O que é “Flushing” em um Cateter?

“Flushing” é um termo referente à lavagem de um lúmen do cateter, sendo feito antes e após a administração de um medicamento, a fim de prevenir a mistura de medicamentos incompatíveis, além de que, também é um cuidado de enfermagem prevenção da obstrução do cateter venoso.

Flushing com Salinização ou Heparinização

Anteriormente, a manutenção da permeabilidade de acessos venosos era mantida prioritariamente com soluções heparinizadas, considerando que a heparina inibe a formação de coágulos de fibrina in vitro e in vivo e, que seu efeito anticoagulante é praticamente imediato.

Dadas essas propriedades, a solução heparinizada pode ser utilizada como agente de manutenção da permeabilidade de dispositivos intravenosos, tendo demonstrado sua eficácia há vários anos.

Porém, a prática da salinização apresenta como vantagens à heparinização o baixo custo, ser um procedimento mais simples, além de eliminar a possibilidade de incompatibilidade com as drogas e soluções administradas.

Indicações para o Flushing

  • Antes e após a cada administração de medicamentos;
  • Após a administração de sangue e derivados;
  • Quando converter de infusão continua para intermitente;
  • A cada 12 horas quando o dispositivo não for usado.

As novas recomendações da ANVISA

A ANVISA – Agência Nacional de Vigiância Sanitária divulgou em 2017 uma série de publicações sobre Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde.

Dentro do “Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde”, há um capítulo especial sobre as recomendações para cateteres periféricos, com informações práticas fundamentais para garantir a segurança do paciente.

Em especial ao flushing e manutenção dos cateteres periféricos:

  • Realizar o flushing e aspiração para verificar o retorno de sangue antes de cada infusão para garantir o funcionamento do cateter e prevenir complicações;
  • Realizar o flushing antes de cada administração para prevenir a mistura de medicamentos incompatíveis;
  • Utilizar frascos de dose única ou seringas preenchidas comercialmente disponíveis para a prática de flushing e lock do cateter. Seringas preenchidas podem reduzir o risco de ICSRC e otimizam o tempo da equipe assistencial. Não utilizar soluções em grandes volumes (como, por exemplo, bags e frascos de soro) como fonte para obter soluções para flushing;
  • Utilizar solução de cloreto de sódio 0,9% isenta de conservantes para flushing e lock dos cateteres periféricos. Usar o volume mínimo equivalente a duas vezes o lúmen interno do cateter mais a extensão para flushing. Assim como os volumes maiores (como 5 ml para periféricos e 10 ml para cateteres centrais) podem reduzir depósitos de fibrina, drogas precipitadas e outros debris do lúmen. No entanto, alguns fatores devem ser considerados na escolha do volume, como tipo e tamanho do cateter, idade do paciente, restrição hídrica e tipo de terapia infusional. Infusões de hemoderivados, nutrição parenteral, contrastes e outras soluções viscosas podem requerer volumes maiores. Não utilizar água estéril para realização do flushing e lock dos cateteres.

Avaliação

  • Avaliar a permeabilidade e funcionalidade do cateter ao passo que utilizando as seringas de diâmetro de 10 ml para gerar baixa pressão no lúmen do cateter e registrar qualquer tipo de resistência. Não forçar o flushing utilizando qualquer tamanho de seringa. Em caso de resistência, avaliar possíveis fatores (como, por exemplo, clamps fechados ou extensores e linhas de infusão dobrados). Não utilizar seringas preenchidas para diluição de medicamentos.
  • Utilizar a técnica da pressão positiva visto que minimiza o retorno de sangue para o lúmen do cateter. O refluxo de sangue que ocorre durante a desconexão da seringa, dessa forma é reduzido com a sequência flushing, fechar o clamp e desconectar a seringa. Solicitar orientações do fabricante de acordo com o tipo de conector valvulado utilizado. Considerar o uso da técnica do flushing pulsátil (push pause). Estudos in vitro demonstraram que por exemplo, a técnica do flushing com breves pausas, por gerar fluxo turbilhonado, pode ser mais efetivo na remoção de depósitos sólidos (fibrina, drogas precipitadas) quando comparado a técnica de flushing contínuo, que gera fluxo laminar.
  • A principio realizar o flushing e lock de cateteres periféricos imediatamente após cada uso.

