Mobilização em Bloco: Como Realizar Corretamente o Procedimento

Em qualquer situação de trauma grave, seja um acidente automobilístico, uma queda significativa ou uma lesão esportiva, a prioridade máxima é proteger a coluna vertebral. A vítima pode ter uma lesão instável na coluna cervical ou torácica que, se movimentada incorretamente, pode causar danos irreversíveis na medula espinhal, levando à paralisia.

É para evitar essa catástrofe que utilizamos a técnica da Mobilização em Bloco (ou Rolamento em Bloco). Esta manobra garante que o corpo da vítima seja movido como uma unidade rígida – cabeça, pescoço, tronco e pelve – mantendo o alinhamento da coluna.

Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, dominar essa técnica com um mínimo de três socorristas é fundamental em qualquer cenário de emergência.

O que é a Mobilização em Bloco?

Trata-se de um método de transferência do paciente traumatizado em que todo o corpo é movido como uma única unidade rígida. Dessa forma, evita-se a movimentação independente das estruturas corporais, especialmente a coluna vertebral. Essa técnica é empregada principalmente quando há:

  • Suspeita de fratura de coluna cervical, torácica ou lombar;
  • Trauma de alta energia (quedas, colisões automobilísticas, atropelamentos);
  • Alteração do nível de consciência em situações de trauma;
  • Dor, formigamento ou perda de força após trauma.

A equipe responsável pela mobilização precisa de comunicação eficiente e sincronização perfeita, pois qualquer erro pode resultar em agravamento de uma lesão já instaurada.

Por Que “Em Bloco”? O Princípio da Imobilização Total

O nome “em bloco” se refere ao objetivo: mover o paciente como se ele fosse um único bloco de concreto, sem permitir qualquer flexão, extensão ou rotação da coluna.

  • Contexto de Aplicação: A mobilização em bloco é usada, principalmente, para:
    • Colocar a vítima em uma prancha rígida.
    • Realizar o exame da região dorsal (costas), essencial para avaliar lesões.
    • Mudar a vítima de posição para evitar broncoaspiração, mantendo a proteção cervical.

Passo a Passo da Mobilização em Bloco com Três Socorristas

A seguir, o procedimento completo dividido em etapas para facilitar o entendimento.

Preparação: O Papel do Líder

  1. Imobilização Cervical: Antes de qualquer movimento, o primeiro socorrista (Socorrista 1) deve aplicar o colar cervical (se disponível e após a avaliação inicial) e assumir o controle manual da cabeça da vítima, mantendo a estabilização cervical em posição neutra. Este socorrista será o Líder do Bloco e é quem comanda toda a operação.
  2. Posicionamento dos Socorristas:
    • Líder (S1): Posicionado na cabeça, mantendo o controle cervical.
    • Socorrista 2 (S2): Posicionado ao lado da vítima (no tórax), responsável pela cintura escapular e pelve.
    • Socorrista 3 (S3): Posicionado ao lado da vítima (na altura dos membros inferiores), responsável pelas pernas.
  3. Comunicação: O Líder (S1) deve informar a todos que ele será o responsável por dar os comandos. A voz de comando será: “Preparar, rolar, parar, voltar”.

Execução: Rolar e Avaliar

Posicionamento das Mãos:

  • S1 (Líder): Mantém o controle bimanual da cabeça e pescoço, estabilizando-os firmemente.
  • S2: Coloca uma mão na cintura escapular (próximo ao ombro) e a outra na altura da pelve (quadril).
  • S3: Coloca uma mão na altura da coxa e a outra na altura das pernas (próximo aos joelhos).

A Manobra:

  1. Comando de Preparação: Líder (S1) diz: “Preparar para rolar em bloco, no 3. Mantenham o alinhamento.”
  2. Comando de Ação: Líder (S1) diz: “Rolar em bloco! Um, dois, TRÊS!”
  3. Ação Coordenada: Os três socorristas movem a vítima simultaneamente para o lado (geralmente 90 graus), mantendo o tronco e os membros totalmente alinhados e rígidos, como um único bloco. O Líder controla a rotação da cabeça, garantindo que ela se mova junto com o corpo.
  4. Comando de Parada: Líder (S1) diz: “Parar.”
  5. Avaliação: Enquanto a vítima está de lado, a equipe faz a inspeção e palpação da região dorsal (costas) para buscar lesões, sangramentos e, se a manobra for para pranchamento, posiciona a prancha rígida.
  6. Comando de Retorno: A equipe se prepara para voltar. Líder (S1) diz: “Preparar para voltar. Rolar em bloco! Um, dois, TRÊS!”
  7. Ação Coordenada: A vítima é delicadamente depositada de volta na posição supina (de barriga para cima) sobre a prancha (se for o caso) ou na posição inicial.

Ajustes Finais

Após o retorno:

  • Centraliza-se a vítima na prancha.
  • Realiza-se a fixação com tiras, garantindo que tronco, quadris e pernas estejam alinhados.
  • O estabilizador lateral da coluna pode ser aplicado, se houver.

O socorrista da cabeça mantém a estabilização até o momento em que a vítima esteja totalmente imobilizada.

Cuidados de Enfermagem Relacionados à Mobilização em Bloco

A enfermagem tem papel fundamental na prevenção de danos adicionais e na condução segura da técnica. Entre os principais cuidados estão:

  • Avaliar o nível de consciência antes, durante e depois da mobilização.
  • Observar dor, alterações neurológicas ou dificuldade respiratória.
  • Manter comunicação clara e objetiva entre a equipe.
  • Garantir que o colar cervical esteja adequado, sem folgas.
  • Verificar alinhamento corporal após a imobilização.
  • Monitorar sinais vitais regularmente.
  • Registrar todo o procedimento no prontuário, incluindo horário, responsáveis e evolução do paciente.

