Marcha atópica

A marcha atópica é um conceito que descreve a progressão natural das doenças alérgicas ao longo da vida de um indivíduo. Geralmente começando na infância, essa sequência de condições pode incluir dermatite atópica, rinite alérgica e asma.

Nesta publicação, vamos explorar o que é a marcha atópica, suas fases, fatores de risco e estratégias para prevenir ou controlar essas condições.

O Que é a Marcha Atópica?

A marcha atópica refere-se à tendência de doenças alérgicas se desenvolverem em uma sequência previsível, começando na infância e podendo persistir até a idade adulta. Essa progressão é caracterizada por uma resposta imunológica hiperativa a alérgenos comuns, como pólen, ácaros e alimentos.

Fases da Marcha Atópica

Dermatite Atópica (Eczema)

  • Idade de Início: Geralmente nos primeiros meses de vida.
  • Sintomas: Pele seca, coceira intensa e erupções cutâneas.
  • Importância: A dermatite atópica é frequentemente o primeiro sinal da marcha atópica e pode aumentar o risco de desenvolver outras condições alérgicas.

Alergias Alimentares

  • Idade de Início: Nos primeiros anos de vida.
  • Sintomas: Reações alérgicas a alimentos como leite, ovos, amendoim e frutos do mar.
  • Importância: As alergias alimentares podem ser um precursor para o desenvolvimento de asma e rinite alérgica.

Asma

  • Idade de Início: Geralmente entre 3 e 5 anos.
  • Sintomas: Dificuldade para respirar, chiado no peito e tosse.
  • Importância: A asma é uma condição crônica que pode persistir na idade adulta.

Rinite Alérgica

  • Idade de Início: Pode começar na infância ou adolescência.
  • Sintomas: Espirros, coriza, coceira no nariz e olhos lacrimejantes.
  • Importância: A rinite alérgica é comum em indivíduos com histórico de outras condições atópicas.

Fatores de Risco para a Marcha Atópica

Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento da marcha atópica, incluindo:

Genética

Histórico familiar de doenças alérgicas.

Exposição a Alérgenos

Contato precoce com ácaros, pólen ou alimentos alergênicos.

Poluição e Tabagismo

Ambientes poluídos e exposição ao fumo podem agravar as condições alérgicas.

Alterações na Microbiota Intestinal

Desequilíbrios na flora intestinal podem influenciar o sistema imunológico.

Prevenção e Controle da Marcha Atópica

Embora a marcha atópica tenha um componente genético, algumas estratégias podem ajudar a prevenir ou controlar suas manifestações:

Amamentação

A amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida pode reduzir o risco de dermatite atópica e alergias alimentares.

Introdução de Alimentos Sólidos

A introdução de alimentos potencialmente alergênicos, como amendoim e ovos, deve ser feita de forma gradual e sob orientação médica.

Controle Ambiental

Reduzir a exposição a alérgenos comuns, como ácaros e pólen, pode ajudar a prevenir crises alérgicas.

Tratamento Precoce

O manejo adequado da dermatite atópica e das alergias alimentares pode reduzir o risco de progressão para asma e rinite alérgica.

Imunoterapia

Em alguns casos, a imunoterapia com alérgenos pode ser usada para dessensibilizar o sistema imunológico.

Cuidados de Enfermagem no Manejo da Marcha Atópica

A equipe de enfermagem desempenha um papel crucial no suporte a pacientes com marcha atópica. Aqui estão os principais cuidados:

Educação do Paciente e Familiares

Explique sobre a marcha atópica e a importância do controle ambiental e do tratamento precoce.

Acompanhamento Nutricional

Oriente sobre a introdução de alimentos e o manejo de alergias alimentares.

Monitoramento de Sintomas

Observe e registre os sintomas do paciente para ajustar o tratamento conforme necessário.

Apoio Emocional

Ofereça suporte emocional, especialmente para crianças e famílias que lidam com múltiplas condições alérgicas.

A marcha atópica é uma sequência de condições alérgicas que pode impactar significativamente a qualidade de vida. Compreender suas fases e fatores de risco é essencial para prevenir e controlar essas doenças.

Para a equipe de enfermagem, a educação e o suporte ao paciente são fundamentais para garantir um manejo eficaz.

