Abandono de Plantão na Enfermagem: o que é, riscos, implicações legais e cuidados essenciais

O abandono de plantão é um tema que gera dúvidas, receios e, muitas vezes, interpretações equivocadas dentro da equipe de enfermagem. Embora seja uma situação que idealmente não deveria acontecer, é importante que todo profissional, principalmente o estudante e o recém-formado, compreenda exatamente o que caracteriza o abandono de plantão, quais as suas consequências e como agir diante de situações que tragam risco ao trabalhador ou ao paciente.

Para nós, estudantes e futuros profissionais, é vital entender que o abandono de plantão vai muito além de um problema de recursos humanos; é uma infração grave com consequências no âmbito ético (perante o Conselho), legal (empregador) e criminal (em casos extremos).

Vamos detalhar o que configura essa infração e quais são as responsabilidades que nos impedem de simplesmente “ir embora”.

O que é abandono de plantão?

O abandono de plantão ocorre quando o profissional de enfermagem se ausenta do local de trabalho durante o horário de serviço sem realizar a passagem de plantão, sem substituto imediato e sem autorização, deixando pacientes sob sua responsabilidade totalmente desassistidos.

Portanto, não se trata apenas de sair do setor ou do hospital, mas de deixar de garantir a continuidade da assistência. Essa descontinuidade coloca vidas em risco e caracteriza grave infração ética.

O Que Configura o Abandono de Plantão?

O abandono de plantão ocorre quando um profissional de enfermagem se ausenta do seu local de trabalho sem a devida autorização ou, mais gravemente, sem a passagem de plantão adequada e sem a substituição garantida por outro profissional habilitado.

A Chave é a Continuidade do Cuidado

O plantão de enfermagem é uma atividade contínua. O cuidado não pode parar. Abandonar o posto significa interromper o plano terapêutico e deixar o paciente em situação de vulnerabilidade, sem supervisão direta e sem acesso imediato a intervenções vitais.

A Falha na Passagem de Plantão

Mesmo que o seu horário tenha terminado, a responsabilidade só cessa formalmente após a passagem de plantão, quando você repassa as informações e as responsabilidades para o colega que o substitui.

Situações de Urgência/Emergência

Se o profissional precisar se ausentar por motivo de força maior (saúde pessoal, emergência familiar), ele tem o dever ético de comunicar imediatamente a chefia e aguardar a substituição antes de deixar o posto. A saída sem comunicação e substituição é o que configura o abandono.

O que não é abandono de plantão?

Nem toda saída do setor configura abandono. Situações como:

  • ir ao refeitório em horário permitido,
  • ir ao banheiro,
  • afastar-se temporariamente com supervisão ou cobertura,
  • deixar o plantão após a chegada do profissional substituto,
  • afastamento por risco iminente à saúde do trabalhador (ex.: agressão verbal ou física, exposição grave), mediante registro, não configuram abandono.

A chave é: existia substituto para garantir assistência contínua? Se sim, não há abandono.

Por que o abandono de plantão é tão grave?

A enfermagem é uma profissão que atua diretamente na manutenção da vida. Sair sem garantir cobertura assistencial compromete:

Segurança do paciente

Pacientes deixam de receber cuidados essenciais, medicamentos, monitorização e intervenções imediatas.

Responsabilidade ética

O Código de Ética define que o profissional deve assegurar assistência contínua e de qualidade.

Responsabilidade legal

O abandono pode gerar processos éticos no COREN, responsabilização civil por danos e, em casos graves, enquadramento criminal.

As Consequências: Ética, Legal e Criminal

As penalidades para o abandono de plantão são severas e acumulativas:

  1. Âmbito Ético (COFEN/COREN): O Conselho Federal/Regional de Enfermagem (COFEN/COREN) considera o abandono de plantão uma infração ética grave. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) estabelece o dever de prestar assistência de enfermagem sem discriminação e de zelar pela segurança do paciente. A penalidade pode variar de advertência e censura até a cassação do registro profissional.
  2. Âmbito Legal (Trabalhista): Do ponto de vista do empregador, o abandono de plantão é motivo de justa causa para demissão. O empregador pode alegar que a falta de aviso ou a interrupção súbita do serviço causou prejuízo à instituição ou à segurança.
  3. Âmbito Civil e Criminal: Se o abandono resultar em dano grave ou morte do paciente, o profissional pode ser responsabilizado civil e criminalmente por omissão de socorro ou negligência (por não ter zelado pela vida do paciente).

Principais motivos que levam ao abandono — e por que não justificam a prática

Vários fatores podem levar à exaustão e ao estresse no trabalho, como:

  • Sobrecarga de tarefas;
  • Equipe reduzida;
  • Conflitos com colegas ou gestores;
  • Ambiente hostil;
  • Condições inadequadas de trabalho;
  • Burnout.

Embora esses fatores sejam reais e graves, nenhum deles justifica legalmente o abandono de plantão. O que o profissional deve fazer é registrar formalmente a situação e comunicar a chefia imediata, mantendo sua própria integridade e evitando penalidades.

Como evitar situações que podem ser interpretadas como abandono?

A melhor forma de se proteger eticamente é agir de forma organizada, transparente e documentada.

Realizar sempre a passagem de plantão

Nunca deixe o setor sem comunicar e registrar que o próximo profissional assumiu.

Registrar ocorrências

Situações de risco, falta de materiais, número insuficiente de profissionais e conflitos devem ser documentados em livro de ocorrências, relatórios e notificações internas.

Comunicar a chefia

A comunicação deve ser formal, preferencialmente por escrito, evitando ambiguidades.

Registrar recusas

Se a chefia se recusar a enviar cobertura ou auxiliar, registre o ocorrido e procure o COREN para orientação.

Quando o profissional pode deixar o plantão?

Existem situações excepcionais em que o afastamento é permitido e não configura abandono, desde que documentado:

Situação de risco à integridade física ou psicológica

Quando o profissional é agredido, ameaçado ou exposto a risco iminente, pode se retirar do setor após comunicar formalmente a chefia e registrar o ocorrido.

Substituição formal

Se o próximo profissional chegou e a passagem de plantão foi feita, a saída é regular.

Liberação justificada

A chefia pode liberar o profissional antes do fim do horário. O registro deve constar no sistema, folha de ponto ou livro de plantão.

Cuidados de Enfermagem diante de situações que envolvam saída do plantão

A prevenção do abandono de plantão começa com a organização pessoal e o respeito às normas institucionais e éticas.

  • Comunicação Proativa: Se você souber de antemão que terá um compromisso inadiável ou que não poderá comparecer, comunique a chefia com a máxima antecedência possível.
  • O Protocolo de Saída: Nunca deixe seu posto de trabalho antes que o profissional do próximo turno tenha chegado, recebido as informações completas durante a passagem de plantão e assumido formalmente a responsabilidade pela unidade.
  • Esgotamento Profissional (Burnout): É fundamental que a enfermagem gerencie o estresse e o esgotamento. Se o seu desejo de abandonar o plantão é motivado por cansaço extremo ou sobrecarga, procure a chefia ou o setor de recursos humanos para discutir soluções como redução de jornada ou apoio psicológico. O dever é cuidar, e para cuidar bem, precisamos estar bem.
  • Direito de Recusa: Lembre-se, o Código de Ética também assegura o direito de recusa (art. 51) em situações em que as condições de trabalho ofereçam risco à vida do paciente, à própria vida ou à execução de procedimentos ilegais. Nesses casos, a recusa deve ser formalizada e documentada, e não simplesmente uma saída do local de trabalho.

O abandono de plantão é uma das infrações mais graves dentro da enfermagem, pois compromete diretamente a segurança do paciente e afeta a credibilidade profissional. No entanto, compreender corretamente o que caracteriza essa conduta, registrar situações de risco e manter comunicação adequada são passos essenciais para evitar interpretações equivocadas e proteger o exercício ético da profissão.

Garantir assistência contínua é responsabilidade de toda a equipe, e o estudante que compreende isso desde cedo fortalece sua formação e sua prática futura.