Recomendações para Intervalo de Flushing

Como recomendação da Infusion Nurses Society Brasil, o intervalo recomendado para flushing é o de 6/6 horas para neonatos, 8/8 horas para pacientes pediátricos e 12/12 horas para pacientes adultos.

Referências:

  1. Segurança do Paciente;
  2. BRASIL-MS, ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Medidas de Prevenção de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. Capítulo 3. Medidas de Prevenção de Infecção da Corrente Sanguínea 2ª edição, 2017. Disponível em https://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/3507912/Caderno+4+-+Medidas+de+Preven%C3%A7%C3%A3o+de+Infec%C3%A7%C3%A3o+Relacionada+%C3%A0+Assist%C3%AAncia+%C3%A0+Sa%C3%BAde/a3f23dfb-2c54-4e64-881cfccf9220c373

Heparinização Plena em Pacientes Críticos

A Heparinização Plena é um procedimento frequente em unidades de terapia intensiva e sua utilização implica em riscos para o paciente. Assim, é importante que esse procedimento seja feito de forma padronizada.

A mesma pode ser realizada com heparina não fracionada (HNF)  ou heparinas de baixo peso molecular (HBPM).

Indicação da Heparinização Plena

A indicação correta de heparina por via venosa está sendo caracterizada progressivamente, havendo evidências consistentes de benefícios em algumas condições:

  • Angina instável;
  • Tromboembolismo Pulmonar;
  • Manipulações vasculares;
  • Quadros progressivos de isquemia cerebral por doença vascular;
  • Pós Operatórios cardiovasculares ( ponte para anticoagulação com warfarina) – Próteses valvares metálicas ( principalmente prótese mitral);
  • Síndromes Coronárias Agudas.

O que deve-se considerar como Exclusão (Contra-Indicação)

  • A possibilidade de usar heparina fracionada de baixo peso molecular por via subcutânea;
  • Quando não existir consenso na indicação entre o médico assistente, o médico intensivista e a enfermagem;
  • Quando existir relato prévio de intercorrências graves com o emprego de heparina por via venosa.

Atenção: Deve Interromper este procedimento imediatamente quando:

  • Sangramento ativo exteriorizado como: hematêmese, melena, enterorragia, hemoptise, hematúria ou hemorragias cutâneo- mucosas;
  • Queda acentuada de hematimetria sem causa identificada;
  • Surgimento de derrame pericárdico, pleural ou peritonial;
  • A possibilidade de procedimentos invasivos e cirurgias.

A indicação do emprego de heparina por via venosa é uma decisão médica. Caso o médico assistente ou médico plantonista caracterize 1(uma) das 3 (três condições) reconhecidas de indicação, bem como a impossibilidade do uso das heparinas fracionadas de baixo peso molecular, deverá prescrever por extenso:

Protocolo de Heparinização*:

  • SF 0,9% 250 ml;
  • Heparina 5ml (25.000 u);
  • Administrar bolus s/n;
  • Colher TTPA.

Estando prescrita a Rotina de Heparinização, o enfermeiro responsável deverá escrever na evolução de enfermagem e na folha de controle de heparinização: o início ou evolução da rotina; os valores de TTPA (prévio atual) e o horário do próximo controle de TTPA. Na impossibilidade do uso desta rotina por qualquer motivo, uma prescrição alternativa por livre escolha do médico assistente ou médico intensivista deverá ser prescrita. Sempre que o protocolo for interrompido, o médico assistente deverá ser notificado.

A solução de heparinização deverá acontecer em bomba de infusão com equipo de bureta para administração controlada do gotejamento, para segurança do paciente.

Por que é feito a Heparinização Plena?

O uso de heparina por via venosa ainda é comum em algumas situações clínicas encontradas no ambiente da medicina intensiva. A heparina é uma das drogas cujo uso encontra- se associado a uma elevada taxa de complicações, produzindo hemorragias por doses elevadas e tromboembolismo por doses insuficientes, sendo que o controle da administração é o fator mais decisivo de erro na heparinização.

A Rotina de Heparinização é conhecida como Esquema de Raschke, que se baseia em dados de experimentação clínica que visam manter os níveis plasmáticos de heparina entre 0,35 a 0,70 unidades/ml corrigidos para o peso corpóreo.

Devido à farmacodinâmica da heparina e pela característica clínica de seu uso, o Esquema de Raschke preconiza o emprego de um bolus inicial, seguido de infusão corrigida de acordo com o tempo de tromboplastina parcial ativado. (TTPA).

