O que o paciente absorve durante uma consulta faz toda a diferença na adesão ao tratamento. E de fato, o nosso sistema de saúde está baseado na crença que pacientes entendem toda informação escrita e falada.
Na verdade, pacientes esquecem entre 80-90% do que é dito numa consulta.
Com a acelerada rotina e com o volume de pacientes, não reparamos nos detalhes que fazem a diferença para a consulta ser mais efetiva e deixar o paciente mais satisfeito.
Pontuo os 3 principais itens que confundem os pacientes:
Termos médicos
Pólipo, crescimento, lesão, reto, referenciar. Algumas palavras comuns a nós são pouco entendidas pela população em geral.
Em um estudo, uma de cada quatro mulheres que disseram saber o que era uma mamografia não sabiam na verdade. Existe um gap de conhecimento entre médicos e a enfermagem com os pacientes, sendo assim, quanto mais fácil e claro falarmos, melhor. Por exemplo:
Modificar -> Mudar
Expandir -> Ficar maior
Monitorar -> Ficar de olho
Benigno -> Não é câncer
Falência cardíaca -> Coração não bate bem
Receita médica
Em um estudo americano, uma receita com 7 medicamentos foi entregue a pacientes entre 55 e 74 anos para que organizassem os remédios , nele:
- Só 15% dos pacientes conseguiram organizar da maneira correta;
- 80% separaram dois medicamentos em que um tinha “tome 2 vezes ao dia” e outro com “tome de 12/12 horas”
Imagine receber uma receita com medicamentos de 12 em 12 horas, outros na hora do almoço, jantar, antes de dormir… Você tem que parar para organizá-los. O que deixa claro que:
“O problema da receita médica vai muito além da letra, é uma questão de arranjo de informação.”
O que pode fazer para minimizar esse problema? Aqui seguem algumas dicas:
- Separe os medicamentos por turnos e não vias de uso.
- Associe pictogramas (imagens), que comprovadamente aumentam entendimento.
- Peça que prescrevam medicamentos que tenham associações (grau A de evidência para adesão).
- Oriente anotar na caixa dos remédios os horários de tomada e colar em lugar visível a receita.
- Se medicamento de 8 em 8 horas, ou mesmo 12 em 12 horas, sugira horários de tomada:
- 06h – 14h – 22h
- 07h – 15h – 23h
- 08h – 16h – 00h
Orientações em geral
É comum dizermos aos pacientes:
“Diminua o sal”
“Coma mais saudável”
“Beba mais água”
“Faça exercício”
“Coma mais fibra”
Mas, o quanto mais de água se deve beber? O quanto de sal é considerado bom? O que é fazer exercício, quanto tempo? 42% dos pacientes de um estudo não entenderam a orientação “tome este remédio de estômago vazio”. Até por que, quanto tempo se deve esperar para comer ou mesmo depois de comer?
Na maioria das vezes passamos orientações vagas e rápidas, até pelo volume de pacientes, e muitas de uma só vez, na tentativa de fazer o paciente entender. Porém é importante lembrar que quanto mais claro e focarmos formos, melhor será.
O que você pode fazer é:
- Escolha uma ou duas orientações e explique bem. Na próxima, revise e oriente outras.
- Tenha um material com a orientação detalhada e escrita de forma simples.
- Evite usar qualificadores (muito, pouco, mais…) e exemplifique ao máximo.
E para provar que não é placebo, seguem as referências:
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http://www.forbes.com/sites/davechase/2012/10/14/doctors-success-hinges-on-transactor-to-teacher-transition/#18ff8215566b. Acessado em 04/08/17.
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Davis TC, Dolan NC, Ferreira MR, Tomori C, Green KW, Sipler AM, Bennett CL. The role of inadequate health literacy skills in colorectal cancer screening. Cancer Invest. 2001;19:193-200.
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Davis TC, Arnold C, Berkel HJ, Nandy I, Jackson RH, Glass J. Knowledge and attitude on screening mammography among low-literate, low-income women. Cancer. 1996;78:1912-1920.
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http://www.nytimes.com/2015/12/22/health/a-prescription-for-confusion-when-to-take-all-those-pills.html?_r=1. Acessado em 04/08/17.
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Sonal G Mansukhani (2015) The Effect of Using Pictograms on Comprehension of Medical Information – A Meta-Analysis. J. Pharm Pharm Scien 1(1): 22-32.
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Weiss et al, Health Literacy and patient safety: Help Patients Understand. Manual for clinicians. 2nd edition. 2012.