A aspirina é fundamental no tratamento de pacientes com SCA (Síndrome Coronariana Aguda), podendo-se lançar mão de protocolos de dessensibilização em pacientes alérgicos.
O AAS bloqueia a formação de tromboxano A2 (substância vasoconstritora e pró-trombótica), interferindo no metabolismo do ácido araquidônico e inibindo a formação da ciclo-oxigenase 1 (COX-1), enzima fundamental no processo de agregação plaquetária.
O plantonista então se depara com um grande problema quando está com um paciente coronariano e com alergia à aspirina. Esta pode manifestar-se desde alterações cutâneas e respiratórias até choque anafilático.
Para pacientes que apresentam reações de hipersensibilidade ao AAS, pode-se lançar mão de protocolos de dessensibilização, que consistem na administração oral de doses sucessivamente crescentes de AAS até atingir a dose terapêutica pretendida.
Tais protocolos consistem em administração crescente gradual de doses de AAS em um período que demandam dias para serem completados, tempo precioso que o paciente com SCA não possui. Por esta razão, entende-se a importância de novos protocolos de dessensibilização mais rápidos, passíveis de conclusão em poucas horas, visando iniciar tratamento antiplaquetário no paciente em questão ainda no próprio dia do evento cardiovascular.
O protocolo
Para o procedimento, é diluído um comprimido de 100mg em SF0,9% 100 ml –> ficando com a Solução 1mg/ml.
Os cuidados e recomendações
- Quando optado por dessensibilização nos pacientes com história de anafilaxia, esta deve ser realizada em ambiente de terapia intensiva com monitorização dos sinais vitais e possibilidade de tratamento imediato das reações;
- Deixar separado em BEIRA LEITO anti-histamínicos de urgência como BENADRYL e corticóides;
- Orientar os pacientes a não interromperem o uso do AAS após a dessenbilização, pois intervalos maiores que 7 dias sem o medicamento pode reativar reações e necessitar de novas dessensibilizações;
- Preferir angioplastia com Stent convencional, pois a duração mínima da dupla antiagregação é mais curta quando comparada aos Stents farmacológicos e nos casos de uso isolado de inibidores do recepetor P2Y12 existe a possibilidade de se tentar a dessensibilização durante o primeiro mês após a ATC;
- Não associar dois tienopiridínicos já que não existe evidencia para tal conduta sendo a mesma contraindicada pelos guidelines.
A hipersensibilidade ao AAS é um achado comum na população geral, e frente à alta incidência de SCA no nosso meio, frequentemente nos deparamos com pacientes que necessitam do seu uso, porém, relatam reações alérgicas.
O procedimento de dessensibilização nesses casos mostra-se seguro, de baixo custo e com alta taxa de sucesso, devendo-se cada vez mais sua implementação ser encoraja.
Referências:
- Wong JT, Nagy CS, Krinzman SJ, Maclean JA, Bloch KJ. Rapid oral challenge-desensitization for patients with aspi rin-related urticaria-angioedema. J Allergy Clin Immunol.
2000; 105: 997-1001 - Rossini R, Iorio A, Pozzi R, Bianco M, Musumeci G, LeonardiS, et al. Aspirin desensitization in patients with coronary artery disease: results of the multicenter ADAPTED registry (Aspirin Desensitization in Patients With Coronary Artery Disease). Circ Cardiovasc Interv. 2017;10(2):1-6.
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