O Procedimento

  • bolus inicial de 80 unidades/Kg;
  • Preparar a solução de heparina com 5 mL (25.000 unidades);
  • 100 u/ml (25.000 unidades em 250ml de soro fisiológico);
  • Solicitar TTPA a cada 6 horas, espaçando- se para controles de 12 horas quando se obtiver 2 controles seguidos dentro da faixa ideal;
  • Ajustar a administração da heparina de acordo com a tabela abaixo:
TTPA Bolus Interrupção Mudança na infusão
< 35 80u/ Kg 0 aumentar 4u/Kg/h
35- 45 40u/ Kg 0 aumentar 3u/Kg/h
46- 60 40u/ Kg 0 aumentar 2u/Kg/h
61- 85 0 0 manter a infusão
86- 110 0 0 reduzir 2u/Kg/h
> 110 0 60 minutos reduzir 4u/kg/h
  • Arredondar a taxa de infusão para o valor mais próximo;
  • Quando o peso do paciente tiver peso abaixo de 50 kg ou acima de 120 kg, mantenha respectivamente o mínimo ou o máximo permitido pela tabela.
  • Anexar a folha de controle ao prontuário do paciente.

Observação: Ao programar a solução de heparina na bomba de infusão, utilizar o equipo bureta, onde a solução será depositada, programada para período de 24hs, devendo a bolsa da solução ser homogenizada antes de encher o equipo bureta novamente.

Alguns Cuidados de Enfermagem

Monitorização

A monitorização do uso EV de HNF é realizada através do TTPA colhido após 6 horas da primeira dose de HNF e de 6 em 6 horas até o ajuste adequado.

Atentar:

  • Sangramentos, hemorragias, enterorragias e melenas que podem ser apresentados durante o tempo de terapia;
  • Plaquetopenia induzida por heparina (via exames laboratoriais);

Antídotos – Reversão da heparinização

  • Neutralização da heparina em caso de urgência: sulfato de protamina – 1mg de sulfato de protamina neutraliza 100 UI de heparina. Dose máxima 50mg.
  • Neutralização da heparina de baixo peso molecular: o sulfato de protamina neutralizará somente 50% da atividade. Um miligrama de protamina para cada miligrama de enoxaparina.
  • Administrar plasma fresco congelado para reversão.

Referências:

Protocolo de Heparinização Plena do Hospital Israelita Albert Einstein

1. Gunnarsson OS, Sawyer WT, Montague D, et al. Appropriate use of heparin. Empiric vs nomogram- based dosing. Arch Intern Med 1995 Mar 13;155(5): 526-532.
2. Raschke RA, Reilly BM, Guidry JR, Fontana JR. The weight- based heparin dosing nomogram comparde with a “standard care” nomogram. A randomized controlled trial. Ann Intern Med 1993;119(9):874-881.
3. Rivey MP, Peterson JP. Pharmacy- managed, weight- based heparin protocol. Am J Hosp Pharm 1993 Feb;50(2):279-284.
4. Mungall D, Lord M, Cason S, Treadwell P, Willians D, Tedrick. Developing and testing a system to improve the quality of heparin anticoagulation in patients with acute cardiac syndromes. Am J Cardiol 1998;82(5):574-579.
5. Cory Toth and Chris Voll. Validation of a Weight-Based Nomogram for the Use of Intravenous Heparin in Transient Ischemic Attack or Stroke. Stroke 2002;33(3): 670-674.

6. Laffan M.A.and Brads ham A.E. Laboratory control of anticoagulant, thrombolytic and anti -platelet Therapy. In; Pratical Haematology, Dacie Jv and Lewis SM. 8 ed; cap. 19:367-380, 1995.
7. Gerlach, AT, Pickworth, KK, Seth, SK, et al. Enoxaparin and Bleeding Complications: A Review in Patients With and Without Renal Insufficiency. Pharmacotherapy 2000;20:771.
8. Hirsh J, Guyatt G, Albers GW, Harrington R, Schünemann HJ. Antithrombotic and thrombolytic therapy 8th Ed. ACCP Guidelines. Chest 2008;133:71S-105S.
9. Rosborough T K. Comparison of anti-factor Xa heparin activity anda activated partial thromboplastin time in 2,773 plasma samples from unfractionated heparin-treated patients.am J Clin Pathol.1997;108:662-668.

Veja também: