Quando um paciente necessita de uma Canulação Venoso Central, é importante que o médico conheça a anatomia fundamental para o sucesso do procedimento que, por ser invasivo, pode causar muitas complicações para o paciente.
Locais de Preferência
Para realizar o acesso venoso central, é preciso considerar algumas variáveis: o estado clínico do paciente, e sua própria habilidade e experiência em realizar esse procedimento. Os locais de maior preferência para o acesso são:
1º: V. Jugular interna direita
2º: V. Jugular interna esquerda
Nas veias jugulares, há menor risco de complicações por pneumotórax, hidrotórax e hemotórax, já que estão mais distantes da pleura. Entretanto, porque pescoço é um local de maior mobilidade, há maior risco de perda do cateter por tração acidental.
Além disso, caso o paciente esteja hipovolêmico, as jugulares tendem a colabar, dificultando o acesso.
3º: Vv. subclávias direita e esquerda
As veias subclávias não colabam se o paciente estiver hipovolêmico, e a região é um local de menor mobilidade por parte do paciente, tornando mais difícil a perda acidental dos cateteres.
Entretanto, é um local de maior risco de complicações que podem ser muito graves para a vida do paciente, principalmente quando o médico tem pouca experiência com o procedimento. Exemplo disso são os riscos de pneumotórax, hidrotórax e hemotórax.
É preciso dar preferência para a subclávia direita, porque o ducto torácico drena para a subclávia esquerda, e sua punção pode causar quilotórax (derramamento da linfa entre os espaços pleurais).
É importante lembrar que o músculo esternocleidomastóideo recobre as veias jugulares, e ele vai ter uma inserção clavicular, e outra esternal.
Escolha do Sítio de Punção
- A escolha deve levar em conta a condição clinica do paciente, a experiência do médico e a indicação do acesso;
- Preferencialmente, utiliza-se o sítio da veia jugular interna (VJI) ou veia subclávia (VSC) por menor chance de contaminação e infecção associada ao cateter quando comparada a veia femoral (VFe); Estudos recentes têm demonstrado que a chance de infecção do cateter está muito mais relacionada aos cuidados diários do que ao sítio propriamente dito; porém, na prática, existe essa preferência que foi descrita;
- Quando se opta por VJI ou VSC, é preferencial a escolha do lado direito, visto que a cúpula pleural é mais baixa, o que reduz a chance de pneumotórax, e devido ao fato do ducto torácico desembocar na VSC esquerda, com menos risco de quilotórax.
A seguinte ordem de opção na escolha do sítio de punção é sugerida, levando-se em conta a facilidade da técnica e o menor risco de complicações:
- Veia Jugular Interna (VJI);
- Veia Subclávia (VSC);
- Veia Jugular Externa (VJE).
Punção da Veia Jugular Interna
Vantagens
- Menor risco de complicações;
- Local mais facilmente compressível e de mais fácil acesso em caso de controle cirúrgico de complicações;
- Pode-se puncionar em discrasias sanguíneas moderadas;
- Mais facilmente canulada durante PCR.
Desvantagens
- Punção difícil em pessoas com pescoço curto e/ou obesos;
- Anatomia da VJI é variável;
- Na hipovolemia, a VJI tende a colabar;
- Local de mobilidade, o que dificulta a manutenção de curativo seco e estéril;
- Evitar em pacientes traqueostomizados, devido ao maior risco de infecção de cateter.
Contraindicações
- Discrasias sanguíneas graves;
- Cirurgia de carótida ipsilateral;
- Tumores cervicais ou intravasculares com invasão para o átrio direito.
Complicações comuns
- Punção acidental da carótida (mais comum);
- Punção acidental da traqueia e lesão do nervo laríngeo recorrente;
- Embolia aérea, trombose, flebite e pneumotórax;
- Lesão cardíaca pelo cateter.
Punção da Veia Subclávia
Vantagens
- Menor risco de complicações;
- Muitas relações anatômicas e fixas;
- Menor chance de perda de acesso;
- Menor risco de infeção do sítio de punção;
- Não colaba no choque hipovolêmico.
Desvantagens
- Necessidade de prática para evitar complicações;
- Difícil compressão, no caso de acidentes arteriais;
- Alto risco de complicações graves.
Contraindicações
- Discrasias sanguíneas de qualquer grau;
- Pacientes com DPOC;
- Trauma clavicular, cirurgias prévias no local ou deformidades;
- Durante PCR.
Complicações comuns
- Punção acidental da artéria subclávia, hematomas e sangramentos;
- Má posição do cateter, ou introdução excessiva;
- Embolia aérea, trombose, flebite e pneumotórax;
- Lesão cardíaca pelo cateter.
Como é localizado?
Para obter acesso nas veias jugulares, é preciso palpar a cabeça esternal, e desenhar uma linha imaginária seguindo o trajeto do músculo.
Depois, é preciso desenhar outra linha imaginária, dessa vez seguindo o trajeto da clavícula.
Em seguida, o desenho de uma bissetriz entre essas duas linhas imaginárias vai ser feita, e o trajeto dessa bissetriz vai indicar o local onde deve ocorrer a punção com a agulha.
Por fim, a realização da punção deve ser feita em um ângulo de 30º graus, com a ponta da agulha apontando para o mamilo ipsilateral.
Referências:
- AMATO, A. C. M. Procedimentos médicos: técnica e tática. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016.
- https://www.auladeanatomia.com/sistemas/383/sistema-venoso
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