
No dia a dia da prática clínica, seja em hospital, unidade básica ou farmácia hospitalar, o profissional de enfermagem lida constantemente com medicamentos de diferentes tipos e nomenclaturas. Entre eles, destacam-se os medicamentos de referência, genéricos e similares. Embora cumpram funções terapêuticas semelhantes, suas características regulatórias, composição e comprovação de eficácia podem variar.
Para uma administração segura e para uma orientação correta ao paciente, é essencial que o estudante de enfermagem compreenda claramente essas diferenças. Este texto reúne tudo de forma objetiva, detalhada e fácil de entender.
O que são medicamentos de referência?
O medicamento de referência é o produto original, desenvolvido por uma indústria farmacêutica após anos de pesquisa, testes clínicos e comprovação de segurança e eficácia. Ele é o primeiro a chegar ao mercado com aquela formulação específica e permanece sob proteção de patente por determinado período.
Durante esse tempo, nenhuma outra empresa pode produzir a mesma molécula com finalidade comercial, garantindo exclusividade à indústria que desenvolveu o fármaco.
Principais características
- É o produto padrão de comparação para genéricos e similares.
- Passou por ensaios clínicos e pré-clínicos completos.
- Possui nome comercial (marca).
- Seu preço costuma ser mais elevado devido à pesquisa envolvida.
Após o fim da patente, outras empresas podem fabricar medicamentos com o mesmo princípio ativo.
Nosso Papel: É o padrão de excelência e a base para a nossa comparação e educação do paciente.
O que são medicamentos genéricos?
Os medicamentos genéricos surgiram para ampliar o acesso ao tratamento, reduzir custos e manter a mesma eficácia dos medicamentos de referência. No Brasil, eles são identificados pela embalagem com a letra “G” em destaque.
O genérico possui exatamente o mesmo princípio ativo, concentração, forma farmacêutica, dose, via de administração, segurança e eficácia que o medicamento de referência.
Ele precisa obrigatoriamente comprovar bioequivalência, ou seja, demonstrar que age da mesma maneira no organismo, com a mesma absorção e efeito terapêutico.
Principais características
- Não possui nome comercial, sendo identificado pelo nome do princípio ativo;
- Deve ser bioequivalente ao medicamento de referência;
- Tem eficácia e segurança comprovadas;
- Custa menos, pois não envolve custos de pesquisa e desenvolvimento;
- Substitui o medicamento de referência sem perda terapêutica.
Nosso Papel: Podemos substituí-lo pelo Referência na dispensação, garantindo ao paciente a mesma eficácia terapêutica a um custo menor.
O que são medicamentos similares?
Os medicamentos similares também são cópias dos medicamentos de referência, porém possuem nome comercial próprio (marca). Durante muitos anos, os similares tinham diferenças mais amplas, já que não precisavam comprovar bioequivalência de forma rígida. Porém, desde 2014, a Anvisa passou a exigir que todos os similares aprovados ou renovados demonstrem equivalência terapêutica, assim como os genéricos.
Isso significa que, atualmente, os similares no Brasil oferecem a mesma eficácia clínica que o medicamento de referência, mas ainda podem diferir em alguns aspectos.
Principais características
- Possuem nome comercial;
- Contêm o mesmo princípio ativo, concentração, forma farmacêutica e indicação;
- Podem diferir em excipientes, tamanho, cor, forma e outros componentes não terapêuticos;
- Desde as novas regulamentações, precisam comprovar equivalência terapêutica;
- São alternativas seguras e geralmente mais acessíveis.
Nosso Papel: Informar o paciente que o Similar, quando testado e aprovado como equivalente, pode ser uma opção de economia, mas sempre verificando se cumpre os requisitos atuais de bioequivalência.
Lembrando então, as principais diferenças entre eles:
Medicamento de referência
É o medicamento inovador, padrão de comparação, com marca registrada e amplo histórico clínico.
Genérico
É igual ao de referência em tudo que diz respeito ao efeito terapêutico. Possui o mesmo princípio ativo e comprova bioequivalência. Não tem marca, apenas nome do princípio ativo.
Similar
Tem marca própria e pode ter diferenças em aparência e excipientes, mas precisa apresentar eficácia e segurança similares ao de referência.
Por que entender essa diferença é tão importante para a enfermagem?
A equipe de enfermagem é responsável por:
- Administrar medicamentos de forma segura;
- Esclarecer dúvidas do paciente;
- Verificar possíveis reações adversas;
- Registrar e conferir prescrições.
Saber reconhecer essas categorias ajuda a evitar confusões na dispensação e na administração, garante que o paciente receba o medicamento correto e facilita a comunicação com equipe multiprofissional e farmácia.
Cuidados de Enfermagem
Conferência rigorosa da prescrição
Antes de administrar, observe se o medicamento prescrito é genérico, similar ou referência. A substituição só pode ocorrer quando permitida pela legislação e pela instituição.
Atenção a possíveis alergias
Alterações em excipientes (mais comuns nos similares) podem trazer risco para pacientes com alergias específicas.
Registro preciso
Registre sempre o nome comercial ou genérico exato administrado, garantindo rastreabilidade.
Educação do paciente
Explique ao paciente que genéricos e similares são eficazes, evitando medos infundados e melhorando a adesão ao tratamento.
Avaliação de reações adversas
Apesar de terem o mesmo efeito terapêutico, diferenças em componentes não ativos podem alterar tolerância em casos específicos. Monitorar sinais é essencial.
Outros Cuidados
- Garantia de Equivalência: Reforce que, no Brasil, o Genérico tem a eficácia terapêutica garantida pela ANVISA, sendo o mais seguro para a substituição direta.
- Atenção aos Excipientes: Em pacientes com alergias (ex: corantes ou lactose), o Similar pode ter excipientes diferentes que precisam ser monitorados.
- Transição: Ao substituir um medicamento (principalmente em doses críticas ou em doenças crônicas), o enfermeiro deve orientar o paciente a monitorar a resposta clínica, independentemente da categoria do novo medicamento, e a relatar quaisquer mudanças.
Medicamentos de referência, genéricos e similares cumprem funções importantes dentro da terapêutica, mas possuem características regulatórias e estruturais distintas. Para o estudante e o profissional de enfermagem, compreender essas diferenças é fundamental para administrar medicamentos com segurança, prestar orientações claras ao paciente e participar de forma ativa no cuidado medicamentoso.
A informação correta é sempre uma ferramenta de segurança e autonomia profissional.
Referências:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Medicamentos: Guia de Bolso sobre Genéricos, Similares e Referência. Brasília, DF: ANVISA, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br.
- CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). O Papel dos Genéricos e Similares no Acesso à Saúde. Disponível em: https://www.cff.org.br/. Acesso em: 18 nov. 2025.
- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medicamentos Genéricos: perguntas e respostas. Brasília, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999. Define o medicamento genérico. Disponível em: https://www.planalto.gov.br.
- CARVALHO, M.; LIMA, R. Farmacologia Aplicada à Enfermagem. São Paulo: Guanabara Koogan, 2019.
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RANG, H. P.; DALE, M. M. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.