Referência:

  1. Hill DA, Spergel JM. The atopic march: Critical evidence and clinical relevance. Ann Allergy Asthma Immunol. 2018 Feb;120(2):131-137. doi: 10.1016/j.anai.2017.10.037. Erratum in: Ann Allergy Asthma Immunol. 2018 Apr;120(4):451. doi: 10.1016/j.anai.2018.02.033. PMID: 29413336; PMCID: PMC5806141.

A obesidade e o índice de massa corporal (IMC)

Como profissionais, deparamo-nos constantemente com a obesidade, uma condição de saúde complexa e multifatorial que impacta milhões de pessoas em todo o mundo.

Para compreendermos sua extensão e gravidade, uma ferramenta simples e amplamente utilizada é o Índice de Massa Corporal (IMC).

Embora não seja uma medida perfeita, o IMC nos oferece uma visão geral do peso de um indivíduo em relação à sua altura, permitindo classificar diferentes graus de obesidade e, consequentemente, direcionar nossos cuidados de forma mais eficaz. Vamos explorar juntos essa classificação e suas implicações para a nossa prática.

O Que é o IMC e Como Ele nos Ajuda a Entender o Peso Corporal?

O Índice de Massa Corporal (IMC) é calculado dividindo o peso de uma pessoa em quilogramas (kg) pelo quadrado de sua altura em metros (m²). A fórmula é simples:

IMC = Peso (kg) / Altura (m)²

O resultado desse cálculo nos fornece um número que pode ser interpretado de acordo com categorias predefinidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essas categorias nos ajudam a classificar se o peso de um adulto está dentro da faixa considerada normal, acima do peso ou em diferentes graus de obesidade.

É importante ressaltar que o IMC é uma ferramenta de rastreamento e avaliação populacional, e sua interpretação individual deve ser feita com cautela, considerando outros fatores como composição corporal (massa muscular, massa gorda), idade e etnia.

A Escala do IMC: Do Peso Normal à Obesidade Mórbida (em Graus)

A classificação do IMC estabelecida pela OMS é a seguinte:

Peso Normal: Um Equilíbrio Saudável

Um IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m² é geralmente considerado dentro da faixa de peso normal para adultos. Nessa faixa, o peso corporal é proporcional à altura, associando-se a um menor risco de desenvolvimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.

Implicações para o Cuidado de Enfermagem: Nos pacientes com IMC dentro da faixa normal, nosso foco é a promoção e a manutenção de hábitos de vida saudáveis, incluindo uma alimentação equilibrada, a prática regular de atividade física, o sono adequado e a prevenção de fatores de risco para outras condições de saúde.

Sobrepeso: O Sinal de Alerta

Um IMC entre 25,0 e 29,9 kg/m² indica sobrepeso. Nessa faixa, o peso corporal está acima do considerado saudável para a altura, aumentando o risco de desenvolvimento de DCNT. Muitas vezes, o sobrepeso é o primeiro estágio antes da obesidade e representa um momento crucial para intervenções que visem a mudança de estilo de vida.

Implicações para o Cuidado de Enfermagem: Nesses pacientes, a nossa atuação envolve a identificação dos fatores de risco individuais, a educação sobre os benefícios da perda de peso (mesmo que modesta), o aconselhamento sobre alimentação saudável e atividade física, e o apoio na implementação de mudanças comportamentais. O monitoramento regular do peso e de outros indicadores de saúde é fundamental.

Obesidade Grau I: O Primeiro Nível da Complexidade

Um IMC entre 30,0 e 34,9 kg/m² caracteriza a obesidade grau I. Nesse estágio, o excesso de peso já representa um risco significativo para a saúde, aumentando a probabilidade de desenvolvimento de diversas comorbidades.

Implicações para o Cuidado de Enfermagem: O cuidado nesses pacientes requer uma abordagem mais intensiva, incluindo a avaliação das comorbidades existentes, o desenvolvimento de um plano de cuidados individualizado com metas realistas de perda de peso, o suporte na adesão a dietas específicas e programas de exercícios, e o acompanhamento regular para monitorar o progresso e identificar possíveis dificuldades. A educação sobre o manejo das comorbidades e a prevenção de complicações é essencial.

Obesidade Grau II: Um Risco Elevado à Saúde

Um IMC entre 35,0 e 39,9 kg/m² define a obesidade grau II. Nesse estágio, o risco de desenvolver ou agravar problemas de saúde é ainda maior, impactando significativamente a qualidade de vida do paciente.

