O cateter de Swan-Ganz ou cateter de artéria pulmonar foi desenvolvido na década de 1960 e, em 1970, Jeremy Swan e Willian Ganz publicaram um trabalho que revolucionou a medicina intensiva, cateterizando a artéria pulmonar à beira leito de maneira segura com o mínimo de complicações possíveis.
Com ele, podemos obter dados como débito cardíaco e saturação venosa mista, que nos permitem cálculos de metabolismo tecidual, e das pressões das câmaras cardíacas direitas, pressão venosa central, pressão na artéria pulmonar e pressão capilar pulmonar, que nos permitem calcular a resistência vascular sistêmica e pulmonar, por exemplo.
O principal objetivo é auxiliar no diagnóstico das disfunções cardiovascular e cardiopulmonar, determinar a terapia necessária e avaliar a eficácia do tratamento.
Principais indicações
- Insuficiência cardíaca aguda ocasionada pelo infarto agudo do miocárdio (IAM)
- Insuficiência cardíaca congestiva refratária
- Hipertensão pulmonar
- Choque circulatório ou instabilidade hemodinâmica
- Tromboembolismo pulmonar
- Situações circulatórias complexas (ex.: reposição volêmica)
- Síndrome do desconforto respiratório agudo
- Sepse e síndrome da resposta inflamatória sistêmica
- Intoxicação por drogas – overdose
- Insuficiência renal aguda
- Pancreatite necro-hemorrágica
- Pacientes de alto risco intra e pós-operatório
- Cirurgias de grande porte (ex.: cardiológicas, ortopédicas, vasculares)
- Pacientes obstétricas de alto risco: cardiopatas e doença hipertensiva específica da gestação (pré-eclâmpsia)
- Queimado grave
- Politraumatismo
- Processos dialíticos com complicações
- Choques de qualquer natureza
Algumas contraindicações
- Comprometimento neurológico extenso sem prognóstico
- Neoplasias disseminadas
- Sensibilidade reconhecida à heparina
- Sepse recorrente ou estados de hipercoagulabilidade – formação de trombos
- Alterações do ritmo cardíaco – bloqueio completo do ramo esquerdo, onde há risco de bloqueio atrioventricular total (BAVT); e outras síndromes como Wolff-Parkinson-White (via acessória de condução anômala) e anomalia de Ebstein (má formação da valva tricúspide), onde há risco de taquiarritmias
- Falta de conhecimento, habilidade e preparo da equipe médica.
Quem instala o cateter?
Somente o médico habilitado e treinado para este tipo de procedimento.
Qual é o sítio de preferência para a inserção?
De preferência, o cateter deve ser passado pela veia jugular interna direita. O motivo é óbvio: o caminho para as câmaras direitas é mais linear, e as distâncias padrão do cateter nas câmaras cardíacas são medidas a partir da jugular direita. Como todos os acessos vasculares, preferencialmente a punção deve ser guiada por ultrassom. Como primeira alternativa, pode-se utilizar a veia subclávia.
Outros sítios podem ser utilizados, porém a inserção do cateter pode se tornar mais difícil, eventualmente necessitando de recursos como fluoroscopia para guiar o posicionamento do mesmo. Como de costume, podem trocar um cateter venoso central por um cateter de artéria pulmonar através de fio-guia, desde que seja possível manter a técnica asséptica. Caso haja um marca-passo em algum sítio venoso, preferencialmente escolhe-se o lado oposto para inserção do cateter.
Vias do Cateter
- Via proximal (azul): seu orifício situa-se a 29 cm da extremidade distal. Permite a injeção de líquidos para as medidas hemodinâmicas e é utilizado também para a medida da pressão venosa central (PVC) e coleta de amostras de sangue para exame.
- Via distal (amarela): seu orifício situa-se na ponta do cateter, permitindo a medida das pressões nas câmaras cardíacas direitas, pressão arterial pulmonar e pressão capilar pulmonar e coleta de sangue venoso misto, misto, na artéria pulmonar.
