Medicamento Referência, Genérico e Similar: Desvendando as Diferenças

No dia a dia da prática clínica, seja em hospital, unidade básica ou farmácia hospitalar, o profissional de enfermagem lida constantemente com medicamentos de diferentes tipos e nomenclaturas. Entre eles, destacam-se os medicamentos de referência, genéricos e similares. Embora cumpram funções terapêuticas semelhantes, suas características regulatórias, composição e comprovação de eficácia podem variar.

Para uma administração segura e para uma orientação correta ao paciente, é essencial que o estudante de enfermagem compreenda claramente essas diferenças. Este texto reúne tudo de forma objetiva, detalhada e fácil de entender.

O que são medicamentos de referência?

O medicamento de referência é o produto original, desenvolvido por uma indústria farmacêutica após anos de pesquisa, testes clínicos e comprovação de segurança e eficácia. Ele é o primeiro a chegar ao mercado com aquela formulação específica e permanece sob proteção de patente por determinado período.

Durante esse tempo, nenhuma outra empresa pode produzir a mesma molécula com finalidade comercial, garantindo exclusividade à indústria que desenvolveu o fármaco.

Principais características

  • É o produto padrão de comparação para genéricos e similares.
  • Passou por ensaios clínicos e pré-clínicos completos.
  • Possui nome comercial (marca).
  • Seu preço costuma ser mais elevado devido à pesquisa envolvida.

Após o fim da patente, outras empresas podem fabricar medicamentos com o mesmo princípio ativo.

Nosso Papel: É o padrão de excelência e a base para a nossa comparação e educação do paciente.

O que são medicamentos genéricos?

Os medicamentos genéricos surgiram para ampliar o acesso ao tratamento, reduzir custos e manter a mesma eficácia dos medicamentos de referência. No Brasil, eles são identificados pela embalagem com a letra “G” em destaque.

O genérico possui exatamente o mesmo princípio ativo, concentração, forma farmacêutica, dose, via de administração, segurança e eficácia que o medicamento de referência.

Ele precisa obrigatoriamente comprovar bioequivalência, ou seja, demonstrar que age da mesma maneira no organismo, com a mesma absorção e efeito terapêutico.

Principais características

  • Não possui nome comercial, sendo identificado pelo nome do princípio ativo;
  • Deve ser bioequivalente ao medicamento de referência;
  • Tem eficácia e segurança comprovadas;
  • Custa menos, pois não envolve custos de pesquisa e desenvolvimento;
  • Substitui o medicamento de referência sem perda terapêutica.

Nosso Papel: Podemos substituí-lo pelo Referência na dispensação, garantindo ao paciente a mesma eficácia terapêutica a um custo menor.

O que são medicamentos similares?

Os medicamentos similares também são cópias dos medicamentos de referência, porém possuem nome comercial próprio (marca). Durante muitos anos, os similares tinham diferenças mais amplas, já que não precisavam comprovar bioequivalência de forma rígida. Porém, desde 2014, a Anvisa passou a exigir que todos os similares aprovados ou renovados demonstrem equivalência terapêutica, assim como os genéricos.

Isso significa que, atualmente, os similares no Brasil oferecem a mesma eficácia clínica que o medicamento de referência, mas ainda podem diferir em alguns aspectos.

Principais características

  • Possuem nome comercial;
  • Contêm o mesmo princípio ativo, concentração, forma farmacêutica e indicação;
  • Podem diferir em excipientes, tamanho, cor, forma e outros componentes não terapêuticos;
  • Desde as novas regulamentações, precisam comprovar equivalência terapêutica;
  • São alternativas seguras e geralmente mais acessíveis.

Nosso Papel: Informar o paciente que o Similar, quando testado e aprovado como equivalente, pode ser uma opção de economia, mas sempre verificando se cumpre os requisitos atuais de bioequivalência.

Lembrando então, as principais diferenças entre eles:

Medicamento de referência

É o medicamento inovador, padrão de comparação, com marca registrada e amplo histórico clínico.

Genérico

É igual ao de referência em tudo que diz respeito ao efeito terapêutico. Possui o mesmo princípio ativo e comprova bioequivalência. Não tem marca, apenas nome do princípio ativo.

Similar

Tem marca própria e pode ter diferenças em aparência e excipientes, mas precisa apresentar eficácia e segurança similares ao de referência.

Por que entender essa diferença é tão importante para a enfermagem?

A equipe de enfermagem é responsável por:

  • Administrar medicamentos de forma segura;
  • Esclarecer dúvidas do paciente;
  • Verificar possíveis reações adversas;
  • Registrar e conferir prescrições.

Saber reconhecer essas categorias ajuda a evitar confusões na dispensação e na administração, garante que o paciente receba o medicamento correto e facilita a comunicação com equipe multiprofissional e farmácia.

Cuidados de Enfermagem

Conferência rigorosa da prescrição

Antes de administrar, observe se o medicamento prescrito é genérico, similar ou referência. A substituição só pode ocorrer quando permitida pela legislação e pela instituição.

Atenção a possíveis alergias

Alterações em excipientes (mais comuns nos similares) podem trazer risco para pacientes com alergias específicas.

Registro preciso

Registre sempre o nome comercial ou genérico exato administrado, garantindo rastreabilidade.

Educação do paciente

Explique ao paciente que genéricos e similares são eficazes, evitando medos infundados e melhorando a adesão ao tratamento.

Avaliação de reações adversas

Apesar de terem o mesmo efeito terapêutico, diferenças em componentes não ativos podem alterar tolerância em casos específicos. Monitorar sinais é essencial.

Outros Cuidados

  • Garantia de Equivalência: Reforce que, no Brasil, o Genérico tem a eficácia terapêutica garantida pela ANVISA, sendo o mais seguro para a substituição direta.
  • Atenção aos Excipientes: Em pacientes com alergias (ex: corantes ou lactose), o Similar pode ter excipientes diferentes que precisam ser monitorados.
  • Transição: Ao substituir um medicamento (principalmente em doses críticas ou em doenças crônicas), o enfermeiro deve orientar o paciente a monitorar a resposta clínica, independentemente da categoria do novo medicamento, e a relatar quaisquer mudanças.

Medicamentos de referência, genéricos e similares cumprem funções importantes dentro da terapêutica, mas possuem características regulatórias e estruturais distintas. Para o estudante e o profissional de enfermagem, compreender essas diferenças é fundamental para administrar medicamentos com segurança, prestar orientações claras ao paciente e participar de forma ativa no cuidado medicamentoso.

A informação correta é sempre uma ferramenta de segurança e autonomia profissional.

Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Medicamentos: Guia de Bolso sobre Genéricos, Similares e Referência. Brasília, DF: ANVISA, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br
  2. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). O Papel dos Genéricos e Similares no Acesso à Saúde. Disponível em: https://www.cff.org.br/. Acesso em: 18 nov. 2025.
  3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medicamentos Genéricos: perguntas e respostas. Brasília, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
  4. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999. Define o medicamento genérico. Disponível em: https://www.planalto.gov.br.
  5. CARVALHO, M.; LIMA, R. Farmacologia Aplicada à Enfermagem. São Paulo: Guanabara Koogan, 2019.
  6. RANG, H. P.; DALE, M. M. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

Efeito Colateral vs. Reação Adversa: Entendendo a Diferença na Farmacologia

Ao estudar farmacologia, um dos pontos que exige atenção é a diferença entre efeito colateral e reação adversa. Embora esses termos sejam frequentemente usados como sinônimos, eles não significam a mesma coisa.

Entender essa diferença é fundamental para orientar pacientes, atuar com segurança na administração de medicamentos e notificar eventos que possam comprometer a saúde do usuário.

Neste artigo, vamos esclarecer de forma simples e completa como diferenciar essas respostas do organismo aos medicamentos e quais são os cuidados essenciais para a prática de enfermagem.

O que são efeitos colaterais?

O efeito colateral é uma ação secundária do medicamento, que ocorre além do efeito terapêutico desejado. Esses efeitos são esperados, previsíveis e geralmente conhecidos pela equipe de saúde e pelo fabricante.

Mesmo não sendo o propósito principal do medicamento, o efeito colateral está relacionado ao seu mecanismo de ação. Ele pode ser incômodo, neutro ou, em alguns casos, até benéfico. Um exemplo clássico é o uso do medicamento anti-histamínico que causa sonolência, ou o uso do sildenafil inicialmente estudado para hipertensão, mas que apresentou como efeito colateral a ereção prolongada, tornando-se o principal uso terapêutico.