Mais Cuidados

  1. O Alinhamento é o Rei: A função primordial dos Socorristas 2 e 3 é garantir que não haja “dobras” no corpo da vítima. Os segmentos (tórax, pelve, pernas) devem ser movidos em um ritmo uniforme.
  2. Avaliação Constante: Durante todo o processo, o Líder deve monitorar o nível de consciência da vítima e garantir que a respiração não seja comprometida, especialmente se for necessário mantê-la de lado por alguns instantes.
  3. Equipamento: Se o objetivo é pranchar, a prancha deve ser posicionada próxima ao corpo antes do rolamento e fixada com cintos de segurança imediatamente após a manobra. A fixação da cabeça na prancha é sempre a última etapa.
  4. Comunicação Clara: Em situações de estresse, a comunicação do Líder deve ser alta, clara e concisa. Nada de frases longas ou ambíguas.

A mobilização em bloco exige precisão, trabalho em equipe e conhecimento técnico. Dominar essa técnica é fundamental para qualquer profissional de enfermagem ou socorrista, pois ela pode significar a diferença entre preservar ou agravar uma lesão medular. A prática supervisionada e a capacitação contínua são essenciais para que o procedimento seja realizado com segurança e eficiência.

Referências:

  1. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS (ACS). ATLS – Advanced Trauma Life Support: Student Course Manual. 10. ed. Chicago: ACS, 2018. (Buscar o capítulo sobre Lesões de Coluna e Imobilização).
  2. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Atendimento Pré-Hospitalar (APH). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2020. (Consultar as diretrizes mais recentes sobre imobilização e remoção de vítimas). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Atendimento Pré-Hospitalar Móvel: Protocolos e Diretrizes. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br
  4. SAMU 192. Manual de Atendimento Pré-Hospitalar. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/samu. 
  5. NAEMT. PHTLS – Suporte Pré-Hospitalar ao Traumatizado. 9. ed. Jones & Bartlett Learning, 2020.
  6. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS – Advanced Trauma Life Support. 10. ed. Chicago: ACS, 2018.

Manobra de Desengasgo em Bebês, Crianças e Adultos — Atualização da American Heart Association (AHA)

Quando alguém está sufocando, cada segundo conta. As diretrizes de atendimento para obstrução das vias aéreas superiores vêm sendo atualizadas à medida que novas evidências são publicadas. Em outubro de 2025, a AHA divulgou uma revisão importante das recomendações para o manejo do engasgo (Foreign Body Airway Obstruction — FBAO) em bebês, crianças e adultos.

Este artigo visa explicar de forma acessível essas mudanças, de modo que estudantes de enfermagem entendam o que fazer, por que certas manobras continuam ou mudaram, e qual é seu papel como enfermeiro nesse contexto.

Por que a revisão?

A obstrução das vias aéreas por corpo estranho continua sendo causa de mortes evitáveis, especialmente em crianças. A AHA reconheceu que, em versões anteriores das diretrizes, havia lacunas no tratamento de engasgo consciente em adultos e na distinção entre manobras para bebês e crianças. A nova diretriz aborda essas lacunas e inclui, pela primeira vez, um algoritmo claro para adultos conscientes com obstrução grave.

Novas orientações para adultos conscientes

Para adultos conscientes que estão sufocando e não conseguem tossir de forma eficaz, falar ou respirar, a orientação foi atualizada: a sequência recomendada é alternar cinco pancadas nas costas (back blows) seguidas de cinco compressões abdominais (abdominal thrusts) até que o objeto seja expelido ou a pessoa fique inconsciente.

Antes, a prática predominante era apenas a manobra de Heimlich (compressões abdominais), sem ênfase tão clara na alternância com as pancadas nas costas.

Destaques para adultos:

  • Se a vítima estiver consciente e for capaz de alertar, inclinar‐se ligeiramente para frente e aplicar as pancadas nas costas entre as omoplatas.
  • Se isso não resolver, realizar as compressões abdominais rapidamente, certificando‐se de posicionar as mãos corretamente — acima do umbigo e abaixo do esterno.
  • Continuar alternando as ações (5 + 5) até que o objeto seja liberado ou a vítima torne‐se inconsciente.
  • Em caso de perda de consciência, iniciar imediatamente a RCP (ressuscitação cardiopulmonar) com compressões torácicas e ventilação, conforme protocolo para atendimento de vítima inconsciente.

Novas orientações para crianças (1 ano até puberdade)

Para crianças maiores de 1 ano até puberdade, a diretriz também recomenda a alternância entre cinco pancadas nas costas e cinco compressões abdominais para casos de obstrução grave de vias aéreas. A alteração destaca que o método apenas com compressões abdominais, usado anteriormente, deve ser ampliado com as pancadas nas costas como primeiro passo.

Isso significa que o enfermeiro ou cuidador deve verificar: se a criança não consegue tossir, falar ou respirar, iniciar a sequência 5 + 5 como em adulto, adaptando o posicionamento (geralmente ajoelhando‐se atrás da criança ou em nível adequado).

Novas orientações para bebês (< 1 ano)

Para bebês menores de 12 meses, a nova diretriz reforça o seguinte procedimento em caso de sufocamento grave: aplicar cinco pancadas nas costas, com o bebê posicionado de bruços sobre o antebraço ou perna do socorrista, cabeça mais baixa que o tronco, seguidas de cinco compressões torácicas (chest thrusts) usando o a base da palma de uma das mãos. As compressões abdominais não são recomendadas para bebês, devido ao risco de lesão aos órgãos internos.

Esse refinamento é importante para o enfermeiro ter clareza sobre o que fazer em ambientes pediátricos e neonatais.

Cuidados de enfermagem e atenção prática

Como estudante ou profissional de enfermagem, seu papel é vital tanto na atenção imediata quanto na prevenção. Veja os principais pontos de atuação:

  • Conhecer e treinar periodicamente as manobras de desengasgo para bebês, crianças e adultos, conforme as novas diretrizes da AHA.
  • Avaliar rapidamente se a vítima está consciente, se consegue tossir ou falar, e identificar sinais de obstrução grave.
  • Garantir ambiente seguro e estar pronto para chamar o serviço de emergência ou acionar o sistema de atendimento adequado.
  • Em ambiente hospitalar, verificar se existe protocolo interno atualizado conforme as diretrizes da AHA e se os profissionais estão treinados.
  • Após a liberação do objeto ou até chegada do suporte avançado, monitorar sinais vitais, observar por complicações como trauma torácico ou lesões decorrentes da manobra, e documentar o evento.
  • Educar familiares, cuidadores e acompanhantes sobre os sinais de desengasgo, morder alimentos adequados à idade e evitar práticas de risco, especialmente em ambientes pediátricos.