Referências:

  1. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução COFEN nº 564/2017 (Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem). Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-5642017_59145.html
  2. BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho – CLT). Artigo 482 (Justa Causa). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
  3. BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN nº 564/2017: Aprova o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. 2017. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017_59145.html.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Segurança do Paciente: Protocolos Básicos. Brasília, 2013. Disponível em: https://www.gov.br/saude.
  5. COFEN – Conselho Federal de Enfermagem. Pareceres e orientações éticas sobre abandono de plantão. Disponível em: https://www.cofen.gov.br.
  6. SILVA, M.; OLIVEIRA, R. Aspectos éticos e legais na prática da enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br.

Dominando as 5 Etapas da SAEP (Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória)

A Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP) é uma metodologia essencial para garantir segurança, qualidade e continuidade do cuidado ao paciente cirúrgico. Por meio dela, o enfermeiro organiza e direciona suas ações com base em um processo sistemático e individualizado, assegurando que cada etapa do cuidado — do pré ao pós-operatório — seja planejada e executada de forma criteriosa.

A SAEP é composta por cinco etapas fundamentais que se interligam e formam um ciclo contínuo de assistência: visita pré-operatória, planejamento da assistência, implementação, avaliação e reformulação do plano de cuidados. Cada uma dessas fases tem papel essencial na prevenção de complicações, no apoio à equipe cirúrgica e na recuperação do paciente.

A SAEP: Um Processo Contínuo e Dinâmico

A SAEP segue a lógica do Processo de Enfermagem (PE), mas adaptada às exigências rápidas e críticas do ambiente cirúrgico.

Visita Pré-Operatória da Enfermagem (A Coleta de Dados e o Primeiro Vínculo)

Esta é a fase inicial, de avaliação e diagnóstico. É o momento de ouro para o enfermeiro construir o primeiro vínculo com o paciente, que está ansioso e vulnerável.

  • O Que Fazemos: Coletamos dados (histórico, medicações de uso contínuo, alergias, risco de queda, condição da pele, estado emocional) e realizamos o exame físico.
  • Nosso Foco: Identificar Diagnósticos de Enfermagem e riscos cirúrgicos específicos. Por exemplo: risco de hipotermia, risco de infecção, ansiedade e risco de lesão por posicionamento. Também avaliamos a compreensão do paciente sobre o procedimento (o enfermeiro não explica a cirurgia, mas avalia o entendimento do paciente).
  • Cuidados Essenciais: Orientar sobre o jejum, remoção de joias/próteses e, principalmente, reduzir a ansiedade através da informação e escuta ativa.

Planejamento da Assistência Operatória (O Mapa de Ação)

Com os diagnósticos definidos, o enfermeiro traça o plano de cuidados, estabelecendo as metas de segurança e as intervenções para o período dentro da sala de cirurgia e no pós-operatório imediato.

  • O Que Fazemos: Definimos as intervenções específicas para cada risco.
    • Exemplo: Para o diagnóstico “Risco de lesão por posicionamento”, a meta é “Manter a integridade da pele e dos nervos durante o procedimento”. A intervenção é: “Garantir o uso de coxins e suportes adequados, evitar pressão em proeminências ósseas e checar alinhamento corporal.”
  • Nosso Foco: Garantir que o plano seja individualizado. O planejamento envolve a escolha de equipamentos, a organização da sala e a alocação de recursos específicos para as necessidades daquele paciente.

Implementação da Assistência (A Execução do Plano)

Esta é a fase de ação, que ocorre no período intraoperatório e pós-operatório imediato.

  • O Que Fazemos: Colocamos o plano em prática, atuando em três frentes:
    • Circulante da Sala: Garantindo a segurança do ambiente, a contagem de compressas/instrumentos e o monitoramento da assepsia e da temperatura.
    • Instrumentador (Onde aplicável): Garantindo o manejo correto dos materiais estéreis.
    • Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA): Aplicando o plano de cuidados pós-operatórios (controle da dor, monitoramento de sinais vitais, avaliação de sangramento, escala de Aldrete e Kroulik).
  • Cuidados Essenciais: Manter a comunicação constante com a equipe cirúrgica e anestésica e registrar todas as ações e intercorrências.

Avaliação da Assistência (O Feedback Crítico)

Esta etapa ocorre logo após a implementação e é crucial para medir o sucesso das intervenções.

  • O Que Fazemos: Comparamos os resultados obtidos com as metas que foram estabelecidas na Etapa 2.
    • Exemplo: A meta de “Manter a integridade da pele” foi atingida? O paciente desenvolveu alguma lesão ou eritema? O nível de dor na SRPA foi mantido abaixo do esperado?
  • Nosso Foco: Documentar de forma clara se os objetivos foram alcançados, parcialmente alcançados ou não alcançados. Esta avaliação é o que fecha o ciclo de responsabilidade e segurança.

Reformulação da Assistência a Ser Planejada (A Melhoria Contínua)

O processo não termina na alta da SRPA. A reformulação é o princípio da melhoria contínua.

  • O Que Fazemos: Se as metas não foram atingidas (por exemplo, o paciente apresentou hipotermia ou dor intensa), a equipe deve analisar o porquê e reformular o plano.
  • Exemplo: Se a hipotermia ocorreu, a reformulação será: “Aumentar o uso de cobertores térmicos e aquecer soluções intravenosas rotineiramente para todos os pacientes com IMC < 18”.
  • Nosso Foco: Garantir que a informação (o aprendizado) seja transferida para o próximo plantão e para os cuidados pós-operatórios na unidade de internação.

Importância da SAEP para a segurança do paciente

A SAEP é uma ferramenta indispensável para promover a segurança do paciente cirúrgico, assegurando uma assistência sistematizada, humanizada e livre de improvisações.
Além de padronizar o cuidado, ela fortalece a autonomia do enfermeiro e evidencia a importância da enfermagem perioperatória dentro da equipe multiprofissional.

Por meio da SAEP, o enfermeiro atua não apenas na execução técnica, mas também como líder, educador e defensor da segurança e bem-estar do paciente.

Referências:

  1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMEIROS DE SALA DE OPERAÇÃO, RECUPERAÇÃO PÓS-ANESTÉSICA E CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO (SOBECC). Práticas Recomendadas. 10. ed. São Paulo: SOBECC, 2023. (Consultar os capítulos sobre Processo de Enfermagem Perioperatório). Disponível em: https://www.sobecc.org.br/
  2. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução COFEN nº 358/2009: Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
  3. POTTER, P. A.; PERRY, A. G. Fundamentos de Enfermagem. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.
  4. SILVA, M. C. M.; OLIVEIRA, R. A. Sistematização da assistência de enfermagem no centro cirúrgico: revisão integrativa. Revista SOBECC, v. 26, n. 3, 2021. Disponível em: https://revistasobecc.emnuvens.com.br/sobecc

Teoria de Ida Jean Orlando: Processo Deliberativo de Enfermagem

No meio de tantos nomes, conceitos e teorias que aprendemos na graduação, algumas se destacam por oferecerem uma perspectiva diferente e muito prática sobre o nosso fazer diário.

Uma dessas figuras é Ida Jean Orlando, uma enfermeira e pesquisadora que nos deixou um legado importantíssimo sobre como a interação entre enfermeiro e paciente pode ser a chave para um cuidado verdadeiramente eficaz.

Sua teoria, conhecida como Teoria do Processo Deliberativo de Enfermagem, pode parecer só mais um nome complicado à primeira vista, mas garanto que, ao entendê-la, você vai perceber o quanto ela faz sentido no “aqui e agora” do cuidado. A proposta de Orlando não é criar um plano de cuidados de longo prazo cheio de etapas complexas, mas sim focar naquilo que acontece imediatamente quando você e seu paciente estão frente a frente. Vamos desvendar juntos como funciona esse processo?

O Ponto Central: A Necessidade Imediata do Paciente

Antes de entrarmos nas etapas, é fundamental entender o coração da teoria de Orlando: tudo gira em torno de identificar e atender a necessidade imediata de ajuda do paciente.

Ela observou que muitas vezes o comportamento do paciente (o que ele diz, o que ele faz, sua expressão facial, seu tom de voz) é um sinal de algum tipo de angústia ou necessidade não atendida. O grande objetivo do enfermeiro, segundo Orlando, é descobrir qual é essa necessidade e agir de forma deliberada (ou seja, pensada, intencional) para aliviá-la.

Desmembrando o Processo Deliberativo: As Etapas na Visão de Orlando

Embora possamos fazer um paralelo com as etapas clássicas do Processo de Enfermagem (SAE), é importante ver como Orlando as interpreta de maneira única, focada na interação dinâmica.