  • Previsibilidade: Está na bula! É um efeito que faz parte da farmacodinâmica da droga.
  • Natureza: Pode ser benéfico ou indesejável, mas não é o objetivo principal do tratamento.

Exemplo Prático:

  • O objetivo de um anti-histamínico (como a Hidroxizina) é bloquear a histamina para aliviar a alergia.
  • O efeito colateral é a sonolência. Esta sonolência é um resultado previsível do bloqueio da histamina no SNC. É um efeito que acontece “de brinde” junto com o efeito principal.
  • Outro Exemplo: O Minoxidil foi inicialmente um anti-hipertensivo, mas o efeito colateral de crescimento capilar o transformou em tratamento para calvície (um efeito colateral que se tornou benéfico).

Em resumo, o efeito colateral é uma consequência direta e esperada do mecanismo de ação do medicamento.

O que são reações adversas?

A reação adversa ao medicamento (RAM) é qualquer resposta nociva, não intencional e inesperada que ocorre após a administração do fármaco em doses normalmente utilizadas. Diferente do efeito colateral, a reação adversa representa um evento prejudicial à saúde, muitas vezes exigindo intervenção clínica, suspensão do medicamento ou tratamento específico.

As reações adversas podem variar de quadros leves, como urticária, até situações graves como choque anafilático, insuficiência hepática medicamentosa ou complicações hematológicas.

  • Prejuízo: A RAM sempre implica um dano ou um potencial de dano ao paciente.
  • Natureza: O termo é mais amplo e engloba o efeito colateral, mas é usado principalmente para classificar eventos que são graves, inesperados ou que exigem intervenção clínica.
  • Reação Adversa Não-Esperada: É o ponto crucial. Se a reação for grave e nunca tiver sido documentada antes na literatura médica, ela é classificada como RAM e deve ser notificada (farmacovigilância).

Exemplo Prático:

  • Um paciente toma uma dose padrão de Penicilina e, minutos depois, desenvolve anafilaxia (choque anafilático) com dificuldade respiratória e hipotensão.
  • Isso não é um efeito colateral, é uma Reação Adversa Grave (RAM), pois é um evento de hipersensibilidade imunológica, que coloca a vida em risco e não é previsível em todos os pacientes que usam Penicilina.

Em resumo, a RAM é um evento prejudicial que pode ou não ser esperado, mas que exige vigilância e, muitas vezes, intervenção.

Mais outros exemplos práticos para não confundir!

Efeito colateral

Um paciente que utiliza um broncodilatador e apresenta taquicardia. A aceleração cardíaca é um efeito já esperado do medicamento devido ao seu mecanismo de ação.

Reação adversa

Um paciente que toma um antibiótico e apresenta uma reação anafilática súbita, com queda da pressão arterial e edema de glote. Isso não era esperado e coloca a vida do paciente em risco, sendo uma reação adversa grave.

Quando o efeito colateral se torna uma reação adversa?

Embora sejam conceitos diferentes, um efeito colateral pode se tornar uma reação adversa dependendo da intensidade ou da suscetibilidade do paciente. Por exemplo, a sonolência causada por um anti-histamínico pode ser considerada apenas um efeito colateral. Porém, se essa sonolência coloca o paciente em risco ao operar máquinas ou dirigir, passa a ser uma reação adversa relevante.

Portanto, o contexto e o impacto clínico são determinantes para a avaliação profissional.

Cuidados de Enfermagem diante de efeitos colaterais e reações adversas

Para o enfermeiro, a distinção é a base da farmacovigilância e do nosso plano de cuidado:

Avaliação constante do paciente

Monitorar sinais clínicos, mudanças comportamentais e queixas após administração de medicamentos é fundamental para identificar precocemente qualquer resposta inesperada.

Verificação de histórico

Antes de administrar medicamentos, é essencial colher informações como alergias, uso prévio de fármacos e histórico de reações adversas.

Atenção à polifarmácia

Pacientes idosos, de UTI e crônicos tendem a usar múltiplos medicamentos, aumentando o risco de interação medicamentosa. O profissional deve estar atento a prescrições múltiplas e duplicidades terapêuticas.

Registro e notificação

Eventos adversos devem ser registrados em prontuário e notificados conforme protocolos institucionais ou ao sistema NOTIVISA da Anvisa, quando grave ou suspeito de causar risco ao paciente.

Educação ao paciente

Orientar sobre efeitos esperados e sinais de alerta permite ao paciente reconhecer quando algo não está dentro da normalidade, contribuindo para segurança terapêutica.

Apesar de comuns, os termos efeito colateral e reação adversa não devem ser usados como sinônimos. Enquanto o efeito colateral é previsível e geralmente inerente ao mecanismo de ação do medicamento, a reação adversa é inesperada, indesejada e pode ser perigosa.

Diante disso, o profissional de enfermagem desempenha papel essencial na observação, registro, intervenção e educação, garantindo que o tratamento medicamentoso seja seguro e eficaz.

Referências:

  1. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Guidelines for setting up and running a pharmacovigilance centre. Geneva: WHO, 2010.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Guia de Farmacovigilância. 4. ed. Brasília: ANVISA, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br. (Consultar o guia de notificação de eventos adversos). 
  3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de Farmacovigilância para Profissionais de Saúde. Brasília, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa
  4. RANG, H. P.; DALE, M. M. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
  5. GOLAN, D. E. Farmacologia: Fundamentos. 6. ed. São Paulo: Artmed, 2020.
  6. SILVA, R. M.; OLIVEIRA, T. A. Segurança do paciente e farmacovigilância. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br.

Medicamentos Antiespasmódicos

Os antiespasmódicos são medicamentos amplamente utilizados na prática clínica, especialmente em situações que envolvem dor abdominal, cólicas intestinais, urinárias ou uterinas. Apesar de parecerem simples, esses fármacos possuem diferentes mecanismos de ação e exigem atenção no manejo e administração.

Neste artigo, você vai entender o que são os antiespasmódicos, suas principais classes, indicações terapêuticas e os cuidados de enfermagem fundamentais para o uso seguro e eficaz.

O que são medicamentos antiespasmódicos?

Os antiespasmódicos são substâncias que têm a função de reduzir ou eliminar espasmos musculares involuntários, principalmente em músculos lisos presentes em órgãos como o intestino, bexiga, útero e vias biliares.

Esses espasmos ocorrem devido a contrações desordenadas e dolorosas da musculatura, geralmente associadas a distúrbios gastrointestinais, urinários ou ginecológicos. O uso do antiespasmódico tem como objetivo aliviar a dor e melhorar o conforto do paciente, sem interferir diretamente na causa do problema.

Mecanismo de ação

Os antiespasmódicos atuam de duas formas principais:

  1. Diminuindo a contratilidade do músculo liso, impedindo que os impulsos nervosos provoquem contrações;
  2. Bloqueando substâncias químicas, como a acetilcolina, responsáveis pela estimulação dos músculos lisos.

Dependendo da classe do medicamento, a ação pode ocorrer no sistema nervoso central, no sistema nervoso autônomo ou diretamente sobre os músculos.

O Que Causa a Cólica? O Espasmo Muscular

A cólica é o resultado de um espasmo, que é a contração súbita e involuntária do músculo liso. Esses músculos revestem órgãos como o intestino, o estômago, o ureter e o útero.

  • O gatilho: O espasmo pode ser causado por inflamação, obstrução (como cálculo renal ou gases) ou distúrbios de motilidade (como na SII).
  • O objetivo do medicamento: Os antiespasmódicos agem para interromper essa contração, restaurando o ritmo normal e, consequentemente, aliviando a dor.

Principais classes de antiespasmódicos

Os antiespasmódicos podem ser classificados de acordo com seu mecanismo de ação e local de atuação. As principais classes incluem:

Antiespasmódicos de ação direta

Atuam diretamente sobre o músculo liso, reduzindo as contrações sem interferir no sistema nervoso. São indicados principalmente em cólicas intestinais e biliares.

Exemplo:

  • Escopolamina (butilbrometo de escopolamina) – bastante utilizada em cólicas gastrointestinais e urinárias;
  • Papaverina – utilizada em cólicas biliares e espasmos vasculares;
  • Trimebutina – age regulando a motilidade intestinal, sendo útil em síndromes como a do intestino irritável.