As novas diretrizes da AHA para manobras de desengasgo em adultos, crianças e bebês reforçam a importância da alternância entre pancadas nas costas e compressões específicas conforme a faixa etária, e ajustam as práticas de atendimento para alinhar‐se à evidência mais recente.

Para o enfermeiro, manter‐se atualizado e estar apto para agir com rapidez e segurança pode fazer a diferença entre vida e morte.

Referências:

  1. AMERICAN HEART ASSOCIATION. 2025 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care (ECC). Dallas: AHA, 2025. Disponível em: https://professional.heart.org/en/science-news/2025-aha-guidelines-for-cpr-and-ecc
  2. AMERICAN HEART ASSOCIATION. Child Choking Flowchart. Dallas: AHA, 2025. Disponível em: https://cpr.heart.org/-/media/CPR-Files/Training-Programs/Community-Programs/Infant-CPR/Newest_Child_Choking_Dig_Poster.pdf
  3. MAYO CLINIC. First Aid: Choking – Adults and Children. Rochester: Mayo Clinic, 2025. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/first-aid/first-aid-choking/basics/art-20056637
  4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). Diretrizes Brasileiras de Cardiopulmonar e Cardiovascular. (Geralmente adota e adapta as recomendações da AHA). Disponível em: https://www.portal.cardiol.br/

O Papel Essencial da Equipe de Enfermagem na Parada Cardiorrespiratória

Na rotina de um hospital, especialmente em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), há momentos em que cada segundo conta. A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é, sem dúvida, um desses momentos. Ela acontece quando o coração e a respiração de uma pessoa param de repente, e sem uma intervenção imediata, o resultado pode ser catastrófico para o cérebro e outros órgãos vitais.

Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, é fundamental entender que, em um cenário de PCR, o o profissional de enfermagem (enfermeiro, técnico ou auxiliar) não é apenas mais um membro da equipe. Ele é, muitas vezes, o primeiro a chegar, o primeiro a identificar o problema e o líder da resposta inicial.

Este é um papel que exige agilidade, conhecimento técnico apurado e, acima de tudo, uma liderança clara e assertiva. Vamos aprofundar um pouco mais sobre a atuação da equipe de enfermagem diante da PCR e entender como a sua liderança pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

A Resposta Imediata: O Reconhecimento e os Primeiros Passos

O enfermeiro e o técnico de enfermagem são os profissionais que estão ao lado do paciente 24 horas por dia, 7 dias por semana na UTI. Por isso, a sua capacidade de identificar os sinais de uma PCR é o ponto de partida para a sobrevivência do paciente. Ele percebe a falta de resposta, a ausência de pulso e a parada da respiração. Neste instante, a ação deve ser rápida e decisiva.

O profissional inicia imediatamente o Suporte Básico de Vida (SBV), que inclui as compressões torácicas de alta qualidade, e aciona a equipe de emergência. A partir desse momento, ele se torna o maestro de uma orquestra de socorro.

A Equipe da PCR: Cada Membro em Seu Papel

Em uma PCR, o trabalho em equipe é tudo. Uma equipe bem treinada e organizada atua de forma coordenada para garantir que as intervenções sejam feitas de maneira eficaz e sem atrasos. A organização ideal de uma equipe de resposta à PCR conta com o enfermeiro como um líder central e os seguintes papéis:

  • Responsável pela Ventilação: Um profissional que garante que as vias aéreas do paciente estejam desobstruídas e realiza a ventilação com bolsa-máscara (ambu).
  • Responsáveis pela Compressão Torácica: São necessários dois profissionais para revezar as compressões torácicas, garantindo a qualidade e a profundidade adequadas sem cansaço.
  • Líder Anotador: Um membro da equipe que registra os medicamentos administrados e o tempo de cada intervenção. Esta função é crucial para o acompanhamento e a tomada de decisões.
  • Responsável pelos Medicamentos: O profissional que prepara e administra os medicamentos conforme a indicação do médico ou o protocolo.
  • Profissional ao Lado do Monitor e Desfibrilador: Geralmente um médico, este membro da equipe avalia o ritmo cardíaco do paciente no monitor e, se indicado, realiza a desfibrilação com o Desfibrilador Externo Automático (DEA) ou o manual.

O Papel de Liderança do Enfermeiro: Organização e Ação

Em meio ao caos de uma PCR, o enfermeiro atua como um coordenador. Ele é quem direciona as ações da equipe, garantindo que cada um esteja em sua posição e cumprindo sua função. Sua autonomia e experiência são fundamentais.

  1. Coordenação da Equipe: O enfermeiro-líder distribui as tarefas, assegura que as compressões sejam eficientes e que a ventilação esteja adequada.
  2. Instalação do Desfibrilador: Ele é responsável por instalar o DEA no paciente e, se o ritmo for chocável, ele mesmo pode realizar a desfibrilação.
  3. Administração de Medicações: O enfermeiro supervisiona a manipulação e a administração dos medicamentos de emergência, como a adrenalina e a amiodarona, que são cruciais para o sucesso da reanimação.
  4. Aprimoramento Contínuo: Um bom enfermeiro-líder sabe que o aprendizado é constante. Ele busca o aprimoramento de sua equipe, utilizando tecnologias e protocolos atualizados (como os da American Heart Association – AHA) para garantir que a assistência seja sempre a mais eficaz possível.

O enfermeiro na UTI, com seu perfil de liderança, não apenas executa tarefas, mas otimiza recursos humanos e tecnológicos, tornando a assistência ágil, hábil e com maiores chances de sucesso. Acreditamos que a autonomia, a organização e o treinamento contínuo da equipe, liderados por um enfermeiro preparado, são a chave para um maior êxito na recuperação de um paciente em PCR.

Referências:

  1. AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA). ACLS Suporte Avançado de Vida em Cardiologia. 2020. Disponível em: https://cpr.heart.org/en/resources/aha-guidelines/aha-acls-guidelines-cpr-and-ecc.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Protocolo de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos. Brasília, DF: ANVISA, 2013. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/manuais-e-guias/manual_seguranca_paciente_anvisa.pdf.
  3. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2016. (Referência para a metodologia de análise de conteúdo).