  1. O Início de Tudo: Percepção do Comportamento e Reação da Enfermeira (Nosso “Levantamento de Dados” Imediato)

Tudo começa com a sua percepção. Você, enfermeiro(a), observa o paciente. O que ele está fazendo? O que ele está dizendo? Como ele está agindo? Esse é o comportamento do paciente. Pode ser algo verbal (“Estou com dor”) ou não verbal (um rosto contorcido, agitação na cama, choro silencioso).

Ao perceber esse comportamento, algo acontece dentro de você:

  • Percepção: O que seus sentidos captaram (viu, ouviu).
  • Pensamento: O que você interpreta ou associa àquela percepção (“Ele parece desconfortável”, “Será que é dor ou medo?”).
  • Sentimento: Como aquilo te afeta emocionalmente (preocupação, empatia, talvez até frustração).

Orlando chama essa resposta interna (percepção + pensamento + sentimento) de reação da enfermeira. Atenção: essa reação é automática e sua, não necessariamente a realidade do paciente. E é aqui que mora o perigo das suposições e o diferencial da teoria dela. Esse conjunto (comportamento do paciente + reação inicial da enfermeira) seria o equivalente ao nosso levantamento de dados, mas focado no momento presente.

  1. O Pulo do Gato: A Validação (O “Diagnóstico” da Necessidade Real)

Aqui está a etapa mais crucial e distintiva da teoria de Orlando: a validação. Antes de sair fazendo qualquer coisa baseada apenas na sua reação interna, Orlando diz que você precisa checar com o paciente se a sua percepção ou pensamento está correto.

Como fazer isso? Compartilhando sua percepção ou pensamento de forma exploratória. Por exemplo:

  • Em vez de assumir que o paciente agitado está com dor e já administrar um analgésico, você valida: “Percebi que você está se mexendo bastante na cama. Tem alguma coisa te incomodando agora?”.
  • Ou se você pensou que o choro era de tristeza: “Notei que você está chorando. Quer conversar sobre o que está sentindo?”.

Essa validação serve para confirmar (ou corrigir) sua interpretação e identificar a real necessidade imediata do paciente naquele momento. É como se fosse o “diagnóstico” da situação presente, feito junto com o paciente. É descobrir o que realmente está causando a angústia ou o comportamento observado. Sem essa etapa, corremos o risco de realizar ações que não ajudam em nada ou até pioram a situação, pois são baseadas em nossas suposições.

  1. A Ação Deliberada: Planejando e Implementando a Ajuda Certa

Uma vez que a necessidade foi validada junto ao paciente, aí sim entra a ação da enfermagem. Mas não qualquer ação. Orlando enfatiza que a ação deve ser deliberativa. Isso significa que ela deve ser:

  • Intencional: Pensada especificamente para atender àquela necessidade que foi confirmada.
  • Útil: Que realmente ajude a aliviar a angústia ou resolver o problema imediato.
  • Validada: Idealmente, a própria ação proposta também pode ser verificada com o paciente (“Se eu te ajudar a mudar de posição, você acha que aliviaria esse desconforto?”).

Essa ação deliberada é a junção do planejamento (decidir o que fazer com base na necessidade validada) e da implementação (realizar a ação). Na prática de Orlando, essas duas fases acontecem de forma muito integrada e rápida, logo após a validação. O foco não é em rotinas pré-estabelecidas, mas na resposta personalizada à necessidade imediata identificada.

  1. Fechando o Ciclo (ou Recomeçando): A Avaliação da Resposta

E como saber se a sua ação deliberada funcionou? Observando novamente o paciente. A avaliação, na teoria de Orlando, é verificar se a ação da enfermagem atendeu à necessidade original e aliviou a angústia.

Você vai observar:

  • O comportamento do paciente mudou?
  • Ele expressa alívio verbalmente?
  • Sua expressão facial está mais tranquila?
  • A necessidade que ele apresentou foi resolvida?

Se a resposta for sim, ótimo! O processo imediato foi eficaz. Se a resposta for não, ou se surgir um novo comportamento indicando outra necessidade, o ciclo recomeça: nova percepção, nova reação interna, nova validação, nova ação deliberada… e assim por diante. É um processo dinâmico e contínuo.

Por Que a Teoria de Orlando Ainda é Tão Relevante?

Em um mundo cada vez mais tecnológico e, por vezes, impessoal na saúde, a Teoria do Processo Deliberativo de Ida Orlando nos resgata para a essência da enfermagem: a relação terapêutica e a comunicação eficaz. Ela nos lembra constantemente:

  • Não assuma, pergunte.
  • Ouça ativamente o seu paciente.
  • Valide suas percepções antes de agir.
  • Foque na necessidade real e imediata.
  • Suas ações devem ser pensadas e intencionais para aquela pessoa, naquele momento.

Entender e tentar aplicar o processo deliberativo no dia a dia pode transformar a qualidade do seu cuidado, tornando-o mais centrado no paciente, mais eficaz e, sinceramente, mais gratificante para ambos, paciente e enfermeiro. É um convite a estar verdadeiramente presente na interação.

Referências:

  1. GEORGE, J. B. et al. Teorias de enfermagem: os fundamentos para a prática profissional. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
  2. ORLANDO, I. J. The dynamic nurse-patient relationship: function, process and principles. New York: G.P. Putnam’s Sons, 1961. [Reeditado pela National League for Nursing Press – NLN Press, 1990. ISBN 978-0887374897].
  3. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. 

A sequência de uma Anotação de Enfermagem

A anotação de enfermagem é um registro essencial no prontuário do paciente. Ela serve não apenas para documentar a assistência prestada, mas também para garantir a continuidade do cuidado e a segurança do paciente. Além disso, é um instrumento legal e ético que pode ser utilizado como prova documental das ações da equipe de enfermagem.

Para quem está começando a vida acadêmica ou profissional na enfermagem, entender como estruturar uma boa anotação pode parecer desafiador. Pensando nisso, elaboramos este guia completo com a sequência lógica de uma anotação de enfermagem, com exemplos práticos, explicações detalhadas e cuidados que não podem faltar.

Por Que Anotar Tão Detalhadamente? A Importância Além do Óbvio

Você pode se perguntar: “Preciso anotar tudo isso?”. E a resposta é um sonoro sim! A anotação de enfermagem tem múltiplas funções:

  • Comunicação Efetiva: É o principal meio de comunicação entre a equipe de saúde sobre o paciente. Imagine a passagem de plantão: uma boa anotação permite que o próximo colega compreenda rapidamente o estado do paciente e as intervenções realizadas.
  • Continuidade do Cuidado: Garante que o cuidado seja sequencial e lógico, sem repetições desnecessárias ou omissões importantes.
  • Base para o Planejamento: Ajuda a equipe a planejar os próximos passos, adaptar o plano de cuidados e avaliar a eficácia das intervenções.
  • Documento Legal: Serve como prova legal do cuidado prestado, essencial em caso de auditorias ou processos judiciais.
  • Pesquisa e Ensino: Contribui para a base de dados para pesquisas e para o ensino de futuros profissionais.

Agora que entendemos a importância, vamos à sequência que pode te ajudar a organizar suas anotações de forma impecável.

Entenda a Sequência

1. Apresenta: condições de entrada, estado geral e físicas observadas

Nesta parte, o profissional descreve como o paciente se apresenta no momento do atendimento. É importante relatar sinais observáveis, como nível de consciência, coloração da pele, presença de lesões, estado nutricional, entre outros.

  • Condições de entrada (se for admissão ou pós-procedimento): Como o paciente chegou ou como ele está após um evento.
    • Exemplo: “Paciente admitido no leito 10, consciente e orientado, pós-operatório imediato de apendicectomia.”
  • Estado geral: Uma avaliação rápida e abrangente do paciente.
    • Exemplo: “Paciente em bom estado geral, lúcido e comunicativo.” ou “Paciente em estado geral regular, sonolento e com queixa de dor.”
  • Condições físicas apresentadas (ao início do plantão ou momento da anotação): Observações objetivas sobre o corpo do paciente.
    • Exemplo: “Pele e mucosas coradas, hidratadas e quentes ao toque. Perfusão periférica de 3 segundos.” ou “Pele pálida e úmida, mucosas descoradas. Presença de cianose em extremidades.”