Anticolinérgicos (ou parasimpaticolíticos)

Esses medicamentos bloqueiam a ação da acetilcolina nos receptores muscarínicos, reduzindo a atividade do sistema nervoso parassimpático. Como consequência, há diminuição dos espasmos em órgãos como o estômago, intestinos e bexiga.

Exemplo:

  • Atropina – usada em emergências para reduzir secreções e tratar bradicardias, mas também possui efeito antiespasmódico;
  • Hioscina – encontrada em formulações orais e injetáveis, é amplamente utilizada para alívio de cólicas abdominais e menstruais.

Bloqueadores de canais de cálcio

Os canais de cálcio estão envolvidos na contração muscular. Ao bloqueá-los, esses medicamentos impedem a entrada de cálcio nas células musculares lisas, resultando em relaxamento muscular.

Exemplo:

  • Pinavério brometo e Otilônio brometo, utilizados principalmente em distúrbios funcionais do trato gastrointestinal, como a síndrome do intestino irritável.

Antiespasmódicos de ação central

Atuam no sistema nervoso central, reduzindo o tônus muscular e aliviando a dor associada aos espasmos. São mais utilizados em situações de espasmos musculares esqueléticos.

Exemplo:

  • Ciclobenzaprina e Tizanidina – usadas em espasmos musculares decorrentes de traumas ou doenças musculoesqueléticas.

Indicações clínicas dos antiespasmódicos

Esses medicamentos são amplamente indicados para o alívio de sintomas de diversas condições, como:

  • Cólica intestinal e biliar;
  • Espasmos vesicais e uretrais;
  • Cólica menstrual (dismenorreia);
  • Síndrome do intestino irritável;
  • Espasmos musculares pós-operatórios;
  • Distúrbios gastrointestinais funcionais.

Efeitos adversos e contraindicações

Embora sejam medicamentos seguros quando usados corretamente, os antiespasmódicos podem causar alguns efeitos adversos, especialmente os anticolinérgicos, como:

  • Boca seca;
  • Visão turva;
  • Retenção urinária;
  • Constipação intestinal;
  • Tontura e sonolência.

São contraindicados em casos de glaucoma de ângulo fechado, miastenia gravis, obstruções intestinais e hiperplasia prostática severa, pois podem agravar os sintomas dessas condições.

Cuidados de enfermagem

A administração de antiespasmódicos exige atenção especial aos efeitos colaterais, especialmente no contexto hospitalar ou de urgência.

Monitoramento dos Sinais Vitais (Neurotrópicos):

    • Intervenção: Ao administrar Escopolamina ou Atropina, monitore a frequência cardíaca. Pacientes idosos ou com problemas cardíacos preexistentes (como arritmias) são mais vulneráveis à taquicardia.

Manejo dos Efeitos Colaterais Anticolinérgicos:

    • Boca Seca e Sede: Oferecer pequenos goles de água ou gelo para aliviar o desconforto.
    • Retenção Urinária: Questionar o paciente sobre a capacidade de micção e monitorar o débito urinário. Em pacientes com hiperplasia prostática benigna (HPB), este é um risco elevado.

Avaliação da Dor:

    • Intervenção: Sempre reavaliar a intensidade da dor (usando a escala de 0 a 10) após a administração do medicamento. Se a dor persistir ou piorar, deve-se comunicar o médico, pois pode ser um sinal de complicação mais grave (como apendicite ou perfuração, que não seriam resolvidas apenas pelo relaxamento muscular).

Vias de Administração:

    • A administração intramuscular (IM) ou intravenosa (IV) é comum em crises agudas e exige a técnica correta para garantir a absorção e o efeito rápido.

O antiespasmódico é um alívio para quem sofre de cólica, mas é o nosso conhecimento farmacológico que garante que o conforto venha sem riscos desnecessários. Saber a diferença entre uma ação direta no músculo e um bloqueio nervoso nos torna profissionais mais competentes e seguros.

Referências:

  1. RANG, H. P. et al. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. (Consultar os capítulos sobre sistema nervoso autônomo e fármacos gastrointestinais).
  2. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. (Consultar os capítulos sobre administração de medicamentos e manejo da dor).
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Formulário Terapêutico Nacional 2023. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude.
  4. GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 14. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2022.
  5. RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.
  6. SILVA, T. P. et al. Abordagem farmacológica e clínica dos antiespasmódicos. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 57, n. 2, p. 210–218, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br.

Medicamentos Injetáveis: O Que Diferencia uma Droga Vesicante de uma Irritante?

O manuseio de medicamentos antineoplásicos e outras drogas intravenosas exige atenção redobrada dos profissionais de enfermagem, especialmente quando se trata de substâncias classificadas como vesicantes ou irritantes.

Apesar de ambas poderem causar reações locais importantes, suas consequências e formas de manejo são diferentes. Compreender essas diferenças é essencial para garantir a segurança do paciente e prevenir complicações graves.

A Droga Irritante: O Desconforto da Flebite

As drogas irritantes são aquelas que, ao serem infundidas, causam uma lesão na camada interna da veia (íntima), provocando inflamação.

  • O Mecanismo: A irritação é causada principalmente pelo pH extremo do medicamento (muito ácido ou muito alcalino) ou pela sua alta osmolaridade. Essa irritação se manifesta como dor, sensibilidade e vermelhidão ao longo do trajeto da veia.
  • O Risco Principal: O principal evento adverso é a flebite (inflamação da veia). Se houver extravasamento (o medicamento vazar para o tecido circundante), a irritação pode causar dor, inchaço e vermelhidão no local, mas raramente leva à necrose tecidual.

Exemplos Comuns:

    • Cloreto de Potássio (KCl) concentrado
    • Certas preparações de antibióticos
    • Fenitoína (quando administrada rapidamente)

A Droga Vesicante: O Perigo da Necrose Tecidual

As drogas vesicantes são o nível máximo de alerta. Elas são substâncias que, se extravasarem para o tecido subcutâneo (fora da veia), causam bolhas, inflamação grave, dor intensa e, mais importante, necrose tecidual (morte do tecido).

  • O Mecanismo: A toxicidade dessas drogas é celular. Elas destroem diretamente as células do tecido, causando dano irreversível que pode levar à perda funcional e exigir desbridamento cirúrgico.
  • O Risco Principal: Extravasamento seguido de necrose e, em casos graves, comprometimento funcional do membro. A dor e o inchaço são geralmente imediatos e intensos.

Exemplos Comuns (Sinais de Alerta Máximo):

    • Quimioterápicos: Doxorrubicina, Vincristina, Mitomicina C. (Estes são o “selo de ouro” dos vesicantes).
    • Vasopressores: Noradrenalina, Dopamina, Fenilefrina. (Esses medicamentos contraem os vasos e, se extravasam, causam isquemia e necrose no tecido ao redor, sendo tratados como vesicantes).
    • Soro Glicosado a 50% (por sua alta osmolaridade extrema, embora seja um irritante severo, muitas instituições o tratam como vesicante devido ao risco de necrose por osmolaridade).

Principais diferenças entre vesicantes e irritantes

Característica Drogas Vesicantes Drogas Irritantes
Efeito local Necrose, bolhas, ulceração Inflamação, dor e eritema
Gravidade da lesão Grave e permanente Leve e reversível
Conduta após extravasamento Interrupção imediata da infusão, aspiração do agente, aplicação de antídoto (quando disponível) e acompanhamento especializado Suspensão temporária da infusão, compressas e observação
Risco de sequelas Alto Baixo

Cuidados de enfermagem

O papel da enfermagem é fundamental na prevenção, identificação precoce e manejo de extravasamentos de drogas vesicantes e irritantes.

Prioridade Vesicante: Acesso Central é Melhor

  • Intervenção: Sempre que possível, medicamentos vesicantes (especialmente quimioterápicos e vasopressores) devem ser administrados via Acesso Venoso Central (CVC). O fluxo sanguíneo no acesso central é maior, diluindo o medicamento rapidamente e minimizando o risco de dano grave se houver falha.
  • Se for Acesso Periférico: Priorizar veias calibrosas e evitar áreas de flexão (cotovelo, punho) e veias de mão ou punho (onde há menos tecido subcutâneo para absorver um extravasamento).