Emergência e Urgência Hipertensiva: Entenda as Diferenças

A hipertensão arterial, ou pressão alta, é uma condição crônica muito comum. Muitos convivem com ela de forma controlada, com medicação e hábitos saudáveis. Mas, e quando a pressão sobe de repente para níveis altíssimos?

Aí, a situação muda de figura e podemos estar diante de um quadro que exige nossa atenção imediata: as crises hipertensivas.

Dentro das crises, existem duas condições que, embora pareçam semelhantes, têm implicações muito diferentes e exigem abordagens distintas: a emergência hipertensiva e a urgência hipertensiva.

Para nós, profissionais de enfermagem e estudantes de enfermagem, compreender essas diferenças é crucial para uma avaliação rápida e uma conduta que pode salvar a vida ou prevenir danos graves a órgãos.

Vamos desvendar cada uma delas?

O que é uma Crise Hipertensiva?

Crise hipertensiva é o termo utilizado para descrever uma elevação acentuada da pressão arterial, geralmente com valores acima de 180/120 mmHg. Essa condição pode se apresentar com ou sem sinais de lesão aguda em órgãos-alvo como o coração, cérebro, rins ou vasos sanguíneos.

A crise hipertensiva se divide em dois tipos principais:

  • Urgência hipertensiva: quando há elevação da pressão arterial sem sinais de dano imediato a órgãos-alvo.
  • Emergência hipertensiva: quando a elevação pressórica vem acompanhada de comprometimento agudo e progressivo de órgãos vitais.

Emergência Hipertensiva: O Perigo Iminente (Dano em Órgão-Alvo)

Imagine a pressão subindo tanto que começa a “quebrar” ou comprometer o funcionamento de órgãos vitais. Isso é uma emergência hipertensiva. Nela, a pressão arterial elevadíssima está causando ou ameaçando causar danos agudos e progressivos a órgãos como cérebro, coração, rins ou olhos.

Características Principais:

    • Valores de PA: Geralmente PA Sistólica ge 180 mmHg e/ou PA Diastólica ge 120 mmHg.
    • Presença de Lesão em Órgão-Alvo: Este é o critério DEFINIDOR. Não é apenas a pressão alta, mas o efeito que ela está causando no corpo.
    • Sintomas Graves: Os sintomas refletem o comprometimento dos órgãos.
    • Tratamento: Redução imediata e controlada da PA (em minutos a 1 hora), geralmente com medicamentos administrados por via intravenosa (IV) em ambiente de UTI ou emergência. A queda deve ser gradual para evitar hipoperfusão (falta de sangue) em órgãos, mas rápida o suficiente para cessar o dano.

Exemplos de Lesões de Órgão-Alvo e Sintomas:

    • Cérebro:
      • Encefalopatia Hipertensiva: Dor de cabeça intensa, confusão mental, convulsões, coma.
      • AVC (Acidente Vascular Cerebral): Fraqueza ou paralisia de um lado do corpo, dificuldade para falar, desvio de rima labial, alterações visuais súbitas.
      • Hemorragia Intracerebral: Sangramento no cérebro.
    • Coração:
      • Infarto Agudo do Miocárdio (IAM): Dor no peito (angina), que pode irradiar para braço, pescoço.
      • Edema Agudo de Pulmão (EAP): Falta de ar intensa, tosse com expectoração rosada, respiração ofegante.
      • Dissecção Aguda da Aorta: Dor torácica súbita e excruciante, que pode se irradiar para as costas.
    • Rins:
      • Insuficiência Renal Aguda: Diminuição acentuada da produção de urina, inchaço.
    • Olhos:
      • Retinopatia Hipertensiva: Visão turva, perda súbita da visão.
    • Outras: Eclâmpsia (em gestantes), crise adrenérgica.

Cuidados de Enfermagem na Emergência Hipertensiva:

    • Prioridade Absoluta: O paciente com emergência hipertensiva é uma prioridade CÓDIGO VERMELHO.
    • Monitorização Contínua: Monitorar a PA de forma invasiva (cateter arterial) ou não invasiva (aferição frequente), frequência cardíaca, saturação de oxigênio e nível de consciência.
    • Acesso Venoso: Garantir pelo menos dois acessos venosos calibrosos.
    • Administração de Medicação IV: Preparar e infundir medicamentos como Nitroprussiato de Sódio, Labetalol, Nicardipino, conforme prescrição médica, monitorando a resposta do paciente. Esses medicamentos exigem diluição e bomba de infusão.
    • Avaliação Neurológica: Realizar escalas neurológicas (Glasgow, NIHSS, se aplicável) e observar alterações.
    • Sinais e Sintomas: Estar atento aos sintomas relatados pelo paciente e a qualquer mudança no seu quadro.
    • Conforto e Segurança: Manter o paciente em repouso no leito, com cabeceira elevada se houver dispneia, e oferecer suporte emocional.
    • Registro Detalhado: Documentar os horários das aferições de PA, as medicações administradas, as doses e a resposta do paciente.

Urgência Hipertensiva: O Alerta Amarelo (Sem Dano em Órgão-Alvo)

Na urgência hipertensiva, a pressão arterial também está muito alta (geralmente nos mesmos níveis ou um pouco menores que na emergência: PA Sistólica ge 180 mmHg e/ou PA Diastólica ge 120 mmHg), mas a principal diferença é que NÃO há evidência de lesão aguda ou progressiva em órgãos-alvo. Os sintomas, se presentes, são mais inespecíficos.

Características Principais:

    • Valores de PA: Geralmente PA Sistólica ge 180 mmHg e/ou PA Diastólica ge 120 mmHg.
    • Ausência de Lesão Aguda em Órgão-Alvo: Este é o critério DEFINIDOR.
    • Sintomas Inespecíficos: Dor de cabeça leve a moderada, tontura, zumbido no ouvido, sangramento nasal (epistaxe), ansiedade.
    • Tratamento: Redução gradual da PA (em horas a dias), geralmente com medicamentos por via oral (VO). O objetivo é reduzir a pressão em 24-48 horas, sem pressa, para evitar hipoperfusão.
    • Manejo: Pode ser feito em ambulatório ou pronto-socorro, sem necessidade de UTI inicialmente.

