Hoje pararam para me perguntar sobre a vivência com a morte no meu ambiente de trabalho. O que é estar situado com esse tipo de coisa? O que eu sinto quando alguém morre? Como trato a morte?
É um assunto delicado. Sempre terá diversas opiniões alheias, uma questão pessoal. Minha situação em um ambiente onde as pessoas lá foram levam a Uti como o “ultima esperança do enfermo”, eu já levo como “mais uma chance ao enfermo”. Morte é mais uma etapa, do ciclo da vida. Como lidamos com muitos pacientes em cuidados paliativos, geralmente idosos, levamos como uma rotina,querendo ou não. É uma situação onde temos que manter o máximo de conforto ao enfermo, e amparar familiares. Sabendo que ali as opções foram todas realizadas e somente lhe resta o estado terminal, temos que amenizar seu sofrimento. Familiares nunca irão aceitar que seu ente querido está partindo. Isso é uma regra da evolução humana.
Mas ali estamos para prestar toda a assistência e acalmar aqueles que sofrem constantemente. Infelizmente fazemos o máximo em que nos alcança, até uma hora a regra de Deus começar a valer. O que me dói mais é perder pacientes jovens. Acidentados, doenças terminais, enfim, sabemos que ali, temos mais chances de investir. Investimos muito durante dias, horas, segundos, não irá somente depender de nós para que aquele que está ali deitado queira sobreviver. Depende de tudo um pouco, de tudo que tem um ciclo. Há circunstâncias nas quais tem uma saída. Outras não, somente.
O que eu sinto? Algumas pessoas podem me chamar de um ser frio, mas acabo me acostumando. É uma coisa na qual querendo ou não eu tenho que passar. Se eu fosse me sensibilizar por todos aqueles que passaram em minhas mãos, certamente não estaria mais trabalhando nisso. Você tem que ter força e entender que estamos ali somente para fazer o melhor. Não somos deuses, ao contrário. Damos chances para que Deus possa decidir seu destino. Claro que sou um ser humano, e tenho minhas fraquezas. Ver alguém morrer e ver sua família sofrer é demais para qualquer um. Aí que entramos. Confortar a família o máximo nessa transição. Muitos não sabem, mas é uma tarefa complicada. Engolir o choro e falar palavras de conforto ao filho, filha, neta, sobrinha, de alguém que era importante para elas.
Certamente ouço muitos colegas falarem que caem aos prantos depois que vão para casa. É uma reação normal, logicamente. Não é regra todos lidarem isso como uma rotina. Criamos vínculos com certos pacientes, e isso se torna parte disso. Mas morte para mim é uma transição do sofrimento ao conforto daquele que estava numa rua sem saída. E até hoje é um assunto polêmico, por poucos acreditarem que somos insensíveis à certos casos, e não é bem isso.
Entendo perfeitamente que para vocês é diferente já que não veem a morte como algo extraordinário e inaceitável e sim, como você mesmo disse, “uma parte do grande ciclo”. Para a gente que não está no meio da saúde, a morte tem um peso bem maior, um evento incontrolável. Vocês estão cientes de que ela pode chegar e isso me fascina, porque mostra como por mais que as coisas sejam ruins, a gente aprende a lidar com elas de forma menos danosa para a nossa continuidade nesse mundo.
:/ se fosse eu, acho que choraria a cada um kkkk sou muito sensivel, não suportaria 🙁