Outro exemplo prático:
“Paciente admitido a esta unidade de internação, em leito 10, lúcido, orientado, com coloração da pele pálida +/4, hidratado, afebril, acamado, com lesão por pressão estágio II em região sacral.”

Esse tipo de descrição ajuda a equipe a compreender o estado basal do paciente, o que pode orientar condutas e decisões clínicas posteriores.

2. Mantém: dispositivos e condições assistenciais em uso

Aqui são descritos todos os dispositivos que o paciente está utilizando, como cateteres, sondas, drenos, oxigenoterapia, acesso venoso, entre outros. Também é possível relatar se o paciente mantém posicionamento adequado, dieta prescrita, ou qualquer outro aspecto relevante do cuidado.

Dispositivos: Cateteres, sondas, drenos, acessos venosos, etc. Descreva o tipo, local e as condições de cada um.

  • Exemplo: “Mantendo acesso venoso periférico em dorso da mão direita, sem sinais flogísticos, com SF 0,9% 500 mL correndo em gotejamento rápido.”
  • Exemplo: “Mantendo sonda vesical de demora com débito urinário claro, em sistema fechado.”
  • Exemplo: “Mantendo dreno de tórax em hemitórax esquerdo, com débito serossanguinolento em selo d’água sem oscilação.”
  • Exemplo: “Mantendo sonda nasoenteral em narina esquerda, fixada, sem sinais de irritação.”

Outro exemplo prático:
“Mantém cateter nasal de O₂ a 2L/min, acesso venoso periférico em MSD com jelco 22G funcionante, SNE posicionada, com dieta enteral em gotejamento contínuo sem intercorrências.”

Esse registro mostra o suporte necessário para o paciente e facilita a vigilância desses dispositivos.

3. Refere: queixas e percepções relatadas pelo paciente

Nessa parte, são descritas as queixas espontâneas do paciente ou aquilo que ele verbaliza. É essencial utilizar aspas para destacar as falas do paciente, assegurando a fidelidade da informação.

Queixas, sensações, percepções: O que o paciente verbaliza.

  • Exemplo: “Paciente refere dor abdominal em quadrante inferior direito, de intensidade 7/10, em facada.”
  • Exemplo: “Paciente refere náuseas e tontura ao se levantar.”
  • Exemplo: “Paciente refere que está com sede e com dificuldade para dormir.”

Outro exemplo prático:
“Refere dor abdominal difusa, tipo cólica, intensidade 7 em escala de 0 a 10, iniciada há cerca de 2 horas. Refere também náuseas e ausência de evacuação há 2 dias.”

Esse tipo de anotação contribui para a construção diagnóstica e o planejamento das ações terapêuticas.

4.Procedimentos realizados: todas as ações executadas

Todos os procedimentos de enfermagem realizados devem ser registrados, com clareza, horário, técnica utilizada, materiais empregados e resposta do paciente, se aplicável.

  • Medicações administradas: Nome, dose, via, horário.
    • Exemplo: “Administrado dipirona 500 mg EV conforme prescrição, às 14h.”
  • Aferição de sinais vitais: Valores e horário.
    • Exemplo: “Sinais vitais aferidos às 15h: PA 120×80 mmHg, FC 88 bpm, FR 18 ipm, Tax 37,2°C, SatO2 96% em ar ambiente.”
  • Higiene e conforto: Banho, troca de roupa, mudança de decúbito.
    • Exemplo: “Realizado banho no leito com auxílio, troca de roupa e mudança de decúbito para decúbito lateral esquerdo.”
  • Curativos: Tipo de curativo, local, condições da ferida.
    • Exemplo: “Realizado curativo em ferida operatória abdominal com SF 0,9% e gaze estéril; ferida limpa, sem sinais de infecção, com pequena quantidade de exsudato seroso.”
  • Coletas de exames: Tipo de exame e horário.
    • Exemplo: “Coletada amostra de sangue para hemograma e função renal às 16h, encaminhada ao laboratório.”
  • Orientações fornecidas: O que você orientou o paciente ou familiar.
    • Exemplo: “Orientado paciente e familiar sobre a importância da hidratação e movimentação precoce no pós-operatório.”

Outro exemplo prático:
“Realizada troca de curativo em ferida sacral conforme prescrição médica e protocolo institucional, utilizando técnica asséptica, solução fisiológica 0,9% e cobertura de hidrocolóide. Ferida apresenta bordas regulares, presença de exsudato amarelado em pequena quantidade. Paciente colaborativo durante o procedimento.”

Isso demonstra a execução da assistência e oferece rastreabilidade para auditorias e revisões clínicas.

5. Intercorrências: descrição do evento, sinais e condutas

Sempre que houver algum evento inesperado, como quedas, reações adversas, agravamento do quadro clínico, entre outros, é obrigatório fazer o registro completo com data, hora, sinais/sintomas, condutas adotadas e equipe notificada.

  • Descrição do fato: O que aconteceu.
    • Exemplo: “Às 17h, paciente apresentou episódio de vômito em jato…”
  • Sinais e sintomas observados: As manifestações clínicas da intercorrência.
    • Exemplo: “… com aproximadamente 200 mL de conteúdo alimentar, seguido de palidez e sudorese fria.”
  • Condutas tomadas: As ações que você tomou em resposta à intercorrência.
    • Exemplo: “Oferecido cuba rim, lateralizado decúbito para evitar broncoaspiração, aferido SSVV (PA 90×60 mmHg, FC 110 bpm). Comunicado médico Dr. [nome do médico], que prescreveu antiemético e reavaliação em 30 min. Administrado Ondansetrona 4 mg EV conforme prescrição, às 17h15min.”
  • Avaliação da resposta: Como o paciente reagiu às suas condutas.
    • Exemplo: “Paciente com melhora do quadro, sem novos episódios de vômito até o momento. Mantido em observação.”

Outro exemplo prático:
“Às 15h30, paciente apresentou queda da oximetria para 85%, taquipneia e queixa de dispneia. Realizada aspiração de secreção via cateter nasal, coletado gasometria arterial, notificado médico plantonista. Iniciado O₂ a 3L/min. Saturação aumentou para 92% após intervenção. Permanece em monitoramento.”

A anotação precisa ser objetiva, sem julgamentos ou interpretações subjetivas, focando em fatos.

Cuidados importantes ao anotar:

  • Use linguagem técnica, clara e objetiva;
  • Evite abreviações não padronizadas;
  • Sempre identifique-se com nome completo e registro no COREN;
  • Registre o horário com precisão;
  • Não deixe espaços em branco;
  • Nunca rasure ou utilize corretivo;
  • Faça a anotação imediatamente após a ação realizada.

A Anotação Completa: Um Exemplo Integrado

Juntando tudo, uma anotação de enfermagem poderia ficar assim:

14h00 – Paciente admitido no leito 10, consciente e orientado, pós-operatório imediato de apendicectomia. Apresenta-se em bom estado geral, lúcido e comunicativo. Pele e mucosas coradas, hidratadas e quentes ao toque. Perfusão periférica de 3 segundos. Mantém acesso venoso periférico em dorso da mão direita, sem sinais flogísticos, com SF 0,9% 500 mL correndo em gotejamento rápido. Mantém sonda vesical de demora com débito urinário claro, em sistema fechado. Paciente refere dor abdominal em quadrante inferior direito, de intensidade 7/10, em facada. Administrado dipirona 500 mg EV conforme prescrição. Sinais vitais aferidos: PA 120×80 mmHg, FC 88 bpm, FR 18 ipm, Tax 37,2°C, SatO2 96% em ar ambiente. Orientado paciente e familiar sobre a importância da hidratação e movimentação precoce no pós-operatório.

17h00 – Paciente apresentou episódio de vômito em jato, com aproximadamente 200 mL de conteúdo alimentar, seguido de palidez e sudorese fria. Oferecido cuba rim, lateralizado decúbito para evitar broncoaspiração, aferido SSVV: PA 90×60 mmHg, FC 110 bpm. Comunicado médico Dr. [nome do médico], que prescreveu antiemético e reavaliação em 30 min. Administrado Ondansetrona 4 mg EV conforme prescrição, às 17h15min. Paciente com melhora do quadro, sem novos episódios de vômito até o momento. Mantido em observação.