Cuidados de Enfermagem na Urgência Hipertensiva:

    • Aferição Precisa da PA: Realizar várias aferições de PA, em ambos os braços, para confirmar os valores.
    • Avaliação de Sintomas: Perguntar sobre dor de cabeça, tontura, alterações visuais, e principalmente, investigar ativamente a presença de sintomas de lesão em órgão-alvo (dispneia, dor no peito, fraqueza em membros, confusão). A ausência desses é o que diferencia da emergência.
    • Acalmar o Paciente: Muitos pacientes ficam ansiosos com a pressão alta, o que pode piorar o quadro. Um ambiente calmo e acolhedor é importante.
    • Administração de Medicação VO: Preparar e administrar medicamentos anti-hipertensivos orais (ex: Captopril, Nifedipino de liberação lenta, Clonidina) conforme prescrição médica.
    • Reavaliação Periódica: Reafirmar a PA e reavaliar os sintomas a cada 30-60 minutos após a administração do medicamento oral, até que a pressão esteja em níveis mais seguros.
    • Orientação ao Paciente: Explicar sobre a importância da adesão ao tratamento, da dieta com baixo teor de sódio, da prática de exercícios e do acompanhamento médico regular.
    • Não Usar Nifedipino Cápsula Sublingual: Essa prática não é recomendada por causar queda brusca e descontrolada da PA, com risco de AVC e IAM.

Como é feito o tratamento?

O tratamento varia de acordo com o tipo de crise hipertensiva.

Na urgência hipertensiva, são utilizados antihipertensivos orais, como captopril, clonidina ou atenolol, com monitoramento em observação por algumas horas.

Já nas emergências hipertensivas, o paciente deve receber antihipertensivos intravenosos de ação rápida, como nitroprussiato de sódio, labetalol ou nitroglicerina, com redução da pressão em ambiente controlado e monitorizado, geralmente na UTI.

O Que Nos Leva a Confundir e Como Evitar?

A confusão entre emergência e urgência é comum porque ambos os quadros apresentam PA muito alta. O segredo para diferenciar é sempre procurar por SINAIS E SINTOMAS DE LESÃO EM ÓRGÃO-ALVO. Se a pressão está alta, mas o paciente está assintomático ou com sintomas leves e inespecíficos, é urgência. Se a pressão está alta e o paciente está com dor no peito, falta de ar, alteração neurológica, é emergência.

Nossa avaliação precisa e a comunicação clara com o médico são a chave para o sucesso no manejo dessas situações. Um erro de classificação pode levar a um tratamento inadequado, com consequências graves para o paciente.

Cuidados de Enfermagem

A enfermagem desempenha um papel essencial no reconhecimento, intervenção e monitoramento de pacientes em crise hipertensiva. Entre os principais cuidados, destacam-se:

Avaliação inicial

  • Verificar os sinais vitais com frequência, especialmente a pressão arterial em intervalos curtos.
  • Avaliar a presença de sintomas neurológicos, dor torácica, dispneia ou alterações na consciência.
  • Observar sinais de edema periférico, palidez, sudorese ou alterações visuais.

Administração medicamentosa

  • Administrar os medicamentos conforme prescrição médica, respeitando a via (oral ou intravenosa) e o tempo correto de infusão.
  • Monitorar os efeitos adversos dos anti-hipertensivos, como hipotensão súbita ou bradicardia.

Apoio emocional

  • Oferecer acolhimento ao paciente, explicando de forma simples o que está acontecendo.
  • Controlar o ambiente para reduzir estímulos estressores, como barulho ou agitação.

Registro e comunicação

  • Registrar todas as alterações no prontuário.
  • Comunicar imediatamente à equipe médica qualquer mudança no estado clínico do paciente.

Entender a diferença entre urgência e emergência hipertensiva é fundamental para que a equipe de enfermagem possa agir com rapidez e precisão. Em ambos os casos, o papel do enfermeiro e do técnico de enfermagem é decisivo na estabilização do paciente e na prevenção de complicações graves.

O conhecimento teórico aliado à prática clínica permite oferecer um cuidado mais seguro, humanizado e eficiente, contribuindo diretamente para a redução da mortalidade por causas cardiovasculares.

Referências:

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 116, n. 3, p. 516-658, mar. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abc/a/S9Xg4JjV9Qz2Z5T8D9kC7qH/?lang=pt
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Hipertensão Arterial Sistêmica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. 
  3. SMELTZER, S. C.; BARE, B. G.; HINKLE, J. L.; CHEEVER, K. H. Brunner & Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de Atendimento das Emergências Hipertensivas. 2022.
  5. SILVA, M. T. et al. Avaliação das Emergências Hipertensivas em Serviços de Urgência. Revista Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 56-63, 2021. Disponível em: https://www.rbcm.org.br
  6. PEARCE, C. J. et al. Crises Hipertensivas: Diagnóstico e Manejo. The New England Journal of Medicine. 2019. Disponível em: https://www.nejm.org

Controle de Hemorragia Externa

Encontrar alguém com um sangramento intenso pode ser assustador, mas manter a calma e saber como agir nos primeiros momentos é crucial.

Para nós, futuros profissionais de enfermagem, dominar as técnicas de controle de hemorragia externa a nível de primeiros socorros é uma habilidade essencial que pode fazer toda a diferença entre a vida e a morte. Vamos juntos desmistificar o tema e aprender como intervir de forma eficaz?

A Urgência da Situação: Por Que Controlar o Sangramento é Prioridade

Quando ocorre um sangramento externo significativo, o corpo perde sangue rapidamente. Essa perda pode levar a uma diminuição perigosa do volume sanguíneo, comprometendo a oxigenação dos órgãos vitais e evoluindo para um choque hipovolêmico, uma condição grave que pode ser fatal.

Por isso, o controle da hemorragia externa é uma das prioridades máximas nos primeiros socorros. Agir rápido e corretamente pode estabilizar a vítima até a chegada de ajuda médica especializada.

