

“Meu coração está a milhão. Eu não vejo a hora de chegar em casa com ela e ter meus filho perto, ter minha mãe, minha família. Completo ano daqui a três dias e o meu presente eu já ganhei: a vida da minha Vitória. Eu só tenho gratidão. Porque o que Deus fez na minha vida, um milagre acontecer na minha vida, e ter me dado essa oportunidade de viver esse milagre eu só tenho a agradecer”, afirma Flávia.

Fonte: G1 Piauí

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Christiane Ribeiro
Técnico de Enfermagem Intensivista (há 14 anos), atuante em UTI Adulto: Geral, Cardiológica, COVID-19. Além de ser profissional de enfermagem, sou ilustradora digital, e nos tempos livres dedico à ilustrações da saúde para estudantes e profissionais, e também sou uma influenciadora digital na enfermagem.
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