Vigilância e Avaliação Contínua

  • Durante a Infusão: O enfermeiro deve estar presente no início da infusão e monitorar o local com frequência (a cada 5-10 minutos, especialmente vasopressores).
  • O Que Procurar: Qualquer queixa de dor, ardência, inchaço ou endurecimento no local da punção é um sinal de alerta e deve levar à interrupção imediata.

Em Caso de Extravasamento (Ação Rápida!)

Se houver extravasamento de um vesicante, a ordem de ação é crucial e deve ser feita em segundos:

  1. Parar a Infusão Imediatamente.
  2. NÃO Remover o Cateter: Tentar aspirar o máximo de medicamento extravasado através do próprio cateter.
  3. Remover o Cateter: Só depois de tentar aspirar.
  4. Aplicar o Antídoto: Dependendo do medicamento (ex: compressa fria ou quente, aplicação de antidotos específicos como hialuronidase ou fentolamina, conforme protocolo institucional).

Durante a administração:

  • Verificar a permeabilidade do acesso venoso antes de iniciar a infusão.
  • Preferir acessos venosos centrais para drogas vesicantes.
  • Monitorar continuamente o local de infusão durante todo o procedimento.
  • Orientar o paciente a comunicar imediatamente qualquer desconforto ou sensação de queimação.

Esses cuidados evitam complicações graves e demonstram a importância da vigilância contínua e do conhecimento técnico-científico por parte do profissional de enfermagem.

Conhecer a diferença entre drogas vesicantes e irritantes é essencial para garantir segurança e qualidade na assistência. A atuação do técnico e enfermeiro vai além da simples administração — envolve responsabilidade, observação, e tomada de decisões rápidas diante de intercorrências.

Além disso, o uso de protocolos institucionais e treinamentos periódicos são ferramentas indispensáveis para minimizar riscos e promover o cuidado seguro ao paciente em tratamento intravenoso.

Referências:

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENFERMEIROS ONCOLOGISTAS (SBEO). Recomendações para a Prevenção e Tratamento do Extravasamento de Agentes Quimioterápicos. Disponível em: http://www.sbeo.com.br/
  2. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. (Consultar os capítulos sobre terapia intravenosa e administração de medicamentos).
  3. INCA – Instituto Nacional de Câncer. Administração segura de quimioterápicos antineoplásicos: manual para profissionais de saúde. Rio de Janeiro: INCA, 2022. Disponível em: https://www.inca.gov.br
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos. Brasília: MS, 2013. Disponível em: https://www.gov.br/saude
  5. ONS – Oncology Nursing Society. Chemotherapy and Biotherapy Guidelines and Recommendations for Practice. 5th ed. Pittsburgh: ONS, 2019.

Washout Period (Período de eliminação)

washout period ou período de eliminação é o tempo necessário para que o organismo elimine todo o medicamento e os seus metabólitos ativos.

De modo figurado pode ser chamado de “período de descanso“.

O Conceito

Hoje em dia o conceito é muito usado nos ensaios clínicos com cruzamento entre os braços; um grupo de pacientes toma durante um tempo o medicamento A enquanto outro grupo toma o medicamento B e depois fazem a troca: o grupo que tomava o medicamento A passa a tomar o medicamento B e vice-versa.

Só que isso coloca um problema: se você suspender o medicamento A e passar a tomar o medicamento B imediatamente, você vai ter uma “mistura” dos dois medicamentos no seu organismo, cujas consequências são imprevisíveis.

É necessário, portanto, que haja um “período de descanso” ou de eliminação do medicamento que você começou tomando (e de todos os seus metabólitos ativos) para quando você passar a tomar o outro medicamento já não existir mais nenhum resquício do primeiro medicamento no seu organismo.

Isso é relativamente comum na prática clínica.

Existem classes farmacológicas que se antagonizam, assim como os humanos.

Um exemplo emblemático é o dos antidepressivos inibidores da monoaminoxidase (iMAO) e dos antidepressivos tricíclicos que, embora antigos*, são muito úteis.

Ao suspender o tratamento com iMAO é necessário guardar um período de eliminação de pelo menos 15 dias antes de o paciente poder começar a tomar um tricíclico, pois se este período não for respeitado e os iMAO não forem inteiramente eliminados do organismo o paciente pode fazer uma síndrome serotoninérgica.

Este tipo de interação farmacológica é comum entre diferentes classes, que exigem um período de eliminação do medicamento utilizado inicialmente antes do novo medicamento poder ser administrado.

Referência:

  1. U.S. National Library of Medicine

Medicamentos Anti-inflamatórios

Os anti-inflamatórios são medicamentos amplamente utilizados na prática clínica, e fazem parte da rotina de trabalho de qualquer profissional da saúde, especialmente aqueles que atuam na enfermagem.

Apesar de sua aparente simplicidade, seu uso exige conhecimento técnico, atenção aos efeitos adversos e um olhar atento aos cuidados com o paciente. Neste post, vamos entender melhor o que são os anti-inflamatórios, seus principais grupos, como atuam no organismo e o que a enfermagem precisa saber para um cuidado seguro e eficaz.

A Inflamação: Uma Resposta de Defesa do Nosso Corpo

Antes de falarmos dos medicamentos, precisamos entender o que é a inflamação. Ela é uma resposta natural do nosso corpo a uma lesão, infecção ou irritação. Pense em quando você torce o tornozelo: ele fica vermelho, inchado, quente e dolorido, certo? Esses são os sinais clássicos da inflamação. O objetivo da inflamação é proteger a área lesionada, eliminar o agente agressor e iniciar o processo de cicatrização.

O problema é que, muitas vezes, essa resposta inflamatória pode ser exagerada, causar muito desconforto (dor, inchaço) ou até mesmo ser prejudicial em algumas doenças crônicas. É aí que os anti-inflamatórios entram em cena para modular essa resposta.

Os Grandes Grupos de Anti-inflamatórios: Uma Abordagem Diferente

Existem basicamente dois grandes grupos de medicamentos anti-inflamatórios, e entender a diferença entre eles é crucial para o nosso cuidado:

Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): Os “Comuns” do Dia a Dia

Os AINEs são os mais conhecidos e utilizados, tanto por prescrição médica quanto na automedicação. Eles atuam inibindo a produção de substâncias no nosso corpo chamadas prostaglandinas, que são as grandes responsáveis por mediar a dor, a febre e a inflamação.

  • Como agem: Eles bloqueiam a ação de enzimas chamadas Cicloxigenases (COX-1 e COX-2).
    • COX-1: Está presente na maioria dos tecidos e é responsável por funções “boas”, como proteger a mucosa do estômago, manter o fluxo sanguíneo renal e a agregação plaquetária (ajudar na coagulação do sangue).
    • COX-2: É induzida principalmente em locais de inflamação e é a principal responsável pela dor e pela inflamação.

Os AINEs podem ser divididos em:

AINEs Não Seletivos (Inibidores de COX-1 e COX-2): São os mais antigos e de uso mais comum. Por inibirem as duas enzimas, são eficazes contra a dor e a inflamação, mas têm mais efeitos colaterais relacionados à inibição da COX-1.

Exemplos:

    • Ibuprofeno: Muito usado para dores leves a moderadas, febre e inflamações em geral.
    • Diclofenaco: Potente anti-inflamatório, usado para dores mais intensas e inflamações, como as articulares.
    • Naproxeno: Ação mais prolongada, útil para dores crônicas ou inflamações.
    • Ácido Acetilsalicílico (AAS) em doses altas: Embora mais conhecido como antiagregante plaquetário em doses baixas, em doses mais altas, age como anti-inflamatório, antipirético e analgésico.
    • Cetoprofeno, Nimesulida, Meloxicam, Indometacina, Piroxicam.

Cuidados de Enfermagem (AINEs Não Seletivos):

  • Risco Gastrointestinal: São os mais famosos por causar azia, dor no estômago, gastrite e até úlceras e sangramentos. Oriente o paciente a tomar com alimentos ou leite para proteger o estômago. Pergunte sobre histórico de problemas gástricos.
  • Risco Renal: Podem prejudicar os rins, especialmente em idosos, desidratados ou pacientes com doença renal pré-existente. Monitore a função renal (débito urinário, creatinina).
  • Risco Cardiovascular: Alguns podem aumentar o risco de eventos cardiovasculares (infarto, AVC), principalmente em uso prolongado e em pacientes de risco.
  • Risco de Sangramento: Por interferirem na agregação plaquetária, podem aumentar o risco de sangramentos (gengivas, nariz, equimoses). Oriente o paciente e esteja atento se ele já usa anticoagulantes.
  • NÃO usar em casos de Dengue ou suspeita: Devido ao risco de sangramento e complicação da doença.