A Primeira Linha de Defesa: Compressão Direta – Simples, Mas Poderosa

A técnica mais básica e, na maioria das vezes, a mais eficaz para controlar uma hemorragia externa é a compressão direta sobre o ferimento. A ideia é simples: aplicar pressão diretamente no local do sangramento para tentar estancar o fluxo sanguíneo.

Como fazer:

  1. Proteja-se: Se possível, utilize luvas descartáveis para evitar o contato direto com o sangue da vítima e se proteger de possíveis contaminações. Se não houver luvas, utilize um saco plástico limpo ou peça para a própria vítima pressionar o ferimento, caso ela esteja consciente e capaz.
  2. Exponha o ferimento: Remova ou corte as roupas ao redor da área lesionada para visualizar o local exato do sangramento.
  3. Aplique pressão: Utilize um pano limpo, gaze ou até mesmo a mão (se não houver mais nada disponível) para pressionar firmemente sobre o ferimento. A pressão deve ser contínua e direta no ponto onde o sangue está saindo.
  4. Mantenha a pressão: Não alivie a pressão até que o sangramento pare ou até que a equipe de emergência chegue e assuma os cuidados. Se o pano ficar encharcado de sangue, não o remova. Coloque outro pano limpo por cima e continue pressionando.
  5. Eleve o membro: Se a lesão for em um braço ou perna, eleve o membro acima do nível do coração da vítima, enquanto mantém a compressão direta. A elevação ajuda a diminuir a pressão sanguínea na área ferida, auxiliando no controle do sangramento.

Quando a Compressão Direta Não Basta: Compressão Indireta ou Pontos de Pressão

Em alguns casos, a compressão direta pode não ser suficiente para controlar um sangramento arterial intenso, especialmente em membros. Nesses casos, podemos recorrer à compressão indireta ou à aplicação de pressão em pontos de pressão. Esses pontos são artérias principais que irrigam a área ferida e que podem ser comprimidas contra um osso, interrompendo ou diminuindo o fluxo sanguíneo para a lesão.

Pontos de pressão importantes:

  • Artéria Braquial: Localizada na parte interna do braço, entre o cotovelo e a axila. Para comprimi-la, pressione com os dedos contra o osso úmero. É utilizada para controlar sangramentos no braço e na mão.
  • Artéria Femoral: Localizada na virilha. Para comprimi-la, pressione com a base da palma da mão ou com o punho cerrado contra o osso pélvico. É utilizada para controlar sangramentos na perna e no pé.

Como fazer:

  1. Localize o ponto de pressão: Identifique a artéria correta, seguindo as referências anatômicas.
  2. Aplique pressão: Pressione firmemente a artéria contra o osso subjacente. A pressão deve ser forte o suficiente para diminuir ou interromper o pulso na artéria distal à compressão e, consequentemente, reduzir o sangramento.
  3. Mantenha a pressão: Continue pressionando o ponto de pressão enquanto mantém a compressão direta sobre o ferimento, se possível, até que o sangramento seja controlado ou a ajuda especializada chegue.

A Última Opção: Torniquete – Uso Cauteloso em Casos Extremos

O torniquete é um dispositivo que interrompe completamente o fluxo sanguíneo para um membro. Seu uso é reservado para situações de hemorragia grave e com risco imediato de morte, quando a compressão direta e a compressão indireta não foram eficazes ou não são possíveis (por exemplo, em amputações traumáticas ou sangramentos múltiplos e severos no mesmo membro).

Importante: O torniquete é uma medida extrema e pode causar danos graves ao membro se aplicado por tempo prolongado. Seu uso deve ser considerado como último recurso e apenas quando a vida da vítima está em risco iminente devido à perda de sangue.

Como improvisar um torniquete (se um torniquete comercial não estiver disponível):

  1. Utilize um pano resistente: Escolha um tecido forte e largo (pelo menos 5 cm de largura), como uma tira de roupa, um cinto ou um pedaço de lençol. Evite materiais finos que possam cortar a pele.
  2. Posicione acima do ferimento: Coloque o pano cerca de 5 a 7,5 cm (dois a três dedos) acima do local do sangramento, entre o ferimento e o tronco (ou a articulação mais próxima, se o ferimento estiver próximo a ela).
  3. Amarre firmemente: Dê duas voltas apertadas com o pano ao redor do membro e faça um nó simples.
  4. Utilize um bastão para torcer: Coloque um bastão resistente (um galho, uma caneta grossa, uma chave de fenda) sobre o nó e amarre-o com as pontas do pano.
  5. Torça até estancar o sangramento: Gire o bastão até que o sangramento pare completamente.
  6. Fixe o bastão: Prenda o bastão no lugar para que não se desenrole.
  7. Marque o horário: É crucial anotar o horário exato em que o torniquete foi aplicado e informar essa informação à equipe de emergência.

Cuidados importantes com o torniquete:

  • Não afrouxe o torniquete: Uma vez aplicado, o torniquete só deve ser removido por profissionais de saúde qualificados. Afrouxá-lo pode liberar toxinas e agravar o choque.
  • Mantenha o torniquete visível: Não cubra o torniquete com roupas ou curativos.
  • Informe a equipe de emergência: Comunique imediatamente a aplicação do torniquete e o horário em que foi realizado.

O Papel Crucial da Enfermagem nos Primeiros Socorros

Embora estejamos focando nas técnicas de primeiros socorros, é importante lembrar que, como futuros profissionais de enfermagem, nosso conhecimento e habilidades vão muito além da intervenção inicial. Nosso papel inclui:

  • Educação da comunidade: Ensinar a população sobre as medidas básicas de controle de hemorragia.
  • Avaliação e tratamento avançado: Ao chegarmos ao local ou recebermos a vítima, realizaremos uma avaliação completa, identificando a causa e a gravidade da hemorragia, e implementaremos medidas mais avançadas para estabilização e tratamento.
  • Cuidados pós-hemorragia: Monitorar sinais de choque, avaliar a perfusão tecidual, administrar fluidos e hemoderivados conforme a prescrição médica, e cuidar das feridas para prevenir infecções.
  • Suporte emocional: Oferecer apoio emocional à vítima e seus familiares durante e após o evento traumático.

