A assistência em saúde é um processo complexo que não está isento de riscos e de possíveis eventos adversos. Dentre as possíveis complicações decorrentes do cuidado em saúde, destacam-se as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), as quais se constituem em problemas frequentes, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), apresentando-se com altas taxas de incidência e morbimortalidade.
Em se tratando das IRAS mais comumente identificadas no cenário de cuidados críticos, destacam-se especialmente as infecções de corrente sanguínea (ICS), em detrimento da utilização de dispositivos invasivos, a exemplo de cateteres venosos centrais (CVC).
Dispositivos estes que podem ser inseridos em uma veia ou artéria, centralmente ou perifericamente, com o intuito de monitorização hemodinâmica, administração de fluidos intravenosos, nutrição e medicamentos.
Mesmo quando se adotam todas as medidas conhecidas para prevenção e controle de IRAS, certos grupos apresentam maior risco de desenvolver uma infecção. Entre esses casos estão os pacientes em extremos de idade, pessoas com diabetes, câncer, em tratamento ou com doenças imunossupressoras, com lesões extensas de pele, submetidas a cirurgias de grande porte ou transplantes, obesas e fumantes.
Nos últimos anos vem ocorrendo aprimoramento das normas de vigilância, elaboração de diretrizes e protocolos baseados em evidências científicas para a prevenção de ICSR-CVC, mas estas ainda se constituem em um grande problema para a segurança do paciente, especialmente daqueles hospitalizados em ambiente de UTI.
É pertinente enfatizar que a prevenção depende também de ações organizacionais que incluem o incentivo da gestão dos serviços de saúde ao conhecimento e cumprimento de cuidados de controle de infecção e segurança do paciente, incluindo as boas práticas nos cuidados de inserção e de manutenção de acessos venosos centrais pela equipe de saúde.
Os esforços para a prevenção dessas infecções devem visar à qualidade da assistência e segurança do paciente, minimizando a ocorrência de eventos adversos por meio da identificação e implementação de estratégias interventivas que visem zerar a ocorrência dessa complicação em pacientes críticos.
É importante conhecer o POP preconizado pelo CCIH de sua instituição!
É importante conhecer e avaliar o conhecimento e adesão da equipe de enfermagem às medidas de prevenção de infecções, sejam elas por quaisquer meios, incentivando o conhecimento de Protocolos Operacionais Padrão (POP) estabelecidos pela CCIH em sua instituição.
Exemplo de um Protocolo Operacional Padrão (POP) para uma rotina de troca de dispositivos e materiais de uso hospitalar
TIPO DE DISPOSITIVO / MATERIAL |
TEMPO DE PERMANÊNCIA | OBSERVAÇÕES |
BACIA de metal | Para banhos: Após o uso em cada paciente, fazer a higienização com água e sabão, e desinfecção com álcool 70ºPara procedimentos estéreis: Encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso |
As bacias utilizadas em banhos devem permanecer armazenadas no setor após a DESINFECÇÃO. As bacias para uso em procedimentos estéreis (Ex: curativos) devem ser retiradas na Central de Material Esterilizado e devolvidas após o uso conforme rotina do setor. |
BARBEADOR descartável para tricotomias não cirúrgicas (ex: higiênicas, local para punção venosa, curativos e fixar eletrodos) |
Uso único | Descartar após o uso em cada paciente. |
Cânula de GUEDEL | Sem troca programada | Encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso em cada paciente. |
CÂNULA endotraqueal (INTUBAÇÃO) |
Uso único sem troca programada |
Descartar após o uso em cada paciente |
Cateter de FLEBOTOMIA | Em adultos: 4 a 5 dias Em crianças: na suspeita de complicação |
Esse tipo de acesso apresenta frequentes complicações, portanto deve ser evitado. |
Cateter de SHILLEY (Hemodiálise) |
Sem troca programada | Na presença de sinais flogísticos ou secreção, comunicar o médico responsável. Se houver a remoção, coletar imediatamente a ponta para cultura, se o médico recomendar. Remover com indicação clínica. |