AINEs Seletivos (Inibidores de COX-2): Desenvolvidos para inibir preferencialmente a COX-2, buscando reduzir os efeitos colaterais gastrointestinais, já que poupam a COX-1.

Exemplos:

    • Celecoxibe: Um dos mais conhecidos dessa classe.

Cuidados de Enfermagem (AINEs Seletivos):

  • Menor Risco Gastrointestinal: Embora o risco seja menor que os não seletivos, não é zero. Ainda é preciso cautela.
  • Risco Cardiovascular: Apesar de terem sido desenvolvidos para serem mais seguros, alguns estudos mostraram que podem ter um risco cardiovascular até maior em uso prolongado. São geralmente reservados para pacientes com alto risco gastrointestinal e baixo risco cardiovascular.

Corticosteroides (Anti-inflamatórios Esteroides): Os “Super-Heróis” Potentes

Os corticosteroides (ou glicocorticoides) são hormônios produzidos naturalmente pelo nosso corpo (como o cortisol) e também podem ser sintetizados em laboratório. Eles são os anti-inflamatórios mais potentes que existem, com um efeito muito mais amplo que os AINEs. Eles atuam em diversas vias da cascata inflamatória, suprimindo o sistema imunológico e reduzindo a inflamação de forma significativa.

  • Como agem: Atuam em nível genético, inibindo a produção de várias substâncias pró-inflamatórias e suprimindo a resposta imunológica.
  • Exemplos:
    • Prednisona, Prednisolona: Muito usadas por via oral.
    • Dexametasona: Potente, usada por via oral ou injetável.
    • Hidrocortisona: Usada em situações de emergência (ex: choque anafilático).
    • Betametasona, Metilprednisolona.

Cuidados de Enfermagem (Corticosteroides):

Por serem muito potentes e com efeitos em múltiplos sistemas, exigem cuidados rigorosos e monitoramento:

  • Uso em Curto Prazo vs. Longo Prazo: Os efeitos colaterais são mais significativos no uso prolongado e em doses altas.
  • Supressão da Imunidade: Podem diminuir a capacidade do corpo de combater infecções. Oriente o paciente a evitar contato com pessoas doentes e a relatar sinais de infecção.
  • Aumento da Glicemia: Podem aumentar os níveis de açúcar no sangue, mesmo em não diabéticos. Monitore a glicemia.
  • Efeitos Gastrointestinais: Também podem causar úlceras e sangramentos. Administrar com alimentos.
  • Distúrbios Psiquiátricos: Podem causar insônia, agitação, euforia ou depressão.
  • Ganho de Peso e Edema: Podem causar retenção de líquidos e inchaço (rosto em “lua cheia”, “pescoço de búfalo”).
  • Osteoporose: Em uso prolongado, aumentam o risco de osteoporose.
  • Hipertensão Arterial: Podem elevar a pressão arterial.
  • NÃO Interromper Abruptamente: O uso prolongado de corticosteroides pode suprimir a produção natural de cortisol pelas glândulas adrenais. A interrupção súbita pode causar uma crise adrenal (insuficiência adrenal aguda), que é uma emergência grave. A retirada deve ser feita de forma gradual, com desmame orientado pelo médico.
  • Orientar o paciente sobre os múltiplos efeitos colaterais: É vital que o paciente compreenda que, embora eficaz, o medicamento exige cuidado e monitoramento.

O Papel Essencial do Enfermeiro: Muito Além da Administração

Nós, profisisonais de enfermagem, somos os guardiões da segurança do paciente no uso de anti-inflamatórios. Nossa atuação vai além de simplesmente dar o comprimido:

  • Avaliação do Paciente: Antes de administrar, verificar o histórico de alergias, doenças pré-existentes (renais, cardíacas, gastrointestinais), uso de outros medicamentos (interações).
  • Orientação Rigorosa:
    • Explicar a importância de não exceder a dose prescrita e o tempo de uso.
    • Informar sobre os principais efeitos colaterais e quando procurar ajuda médica.
    • Orientar sobre a administração com alimentos (para AINEs e corticosteroides).
    • Alertar sobre a não interrupção abrupta dos corticosteroides.
    • Desaconselhar a automedicação, especialmente com AINEs, devido aos riscos.
  • Monitoramento Atento:
    • Observar sinais de sangramento (fezes escuras, vômito com sangue, sangramento nas gengivas).
    • Monitorar a função renal (débito urinário, exames).
    • Verificar a pressão arterial e a glicemia, especialmente com corticosteroides.
    • Avaliar a melhora dos sintomas (dor, febre, inflamação) e a ocorrência de efeitos adversos.
  • Comunicação: Reportar ao médico qualquer efeito adverso, falta de resposta ao tratamento ou dúvidas do paciente.

Os anti-inflamatórios são ferramentas poderosas no alívio do sofrimento, mas são facas de dois gumes. Compreender seus mecanismos, suas indicações e, crucialmente, seus riscos, nos capacita a promover um uso mais seguro e eficaz, protegendo nossos pacientes de possíveis complicações. Essa é a essência do nosso cuidado.

Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Bula dos medicamentos [Nome do medicamento, ex: Ibuprofeno, Prednisona]. (Acessar a bula mais recente disponível no site da ANVISA ou do fabricante para informações específicas de cada fármaco).
  2. KATZUNG, B. G.; MASTERS, S. B.; TREVOR, A. J. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Porto Alegre: AMGH, 2021. (Consultar capítulo sobre anti-inflamatórios).
  3. RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.; HENDERSON, G. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020. (Consultar capítulo sobre inflamação e medicamentos anti-inflamatórios).
  4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA (SBR). Consenso Brasileiro para o Tratamento da Osteoartrite. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 56, n. 4, p. 347-353, jul./ago. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbr/a/w2L5mJ7gK8hX3jS9qY4T/?lang=pt. (Embora seja sobre osteoartrite, o consenso aborda o uso de AINEs).

Medicamentos Nefrotóxicos

Os rins desempenham papel essencial na filtração do sangue, eliminação de toxinas e equilíbrio de eletrólitos e líquidos no corpo. No entanto, eles são órgãos altamente vulneráveis a lesões, especialmente causadas por alguns medicamentos. Esses fármacos, conhecidos como nefrotóxicos, podem comprometer a função renal, provocar insuficiência renal aguda ou crônica e gerar complicações graves se não forem utilizados com cautela.

Para o estudante e o profissional de enfermagem, é fundamental compreender quais são os principais medicamentos nefrotóxicos, como eles afetam os rins e quais cuidados devem ser observados durante seu uso.

O Que São Medicamentos Nefrotóxicos?

Medicamentos nefrotóxicos são aqueles capazes de provocar algum tipo de dano ao rim, seja reduzindo o fluxo sanguíneo renal, provocando inflamação ou levando à destruição de células renais. Esse efeito pode ser temporário ou permanente, dependendo da dose, do tempo de uso e das condições de saúde do paciente.

Principais Grupos de Medicamentos Nefrotóxicos

Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs)

Os AINEs, como ibuprofeno, diclofenaco e naproxeno, são amplamente utilizados para controle da dor e inflamações. Seu uso prolongado ou em doses elevadas pode reduzir o fluxo sanguíneo renal, aumentando o risco de insuficiência renal, especialmente em idosos e pacientes com doenças crônicas.

Antibióticos

Alguns antibióticos, como aminoglicosídeos (gentamicina, amicacina), vancomicina e anfotericina B, são conhecidos pelo risco de toxicidade renal. Eles podem provocar necrose tubular aguda e perda progressiva da função renal quando não monitorados adequadamente.

Quimioterápicos

Medicamentos utilizados no tratamento do câncer, como cisplatina e ifosfamida, também apresentam potencial nefrotóxico. Eles podem causar lesões diretas nos túbulos renais, além de favorecer distúrbios eletrolíticos importantes.

Contrastes Radiológicos

Os contrastes iodados, usados em exames de imagem como tomografias e angiografias, podem causar nefropatia induzida por contraste, caracterizada por um declínio agudo da função renal horas ou dias após o procedimento. Pacientes diabéticos e com insuficiência renal prévia estão em maior risco.