Dominar as técnicas de controle de hemorragia externa nos primeiros socorros é um passo fundamental em nossa jornada como profissionais de saúde. Estar preparados para agir em situações de emergência pode salvar vidas e minimizar sequelas.

Lembre-se: a calma, a rapidez e a aplicação correta das técnicas são seus maiores aliados.

Referências:

  1. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life Support Student Manual. 10th ed. Chicago: American College of Surgeons, 2018. 
  2. NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS (NAEMT). PHTLS: Prehospital Trauma Life Support. 9th ed. Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning, 2018.
  3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR (SOBRAP). Diretrizes Nacionais de Atendimento Pré-Hospitalar. [S. l.]: SOBRAP, 2016. (Consultar seção sobre hemorragias). Disponível em: https://sobraponline.com.br/diretrizes/

Os Tipos de Ambulâncias

Você já se perguntou qual a diferença entre uma ambulância e outra?

As ambulâncias não são todas iguais e possuem classificações específicas de acordo com o tipo de atendimento que oferecem.

Neste artigo, vamos te explicar as principais diferenças entre os tipos de ambulâncias, desde a básica até a avançada, incluindo as aeronaves e embarcações de resgate.

Tipos de Ambulâncias e suas Funções

As ambulâncias são classificadas de acordo com a complexidade dos equipamentos e a natureza dos atendimentos que realizam. Vamos conhecer cada tipo:

Tipo A: Ambulância de Transporte

    • Características: É a ambulância mais básica, utilizada para transportar pacientes que não correm risco de vida e que não necessitam de cuidados médicos complexos.
    • Equipamentos: Maca, oxigênio, materiais de imobilização e sinalização visual e sonora.

Tipo B: Ambulância de Suporte Básico

    • Características: Oferece atendimento pré-hospitalar básico, com equipamentos para estabilização inicial do paciente.
    • Equipamentos: Além dos equipamentos do tipo A, possui medicamentos de uso emergencial, materiais para intubação orotraqueal e desfibrilador externo automático (DEA).

Tipo C: Ambulância de Suporte Avançado

    • Características: Equivalente a uma UTI móvel, realiza atendimento pré-hospitalar avançado, com equipamentos e medicamentos para estabilização de pacientes críticos.
    • Equipamentos: Monitor multiparamétrico, ventiladores mecânicos, bombas de infusão, medicamentos vasoativos, entre outros.

Tipo D: Ambulância de Resgate

    • Características: Utilizada para atendimentos em locais de difícil acesso, como acidentes em rodovias ou áreas remotas.
    • Equipamentos: Além dos equipamentos do tipo C, possui equipamentos de salvamento, como macas de vácuo, talhas e equipamentos de corte.

Tipo E: Aeronave de Transporte Médico

    • Características: Utilizada para o transporte de pacientes em longas distâncias ou em locais de difícil acesso por via terrestre.
    • Equipamentos: Equivalente a uma UTI aérea, com equipamentos para monitorização e suporte avançado de vida.

Tipo F: Embarcação de Transporte Médico

    • Características: Utilizada para o transporte de pacientes em regiões costeiras ou fluviais.
    • Equipamentos: Similar às ambulâncias terrestres, com adaptações para o ambiente marítimo.

Qual a importância de cada tipo de ambulância?

Cada tipo de ambulância possui um papel fundamental no atendimento pré-hospitalar.

A escolha do veículo adequado depende da gravidade do caso e da necessidade do paciente. As ambulâncias de suporte básico são ideais para atendimentos mais simples, enquanto as ambulâncias de suporte avançado são essenciais para casos mais complexos, como paradas cardiorrespiratórias e traumas graves.

A classificação das ambulâncias é essencial para garantir que os pacientes recebam o atendimento adequado de acordo com suas necessidades. Cada tipo de ambulância possui equipamentos e recursos específicos para atender a diferentes tipos de emergências.

Referência:

  1. ANVISA

Máscara RCP Pocket Mask

A máscara Pocket Mask é um dispositivo utilizado durante a reanimação cardiopulmonar (RCP) para auxiliar na ventilação do paciente.  Ela possui uma válvula unidirecional que permite a passagem do ar do socorrista para o paciente, evitando o contato direto entre eles.

Como usar?

    • O socorrista deve adaptar a máscara sobre a boca e vias aéreas da vítima.
    • Coloque sua boca com firmeza sobre a máscara.
    • Encha o peito de ar e sopre para dentro da máscara, observando a elevação do tórax.
    • Tenha o cuidado de deixar que o ar saia do tórax da vítima antes de proceder a outra ventilação.

Cuidados durante o uso

    • Verifique se a máscara está limpa e em boas condições antes de usá-la.
    • Mantenha a máscara firmemente contra o rosto da vítima para garantir uma vedação adequada.
    • Utilize vias respiratórias adjuvantes, como cânulas nasofaríngeas ou orofaríngeas, para manter a via respiratória pérvia durante a ventilação com a Pocket Mask.

Lembre-se de que a RCP é uma sequência organizada de ações, e o uso correto da Pocket Mask pode fazer a diferença na sobrevivência da vítima.

Seja diligente e siga as diretrizes adequadas para obter os melhores resultados.

Referências:

  1. UFRRJ
  2. Como aplicar ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu) – Medicina de cuidados críticos – Manuais MSD edição para profissionais (msdmanuals.com)
  3. MÁSCARA POCKET MASK – BIVIMED

XABCDEF do Trauma: ATLS

A ATLS (Advanced Trauma Life Support) irá disponibilizar em sua 11º edição, uma atualização importante sobre a avaliação primária.

Como será o novo mnemônico?

X – Exsanguinação

– Identificar e conter hemorragias massivas

A – Vias Aéreas +controle manual cervical

– Realizar desobstrução das VA e restringir movimentos do pescoço

B- Ventilação/Oxigenação

-Exame físico, uso de oximetria e oferta de oxigênio

C -Circulação

-Perfusão, pulsos, coloração + temperatura da pele, sangramentos

D – Neurológico

-Glasgow – Pupilas – Sinais de TCE

E – Exposição e controle de temperatura

-Hipotermia pode ser letal – observar outras lesões

*F – Fatores associados*

-Populações especiais: Criança, idoso, gestante

Não confunda com o XABCDE do PHTLS!

