
A Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP) é uma metodologia essencial para garantir segurança, qualidade e continuidade do cuidado ao paciente cirúrgico. Por meio dela, o enfermeiro organiza e direciona suas ações com base em um processo sistemático e individualizado, assegurando que cada etapa do cuidado — do pré ao pós-operatório — seja planejada e executada de forma criteriosa.
A SAEP é composta por cinco etapas fundamentais que se interligam e formam um ciclo contínuo de assistência: visita pré-operatória, planejamento da assistência, implementação, avaliação e reformulação do plano de cuidados. Cada uma dessas fases tem papel essencial na prevenção de complicações, no apoio à equipe cirúrgica e na recuperação do paciente.
A SAEP: Um Processo Contínuo e Dinâmico
A SAEP segue a lógica do Processo de Enfermagem (PE), mas adaptada às exigências rápidas e críticas do ambiente cirúrgico.
Visita Pré-Operatória da Enfermagem (A Coleta de Dados e o Primeiro Vínculo)
Esta é a fase inicial, de avaliação e diagnóstico. É o momento de ouro para o enfermeiro construir o primeiro vínculo com o paciente, que está ansioso e vulnerável.
- O Que Fazemos: Coletamos dados (histórico, medicações de uso contínuo, alergias, risco de queda, condição da pele, estado emocional) e realizamos o exame físico.
- Nosso Foco: Identificar Diagnósticos de Enfermagem e riscos cirúrgicos específicos. Por exemplo: risco de hipotermia, risco de infecção, ansiedade e risco de lesão por posicionamento. Também avaliamos a compreensão do paciente sobre o procedimento (o enfermeiro não explica a cirurgia, mas avalia o entendimento do paciente).
- Cuidados Essenciais: Orientar sobre o jejum, remoção de joias/próteses e, principalmente, reduzir a ansiedade através da informação e escuta ativa.
Planejamento da Assistência Operatória (O Mapa de Ação)
Com os diagnósticos definidos, o enfermeiro traça o plano de cuidados, estabelecendo as metas de segurança e as intervenções para o período dentro da sala de cirurgia e no pós-operatório imediato.
- O Que Fazemos: Definimos as intervenções específicas para cada risco.
- Exemplo: Para o diagnóstico “Risco de lesão por posicionamento”, a meta é “Manter a integridade da pele e dos nervos durante o procedimento”. A intervenção é: “Garantir o uso de coxins e suportes adequados, evitar pressão em proeminências ósseas e checar alinhamento corporal.”
- Nosso Foco: Garantir que o plano seja individualizado. O planejamento envolve a escolha de equipamentos, a organização da sala e a alocação de recursos específicos para as necessidades daquele paciente.
Implementação da Assistência (A Execução do Plano)
Esta é a fase de ação, que ocorre no período intraoperatório e pós-operatório imediato.
- O Que Fazemos: Colocamos o plano em prática, atuando em três frentes:
- Circulante da Sala: Garantindo a segurança do ambiente, a contagem de compressas/instrumentos e o monitoramento da assepsia e da temperatura.
- Instrumentador (Onde aplicável): Garantindo o manejo correto dos materiais estéreis.
- Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA): Aplicando o plano de cuidados pós-operatórios (controle da dor, monitoramento de sinais vitais, avaliação de sangramento, escala de Aldrete e Kroulik).
- Cuidados Essenciais: Manter a comunicação constante com a equipe cirúrgica e anestésica e registrar todas as ações e intercorrências.
Avaliação da Assistência (O Feedback Crítico)
Esta etapa ocorre logo após a implementação e é crucial para medir o sucesso das intervenções.
- O Que Fazemos: Comparamos os resultados obtidos com as metas que foram estabelecidas na Etapa 2.
- Exemplo: A meta de “Manter a integridade da pele” foi atingida? O paciente desenvolveu alguma lesão ou eritema? O nível de dor na SRPA foi mantido abaixo do esperado?
- Nosso Foco: Documentar de forma clara se os objetivos foram alcançados, parcialmente alcançados ou não alcançados. Esta avaliação é o que fecha o ciclo de responsabilidade e segurança.
Reformulação da Assistência a Ser Planejada (A Melhoria Contínua)
O processo não termina na alta da SRPA. A reformulação é o princípio da melhoria contínua.
- O Que Fazemos: Se as metas não foram atingidas (por exemplo, o paciente apresentou hipotermia ou dor intensa), a equipe deve analisar o porquê e reformular o plano.
- Exemplo: Se a hipotermia ocorreu, a reformulação será: “Aumentar o uso de cobertores térmicos e aquecer soluções intravenosas rotineiramente para todos os pacientes com IMC < 18”.
- Nosso Foco: Garantir que a informação (o aprendizado) seja transferida para o próximo plantão e para os cuidados pós-operatórios na unidade de internação.
Importância da SAEP para a segurança do paciente
A SAEP é uma ferramenta indispensável para promover a segurança do paciente cirúrgico, assegurando uma assistência sistematizada, humanizada e livre de improvisações.
Além de padronizar o cuidado, ela fortalece a autonomia do enfermeiro e evidencia a importância da enfermagem perioperatória dentro da equipe multiprofissional.
Por meio da SAEP, o enfermeiro atua não apenas na execução técnica, mas também como líder, educador e defensor da segurança e bem-estar do paciente.
Referências:
- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMEIROS DE SALA DE OPERAÇÃO, RECUPERAÇÃO PÓS-ANESTÉSICA E CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO (SOBECC). Práticas Recomendadas. 10. ed. São Paulo: SOBECC, 2023. (Consultar os capítulos sobre Processo de Enfermagem Perioperatório). Disponível em: https://www.sobecc.org.br/.
- CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução COFEN nº 358/2009: Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html.
- POTTER, P. A.; PERRY, A. G. Fundamentos de Enfermagem. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.
- SILVA, M. C. M.; OLIVEIRA, R. A. Sistematização da assistência de enfermagem no centro cirúrgico: revisão integrativa. Revista SOBECC, v. 26, n. 3, 2021. Disponível em: https://revistasobecc.emnuvens.com.br/sobecc









