Hipodermóclise

A hipodermóclise é a infusão de fluidos no tecido subcutâneo. O mecanismo da hipodermóclise consiste, a partir da administração lenta de soluções no espaço subcutâneo, na ação combinada entre difusão de fluidos, perfusão tecidual, pressão osmótica e pressão hidrostática, possibilitando a passagem das soluções para a circulação sanguínea.

Constitui modalidade de administração de fluidos para correção rápida de desequilíbrio hídrico e eletrolítico em pacientes moderadamente desidratados, para os quais o acesso venoso pode ser difícil ou não indicado de se obter, bem como em indivíduos com comprometida ingesta de fluidos por via oral.

Começou a seu utilizada nas décadas de 1940 e 1950. As primeiras intervenções foram realizadas em crianças, associando a técnica ao uso de hialuronidase.

Nos anos seguintes houve declínio de seu uso na prática assistencial devido à introdução de cateteres intravenosos modernos, bem como relatos de problemas relacionados à técnica, como a infusão de soluções hipertônicas, de medicamentos vesicantes, em volume excessivo ou por administração rápida.

Nos últimos 20 anos, voltou a ser recomendada para aplicação na prática clínica, especialmente para pacientes idosos, durante tratamento prolongado ou para pacientes em cuidados paliativos.

MEDICAMENTOS COMUMENTE UTILIZADOS NA TERAPIA SUBCUTÂNEA OU HIPODERMÓCLISE

Os medicamentos de escolha têm pH próximo à neutralidade e são hidrossolúveis. São eles:

  • Sulfato de morfina;
  • Brometazida;
  • Ondansetrona;
  • Metadona;
  • Midazolan;
  • Prometazina;
  • Octreotide;
  • Metoclopramida;
  • Fenobarbital;
  • Escopolamina;
  • Dexametasona;
  • Clorpromazina;
  • Clonidina;
  • Brometo de n-butil;
  • Ranitidina;
  • Garamicina;
  • Tramadol.

MEDICAMENTOS INCOMPATÍVEIS COM A VIA SUBCUTÂNEA:

  • Diazepam;
  • Diclofenaco;
  • Eletrólitos não diluídos;
  • Fenitoína.

INCOMPATIBILIDADE:

A incompatibilidade compromete a eficácia da medicação, então é importante a atenção para:

  • Soluto e solvente;
  • Soluto e soluto;
  • Solução e recipiente.

A incompatibilidade pode ser visível, no que diz respeito à precipitação ou alteração da cor.

INDICAÇÃO DA HIPODERMÓCLISE

  • Hidratação – quando o paciente não recebe quantidade suficiente de líquido oralmente e tem o acesso venoso periférico prejudicado por substância necrosante (quimio/radioterapia);
  • Dor -sintoma efetivamente presente em estágio avançado da doença.5,6

Vantagens:

  • Baixo custo;
  • Método simples, seguro e eficaz;
  • Pode ser utilizado por pessoas que não sejam da área de saúde;
  • Favorece a funcionalidade do paciente;
  • Baixo índice de infecção;
  • Pode ser usado em ambulatório, ideal para ser utilizado em casa sob supervisão;
  • Reduza flutuação das concentração plasmática de opioides;
  • Usada para hidratação a longo prazo.6

DESVANTAGENS

  • Não pode ser usado em pacientes que apresentam trombocitopenia ou problemas de coagulação;
  • Não é a via de escolha para fazer grandes volumes;
  • Usar somente 1ml/h até 3.000ml, sendo 1.500ml de cada lado do tórax;
  • Possibilidade de reação local (sinais flogísticos).5,6

CONTRA INDICAÇÃO

  • Infusão rápida de grande volume;
  • Desidratação severa;
  • Distúrbio severo de eletrólitos.6

UTILIZAÇÃO DOS MEDICAMENTOS

Diluir a medicação na apresentação líquida em água para injeção. Exceção: octreotídeo, ketamina, ondansetrona, devem ser diluídos em solução salina a 0,9%.

Volume: diluir a medicação em 100%, ou seja, se a medicação tiver 1ml a diluição será para 2ml, 1ml da água para injeção e 1ml do medicamento igual ou total a 2ml.5

TÉCNICA

Pode-se utilizar o espaço intercostal e a área abaixo da região escapular e a região do abdome. Pacientes preferem estas regiões do que a área dos braços, pois podem ter os movimentos livres.O tempo de troca do sítio da inserção do cateter pode chegar até três dias, caso não haja sinais flogísticos.6

EXECUÇÃO DA TÉCNICA

Material utilizado:

  • Solução preparada para ser instalada (solução salina a 0,9%, medicação);
  • Equipo de macrogotas;
  • álcool a 70%;
  • Luvas de procedimento;
  • dispositivo subcutâneo 19, 23, 25 e 27;
  • Esparadrapo para fixar e datar (se possível, usar esparadrapo ou filme transparente.

INSTALAÇÃO DA HIPODERMÓCLISE

  • Explicara o cliente sobre o procedimento;
  • Lavar as mãos;
  • Escolher o local da infusão;
  • Fazer antissepsia e a dobra na pele;
  • Introduzir o dispositivo subcutâneo num ângulo de 45º;
  • Fixar o dispositivo subcutâneo;
  • Assegurar-se de que nenhum vaso tenha sido atingido;
  • Aplicar o medicamento ou conectar o dispositivo subcutâneo ao equipo da solução;
  • Datar e identificar a fixação.

ESCOLHA DO SÍTIO DA PUNÇÃO

Regiões:

  • deltoidiana;
  • anterior do tórax;
  • escapular;
  • abdominal;
  • face lateral da coxa.1,5,6

CUIDADOS DURANTE A PERMANÊNCIA DO ACESSO

  • Proteger com plástico durante o banho com o objetivo de manter a área seca.
  • Lavagem das mãos antes do manuseio do cateter (exemplo: conectar equipos com fluidos ou medicação) para prevenir infecção.
  • Observar a área da inserção do dispositivo subcutâneo em relação a sinais flogísticos.
  • Nos casos de sinais flogísticos usar calor (bolsa térmica para amenizar os sintomas).

Quem pode puncionar Hipodermóclise?

Conforme parecer técnico do COREN-SP 031/2014 de 04 de Julho de 2014: “Na hipodermóclise, tanto a punção quanto a administração de fluidos prescritos podem ser realizadas por membros da equipe de enfermagem (Enfermeiro, Técnico e Auxiliar de Enfermagem), desde que o profissional seja treinado”

EFEITOS ADVERSOS

Os riscos na hipodermóclise são mínimos quando administrados conforme a indicação.

Na prática, o uso da hipodermóclise no Núcleo de Cuidados Paliativos demonstra eficácia em diminuir sintomas de dor e desidratação. O interesse de expandir a informação sobre hipodermóclise é de que mais profissionais utilizem este acesso para assistir os pacientes em cuidados paliativos seja em hospital, ambulatório ou na residência do paciente.
Hipodermóclise
Referências:
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  3. ______. Decreto nº 94.406, de 08 de junho de 1987. Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 09 jun. 1987. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D94406.htm&gt;
  4. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução nº 311/2007. Aprova a Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Disponível em: <
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