O PHTLS fala do atendimento pré-hospitalar ou traumatizado, já o ATLS fala do suporte avançado de vida no trauma. Ou seja:

No PHTLS vai estudar e trazer referências sobre o atendimento de uma vítima antes dela chegar no Hospital, portanto, no caso de um acidente na rua ou em qualquer outro local que não seja no hospitalar.

Já o ATLS irá tratar apenas de procedimentos avançados, ou seja, procedimentos que serão realizados por médicos ou até enfermeiros porém dentro do ambiente hospitalar.

Contudo, essa atualização trazendo “F” ela aconteceu dentro do ATLS então que dizer, que é uma atualização para ser praticada dentro do ambiente hospitalar!

Essa atualização do ATLS que ainda vai acontecer, ela vai tratar do ambiente INTRA HOSPITALAR, então para quem trabalha no ambiente Extra hospitalar (APH), isso não vai mudar nada, continuando até então o protocolo XABCDE.

Referências:

  1. Global Symposium ATLS

Manobra de Heimlich: O que você precisa saber!

A manobra de Heimlich ou manobra de desengasgo é um procedimento de primeiros socorros vital que pode salvar vidas em situações de engasgo. Quando um objeto estranho bloqueia as vias aéreas, é crucial agir rapidamente e com eficácia para restaurar a respiração normal.

Manobras

Bebês (menores de um ano)

    • Reconheça os sinais: Se o bebê estiver cianótico (com a boca roxa), sem respirar ou com muita dificuldade respiratória, é hora de agir.
    • Posicione o bebê: Coloque o bebê sobre sua perna, com a cabeça voltada para baixo.
    • Compressões nas costas: Dê cinco compressões firmes nas costas do bebê para tentar expelir o objeto estranho.
    • Abra a boca: Com um dedo, abra a boca do bebê e verifique se ele ainda está com dificuldades para respirar.
    • Compressões torácicas: Se necessário, aplique cinco compressões torácicas. Coloque dois dedos na linha entre os mamilos e empurre o tórax da criança.
    • Repetição: Se o bebê não se recuperar, repita a manobra.

Crianças, adolescentes e adultos

    • Posicione-se atrás da vítima: Enlace a pessoa com os braços ao redor do abdome (ajoelhe-se primeiro, se for uma criança).
    • Compressões abdominais: Aplique pressão firme para dentro, puxando os dois braços para trás. Repita rapidamente a compressão de 6 a 10 vezes conforme necessário.
    • Observação: Verifique se a pessoa consegue expelir o objeto estranho e se ela tem respiração normal.
    • Se não se recuperar: Leve a vítima imediatamente para um hospital. Se necessário, inicie manobras de reanimação cardiopulmonar.

Lembre-se de que todos nós podemos ajudar nos primeiros socorros.

Conhecer essas técnicas pode fazer a diferença em momentos críticos!

Referências:

  1. MSD Manuals
  2. Biblioteca Virtual em Saúde

 

Colar Cervical

O colar cervical é indicado para diferentes situações onde o paciente tem dores no pescoço ou na coluna cervical. A coleira, como também é conhecida, mobiliza apenas a região do pescoço e apesar das pequenas limitações, permite a movimentação geral do corpo, braços e tronco, o que proporciona mais autonomia para o paciente.

Estresse, má postura, manter a cabeça abaixada ou levantada por muito tempo e até dormir de maneira incorreta, podem causar traumas na coluna cervical.

A causa mais comum para o aparecimento da dor cervical são os acidentes de carro, quando a cabeça é projetada para frente e para trás. Porém essas dores também podem surgir como sintomas de problemas mais complexos de tensão muscular.

Quando usar um colar cervical

Pós-operatório

Os médicos costumam indicar o uso do colar cervical após cirurgias de artrodese cervical, hérnia de disco cervical e compressão medular ou radicular por artrose.

A utilização desse acessório é recomendada, pois evita movimentações que podem interferir negativamente na reabilitação e também ajuda a diminuir a dor e proporcionar mais conforto ao paciente.

Primeiros socorros

O uso do colar cervical nessas situações é fundamental para evitar o agravamento do quadro do paciente e algum possível trauma. Ele mobiliza a coluna cervical e protege a medula, garantindo mais segurança durante o transporte até o hospital.

Estabilizar a região do pescoço

É recomendado também em quadros de torcicolo, artrite e artrose. Ele garante uma maior estabilidade cervical e mantém uma postura adequada durante o dia ou para dormir.

Tipos de colar cervical

Existem basicamente três tipos de colar cervical, são eles:

Colar macio

Indicado para o tratamento de dores causados por tensão muscular. Por ser maleável, permite que o pescoço tenha um movimento quase normal.

Colar cervical semirrígido e rígido

Esses dois modelos costumam ser prescritos para estabilizar a cervical após cirurgia, fratura, deslocamento ósseo ou articular. O seu uso é recomendado por períodos de até 2 meses, algumas vezes havendo a necessidade de prolongamento desse tempo. Sendo usado como parte do pós-operatório e não necessariamente para o controle da dor.

O propósito desse acessório ortopédico é imobilizar a cabeça e colocar a coluna cervical em posição neutra, ajudando também a aliviar a dor, trazendo conforto e permitindo que a lesão se recupere.

Embora o colar seja considerado uma intervenção necessária em muitos casos, os seus efeitos colaterais devem ser considerados, principalmente quando usado por um longo período de tempo. Por isso, é importante procurar um especialista que irá indicar o melhor modelo e a forma de uso correta para o seu caso.

Esse tipo de imobilizador auxilia pessoas que sofreram algum tipo de queda ou trauma, além das que precisam estabilizar o pescoço para tratar dores ou se recuperar de cirurgias na coluna cervical.

Referências:

  1. De Souza. G, Gonçalves, D., & Pastre, C. (2006). Propriocepção cervical e equilíbrio: uma revisão. Fisioter Mov, 19(4), 33–40.