Cateter NASAL tipo óculos para oxigenoterapia |
7 dias | A água do reservatório deve ser trocada a cada 24 horas. |
Cateter para DIÁLISE PERITONIAL |
Sem troca programada | É questão não resolvida na literatura. Fica a critério médico a decisão de estender o tempo de permanência, remover o cateter ou substituir por um permanente. |
Cateter totalmente implantado (PORT-A-CATH) |
Sem troca programada | Na presença de sinais flogísticos ou secreção, comunicar o médico responsável. Se houver a remoção, coletar imediatamente a ponta para cultura, se o médico recomendar. Remover com indicação clínica |
Cateter UMBILICAL | Arterial: 5 dias Venoso: 14 dias |
Se identificado quadro de infecção, trombose ou insuficiência vascular, comunicar o médico responsável. Remover com indicação clínica. Se for removido, não inserir um novo cateter. Coletar imediatamente a ponta para cultura, se o médico recomendar. |
CIRCUITO DO VENTILADOR MECÂNICO (respirador) |
7 dias | Trocar antes do período recomendado se apresentar sujidades ou mau funcionamento. Somente disponibilizar para outro paciente após esterilização feita na Central de Material Esterilizado. |
COLCHÃO PIRAMIDAL “caixa de ovo” |
Uso individual sem troca programada |
Na ALTA do paciente, liberar para levar de cortesia. Quando ÓBITO encaminhar à lavanderia para incinerar. Nunca lavar. |
COLETOR aberto graduado com cordão (saco plástico) |
Até o final de cada plantão ou sempre que desprezar o material coletado |
Quando este for utilizado para drenagem de bolsa coletora de diurese, usar um saco coletor novo para cada paciente |
Coletor urinário tipo BOLSA (sistema fechado) |
30 dias | Se houver troca da bolsa por qualquer indicação, a sonda vesical de foley deverá ser substituída. Não é recomendada a abertura do sistema durante o uso do cateter. Esvaziar a cada 12 horas ou quando atingir o limite máximo da capacidade de armazenamento. |
COMADRE | A cada uso | Lavar com água e sabão. Fazer desinfecção com álcool 70º |
CONECTOR para medicação aerossol em ventilação mecânica |
Uso individual sem troca programada |
Descartar após o uso em cada paciente |
CPAP NASAL ADULTO (em acrílico) |
Uso individual sem troca programada |
Após o término de cada sessão no paciente, fazer higienização e guardar até o próximo uso no mesmo paciente. Descartar o CPAP após suspender o uso em cada paciente. |
CPAP NASAL ADULTO (em silicone) |
Uso individual sem troca programada |
Ao término de cada sessão no paciente, higienizar e guardar até o próximo uso no mesmo paciente. Enviar à Central de Material Esterilizado após uso em cada paciente. |
CPAP NASAL NEONATAL / PEDIATRIA (“narizinho”) |
Uso individual sem troca programada |
Fazer higienização concorrente conforme rotina do setor enquanto estiver em uso no mesmo paciente. Descartar após o uso em cada paciente. |
Dispositivo cateter venoso central DUPLO LÚMEN via SubcláviaDispositivo cateter venoso central INTRACATH via Subclávia |
Sem troca programada | Ocluir o cateter com gaze estéril e micropore nas primeiras 24 horas após a inserção, após este período fazer assepsia e fixar somente com filme transparente que deverá ser trocado a cada 7 dias ou sempre que apresentar sujidades, umidade, descolamento ou reações alérgicas locais. Na presença de sinais flogísticos ou secreção, comunicar o médico responsável. Se houver a remoção, coletar imediatamente a ponta para cultura, se o médico recomendar. Remover com indicação clínica. Quando inserido em situação de emergência, com quebra de técnica asséptica, remover em até 48 horas após a inserção. |
Dispositivo cateter venoso central (PICC – Cateter central de inserção periférica) |
Sem troca programada | Quando não locado em posição central, há aumento do risco de complicações, inclusive flebite. Na presença de sinais flogísticos ou secreção, comunicar o médico responsável. Se houver a remoção, coletar imediatamente a ponta para cultura, se o médico recomendar. O curativo deve ser trocado conforme Protocolo de PICC da Instituição. É PROIBIDO reintroduzir as partes exteriorizadas do cateter após desfazer o campo estéril. |