Implicações para o Cuidado de Enfermagem: O cuidado nesses pacientes muitas vezes envolve uma abordagem multidisciplinar, com a participação de nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e, em alguns casos, endocrinologistas e cirurgiões bariátricos. Nosso papel inclui a coordenação do cuidado, o suporte emocional, a educação detalhada sobre as opções de tratamento (incluindo as cirúrgicas), o preparo pré e pós-operatório (em casos de cirurgia bariátrica) e o acompanhamento a longo prazo para garantir a manutenção da perda de peso e a adesão a um estilo de vida saudável.

Obesidade Grau III ou Obesidade Mórbida: O Limite da Severidade

Um IMC igual ou superior a 40,0 kg/m² caracteriza a obesidade grau III, também conhecida como obesidade mórbida ou obesidade severa. Nesse estágio, o excesso de peso representa um risco muito elevado para a saúde, com alta probabilidade de desenvolvimento de múltiplas comorbidades graves e impacto significativo na funcionalidade e na expectativa de vida.

Implicações para o Cuidado de Enfermagem: O cuidado desses pacientes é complexo e demanda uma abordagem integral e individualizada. Frequentemente, envolve o acompanhamento em unidades de terapia intensiva ou semi-intensiva no período pós-operatório de cirurgias bariátricas, o manejo de múltiplas comorbidades, o suporte para a mobilidade e a higiene, a prevenção de complicações como úlceras de pressão e trombose venosa profunda, o suporte emocional intensivo e a coordenação com uma equipe multidisciplinar experiente. A educação do paciente e da família sobre as mudanças radicais no estilo de vida e o acompanhamento a longo prazo são cruciais para o sucesso do tratamento.

O Cuidado de Enfermagem em Todas as Faixas do IMC: Uma Abordagem Holística

Independentemente da classificação do IMC, o cuidado de enfermagem na obesidade deve ser holístico e centrado no paciente. Nossa atuação vai além da simples medição do peso e do cálculo do IMC. Envolve:

  • Avaliação abrangente: Investigar os hábitos alimentares, o nível de atividade física, o histórico de tentativas de perda de peso, os fatores psicossociais, as comorbidades existentes e o impacto da obesidade na qualidade de vida do paciente.
  • Estabelecimento de vínculo terapêutico: Construir uma relação de confiança e empatia com o paciente, oferecendo apoio e motivação para as mudanças de estilo de vida.
  • Educação em saúde: Fornecer informações claras e acessíveis sobre os riscos da obesidade, os benefícios da perda de peso, as opções de tratamento disponíveis e as estratégias para uma alimentação saudável e a prática de atividade física.
  • Apoio na mudança de comportamento: Auxiliar o paciente a identificar metas realistas e a desenvolver um plano de ação para alcançar essas metas, oferecendo suporte para superar os obstáculos e manter a motivação.
  • Coordenação do cuidado: Trabalhar em colaboração com outros profissionais de saúde (médicos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas) para garantir uma abordagem multidisciplinar e integrada.
  • Monitoramento e avaliação: Acompanhar regularmente o progresso do paciente, monitorar o peso, o IMC e outros indicadores de saúde, e ajustar o plano de cuidados conforme a necessidade.
  • Prevenção de complicações: Implementar medidas para prevenir as complicações associadas à obesidade e aos tratamentos utilizados.
  • Defesa dos direitos do paciente: Atuar como defensor do paciente, garantindo o acesso a informações e a tratamentos adequados e combatendo o estigma e o preconceito relacionados à obesidade.

A obesidade é um desafio de saúde pública complexo, e o enfermeiro desempenha um papel fundamental na prevenção, no tratamento e no cuidado das pessoas afetadas. Compreender a classificação do IMC é um ponto de partida importante para direcionarmos nossos cuidados de forma individualizada e eficaz, sempre lembrando que o foco deve estar no bem-estar integral do paciente.

Referências:

  1. World Health Organization. (2000). Obesity: preventing and managing the global epidemic: report of a WHO consultation. 1 World Health Organization. https://www.who.int/nutrition/publications/obesity/WHO_TRS_894/en/  
  2. National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases. (2017). What Are the Health Risks of Overweight and Obesity? https://www.niddk.nih.gov/health-information/weight-management/health-risks-overweight-obesity
  3. Bray, G. A., Kim, K. K., & Wilding, J. P. H. (2016). The global burden of obesity. In Feingold, K. R., Anawalt, B., Boyce, A., Chrousos, G., Corpas, E., Goldfine, A. B., … & Hershman, J. M. (Eds.), Endotext [Internet]. MDText.com, Inc. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279039/