Época de final de ano. Festas de natal, almoços de ano novo. É uma época gostosa, de se comemorar entre família e amigos. Para mim, seria um pouco diferente. Ser um profissional da saúde exige que você fique longe de seus familiares e entes queridos. Comemorar essa época de festividades seria dentro de um hospital, cuidando de outras pessoas. Mas para mim seria uma novidade.
Seria meu primeiro final de ano fora de casa. Já estávamos nos preparando para trazer coisas diferentes para o plantão. No natal, faríamos uma pequena ceia na hora da janta. Claro que trabalhar faria mais parte do que comer.
Era noite de 24 para 25 de dezembro, e eu ainda estava realizando procedimentos no meu paciente. Ele estava muito instável, e requeria cuidados quase que todo o minuto. Eu acho que deveria ter contactado o plantonista quase que a noite toda!
Até que chegaria o Natal. E meu paciente precisava ser entubado. Então para que corresse tudo certo, chamei o plantonista para ele avaliar, e fizemos o procedimento. Era uma difícil entubação, por ter feito traqueoplastia e era de difícil acesso. Já tinha dado meia noite, e eu não poderia largar meu paciente lá. Tinha muita coisa para fazer, pois era todo o momento o plantonista modificando dosagens de medicações. Eu até o momento até tinha esquecido que era o Natal. Estava muito concentrado e focado na situação em que se encontrava.
Desde quando você trabalha à noite, você terá que largar muitos hábitos no qual você fazia durante sua vida toda. Era uma escolha minha. Eu já estava conformado com isso. Passava-se algumas horas, e nem jantado tinha ainda. Depois de umas horas turbulentas de minha noite, fui dar uma pausa para praticamente lanchar o que tinha sobrado. Era assim. Pode um dia fluir tudo calmamente seu plantão, e calhar de um dia que seria especial para um e para outro ser virado do avesso. Eu tinha esse hábito de festejar o natal com minha família. Mas tive em meu pensamento que isso não seria para sempre. É uma escolha minha!
No mesmo caso em final de ano. Faltava algumas horas para o ano novo, e nosso plantão bombando. Não somente eu mas meus colegas trabalhamos muito. Éra um médico para 32 pacientes. Era muita responsabilidade só para uma noite. E não era um, era 3, 4 pacientes em intercorrência. Passamos a virada do ano em cima deles, algumas admissões, paradas cardíacas, enfim. Não tinha nem percebido que já era outro dia. E geralmente a gente ouve fogos lá fora. Nem isso tivemos tempo de perceber.
Mas tudo isso compensou de uma forma boa: Muitos deles se estabilizaram! Graças a uma equipe que esqueceram dos compromissos lá fora e aceitaram trabalhar como uma equipe de responsabilidade aqui dentro. Desde o médico até os profissionais da limpeza, todos empenhando o melhor nas épocas de festividades. São os bastidores da vida real. Trabalhando para que seus familiares possam virar o ano com menos preocupações.