Imunossupressores

Medicamentos como ciclosporina e tacrolimo, utilizados em transplantes e doenças autoimunes, podem comprometer a circulação renal e provocar hipertensão arterial, além de lesão progressiva do parênquima renal.

Outros Medicamentos

A lista é longa, mas outros exemplos incluem os antifúngicos (como a anfotericina B), antivirais (como a tenofovir, usados para tratar o HIV), inibidores da bomba de prótons (como o omeprazol, em uso prolongado), e até o lítio, usado em psiquiatria.

Fatores de Risco para Nefrotoxicidade

  • Idade avançada
  • Doença renal pré-existente
  • Diabetes mellitus
  • Hipertensão arterial
  • Uso simultâneo de múltiplos medicamentos nefrotóxicos
  • Desidratação

Cuidados de Enfermagem

O nosso papel é fundamental para proteger os rins dos pacientes. Não podemos simplesmente evitar o uso dessas medicações, mas podemos mitigar os riscos.

  1. Avaliação Inicial: Antes da administração, é crucial verificar o histórico do paciente. Perguntar sobre doenças renais pré-existentes, diabetes, hipertensão e idade. Avaliar os exames laboratoriais, como a creatinina e a ureia, que indicam a função renal.
  2. Monitoramento Contínuo: Durante o tratamento, monitorar a função renal é uma prioridade. Verificar a creatinina e a ureia em exames de rotina, e estar atento a sinais clínicos de lesão renal, como a diminuição do débito urinário, edema (inchaço), e alterações na pressão arterial.
  3. Hidratação: A hidratação adequada é a melhor forma de proteger os rins. Incentivar a ingestão de líquidos (oralmente ou, se necessário, por via intravenosa), especialmente antes e após o uso de contrastes radiológicos ou medicamentos altamente nefrotóxicos.
  4. Administração e Doses: Administrar os medicamentos na dose e frequência corretas, sem atrasos ou adiantamentos que possam alterar a concentração sérica. A administração de aminoglicosídeos, por exemplo, deve ser espaçada para permitir a eliminação e diminuir o risco de toxicidade.
  5. Educação ao Paciente: Educar o paciente sobre a importância da hidratação, a necessidade de relatar qualquer alteração na urina (cor, odor, frequência) e evitar o uso de automedicação, especialmente com AINEs.
  6. Comunicação com a Equipe: Relatar imediatamente ao médico qualquer alteração na função renal ou sinais clínicos de lesão. Essa comunicação é vital para que a medicação possa ser ajustada ou suspensa a tempo.

O conhecimento sobre medicamentos nefrotóxicos é indispensável para garantir a segurança do paciente. Embora esses fármacos sejam muitas vezes necessários, seu uso deve ser criterioso, acompanhado por monitoramento contínuo e pela atuação vigilante da equipe de enfermagem. Reconhecer precocemente os sinais de nefrotoxicidade pode evitar complicações graves e preservar a função renal.

Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Guia prático para o tratamento de nefropatias por medicamentos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_tratamento_nefropatias_medicamentos.pdf
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA (SBN). Doença Renal Crônica. Disponível em: https://www.sbn.org.br/leigos/doenca-renal-cronica/. 2025. (O site da SBN é uma excelente fonte de informação para pacientes e profissionais).
  3. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. (Consultar os capítulos sobre sistema urinário e administração de medicamentos).
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes clínicas para o cuidado ao paciente com doença renal crônica no Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_clinicas_cuidado_paciente_renal.pdf.
  5. KELLUM, J. A.; LAMEIRE, N. Diagnosis, evaluation, and management of acute kidney injury: a KDIGO summary. Critical Care, v. 17, n. 1, p. 1-15, 2013. Disponível em: https://ccforum.biomedcentral.com/articles/10.1186/cc11454. 
  6. PERAZELLA, M. A. Pharmacology behind common drug nephrotoxicities. Clinical Journal of the American Society of Nephrology, v. 13, n. 12, p. 1897-1908, 2018. Disponível em: https://journals.lww.com/cjasn.

Medicamentos Expectorantes

A tosse com catarro, aquela tosse “produtiva” que insiste em nos acompanhar durante gripes, resfriados ou outras condições respiratórias, é um mecanismo de defesa do nosso corpo para eliminar o excesso de muco das vias aéreas.

No entanto, quando o muco está muito espesso ou em grande quantidade, ele pode ser difícil de ser expelido, causando desconforto e até dificuldade para respirar. É aí que entram os medicamentos expectorantes, nossos aliados para tornar essa eliminação mais fácil.

Para nós, profissionais de enfermagem e estudantes de enfermagem, entender como esses medicamentos agem e quais são suas diferenças é fundamental para orientar corretamente os pacientes. Vamos conhecer as classes de expectorantes e seus exemplos?

A Tosse Produtiva: Aliada ou Inimiga?

A tosse é um reflexo protetor. Quando ela vem acompanhada de catarro (muco, secreção), significa que o corpo está tentando expelir algo que está irritando as vias aéreas. O problema surge quando esse catarro é muito espesso e “grudento”, dificultando sua movimentação e eliminação. É nesse cenário que os expectorantes entram em ação, auxiliando o corpo a cumprir sua tarefa.

As Classes de Expectorantes: Dois Caminhos para o Mesmo Objetivo

Basicamente, podemos dividir os medicamentos expectorantes em duas grandes categorias, com mecanismos de ação um pouco diferentes, mas que visam o mesmo objetivo: facilitar a eliminação do muco.

Expectorantes Reflexos (ou Secretolíticos/Estimulantes da Secreção)

Esses medicamentos agem irritando levemente a mucosa gástrica (do estômago), o que estimula reflexamente as glândulas brônquicas a produzirem uma secreção mais fluida e em maior quantidade. Essa secreção mais líquida ajuda a diluir o muco espesso, tornando-o mais fácil de ser expectorado (jogado para fora pela tosse).

  • Como agem: Estimulam a produção de muco mais líquido, “lubrificando” as vias aéreas e facilitando a eliminação do catarro.
  • Exemplos Comuns:
    • Guaifenesina: É um dos expectorantes mais conhecidos e utilizados, presente em diversos xaropes e formulações para tosse. É considerado um expectorante de primeira linha por sua eficácia em fluidificar as secreções.
    • Iodeto de Potássio: Embora menos comum hoje em dia como expectorante puro, age de forma semelhante.
    • Balsâmicos (derivados de plantas): Alguns componentes de plantas, como o Bálsamo de Tolu, também podem ter uma ação expectorante reflexa.
  • Atenção de Enfermagem: Orientar o paciente sobre a importância da hidratação adequada, pois a ingestão de líquidos (especialmente água) potencializa a ação desses medicamentos, ajudando a fluidificar as secreções. Recomendar que evitem antitussígenos (medicamentos que inibem a tosse) se a tosse for produtiva, pois o objetivo é justamente expelir o catarro.

Mucolíticos: Quebrando as Ligações do Muco

Os mucolíticos são um pouco mais diretos em sua ação. Eles agem quebrando as ligações químicas (pontes dissulfeto) que tornam o muco espesso e viscoso. Ao quebrar essas ligações, eles diminuem a viscosidade do catarro, transformando-o em algo mais líquido e fácil de ser tossido.

  • Como agem: Quebram a estrutura do muco, tornando-o menos viscoso e mais fácil de ser eliminado.
  • Exemplos Comuns:
    • Acetilcisteína: Muito utilizada para fluidificar secreções respiratórias, inclusive em casos de bronquite crônica e fibrose cística. Também é um antídoto para intoxicação por paracetamol. Pode ser administrada via oral, inalatória ou, em casos específicos, endovenosa.
    • Carbocisteína: Semelhante à acetilcisteína, também atua quebrando a estrutura do muco.
    • Bromexina: Atua estimulando a produção de muco menos viscoso e aumentando o transporte mucociliar (o movimento dos cílios nas vias aéreas que ajuda a “empurrar” o muco para fora).
    • Ambroxol: É um metabólito ativo da bromexina, com ação semelhante, também estimulando a produção de surfactante pulmonar (uma substância que ajuda a manter os alvéolos abertos).
  • Atenção de Enfermagem: Da mesma forma que os expectorantes reflexos, a hidratação é fundamental para potencializar a ação dos mucolíticos. Orientar sobre o modo de uso (se for sachê para diluir, como preparar), possíveis efeitos gastrointestinais (náuseas, desconforto) e a importância de não usar antitussígenos junto, se o objetivo for a eliminação do catarro.