20h00 – Realizado banho no leito com auxílio, troca de roupa e mudança de decúbito para decúbito lateral esquerdo. Realizado curativo em ferida operatória abdominal com SF 0,9% e gaze estéril; ferida limpa, sem sinais de infecção, com pequena quantidade de exsudato seroso. Paciente aceita dieta líquida em pequena quantidade, sem queixas. Mantido confortável.”

A Ponta do Lápis que Salva Vidas: Nossos Cuidados na Anotação

Anotar é um ato de cuidado. Lembre-se sempre de:

  • Ser Objetivo e Claro: Use termos técnicos, mas evite gírias. Seja direto e evite ambiguidades.
  • Ser Conciso: Vá direto ao ponto, mas sem omitir informações importantes.
  • Ser Cronológico: Anote os eventos na ordem em que aconteceram, com horários precisos.
  • Ser Legível: Sua letra precisa ser clara (ou a digitação, se for eletrônico).
  • Assinar e Carimbar: Sempre assine e carimbe suas anotações com seu nome completo, categoria profissional e número de registro no conselho.
  • Nunca Rasurar: Em caso de erro, passe um traço simples sobre o que errou, escreva “erro” e anote corretamente ao lado, datando e assinando. Nunca use corretivo.
  • Anotar o Que Você Viu e Fez: Baseie suas anotações em observações diretas e intervenções realizadas. Evite interpretações pessoais ou julgamentos.

Dominar a arte da anotação de enfermagem é um passo crucial para sua carreira. Ela é a prova do seu profissionalismo, o elo entre a equipe e a garantia de um cuidado de excelência para o paciente. Pratique, peça feedback e faça da anotação detalhada uma parte inseparável da sua rotina de enfermagem.

Referências:

  1. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução COFEN nº 358/2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Brasília, DF: COFEN, 2009. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html.
  2. HERMIDA, V. R. et al. Anotações de enfermagem: importância para a qualidade da assistência e segurança do paciente. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 65, n. 4, p. 627-632, jul./ago. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/36t9V4Y5L9c8B5c9Y6G6p8w/?lang=pt
  3. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. (Consultar capítulo sobre documentação em enfermagem).

Assuntos que caem em processo seletivo de enfermagem

Se você está na graduação ou recém-formado, já deve ter percebido que a jornada rumo àquela vaga tão sonhada, seja no serviço público ou em instituições privadas de renome, passa por um desafio comum: o processo seletivo ou concurso público. A ansiedade bate, as dúvidas surgem: “Por onde começar a estudar?”, “O que é mais importante?”.

Sabemos que a quantidade de conteúdo da graduação é imensa, e tentar revisar tudo pode ser desesperador. Mas calma! A boa notícia é que, apesar da variedade de editais, existe um núcleo de conhecimentos que aparece com muita frequência nessas provas.

A ideia deste post é justamente te dar um norte, detalhando as áreas que mais costumam ser cobradas, para que você possa direcionar seus estudos de forma mais estratégica e eficiente. Vamos mergulhar nesses temas?

A Espinha Dorsal: Legislação do SUS

Pode apostar: entender o Sistema Único de Saúde (SUS) não é apenas uma necessidade para a prática profissional, é fundamental para passar em qualquer processo seletivo de enfermagem no Brasil. Não tem como fugir! Os examinadores querem saber se você compreende a estrutura, os princípios e as políticas que regem a saúde pública no país.

O que focar aqui?

  • Leis Orgânicas da Saúde: A Lei nº 8.080/90 (dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes) e a Lei nº 8.142/90 (dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde) são leitura obrigatória. Entenda os princípios doutrinários (Universalidade, Equidade, Integralidade) e organizacionais (Regionalização, Hierarquização, Descentralização, Participação Social).
  • Políticas Nacionais: Dê atenção especial à Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), que estrutura a porta de entrada do SUS, e à Política Nacional de Humanização (PNH), que busca qualificar as práticas de saúde. Outras políticas, como a de Saúde Mental, Saúde da Mulher, Saúde do Homem, Saúde do Idoso, também costumam aparecer, dependendo do foco do edital.
  • Redes de Atenção à Saúde (RAS): Compreender como os serviços de saúde se articulam em redes (como a Rede Cegonha, Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, Rede de Urgência e Emergência – RUE) é crucial.

Não se trata apenas de decorar artigos, mas de compreender a filosofia por trás do SUS e como ele se aplica no dia a dia dos serviços.

Fundamentos de Enfermagem e Ética Profissional: A Base de Tudo

Pode parecer básico, mas os fundamentos da enfermagem são constantemente revisitados nas provas. Aqui, entram os conceitos que alicerçam toda a prática profissional, além das responsabilidades éticas e legais.

Pontos importantes:

  • História da Enfermagem: Conhecer um pouco sobre as pioneiras (Florence Nightingale, Anna Nery) e a evolução da profissão no Brasil e no mundo pode ser cobrado.
  • Teorias de Enfermagem: Entender as principais teorias (Wanda Horta, Dorothea Orem, Callista Roy, etc.) e como elas embasam o cuidado.
  • Processo de Enfermagem (SAE): A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e suas etapas (Coleta de Dados, Diagnóstico, Planejamento, Implementação e Avaliação) são temas quentes. É preciso entender a lógica e a aplicação.
  • Necessidades Humanas Básicas: A teoria de Maslow ou Wanda Horta sobre as necessidades humanas fundamentais.
  • Administração de Medicamentos: Vias de administração, cálculos de medicação (gotejamento, dosagem), diluição, interações medicamentosas e, principalmente, os “certos” da administração segura.
  • Sinais Vitais: Técnica de aferição, valores de referência para diferentes faixas etárias e interpretação das alterações.
  • Biossegurança: Precauções padrão e baseadas na transmissão, descarte de resíduos de serviços de saúde (RSS), limpeza e desinfecção de materiais.
  • Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE): É imprescindível conhecer os direitos, deveres e proibições. Entender as infrações e penalidades previstas na Resolução COFEN nº 564/2017 (ou a mais atual vigente).
  • Lei do Exercício Profissional (Lei nº 7.498/86 e Decreto nº 94.406/87): Saber as competências de cada membro da equipe de enfermagem (Enfermeiro, Técnico e Auxiliar).

Essa base sólida é o que permite ao profissional atuar com segurança e responsabilidade.

Saúde Coletiva e Epidemiologia: Olhar Ampliado sobre a Saúde

A enfermagem não cuida apenas do indivíduo, mas também da comunidade. Por isso, conhecimentos em saúde coletiva e epidemiologia são tão valorizados.

O que estudar:

  • Conceitos Epidemiológicos: Incidência, prevalência, morbidade, mortalidade, letalidade, endemia, epidemia, pandemia, surto. Entender como esses indicadores são usados para monitorar a saúde da população.
  • Vigilância em Saúde: Compreender os componentes da vigilância (epidemiológica, sanitária, ambiental, saúde do trabalhador) e o fluxo de notificação de doenças e agravos.
  • Doenças Transmissíveis: Foco nas doenças de maior relevância epidemiológica no Brasil (Tuberculose, Hanseníase, HIV/AIDS, Hepatites Virais, Dengue, Zika, Chikungunya, Sífilis, Doenças Sexualmente Transmissíveis em geral). É importante conhecer formas de transmissão, prevenção, diagnóstico e tratamento (linhas gerais do manejo clínico e de saúde pública).
  • Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e Diabetes Mellitus (DM) são as campeãs, mas outras como câncer e doenças respiratórias crônicas também podem aparecer. Foco nos fatores de risco, prevenção e rastreamento.
  • Programa Nacional de Imunizações (PNI): O calendário nacional de vacinação para todas as faixas etárias (criança, adolescente, adulto, gestante, idoso) é um tópico frequente. Conhecer os tipos de vacina, indicações, contraindicações, eventos adversos e conservação (rede de frio).

Aqui, o foco é entender os problemas de saúde em nível populacional e as estratégias para enfrentá-los.

Áreas Clínicas Essenciais: O Coração da Assistência

Embora o edital possa direcionar para uma área específica (como UTI, Centro Cirúrgico, etc.), alguns conhecimentos clínicos gerais são quase sempre cobrados, pois formam a base da assistência em diversos cenários.