Dispositivo intravenoso periférico ADULTO (JELCO, SCALP, ABOCATH ou ÍNTIMA)Dispositivo intravenoso periférico INFANTIL (JELCO, SCALP, ABOCATH ou ÍNTIMA) |
72 horas
Sem troca programada |
Nas situações em que o acesso periférico é limitado, a decisão de manter o cateter além das 72 horas depende da avaliação do local de inserção, da integridade da pele, da duração e do tipo da terapia prescrita, e deve ser documentado nas evoluções do paciente. Pediatria e Neonatal não há rotina de troca preestabelecida. Acompanhar o cateter diariamente e trocar na presença de sinais flogísticos ou secreção. A mesma recomendação poderá ser aplicada a um paciente adulto com difícil acesso vascular periférico (ex: idoso, longo tempo de internação). Quando inserido em situação de emergência, com quebra de técnica asséptica, remover em até 48 horas após a inserção. A fixação deverá ser feita preferencialmente com filme transparente, que deverá ser trocado cada vez que apresentar sujidades, umidade, descolamento ou reações alérgicas locais. |
Dispositivo urinário masculino tipo preservativo URIPEN |
24 horas | Trocar no momento do banho ou sempre que necessário. |
Equipo com BURETA | 24 horas | Há maior risco de contaminação durante a manipulação. |
EQUIPO macrogotas ou microgotas para infusão INTERMITENTE |
24 horas | Neonatal / UTI Adulto: Conforme rotina do setor. |
EQUIPO macrogotas, microgotas, dupla via, PVC e torneirinha para infusão CONTÍNUA |
72 horas | Trocar em intervalo menor se apresentar sujidade, mau funcionamento ou em caso de incompatibilidade medicamentosa. |
Equipo NUTRIÇÃO ENTERAL para bomba de infusão |
24 horas | O equipo será fornecido pelo Serviço de Nutrição e Dietética acompanhando a primeira dieta do dia. Consultar Protocolo da EMTN para maiores informações. |
Equipo para bomba de infusão de MEDICAMENTO NÃO LIPÍDICO / SOROTERAPIA |
72 horas | Trocar em intervalo menor se apresentar sujidade, mau funcionamento ou em caso de incompatibilidade medicamentosa. |
Equipo para PROPOFOL no Centro Cirúrgico |
6 horas | |
Equipo para SOLUÇÃO LIPÍDICA, HIPERTÔNICA (Ringer, Glicose acima de 10%), NUTRIÇÃO PARENTERAL, HEMODERIVADOS ou HEMOCOMPONENTES |
A cada troca de bolsa ou frasco |
Infundir emulsões lipídicas em até 12 horas, e NPT/NPP em até 24 horas a partir da instalação. NPT/NPP devem ser infundidas em acesso venoso central com via EXCLUSIVA. HEMODERIVADOS e HEMOCOMPONENTES em acesso venoso periférico EXCLUSIVO. O sistema não deve ser aberto durante a infusão. É proibido administrar ou acrescentar medicações pelo injetor lateral do equipo ou da bolsa. |
ESPAÇADOR VALVULADO para medicamentos aerossois via inalatória (bombinha) |
Uso individual sem troca programada |
Não é descartável. Fazer higienização com água e sabão a cada 72 horas de uso. Quando suspender o uso ou o paciente receber alta, óbito ou trasferência, fazer a higienização e devolver à Farmácia Central que encaminhará à Central de Material Esterilizado. |
EXTENSOR para infusão intermitente em bomba de seringa (ex: antibióticos) |
Conforme rotina já estabelecida em cada setor, podendo ser utilizado até o máximo de 72 horas |
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FILME TRANSPARENTE fixador de cateteres (Curativo) |
7 dias | Trocar antes do tempo recomendado sempre que apresentar sujidades, umidade, descolamento ou reações alérgicas locais. Neonatal / Pediatria: Conforme rotina do setor. |
FILTRO HME bactericida para ventilador mecânico |
48 horas | Trocar antes do tempo recomendado se apresentar sujidade ou mau funcionamento. |
FIO-GUIA de cobre para intubação |
Uso individual | Fazer higienização e encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso em cada paciente. |
FIO-GUIA de alumínio revestido em plástico para intubação |
Uso único individual | Descartar após o uso em cada paciente. |
LÂMINA de Tricotomizador (tricotomias pré-cirúrgicas) |
Uso único individual | Descartar após o uso em cada paciente. |
