“Não aguento mais ficar nesse lugar mórbido, cheio de fios e nenhum lugar para olhar”, era sempre a fala de um senhorzinho de idade, 87 anos, que era cardiopata e CA de intestino.
Todo dia, em certas horas, aquele senhor ficava falando sozinho, reclamando da vida e das pessoas, mas ninguém entendia o porque. Uns o achava que estava tendo problemas psicológicos, outros o achava chato. Mas ninguém parava para perguntar o que ele queria.
Os horários de visita eram sempre flexíveis mas dificilmente vinha gente o visitar. Eu ficava pensando que família que ele tinha, que abandonava aquele vôzinho sozinho em um leito de UTI, sem visita de netos, filhos, nada.
Uma hora resolvi sentar do seu lado e o perguntar, “o que o senhor mais quer nesse momento?”, e aguardava aquele senhor, com um olhar sereno, coçar a careca e me olhar lentamente, e tentando gesticular as palavras, com dificuldade.
“Só queria que alguém me desse atenção”, o respondeu, devagarzinho. Fiquei com tanta dó deste senhor, que usei meu tempo livre de janta para ouvir o que ele tinha a dizer.
“Sou um senhor sozinho, não tive filhos, nem netos. Fui casado uma vez, e sou viúvo. Minha única pessoa amada foi-se primeiro do que eu, morreu de AVC e fiquei cuidando dela até seu último momento. Hoje em dia não tenho isso, e me arrependo de não tido filhos, porque sei que tivesse e os amasse muito, estariam do meu lado hoje, ao meu lado, esperando pela minha hora. Não pude ter filhos. Sempre pensei em adotar um, mas minha senhora não queria, ela sempre dizia que uma hora ela conseguiria gerar o nosso, e nunca aconteceu. Perdi essa oportunidade, de compartilhar meus conhecimentos com a minha próxima geração…. Não tenho mais nenhum parente vivo, somente vizinhos, que durante minha vida, mal falavam comigo e sempre criavam encrenca”, relatava aquele senhor.
Fiquei muito triste em saber de sua história. Dei o máximo de conforto, sendo psicológico e fisicamente, pois sei que não ter ninguém por perto nas horas difíceis é um momento de puro sofrimento. Agora entendia o porque que as pessoas se afastavam daquele senhor. Ninguém tem a capacidade de tirar um minuto de sua vida para dar ouvidos ao próximo; aquele minuto de desabafo, pode valer mil horas para aquele pessoa, que só precisava de uma atenção, para não se sentir mais amarga e fria, pois era essa atenção, que ela mais precisava naquele momento, e muitas das vezes, não ter ninguém para desabafar gera depressão, e depressão pode mudar o caráter da pessoa, que poderia ser uma pessoa feliz, para uma pessoa sem sentimentos. Por isso, sempre de um pouco de atenção às pessoas que você percebe que estão sozinhas.
Sem palavras! Muito bem!
Linda história. Pena que está é uma realidade que realmente ainda acontece, mesmo com aqueles que não tem, com os que tem. Um grande abraço!