  • Enfermagem Médico-Cirúrgica: Aborda o cuidado a pacientes adultos com afecções clínicas e cirúrgicas. Os sistemas mais comuns são:
    • Cardiovascular: Insuficiência Cardíaca, Infarto Agudo do Miocárdio, Hipertensão Arterial.
    • Respiratório: Pneumonia, DPOC, Asma.
    • Gastrointestinal: Úlceras, Doença Inflamatória Intestinal, Obstrução Intestinal.
    • Renal: Insuficiência Renal Aguda e Crônica, Litíase Renal.
    • Endócrino: Diabetes Mellitus e suas complicações, distúrbios da tireoide.
    • Neurológico: Acidente Vascular Cerebral (AVC), Traumatismo Cranioencefálico (TCE).
    • Cuidados pré, intra e pós-operatórios gerais.
    • Manejo de feridas e coberturas.
  • Saúde da Mulher: Assistência pré-natal (consultas, exames, orientações), parto e nascimento (tipos de parto, períodos clínicos, assistência), puerpério (cuidados com a mãe e o recém-nascido), prevenção de câncer de colo de útero e mama, planejamento familiar.
  • Saúde da Criança e do Adolescente: Crescimento e desenvolvimento infantil, aleitamento materno, calendário vacinal (reforçando o PNI), principais doenças da infância (diarreia, doenças respiratórias), estatuto da criança e do adolescente (ECA) no que tange à saúde.
  • Urgência e Emergência: Conceitos de suporte básico (BLS) e avançado (ACLS) de vida (foco nos princípios e sequências), atendimento inicial ao politraumatizado (ABCDE), classificação de risco em pronto-socorro (Protocolo de Manchester, por exemplo), principais emergências clínicas (IAM, AVC, Crise Hipertensiva, Crise Convulsiva, Choques).
  • Saúde Mental: Reforma psiquiátrica e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), principais transtornos mentais (depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno bipolar), abordagens terapêuticas e comunicação terapêutica, psicofármacos (principais classes e efeitos).

Lembre-se: o foco aqui é o conhecimento sobre as condições, os princípios do cuidado e o papel da enfermagem, não necessariamente a execução detalhada de cada procedimento (embora princípios de técnicas seguras possam ser cobrados).

Administração e Gerenciamento em Enfermagem

O enfermeiro também é um gestor do cuidado e da equipe. Conhecimentos sobre administração são essenciais, especialmente para cargos que envolvem liderança.

Tópicos relevantes:

  • Liderança e Supervisão: Estilos de liderança, comunicação eficaz, trabalho em equipe, gerenciamento de conflitos.
  • Dimensionamento de Pessoal: Cálculos e fatores considerados para adequar a equipe às necessidades assistenciais (Resolução COFEN sobre o tema).
  • Gerenciamento de Recursos Materiais: Previsão, provisão, organização, controle de estoque, materiais permanentes e de consumo.
  • Qualidade e Segurança do Paciente: Conceitos de qualidade, avaliação de serviços, indicadores de saúde, as Metas Internacionais de Segurança do Paciente.
  • Auditoria em Enfermagem: Tipos de auditoria, finalidades, instrumentos.

Não se Esqueça: Português e Raciocínio Lógico

Muitos concursos, principalmente os de órgãos públicos maiores, incluem questões de Língua Portuguesa (interpretação de texto, gramática, concordância, regência) e, por vezes, Raciocínio Lógico-Matemático. Não subestime essas disciplinas, pois elas podem fazer a diferença na sua classificação final!

Como Estudar de Forma Eficaz?

  • Organize-se: Crie um cronograma de estudos realista, distribuindo os conteúdos ao longo do tempo.
  • Priorize: Foque nos temas de maior incidência listados aqui e nos conteúdos específicos do edital da sua prova alvo.
  • Varie os Métodos: Use livros, artigos, videoaulas, resumos e mapas mentais.
  • Pratique Muito: Resolva o máximo de questões de provas anteriores que conseguir. Isso te familiariza com o estilo da banca e fixa o conteúdo.
  • Entenda, Não Decore: Busque compreender a lógica por trás dos conceitos, especialmente em SUS e epidemiologia.
  • Mantenha-se Atualizado: Acompanhe novas resoluções do COFEN/CORENs, portarias do Ministério da Saúde e atualizações de protocolos.

A preparação para um processo seletivo é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Exige disciplina, constância e estratégia. Conhecer os temas mais cobrados é o primeiro passo para otimizar seu tempo e aumentar suas chances de sucesso. Acredite no seu potencial e bons estudos!

Faça nossas simulações e pratique hoje mesmo!

Referências:

  1. BRASIL. Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [1986]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7498.htm.
  2. BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [1990]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm
  3. BRASIL. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [1990]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8142.htm.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Série E. Legislação em Saúde). [Nota: Verificar a portaria mais recente da PNAB, como a Portaria de Consolidação nº 2/2017, Anexo XXII, ou suas atualizações]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0002_17_10_2017.html (link para Portaria de Consolidação que inclui a PNAB).
  5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização: HumanizaSUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf.
  6. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução COFEN nº 564/2017. Aprova o novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Brasília, DF: COFEN, [2017]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017_59145.html.
  7. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
  8. ROUQUAYROL, M. Z.; GURGEL, M. Epidemiologia & Saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2018. 

Entidades de Enfermagem no Brasil

A Enfermagem brasileira é organizada e representada por diversas entidades que atuam na regulamentação, defesa profissional e promoção da categoria.

Este artigo apresenta as principais organizações, incluindo a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), o Sistema COFEN/CORENs, e os sindicatos de enfermeiros, técnicos e auxiliares, destacando suas funções e importância para a profissão.

Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn)

Fundada em 1926, a ABEn é uma das mais tradicionais entidades da Enfermagem no Brasil.

Principais Atribuições

  • Promoção do desenvolvimento científico e profissional da Enfermagem
  • Organização de congressos e eventos técnico-científicos
  • Publicação da Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn)
  • Defesa da educação e pesquisa em Enfermagem

Site oficial: https://abenacional.org.br/

Sistema COFEN/CORENs

Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e os Conselhos Regionais de Enfermagem (CORENs) são responsáveis pela regulamentação e fiscalização da profissão.

Funções do COFEN

  • Estabelecer normas e diretrizes para o exercício profissional
  • Fiscalizar o cumprimento da Lei do Exercício Profissional (Lei nº 7.498/1986)
  • Decidir sobre questões ético-disciplinares em âmbito nacional

Funções dos CORENs

  • Registrar e emitir carteiras profissionais
  • Fiscalizar a prática profissional em cada estado
  • Aplicar penalidades em casos de infrações éticas

Site oficial: http://www.cofen.gov.br/

Sindicatos dos Enfermeiros

Os sindicatos representam os direitos trabalhistas e salariais dos enfermeiros.

Principais Atuações

  • Negociação de piso salarial e condições de trabalho
  • Acompanhamento de questões previdenciárias e jurídicas
  • Organização de movimentos grevistas e campanhas salariais

Exemplos:

Sindicatos dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem

Essas entidades defendem especificamente os interesses dos técnicos e auxiliares de Enfermagem.

Principais Objetivos

  • Luta por melhores salários e jornadas de trabalho
  • Capacitação profissional e cursos de atualização
  • Representação em negociações coletivas

Exemplos:

Outras Entidades Relevantes

  • Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE):
    Representa os sindicatos de enfermeiros em nível nacional.
    http://www.fne.org.br/
  • Associação Nacional de Enfermagem em Centro Cirúrgico (SOBECC):
    Especializada em Enfermagem perioperatória.
    https://www.sobecc.org.br/

As entidades de Enfermagem desempenham papéis fundamentais na regulamentação, defesa e valorização da profissão. Enquanto o COFEN/CORENs atua na fiscalização e ética, a ABEn promove o desenvolvimento científico, e os sindicatos lutam por melhores condições trabalhistas.

Conhecer e participar dessas organizações é essencial para o fortalecimento da categoria.

Referências:

  1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM (ABEn). Histórico e Missão. Brasília, 2023. Disponível em: https://abenacional.org.br/.
  2. BRASIL. Lei nº 7.498/1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem. Diário Oficial da União, 1986. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7498.htm.
  3. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Atribuições do COFEN. Brasília, 2023. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/
  4. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS ENFERMEIROS (FNE). Sobre a FNE. São Paulo, 2023. Disponível em: http://www.fne.org.br/

NANDA, NIC, NOC: Quando utilizar?

NANDA, NIC e NOC são ferramentas essenciais para a prática da enfermagem, proporcionando uma linguagem padronizada e científica para a avaliação, planejamento e execução do cuidado. Mas afinal, quando e como utilizá-las?