O Papel da Enfermagem: Orientação e Alívio do Conforto

Nós, profissionais de enfermagem, temos um papel crucial na orientação e no cuidado de pacientes que utilizam expectorantes. Nossas ações vão além da simples administração do medicamento:

  • Avaliação da Tosse: Avaliar o tipo de tosse (produtiva ou seca), a quantidade e característica do escarro (cor, consistência, odor). Isso ajuda a identificar a necessidade do expectorante e a monitorar a eficácia do tratamento.
  • Orientação sobre a Hidratação: Reforçar a importância de beber bastante água para fluidificar as secreções. Para pacientes com restrição hídrica, essa orientação deve ser dada com cautela e sob supervisão médica.
  • Ensino da Técnica de Tosse: Orientar o paciente sobre a forma mais eficaz de tossir para expelir as secreções, se necessário.
  • Monitoramento de Efeitos Adversos: Ficar atento a possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, como náuseas, vômitos, desconforto gastrointestinal ou, no caso da acetilcisteína inalatória, broncoespasmo (contração dos brônquios).
  • Evitar Associações Inadequadas: Orientar o paciente a não usar expectorantes e antitussígenos (que inibem a tosse) ao mesmo tempo, a menos que haja uma indicação médica muito específica, pois isso pode levar ao acúmulo de secreção nos pulmões.
  • Promoção do Conforto: Realizar higiene oral após a expectoração, oferecer lenços de papel e descartar o escarro de forma adequada.
  • Educação sobre a Causa da Tosse: Sempre que possível, orientar o paciente sobre a provável causa da tosse (resfriado, gripe, bronquite) e quando procurar o médico novamente (febre persistente, falta de ar, catarro com sangue, piora do quadro).

Os expectorantes são aliados importantes no alívio da tosse produtiva, mas seu uso deve ser consciente e acompanhado da orientação de um profissional de saúde. Para nós, entender as nuances de cada classe e saber como orientar nossos pacientes faz toda a diferença para um cuidado eficaz e centrado nas suas necessidades.

Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Guia de Consulta Rápida: Medicamentos que Atuam no Trato Respiratório. Brasília, DF: ANVISA, 2017. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/medicamentos/guias-e-manuais/guia-medicamentos-trato-respiratorio.pdf.
  2. KATZUNG, B. G.; MASTERS, S. B.; TREVOR, A. J. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Porto Alegre: AMGH, 2021. (Consultar capítulo sobre fármacos que atuam no sistema respiratório).
  3. RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.; HENDERSON, G. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020. (Consultar capítulo sobre sistema respiratório).
  4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA (SBPT). Recomendações da SBPT para o Manejo da Tosse. Jornal Brasileiro de Pneumologia, São Paulo, v. 46, n. 4, ago. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbp/a/t37RzV8Yw4M9n4K8H2hX3jS/?lang=pt.

Oncologia: Dose de Resgate

Em pacientes com câncer, a dor é um sintoma comum e que pode ser intensamente debilitante. Para controlá-la, são utilizados medicamentos analgésicos, como os opioides. A dose de resgate é uma quantidade extra de analgésico administrada quando a dor se intensifica, mesmo que o paciente esteja tomando um medicamento de base para controle contínuo da dor.

Por que a dose de resgate é importante?

Prevenção de crises de dor

Ao ter uma dose de resgate disponível, o paciente pode agir rapidamente quando a dor aumenta, evitando que ela se torne intensa e difícil de controlar.

Melhora da qualidade de vida

O controle eficaz da dor permite que o paciente tenha mais qualidade de vida, podendo realizar suas atividades diárias e interagir com seus familiares e amigos.

Como funciona a dose de resgate?

A dose de resgate é geralmente um medicamento de ação rápida, como a morfina ou o fentanil, que podem ser administrado por via oral, transdérmico, sublingual ou injetável. A dose e a frequência de uso devem ser individualizadas e prescritas por um médico.

Fatores que influenciam a dose de resgate

  • Intensidade da dor: A dose de resgate deve ser suficiente para aliviar a dor, mas sem causar efeitos colaterais excessivos.
  • Tipo de câncer: Diferentes tipos de câncer podem causar diferentes tipos de dor, o que pode exigir diferentes abordagens para o controle da dor.
  • Outros medicamentos: O uso de outros medicamentos pode interagir com os analgésicos, afetando sua eficácia e segurança.
  • Condições médicas: Condições médicas como doença renal ou hepática podem afetar a forma como o organismo metaboliza os medicamentos.

É importante ressaltar que a dose de resgate deve ser utilizada apenas quando a dor não estiver controlada pela medicação de base. O uso inadequado de analgésicos pode levar à dependência e a outros problemas de saúde.

Quais são os efeitos colaterais da dose de resgate?

Os efeitos colaterais mais comuns dos opioides incluem:

  • Sonolência
  • Náuseas
  • Vômitos
  • Constipação
  • Prurido

Cuidados de Enfermagem

A dose de resgate é uma ferramenta fundamental no manejo da dor em pacientes oncológicos, mas exige cuidados específicos por parte da equipe de enfermagem. Acompanhe as principais ações e considerações:

Antes da Administração

  • Verificar a prescrição médica: Confirmar a dose, a via de administração, o intervalo entre as doses e o medicamento prescrito.
  • Avaliar a dor do paciente: Utilizar escalas de dor adequadas para avaliar a intensidade e características da dor antes e após a administração do medicamento.
  • Monitorar sinais vitais: Verificar pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória, especialmente em pacientes que utilizam opioides pela primeira vez ou em doses elevadas.
  • Orientar o paciente: Explicar ao paciente a importância da dose de resgate, como utilizá-la corretamente e quais os possíveis efeitos colaterais.

Durante a Administração

  • Preparar o medicamento: Seguir rigorosamente as normas de preparo de medicamentos, garantindo a dose correta e a via de administração indicada.
  • Administrar o medicamento: Administrar a dose de resgate conforme a prescrição médica, observando as precauções de segurança.
  • Monitorar o paciente: Observar o paciente durante a administração e nos minutos seguintes, verificando se há reações adversas.

Após a Administração

  • Avaliar a efetividade: Reavaliar a dor do paciente após 30 minutos a 1 hora da administração da dose de resgate.
  • Registrar: Registrar a hora da administração, a dose utilizada, a via de administração e a resposta do paciente.
  • Monitorar efeitos colaterais: Observar o paciente quanto ao aparecimento de efeitos colaterais como sonolência, náuseas, vômitos, constipação e prurido.
  • Comunicar ao médico: Informar ao médico sobre qualquer alteração no quadro clínico do paciente, como aumento da intensidade da dor, piora dos efeitos colaterais ou dificuldade respiratória.

Cuidados Especiais

  • Educação do paciente e familiar: É fundamental que o paciente e seus familiares sejam orientados sobre a importância de utilizar a dose de resgate de acordo com a prescrição médica, como identificar os sinais de superdosagem e a importância de comunicar qualquer alteração ao profissional de saúde.
  • Monitoramento da função respiratória: Pacientes que utilizam opioides devem ser monitorados quanto à depressão respiratória, especialmente aqueles com doenças pulmonares pré-existentes ou que utilizam outras medicações que podem deprimir a respiração.
  • Prevenção da constipação: É importante orientar o paciente sobre a importância de ingerir líquidos e fibras, praticar atividades físicas e utilizar laxantes, se necessário.

Outros cuidados importantes:

  • Avaliação da resposta ao tratamento: A dose de resgate deve ser ajustada regularmente, de acordo com a resposta do paciente.
  • Considerar outras terapias: Além da medicação, outras terapias podem ser utilizadas para auxiliar no controle da dor, como a fisioterapia, a terapia ocupacional e a acupuntura.
  • Abordagem multidisciplinar: O manejo da dor em pacientes oncológicos deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, que inclui médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais.

Ao seguir esses cuidados, a equipe de enfermagem contribui para um melhor controle da dor e uma maior qualidade de vida para os pacientes oncológicos.