- Via do balão (vermelha): situado a 1 cm do orifício distal, com capacidade para 1,5 ml, auxilia na migração do cateter pela flutuação dirigida pelo fluxo, permitindo o encunhamento do cateter e a medida da pressão capilar pulmonar, quando insuflado em um ramo da artéria pulmonar.
- Termistor: consiste em dois finos fios isolados, estendendo-se pelo comprimento do cateter e finalizando em um termistor embutido na parede do cateter (a aproximadamente 6 cm da ponta do cateter), que mede continuamente a temperatura sanguínea na artéria pulmonar e o débito cardíaco por termodiluição.
Complicações
Relacionadas à técnica – punção:
- Punção inadvertida de artéria
- Pneumotórax
- Arritmias
- Lesão do plexo braquial
- Lesão transitória do nervo frênico
- Embolia gasosa
Relacionadas à técnica – passagem:
- Arritmias
- Enovelamento
- Danos aos sistemas valvares
- Perfuração da artéria pulmonar
Relacionadas à permanência do cateter:
- Infarto pulmonar
- Trombose venosa
- Endocardite
Algumas recomendações para evitar possíveis complicações (Knobel, 2009)
- O cateter deverá ser removido entre 72 e 96 horas, para reduzir as chances de infecção
- Manter a permeabilidade do cateter através do fluxo contínuo de solução heparinizada, mantendo a bolsa pressurizada com 300mmHg
- As conexões dever estar ajustadas, prevenindo retorno sanguíneo pela extensão
- Certificar-se do funcionamento adequado do sistema para lavagem do cateter
- Monitorar frequentemente as extensões e conexões para verificar e eliminar presença de bolhas de ar
- Trocar solução de heparina a cada 24 horas
- Manter o paciente imóvel, se necessário usar sedação ou restrição
- Toda manipulação do cateter dever ser com técnica estéril
- Examinar cuidadosamente a radiografia de tórax após o procedimento, observando a presença de pneumotórax e a posição do cateter
- Insuflar o balão gradualmente – parar de insuflar se não houver resistência
- Não reutilizar cateteres indicados pelo fabricante como uso único
- Paciente deve estar monitorado durante a inserção e manutenção do cateter a fim de detectar a ocorrência de arritmias
- Não utilizar líquidos para insuflação do balão. Eles podem dificultar ou impedir a desinsuflação
- Manipulação excessiva do cateter deve ser evitada
- Nunca retirar o cateter com o balão insuflado
Intervenções de Enfermagem
- Informar o paciente e família sobre o procedimento;
- Preparar o material necessário;
- Posicionar o paciente e preparar o local de inserção do cateter;
- Auxiliar a equipe médica na passagem;
- Acompanhar o trajeto do cateter – fluoroscopia, radiografia de tórax e monitorização;
- Posicionar e calibrar o transdutor – para leituras corretas;
- Fazer curativo no local de inserção – diariamente;
- Identificar no monitor as curvas de pressão e seus valores normais;
- Registrar todos os valores das curvas;
- Fazer uma medida de pressão a cada 12 horas;
- Antes das medições lavar o cateter com soro heparinizado através do sistema de flushing, nivelar e calibrar o transdutor;
- Manter soro heparinizado em perfusão contínua da via distal e proximal;
- Não irrigar o cateter quando em posição de cunha;
- Utilizar técnica asséptica ao manipular o sistema e o cateter;
- A seringa de insuflação deve estar sempre ligada a via entrada para o balão;
- Trocar sistemas, conexões e soluções de acordo com protocolos definido no serviço;
- Atentar para as queixas do paciente;
- Para a retirada, preparar o material necessário e informar o paciente;
- Posicionar o paciente em decúbito dorsal horizontal;
- Retirar cateter (com o balão desinsuflado) e fazer compressão adequada;
- Fazer curativo no local.
Você precisa fazer login para comentar.