Histórias

Conhecendo meus colegas do setor..!

Passara um dia. Fiquei tão animado em estar em um setor daquele, tanta coisa nova ao redor e tanta informação nova para aprender… Estava com sede de mais informações novas. Seguia no dia seguinte voltando ao setor de Uti. Logo voltei a aprender mais um pouco sobre os cuidados intensivos. Estava eu com o enfermeiro responsável em me treinar, dando continuidade às rotinas que ali tinha que aprender. Enquanto isso, tinha meu colega técnico que estava assumindo o box com um paciente ao lado, fazendo seu serviço, fui ajudá-lo. 

Estava fazendo uma higiene íntima no paciente que era um pouco complicado. Paciente obeso mórbido, com duas trações esqueléticas em cada membro inferior, dois drenos plurais em ambos os tórax, traqueostomizado. Meu colega disse para o ajudar a movimentar o paciente em bloco, porque estava com suspeita de fratura de coluna, e ali tinha que ter mais pessoas para ajudar. Fizemos a  troca, terminamos o procedimento e fomos lavar as mãos. 

Aproveitei a deixa para perguntar um pouco sobre meu colega. Perguntei a quanto tempo que estava ali trabalhando e se teve alguma dificuldade no começo para adquirir os conhecimentos técnicos do setor. Ele me disse que trabalha há quase 20 anos com técnico naquele mesmo setor. E de sim, no começo tudo é difícil mas nada complicado de se aprender… Isso já me deu uma grande esperança ! 

Comentou de que durante esses anos muitas coisas mudaram em questões de legislações e procedimentos pertinentes ao técnico. Mas isso não é nada para se preocupar, porque a chefia estará sempre nos notificando. E dai fomos conversando durante o plantão, enquanto fazíamos os nossos deveres. Ele me disse que muito dos técnicos ali recepcionam bem os novatos, mas existem um pequeno grupo no qual irá lhe testar até desistir. Isso já não gostei, porque acho que nós deveríamos nos unir mais, em vez de puxar o tapete um do outro. 

Dei uma pausa para o café. Tínhamos 15 minutos de direito para uma pausa, para lanchar ou tomar um café. Fui para a copa dos funcionários, que era um local pequeno e estreito, porém com um número razoável de pessoas lá dentro. Comecei a observar as pessoas. Alguns dali me recepcionaram bem logo de começo, perguntando se já trabalhava na área ou se tinha experiência. Foram se introduzindo, cada um,dizendo o tempo em que já estava trabalhando lá, se gostavam ou não do que faziam. Mas tinha duas pessoas ali no canto, sem falar nada, só observando… Pensei no que o meu colega tinha falado.. Acho que podem ser um dos poucos que não gostam de novatos…

Continuei a tomar meu café e finalizei. Me levantei e fui para meu box, fazer meus afazeres. Tínhamos ainda dois banhos para ajudar, então fui ajudar em um deles, e cai logo de cara em um técnico no qual não falou nada durante a hora do café. Dai tudo bem, fui fazer meu dever, ajudar o próximo. Vi que precisava de ajuda e o banho não era simples também. Do jeito que cheguei com ele calado, permaneceu calado. Não sei se pode ser timidez, mas estava estranho. Perguntei se precisava de ajuda e simplesmente fiquei no vácuo. Enfim, ajudei mesmo assim. Começamos o banho e logo após os curativos na parte sacral. Montamos a cama e dai ele virou para mim e me disse “pode deixar que eu termino” e simplesmente virou as costas para mim. Bom, eu falei “ok!” E fiquei sem palavras. Voltei ao meu box e comentei com o meu outro colega, que era estranho esse tipo de comportamento.. Estou acostumado pela boa recepção das pessoas, e de um ar de união. Já tinha visto que iria enfrentar algumas dificuldades com algumas pessoas lá… Mas não me abalei! 

Durante o tempo em que estava mais tranquilo, fui olhar o resto do setor. Conheci outros colegas, fui ver se precisavam de ajuda, e muitos ali estavam enrolado e prestei minha ajuda. Conheci outra colega gente boa! Bem extrovertida, de. Bom papo,  super atenciosa. Me explicou algumas coisas como técnicas em curativos, manuseio de bombas de infusão. Acho que consegui aprender a programar uma bomba! 😂.

Ao passar do tempo fui voltando para meu box e continuar com o aprendizado, e foi aí que fui parado por aquele técnico de cara feia e me falou “como você é novato aqui, você irá recolher todas as diureses e secreções de nossos pacientes! Precisa aprender da nossa rotina certo? Então isso é perfeito para você!” Eu fiquei parado, sem o que falar. A primeira coisa que me surgiu da cabeça é falar tudo bem, pode deixar comigo, porque afinal estou ali para aprender mesmo. Não me importa. Só achei desnecessário o modo de vim falar comigo… Poderia vir em um tom mais amigável. Mas tudo bem, fui fazer o que foi pedido e retornei ao meu box. 

Fui com o enfermeiro puxar as medicações de um certo horário. Fomos interrompidos pelo mesmo técnico solicitando para que eu encaminhasse um pedido de exame do paciente dele. Acho que cismou comigo. O enfermeiro falou que eu poderia ir sem problemas, e que isso seria bom para eu aprender mais sobre onde fica os locais do hospital. Tranquilamente fiz o que pediu, porque ele achava que eu não conhecia os corredores do hospital mas conhecia sim. Lembre-se que atuei como auxiliar de enfermagem em uma enfermaria grande. Já era rotina pra mim isso, em trabalhar no corredor..

Retornei bem rápido. Avisei o colega que já tinha encaminhado o que pediu e o mesmo ficou olhando com uma cara “nossa que rápido”. Fui refazer o que estava pendente e depois fui aprender a fazer uma anotação de enfermagem com o enfermeiro. Essa parte me interessava! As anotações são completamente diferentes de uma enfermaria. Tínhamos que avaliar pupila e relatar, escrever tudo que está correndo nas vidas do paciente, nome das bombas e vazões por hora que estava correndo, se estava entubado ou não, fui anotando tudo na minha caderneta. Há também algumas terminologias próprias da Uti. Então tínhamos que prestar muita atenção na que escrevíamos. 

Foi um dia produtivo para mim. O que eu aprendi de lição é de que nunca iremos agradar a todos , mesmo tratando igualmente. Fui muito bem recepcionado pelos meus colegas, me deram muitas dicas valiosas no segundo dia. E aprendi que nem todos ali irão fazer o mesmo. Felizmente são poucos mesmo, pude contar nos dedos. Se a intenção é de me fazer pressão psicológica para desistir, estão completamente enganados. Nada vence minha vontade e garra de aprender.de estar ali e fazer a diferença. Estou disposto a enfrentar todas as dificuldades. Sei que haverá muitos obstáculos, mas isso para mim é uma grande motivação de que posso e consigo vencer!

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Christiane Ribeiro
Técnico de Enfermagem Intensivista (há 13 anos), atuante em UTI Adulto: Geral, Cardiológica, COVID-19. Além de ser profissional de saúde, sou ilustradora digital, e nos tempos livres dedico à ilustrações da saúde para estudantes e profissionais, e também sou uma influenciadora digital na enfermagem.
https://enfermagemilustrada.com

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