Referências:

  1. SILVA, A. B.; SANTOS, C. D. Manejo da dor em pacientes oncológicos: um guia prático. Revista da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, São Paulo, v. 38, n. 2, p. 105-112, 2023.
  2. LIGA CONTRA O CÂNCER. Protocolo da dor. Disponível em: https://ligacontraocancer.com.br/wp-content/uploads/2019/03/Protocolo-da-Dor-Liga-site.pdf.
  3. PEDRO, A.; RIBEIRO DA SILVA, M.P. Manual de Rotação de Opióides. 3. ed. Portugal: Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, 2017.
  4. SILVA, A. B. Como utilizar opioides em cuidados paliativos? Artmed. Disponível em: https://artmed.com.br/artigos/como-utilizar-opioide-em-cuidados-paliativos. 

Antieméticos: Grupos, Medicamentos e Cuidados de Enfermagem

Sentir náuseas e vomitar é algo desconfortável para qualquer pessoa, sobretudo para pacientes em tratamentos como quimioterapia, pós-operatório ou gravidez. É aí que entram os antieméticos — medicamentos com ação específica para prevenir e tratar esses sintomas. No entanto, cada grupo atua de forma distinta e exige atenção da equipe de enfermagem na escolha, administração e monitoramento.

Nesta publicação, explico de forma natural e prática os principais grupos de antieméticos, os medicamentos dentro deles e os cuidados necessários para usá-los de forma segura e eficaz.

Por Que Sentimos Náuseas e Vômitos? O Sistema de Alerta do Corpo

Antes de falar dos medicamentos, é importante saber que náuseas e vômitos não são doenças em si, mas sim sintomas. Eles são um mecanismo de defesa do nosso corpo, uma forma de expulsar substâncias que ele considera prejudiciais ou de sinalizar que algo não está bem.

O centro de vômito, localizado no cérebro, é ativado por diversas vias:

  • Estímulos do trato gastrointestinal: Irritação no estômago ou intestino.
  • Zona quimiorreceptora de gatilho (ZQG): Uma área no cérebro sensível a substâncias tóxicas no sangue (como quimioterápicos).
  • Sistema vestibular: Envolvido no equilíbrio, responsável pelo enjoo de movimento.
  • Córtex cerebral: Estímulos como dor, estresse, ansiedade, ou até mesmo cheiros e visões desagradáveis.

Os antieméticos atuam bloqueando esses diferentes sinais, impedindo que cheguem ao centro de vômito e causem o mal-estar.

Anticolinérgicos (Antimuscarínicos)

Os anticolinérgicos, também chamados antimuscarínicos, agem bloqueando os receptores de acetilcolina no sistema nervoso central e periférico, sendo eficazes em náuseas associadas a distúrbios vestibulares, como tontura e enjoos de movimento.

O exemplo mais conhecido é a escopolamina, usada em adesivo transdérmico para prevenir náuseas por movimento. Entre os efeitos adversos, são comuns boca seca, visão turva, retenção urinária e constipação.

Cuidados de enfermagem: observar sinais de retenção urinária, orientação para não expor a adolescentes/desconforto ocular e registrar a aplicação correta do adesivo.

Anti-histamínicos

Esses medicamentos bloqueiam receptores H1, reduzindo náuseas causadas por estimulação vestibular (como enjoo de movimento ou labirintite). Entre eles estão a prometazina, a dimenidrinato e a hidroxizina .

São eficazes, mas causam sedação, tontura e efeitos anticolinérgicos.

Cuidados de enfermagem: monitorar nível de consciência, orientar sobre evitar atividades que exijam atenção (como dirigir) e planejar administração à noite.

Antagonistas dos receptores de dopamina (principalmente D₂)

Atuam na zona gatilho quimiorreceptora, sendo úteis em vômitos por opióides, anestesia ou quimioterapia. Os principais são a metoclopramida, domperidona, clorpromazina e droperidol. Esses fármacos podem causar sintomas extrapiramidais e prolongar o intervalo QT.

Cuidados de enfermagem: monitorar sinais extrapiramidais (tremores, rigidez), avaliar ECG se houver risco, observar episódios de sonolência e avisar médicas sobre efeitos adversos.

Antagonistas dos receptores de serotonina (5‑HT₃)

São os fármacos mais usados atualmente para vômitos pós-quimioterapia ou pós-operatório. Entre eles destacam-se a ondansetrona, granisetrona, dolasetrona, tropisetrona e palonosetrona.

Esses medicamentos bloqueiam receptores 5‑HT₃ no sistema nervoso central e nas terminações vagais intestinais, reduzindo efetivamente a náusea. Têm efeitos adversos como cefaleia, constipação e prolongamento do QT.

Cuidados de enfermagem: verificar histórico cardíaco, monitorar frequência cardíaca, registrar resposta ao medicamento e ajustar doses conforme prescrição.

Antagonistas dos receptores de neurocinina‑1 (NK₁)

Principais representantes: aprepitanto, fosaprepitanto, casopitanto, rolapitant. Esses bloqueiam os receptores da substância P, sendo eficazes em vômitos tardios relacionados à quimioterapia.

Cuidados de enfermagem: acompanhar possíveis efeitos gastrointestinais (fadiga, diarreia), interações medicamentosas via CYP3A4 (com corticosteroides, por exemplo), e registrar o perfil hepático.

Canabidiol e canabinóides (como nabilona)

Os canabinoides atuam em receptores CB1 e modulam também os receptores 5‑HT₃, reduzindo náuseas. A nabilona, um canabinoide sintético, é aprovada pela FDA para náuseas induzidas por quimioterapia. Já o canabidiol (CBD) tem efeito antiemético e pode ser prescrito no Brasil sob controle especial .

Cuidados de enfermagem: monitorar efeitos como tontura, aumento de apetite, hipotensão ortostática, interações com outros medicamentos e orientar sobre possíveis efeitos psicoativos (mais prevalente com THC).

Outras classes mencionadas em prática

Embora não tenham sido foco principal, vale mencionar: benzodiazepínicos (lorazepam, diazepam) usados para náuseas emocionais, e glucocorticoides (dexametasona), frequentemente combinados com antagonistas 5‑HT₃ e NK₁ para tratar vômitos induzidos por quimioterapia.

Cuidados de Enfermagem

Nós, profissionais de enfermagem, temos um papel crucial no manejo das náuseas e vômitos:

  • Avaliação Abrangente: Não basta saber que o paciente está com náuseas. Precisamos investigar a causa, a intensidade, o que piora e o que melhora.
  • Administração Segura: Conhecer o medicamento, a dose correta, a via, o tempo de infusão e os principais efeitos colaterais.
  • Monitoramento da Eficácia: Observar se o medicamento fez efeito e se o paciente está mais confortável.
  • Manejo de Efeitos Colaterais: Estar atento aos efeitos adversos e saber como agir.
  • Conforto e Medidas Não Farmacológicas: Além do medicamento, oferecer conforto: ambiente calmo, ventilação, compressas frias, alimentos leves (se permitido), e apoio emocional.
  • Educação ao Paciente: Explicar sobre os medicamentos, seus efeitos esperados e os efeitos colaterais que deve relatar.

Os antieméticos não são soluções universais; cada grupo atua em receptores específicos e demanda cuidado dedicado na escolha e uso. Para o estudante de enfermagem, valorizar a farmacologia, aplicar técnicas seguras e observar sinais de complicações torna o cuidado mais eficiente e centrado no paciente.

Referências:

  1. GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 13. ed. Rio de Janeiro: McGraw Hill Brasil, 2018. (Consultar capítulos sobre fármacos que atuam no sistema nervoso autônomo, agentes procinéticos e antieméticos).
  2. KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia Básica e Clínica. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. (Consultar capítulo sobre fármacos que atuam no sistema nervoso central e antieméticos).
  3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA CLÍNICA (SBOC). Guia de Recomendações SBOC: Manejo de Náuseas e Vômitos Induzidos por Quimioterapia (NVIQ). Disponível em publicações da SBOC (geralmente atualizadas periodicamente).
  4. LECTURIO. Antieméticos: classes e ação em diferentes receptores. 2022. Disponível em: https://www.lecturio.com/es/concepts/antiemeticos/
  5. NCBI. Cannabinoid Antiemetic Therapy. StatPearls, 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK535430/
  6. MEDICINE.CANCER.GOV. Cannabis y canabinoides – náuseas e vômitos. 2025. Disponível em: https://www.cancer.gov/espanol/cancer/tratamiento/mca/pro/cannabis‑pdq/
  7. WIKIPEDIA. Nabilona. 2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nabilona