Entendendo Cada Conceito

  • NANDA (North American Nursing Diagnosis Association): Define os diagnósticos de enfermagem, ou seja, os problemas de saúde reais ou potenciais que o enfermeiro identifica no paciente e para os quais pode prestar cuidados.
  • NIC (Nursing Interventions Classification): Descreve as ações de enfermagem que podem ser realizadas para tratar os diagnósticos de enfermagem identificados.
  • NOC (Nursing Outcomes Classification): Especifica os resultados que se espera alcançar com as intervenções de enfermagem, ou seja, os objetivos a serem atingidos.

Quando Utilizar?

A utilização da NANDA, NIC e NOC ocorre em todo o processo de enfermagem, desde a avaliação inicial até a avaliação dos resultados. Veja como:

  • Avaliação:
    • NANDA: Identificar os diagnósticos de enfermagem relevantes para o paciente, com base nos sinais e sintomas apresentados.
    • NOC: Estabelecer os resultados desejados para cada diagnóstico, ou seja, o estado de saúde que se espera alcançar.
  • Planejamento:
    • NIC: Selecionar as intervenções de enfermagem mais adequadas para cada diagnóstico, considerando os resultados desejados e as características do paciente.
  • Implementação:
    • NIC: Executar as intervenções de enfermagem planejadas, documentando as ações realizadas.
  • Avaliação:
    • NOC: Avaliar se os resultados esperados foram alcançados, comparando o estado de saúde do paciente antes e após as intervenções.

Benefícios da Utilização

  • Comunicação: Facilita a comunicação entre os profissionais de saúde, garantindo que todos entendam os mesmos termos e conceitos.
  • Qualidade: Contribui para a melhoria da qualidade da assistência prestada, pois permite a padronização e a avaliação dos cuidados.
  • Pesquisa: Permite a realização de pesquisas sobre a efetividade das intervenções de enfermagem.
  • Gestão: Auxilia na gestão dos serviços de enfermagem, permitindo a identificação das necessidades dos pacientes e a alocação dos recursos de forma mais eficiente.

Exemplo Prático

Imagine um paciente com diagnóstico médico de pneumonia. O enfermeiro, ao realizar a avaliação, pode identificar o diagnóstico de enfermagem “Trocas gasosas prejudicadas”.

A partir desse diagnóstico, o enfermeiro pode definir o resultado desejado (por exemplo, saturação de oxigênio maior que 95%) e selecionar as intervenções de enfermagem (como oxigenoterapia, monitorização da frequência respiratória e incentivo à tosse) para alcançar esse resultado.

Em resumo, a NANDA, NIC e NOC são ferramentas poderosas que auxiliam o enfermeiro a prestar um cuidado mais seguro, eficaz e individualizado. 3

Ao utilizar essas classificações, o profissional garante que seus cuidados sejam baseados em evidências científicas e que os resultados sejam mensuráveis e alcançáveis.

Referências:

  1. Barros, A. L. B. L. de .. (2009). Classificações de diagnóstico e intervenção de enfermagem: NANDA-NIC. Acta Paulista De Enfermagem, 22(spe), 864–867. https://doi.org/10.1590/S0103-21002009000700003
  2. EduCAPES

Teoria de Virginia Henderson

Quem é a Virginia Henderson?

Virginia Henderson nasceu em 1897, em Kansas City, e o interesse pela enfermagem surgiu durante a Primeira Guerra Mundial, pois desejava prestar atendimento os feridos e enfermos de guerra. Formou-se em 1921, na Escola do Exército, concluindo seus estudos e mestrado em 1926.

Ela ministrou cursos com enfoque na Enfermagem Clínica, na área analítica, de 1930 a 1948, sendo indicada como pesquisadora na Universidade de Yale, em 1953.

A Sua Teoria

A teoria de Virginia Henderson insere·se na linha das necessidades humanas básicas, cujo foco principal é o cuidado para como o individuo baseado nos quatorze componentes de cuidados básicos de enfermagem, os quais dao é teoria uma macrovisao ou visao totalitária sobre o individuo, ou seja, Henderson utiliza·se da abordagem holistica para estabelecer um plano assistencial globalizado.

Para Henderson, citada por Furukawa e Howe (1993), mente e corpo sao inseparáveis. estando estes em pleno interrelacionamento para o desenvolvimento das funções do ser humano e que o enfermeiro convive num ambiente de sociedade.

Segundo Henderson (1969). o momento básico do cuidado de enfermagem pode ser derivado das necessidades humanas assim como de todos os serviços de saúde prestados ao paciente. Ao atuar sobre as necessidades dos seres humanos a enfermeira tem sido chamada de “mãe profissional”, principalmente quando esta se responsabiliza pelos cuidados integrais ao paciente.

A visao holistica está bem definida nesta teoria, onde ela cria um ambiente harmonioso e interativo entre profissionais, clientes. pacientes e sociedade. A autora descreve perfeitamente a abordagem hollstica, por considerar o hemisfério direito do ser humano.

Ela questionava porque a intuição da experiência vivencial de cada individuo não era enfatizada no processo de enfermagem. Em seus estudos, argumenta que o processo de enfermagem desconsidera e subestima o lado artístico, intuitivo e subjetivo da enfermagem.

Entendendo os 14 componentes do atendimento da enfermagem

Henderson propõe 14 componentes do atendimento básico da enfermagem para enriquecer sua definição:

  • Respirar normalmente;
  • Comer e beber adequadamente;
  • Eliminar resíduos orgânicos;
  • Movimentar-se e manter posturas desejáveis;
  • Dormir e descansar;
  • Selecionar roupas adequadas – vestir-se e despir-se;
  • Manter a temperatura corporal dentro da variação normal, adaptando a roupa e modificando o ambiente;
  • Manter o corpo limpo e bem arrumado, proteger a pele;
  • Evitar os perigos ambientais e evitar ferir os outros;
  • Comunicar-se com os outros, expressando emoções, necessidades, medos ou opiniões;
  • Adorar de acordo com a própria fé;
  • Trabalhar de forma a ter uma sensação de realização;
  • Participar de variadas formas de recreação;
  • Aprender, descobrir ou satisfazer a curiosidade que leva ao desenvolvimento e à saúde normais e usar os serviços de saúde disponíveis.

Em 1966 publicou a descrição definitiva em “The nature of nursing”, que, segundo ela, expressava e cristalizava sua ideia a respeito. Para entender a amplitude do seu pensamento sobre as funções de enfermagem e os 14 componentes do atendimento básico é necessário estudar-se os “Basic principles of nursing care”, publicação do CIEE, onde estão descritos cada um dos componentes, servindo de perfeito guia para delinear as funções da enfermagem.

Em 1991, Henderson publicou que a definição sobre a enfermagem ainda permanece em questão, com confusões entre o papel da enfermagem e dos demais profissionais, e considera que o ensino atual da enfermagem deve incluir uma discussão mais ampla sobre teoria e processo de enfermagem.

Referências:

  1. FERNANDES, Bruna Karen Cavalcante et al. Processo de enfermagem fundamentado em Virginia Henderson aplicado a uma trabalhadora idosa. Revista de Enfermagem UFPE on line, [S.l.], v. 10, n. 9, p. 3418-3425, jul. 2016. ISSN 1981-8963. Disponível em: <https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/11424/13217>. Acesso em: 22 fev. 2023. doi:https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i9a11424p3418-3425-2016.

A Teoria de Wanda Horta

Quem é a Wanda Horta?

Wanda Cardoso de Aguiar nasceu em 11 de agosto do ano de 1926. Seu sobrenome Horta veio do marido Luís Emílio Horta, com quem se casou aos 27 anos.

Nascida em Belém (PA), ela foi criada, junto com seus irmãos, por um pai militar e uma mãe devota dos livros, em uma casa em que a educação era prioridade.

Aos 10 anos mudou de Belém para Ponta Grossa (PR) e, durante o ginásio, em sua adolescência, frequentou o curso de pré-médico, uma espécie de curso técnico em medicina, no qual teve o primeiro contato com a área da saúde.

Na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, Wanda se inscreveu nos Voluntários Socorristas, da Cruz Vermelha. Na época, o Brasil havia declarado guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão), e havia receio de possíveis ataques aéreos em solo brasileiro.

