Um Bloqueio atrioventricular (BAVT) é um distúrbio elétrico cardíaco definido como condução deficiente (tardia ou ausente) dos átrios para os ventrículos.
A intensidade da anormalidade de condução é descrita em graus: primeiro grau; segundo grau, tipo I (Wenckebach ou Mobitz I) ou tipo II (Mobitz II); e bloqueio AV de terceiro grau (total).
Esse esquema de classificação deve ser aplicado somente durante ritmo sinusal e não durante arritmias atriais rápidas ou em caso de batimentos atriais prematuros.
Principais Fatores
- presença de fatores de risco;
- idade >50-60 anos;
- síncope;
- frequência cardíaca <40 bpm;
- sexo masculino;
- fadiga;
- dispneia;
- dor torácica, palpitações e náuseas ou vômitos;
- alterações degenerativas no sistema de condução relacionadas à idade;
- tônus vagal elevado;
- agentes bloqueadores do nó AV;
- doença arterial coronariana crônica estável.
Como é identificado o BAVT?
O bloqueio atrioventricular (AV) pode ser descrito pelo grau (com base na aparência ao eletrocardiograma [ECG]) ou pelo nível anatômico do bloqueio. O grau do bloqueio AV ou o nível anatômico do bloqueio não se correlaciona, necessariamente, com a gravidade dos sintomas subsequentes.
Os objetivos da terapia são tratar os sintomas e evitar síncope e morte súbita cardíaca decorrentes de frequências ventriculares muito lentas ou ausentes.
Pacientes com bloqueio AV avançado (geralmente bloqueio de segundo grau tipo II, terceiro grau ou AV infranodal) de causa irreversível devem ser submetidos à colocação de um marca-passo permanente.
Classificação
Os bloqueios AV são classificados em três graus, dependendo de sua gravidade.
- Bloqueio AV de primeiro grau.
- Bloqueio AV de segundo grau.
- Bloqueio AV de segundo grau, tipo I, Mobitz I ou Wenckebach.
- Bloqueio AV de segundo grau, tipo II ou Mobitz II.
- Bloqueio AV de terceiro grau ou bloqueio AV completo.
Bloqueio atrioventricular de primeiro grau
No bloqueio AV de primeiro grau, há um atraso na passagem do estímulo pelo nó AV ou o sistema de His-Purkinje, retardando o início do complexo QRS.
As alterações características no eletrocardiograma é o prolongamento do intervalo PR (maior que 0,20 segundos), com QRS estreito na ausência de outras anormalidades.
Além disso, no bloqueio AV de primeiro grau, não existe interrupção da condução AV, de modo a que todas as ondas P são seguidas por QRS, ao contrário de outros tipos de bloqueios AV.
Bloqueio atrioventricular de segundo grau
No bloqueio atrioventricular de segundo grau, ocorre uma interrupção descontínua da passagem do estímulo das aurículas para os ventrículos. Observado ondas P não conduzidas (não seguidas de QRS) no eletrocardiograma.
De acordo com suas características no eletrocardiograma, são classificados como de bloqueio AV de segundo grau tipo I (Mobitz I ou Wenckebach) e tipo II (Mobitz II).
Bloqueio AV de 2.º grau tipo I (Mobitz I ou Wenckebach)
No bloqueio AV de segundo grau tipo I, é observado um atraso progressivo da condução AV até a interrupção da passagem do impulso.
No ECG observamos:
- Prolongamento progressivo do intervalo PR até que uma onda P não é conduzida.
- O intervalo RR se encurta gradualmente até a onda P bloqueada.
- Complexo QRS de características normais, se não há outra alteração.
- O intervalo RR que contém a onda P bloqueada é mais curto do que dois intervalos RR anteriores.
Bloqueio AV de 2.º grau, tipo II (Mobitz II)
O bloqueio AV de segundo grau tipo II, é menos comum do que os anteriores, e geralmente envolve doença cardíaca subjacente 3.
Este tipo de bloqueio AV é caracterizado por um súbito bloqueio de condução AV, sem prolongamento do intervalo PR prévio.
No ECG observamos:
- Onda P bloqueada, intervalos PR anteriores e posteriores de duração semelhante.
- O intervalo RR que inclui a onda P bloqueada é igual à soma de dois intervalos R-R anteriores.
- Complexo QRS de características normais, se não há outra alteração.
Em certos casos, pode seguir uma determinada sequência (cada três intervalos PR normais, uma onda P bloqueada) ou ser variável. Nos bloqueios de alto grau (avançados) pode ser vista mais de uma onda P consecutiva bloqueada.
Este bloqueio AV pode progredir para bloqueio AV completo inesperadamente e, geralmente, requer implante de marcapasso definitivo.
Bloqueio atrioventricular de terceiro grau (bloqueio AV completo)
O bloqueio atrioventricular completo (ou total) é caracterizado pela interrupção completa da condução AV. Nenhum estímulo gerado nos átrios passa para os ventrículos, de modo que os átrios e os ventrículos são contraídos cada um ao seu próprio ritmo.
O ritmo ventricular dependerá do ponto do sistema de condução onde o ritmo de escape tem origem, no nó AV, feixe de His ou endocárdio ventricular (quanto mais alto o ponto do bloqueio, maior é a frequência cardíaca e os QRS mais estreitos).
Seus características no ECG são as seguintes:
- Ondas P e complexos QRS sem relação entre eles, sendo maior a frequência das ondas P.
- Ondas P localizadas perto dos QRS, inscritos no QRS ou na onda T.
- A morfologia e a frequência dos complexos QRS dependem da origem do ritmo de escape. Se proveniente do nó AV, a frequência será maior e os QRS estreitos. Se proveniente dos ramos distais do feixe de His, haverá marcada bradicardia e QRS semelhantes ao bloqueio de ramo.
Tratamento
Os bloqueios atrioventriculares de primeiro grau e de segundo grau tipo I (fenômeno de Wenckebach) geralmente não requerem tratamento, mas podem progredir para bloqueios de grau superior.
Os bloqueios atrioventriculares de segundo grau tipo II e de terceiro grau, normalmente exigem implante de marcapasso definitivo para o tratamento.
Antes de indicar um marcapasso permanente devem ser descartadas causas reversíveis de bloqueio AV, como a cardiopatia isquêmica ou o tratamento com drogas (beta-bloqueadores ou antiarrítmicos).
Veja também:
Como Interpretar o Eletrocardiograma (ECG) de forma divertida e facilmente
Referências:
- Vogler J, Breithardt G, Eckardt L. Bradiarritmias y bloqueos de la conducció́n. Rev Esp Cardiol. 2012;65(7):656–667.
- 2. Goldberger A, Goldberger Z, Schvilkin A. Clinical Electrocardiography: A Simplified Approach, 7th ed. Philadelphia: Mosby Elservier; 2006.
- 3. Castellano C, Pérez de Juan MA, Attie F. Electrocardiografía Clínica, 2ª Ed. Madrid: Elservier España S. A. ; 2004.
- 4. Brignole M, Auricchio A et al. 2013 ESC Guidelines on cardiac pacing and cardiac resynchronization therapy. Eur Heart J; 2013.
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