MÁSCARA VENTURI + umidificador |
Sem troca programada | Encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso em cada paciente. |
NEBULIZADOR (reservatório, extensão e máscara) de uso contínuo – comum e traqueostomia |
Sem troca programada | Trocar sempre que apresentar sujidades ou mau funcionamento. Encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso em cada paciente. |
NEBULIZADOR (reservatório, extensão e máscara) de uso intermitente – Inalação |
Geral: A cada uso
Neonatal / UTI Adulto: |
Após o uso em cada paciente, fazer higienização e desinfecção de baixo nível. |
PAPAGAIO | A cada uso | Higienizar com água e sabão. Fazer desinfecção com álcool 70º |
Sistema coletor fechado para DRENAGEM DE TÓRAX |
Sem troca programada | Mensurar e esvaziar o frasco quando necessário, reutilizando para o mesmo paciente, desde que manipulado com técnica asséptica e utilizada solução estéril para refazer o selo d’água. Descartar todo o sistema após o uso em cada paciente. |
Sonda de ASPIRAÇÃO oronasoendotraqueal |
Uso único | Descartar após o uso em cada paciente |
Sonda de ASPIRAÇÃO endotraqueal sistema fechado “TRACH CARE” |
7 dias | Trocar antes do tempo recomendado se apresentar sujidades ou mau funcionamento. Descartar todo o sistema após o uso em cada paciente. |
Sonda ENTERAL
Sonda NASOGÁSTRICA |
Sem troca programada | Trocar com indicação clínica ou prescrição de enfermagem. |
Sonda URETRAL DE ALÍVIO | Adulto: Retirar imediatamente após o esvaziamento da bexiga Neonatal / Pediatria: Conforme rotina do setor. |
Usar técnica asséptica para a inserção. |
Sonda uretral de FOLLEY (sonda de demora) com sistema coletor fechado |
30 dias | Trocar se apresentar obstrução, grande quantidade de sedimentos e coágulos, ou indicação clínica. Sempre usar técnica asséptica para a inserção. A bolsa coletora de urina também deve ser trocada junto com a sonda, pois não é recomendada a abertura do sistema durante o uso da mesma. Realizar higiene íntima duas vezes ao dia ou sempre que necessário enquanto estiver com a sonda. |
Tubo EXTENSÃO de LÁTEX ou SILICONE para aspiração |
Sem troca programada | Encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso em cada paciente. |
UMIDIFICADOR + EXTENSÃO | Sem troca programada | Encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso em cada paciente. |
Vidro / Frasco de ASPIRAÇÃO | Sem troca programada | Encaminhar à Central de Material Esterilizado após o uso em cada paciente. |
*OBSERVAÇÃO: Este exemplo de Protocolo não é empregado em TODAS as Instituições, podendo variar conforme o que foi preconizado pela CCIH da sua Instituição. Vale consultar a validade de troca destes dispositivos em sua Instituição!
O Protocolo e a Anvisa
A ANVISA revisou e publicou recentemente a nova edição da série Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde, chamada “Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde”.
A presente publicação constitui uma ferramenta influente para a segurança do paciente e qualidade em serviços de saúde, fruto de esforço conjunto de diversos Grupos de Trabalho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trata das orientações básicas para a prevenção e o controle de infecção, com embasamento técnico-científico atualizado.
O intuito é apresentar de maneira objetiva, concisa e prática, as medidas para a prevenção e controle de infecção nos serviços de saúde, devendo estar facilmente disponível aos profissionais de saúde que atuam nestes serviços. A principal finalidade desta publicação da Anvisa é contribuir para reduzir a incidência das IRAS em serviços de saúde, a partir da disponibilização das principais medidas preventivas práticas adequadas à realidade brasileira. Dessa forma, espera-se com esta publicação, oferecer um importante instrumento de apoio para a prevenção e redução das principais IRAS, como as Infecções do Trato Respiratório, Trato Urinário, Corrente Sanguínea e Sítio Cirúrgico, contribuindo para a redução de riscos nos serviços de saúde do Brasil.
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