Ao final do curso, enviou um telegrama ao então ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, para integrar a Força Expedicionária Brasileira. Porém, nunca obteve resposta.

A ausência de resposta e as fronteiras entre municípios não foram impeditivos para seguir com a vontade de ajudar o próximo. Em 1944, Wanda mudou para Curitiba para trabalhar e estudar.

Conseguiu um emprego com atividades de enfermagem, mas foi em 1945 que se aprofundou na área após ganhar uma bolsa de estudos para mudar para a capital paulista e estudar na USP (Universidade de São Paulo).

A sua história na Enfermagem

Wanda desembarcou em São Paulo em um período novo para a enfermagem. Entre as décadas de 1930 e 1950, os enfermeiros vinham refletindo sobre sua prática bastante limitada nos hospitais pelo excessivo controle dos médicos.

A abertura da Escola de Enfermagem de São Paulo, na década de 40, reforçou a adoção de uma formação acadêmico-científica para enfermeiros, impulsionada também pela industrialização da cidade.

Com esse crescimento, a região precisava atender à demanda de cidadãos adoecidos por epidemias. Se por um lado, havia centenas de pacientes à espera de atendimento, por outro lado, os hospitais não permitiam uma atuação das enfermeiras de forma independente.

Ao se formar na USP, foi trabalhar em Santarém (PA) no projeto de Serviço Especial de Saúde Pública, criado pelo governo federal da época em parceria com os Estados Unidos.

A premissa do órgão na Amazônia era criar equipes de médicos, engenheiros e enfermeiros para compartilharem decisões em prol de um objetivo em comum: a saúde da população.

Wanda e a Teoria das Necessidades Humanas Básicas

O descontentamento com a posição do enfermeiro na saúde se transformou em um combustível para a busca de evidências científicas e seu caminho como professora.

Especializou-se em Pedagogia e Didática Aplicadas à Enfermagem e doutorou-se em Enfermagem com a tese “Observação Sistematizada na Identificação de Problemas de Enfermagem em seus Aspectos Físicos”.

Wanda chegou a relatar em artigos que “nos hospitais oferecemos o máximo de desconforto”, definindo a assistência de saúde e ressaltando a importância do cuidado.

Foi na sua desbravadora carreira acadêmica que encontrou a Teoria das Necessidades Humanas Básicas, do psicólogo Abraham H. Maslow, como caminho para mudar a enfermagem no Brasil e humanizá-la.

Maslow criou a teoria da motivação humana segundo a qual define que o ser humano precisa de um conjunto de condições básicas para alcançar um nível de bem-estar. O psicólogo definiu esses níveis como: necessidades fisiológicas, segurança, amor, estima e autorrealização.

Wanda acreditava que os níveis deveriam ser classificados a partir de uma alternativa proposta pelo padre, médico e escritor João Mohana, que dividia as necessidades em três grandes dimensões: psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais.

Seguindo essa tese, Wanda estabeleceu que o papel do enfermeiro em ser coordenador do cuidado é entender o ser humano como um todo — não olhando apenas a doença que ele está sofrendo, mas o corpo, mente e espírito.

Assim, o atendimento passa a ser individualizado e a levar em consideração aspectos sociais e emocionais do paciente.

Ela se inspirou em conceitos trabalhados no exterior pela enfermeira psiquiatra Ida Orlando, que começou a utilizar “processo de enfermagem” para explicar o cuidado como um processo sistematizado.

As etapas do processo de enfermagem

A professora brasileira introduziu a noção de que o processo de enfermagem pode ser dividido em seis etapas:

1) histórico;

2) Diagnóstico;

3) Plano assistencial;

4) Plano de cuidados ou prescrição;

5) Evolução;

6) E o prognóstico de enfermagem.

O conceito de enfermagem, segundo Wanda Horta

Para a enfermeira:

“A enfermagem é a ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo independente desta assistência atraves da educação, de recuperar, manter e promover sua saúde, contando para isso com a colaboração de outros grupos profissionais.”

Seu olhar revelador diante das necessidades humanas na saúde avançou ao longo dos anos e conquistou o meio acadêmico de enfermagem de todo o país.

Wanda ministrou aulas e orientou pesquisas em universidades do Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, disseminando seu conhecimento e fortalecendo o viés humano na coordenação de cuidado.

Ela obteve reconhecimento internacional de seus estudos e metodologia, levando seu modelo teórico para diferentes países.

Foi convidada pela Organização Pan-Americana de Saúde e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em 1973, para participar da elaboração do Documento Básico sobre o Ensino de Fundamentos de Enfermagem, que fortalecia a importância global da graduação e do cunho científico da profissão.

Para diminuir as barreiras entre seus conceitos e os enfermeiros em formação, ampliou seus estudos – há relatos de mais de 400 documentos assinados por Wanda -, além de ter criado a revista Enfermagem em Novas Dimensões, de forma independente, para divulgar suas idéias e fugir do conservadorismo da área entre 1975 e 1979.

A partir dessa extensa trajetória, Wanda publicou a “Teoria de Enfermagem das Necessidades Humanas Básicas”, no livro “Processo De Enfermagem” de 1979, que consolidou uma nova abordagem para a enfermagem no século passado.

Ao longo de sua vida, Wanda construiu pontes para que a enfermagem e o cuidado de saúde fossem respeitados e baseados em evidências científicas. Lutou para deixar no passado a visão de que a enfermagem deveria transitar sob olhar médico.

Viu muito pouco dessa transformação na prática. Morreu em 1981 sem acompanhar o avanço do Movimento Sanitarista, a Lei do Exercício Profissional que regulamentou o exercício dos profissionais de enfermagem e a criação do modelo conceitual de Wanda Horta, vigente nas universidades até hoje.

A causa da morte precoce, aos 54 anos, em 15 de junho de 1981, foi esclerose múltipla, uma doença degenerativa. Relatos demonstram que, mesmo com momentos difíceis em decorrência da doença, trabalhou até o último dia de vida.

Sua persistência na enfermagem beneficia todos que buscam saúde com um olhar integrativo e inspira milhares de profissionais que encontraram na coordenação de cuidado seu propósito de vida.

‍Referência:

  1. PERÃO, Odisséia Fátima et al. SEGURANÇA DO PACIENTE EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE ACORDO COM A TEORIA DE WANDA HORTA. Cogitare Enfermagem, [S.l.], v. 22, n. 3, jul. 2017. ISSN 2176-9133. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/45657>. Acesso em: 03 jun. 2022. doi:http://dx.doi.org/10.5380/ce.v22i3.45657.

Regras do uso do Carimbo na Enfermagem (Resolução Cofen nº 545/2017)

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) instituiu em maio de 2017, por meio da Resolução Cofen nº 545/2017, as regras do novo carimbo que deve ser adotado pelos(as) profissionais de Enfermagem.

Da resolução, é importantes destacar dois artigos:

Art. 2º A anotação do número de inscrição dos profissionais de Enfermagem é feita com a sigla do Coren, acompanhada da sigla da Unidade da Federação [estado] onde está sediado o Conselho Regional, seguida do número de inscrição, separados todos os elementos por hífen.

§ 1º Os dados contidos no artigo segundo deverão constar do carimbo do profissional, pessoal e intransferível;

§ 2º Em ambos os casos descritos no parágrafo anterior, o profissional deverá apor sua assinatura sobre os dados descritos ou rubrica.

Art. 3º As categorias profissionais de enfermagem deverão ser indicadas pelas seguintes siglas:

a) ENF, para Enfermeiro;
b) OBST, para Obstetriz;
c) TE, para Técnico de Enfermagem;
d) AE, para Auxiliar de Enfermagem, e
e) PAR, para Parteira.

Dessa forma, o carimbo ficaria assim:

Christiane Ribeiro [na primeira linha]
COREN-RS-10000-TE [na segunda linha]

Especializações

No caso de especializações, a colocação desse dado no carimbo é OPCIONAL. A especialidade deve constar numa terceira linha, abaixo dos dados obrigatórios.

Usamos como exemplo a especialização em Enfermagem Obstétrica. O carimbo ficaria assim:

Christiane Ribeiro [na primeira linha]
COREN-RS-10000-ENF [na segunda linha]
ENFERMEIRA OBSTÉTRICA [POR EXTENSO, na terceira linha]

Referência:

  1. COFEN