Semi-Intensiva vs. UTI: Entendendo os Níveis de Cuidado Crítico na Enfermagem

No ambiente hospitalar, a alocação de um paciente para a unidade correta é uma decisão vital que depende da sua estabilidade e da necessidade de monitoramento e intervenções tecnológicas. Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, é crucial entender a diferença entre a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a Unidade de Cuidados Semi-Intensivos (UCSI), ou simplesmente Semi-Intensiva.

Essas duas unidades representam diferentes degraus na escada do cuidado crítico. A distinção não se resume apenas à tecnologia disponível; ela define a gravidade do paciente, o nível de risco e a proporção profissional-paciente exigida pela lei e pela ética. Dominar esses conceitos nos permite agir com precisão e defender o padrão de cuidado adequado para cada indivíduo.

O que é uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)?

A UTI é o último nível de recurso hospitalar, reservado para pacientes em risco iminente de morte ou com instabilidade hemodinâmica e respiratória que exige suporte avançado e monitoramento contínuo.

Características da UTI

  • Tecnologia e Monitoramento: É um ambiente de alta tecnologia. O monitoramento é contínuo e invasivo (pressão arterial invasiva, cateter de Swan-Ganz, etc.).
  • Suporte Avançado: É o único local onde o paciente pode receber ventilação mecânica invasiva (intubação), diálise contínua e uso de múltiplos medicamentos vasoativos titulados em alta complexidade.
  • Proporção Profissional/Paciente: Por lei, a proporção de enfermeiros e técnicos é muito maior. Geralmente, há um enfermeiro para cada 8-10 leitos e um técnico para cada 2 leitos.
  • Cuidados de Enfermagem: O foco é na manutenção da vida, prevenção de infecções (Pneumonia Associada à Ventilação – PAV), prevenção de lesões por pressão em pacientes sedados e balanço hídrico rigoroso.

Patologias e Pacientes da UTI (Instabilidade Aguda)

O que é uma Unidade Semi-Intensiva ou Unidade de Cuidados Semi-Intensivos (UCSI) ?

A unidade semi-intensiva é um setor intermediário entre a enfermaria comum e a UTI. São pacientes que já passaram pelo período crítico ou que apresentam condições clínicas graves, mas com risco reduzido de morte imediato.

Muitos pacientes são encaminhados para esse setor após estabilização na UTI, mantendo ainda necessidade de vigilância multiprofissional mais próxima.

Características da UCSI

  • Tecnologia e Monitoramento: O monitoramento é contínuo (telemetria, monitores multiparâmetros), mas raramente invasivo. O paciente geralmente está consciente e hemodinamicamente estável, mas requer vigilância contínua.
  • Suporte: Pode receber ventilação não-invasiva (VNI) ou oxigenoterapia de alto fluxo, mas não suporte de vida invasivo.
  • Proporção Profissional/Paciente: A proporção de profissionais é menor que na UTI, mas maior que na enfermaria (geralmente, um enfermeiro para 10-15 leitos, e um técnico para 3-4 leitos).
  • Cuidados de Enfermagem: O foco é na prevenção da descompensação, na reabilitação precoce e na educação do paciente para a transição à enfermaria.

Patologias e Pacientes da UCSI (Risco de Descompensação)

  • Pacientes em Desmame da UTI: Pacientes que já foram extubados e estabilizados, mas precisam de vigilância pós-crítica antes de ir para a enfermaria.
  • Doenças Cardiovasculares Estáveis: Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) sem complicação grave ou pós-angioplastia (sem necessidade de vasopressores).
  • Insuficiência Cardíaca Descompensada (IC) ou DPOC/Asma Aguda: Que necessitam de VNI intermitente ou monitoramento respiratório intensivo.
  • Monitoramento Neurológico: Pacientes pós-convulsão ou com sangramentos cerebrais leves.
  • Comorbidades Crônicas Descompensadas: Diabetes descompensado (Cetoacidose Diabética) após a fase crítica inicial.

Diferença essencial entre Semi-Intensiva e UTI

UTI Semi-intensiva
Pacientes críticos Pacientes graves, porém estáveis
Alto risco de óbito Risco menor
Suporte avançado Suporte intermediário
Intervenções imediatas Observação contínua
Monitorização contínua complexa Monitorização contínua moderada

Cuidados de Enfermagem em cada setor

Na UTI

  • Monitorização contínua dos sinais vitais;
  • Controle rigoroso de ventilação mecânica;
  • Manejo de dispositivos invasivos;
  • Atenção a complicações agudas;
  • Intervenção rápida em deterioração clínica;
  • Execução de protocolos sépticos e hemodinâmicos;
  • Observação neurológica contínua.

Na Semi-intensiva

  • Monitorização regular de sinais;
  • Educação do paciente sobre sua condição;
  • Observação do processo de desmame ventilatório;
  • Auxílio no processo de reabilitação;
  • Controle de riscos e prevenção de complicações;
  • Segurança do paciente na transição de cuidados.

Importância do profissional de enfermagem na diferenciação

O papel da enfermagem nesses setores vai muito além da execução. O enfermeiro é essencial na avaliação clínica, comunicação terapêutica, tomada de decisão e reconhecimento precoce de deterioração, garantindo segurança, prevenção de agravos e continuidade do cuidado.

Ter clareza sobre o nível de complexidade ajuda o estudante e o profissional a compreender o fluxo de atendimento hospitalar, planejar melhor o cuidado e participar ativamente da avaliação do paciente.

A distinção entre unidade semi-intensiva e UTI facilita a organização do cuidado, otimiza recursos, garante segurança e direciona os pacientes conforme seu perfil clínico. Ambos os setores têm papel fundamental no processo de recuperação e estabilização, mas apresentam níveis de suporte e monitorização diferentes.

Referências:

  1. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução COFEN nº 543/2017: Dispõe sobre o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas unidades de saúde. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-5432017_59458.html
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Regulamento Técnico para Funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). (Buscar a RDC atualizada da ANVISA sobre UTIs). Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Organização da Atenção Hospitalar. Brasília, 2017. Disponível em: https://www.gov.br/saude.
  4. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC 07/2010. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
  5. BARBOSA, Aline F. Terapia Intensiva: fundamentos e atualidades. São Paulo: Atheneu, 2018.
  6. MARTINS, J. C. Unidades de tratamento intensivo: assistência em enfermagem. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

Meningite: A Inflamação Agressiva que Exige Ação Imediata

A Meningite é uma condição que causa pânico instantâneo em qualquer serviço de saúde, e com razão. Não é apenas uma infecção; é a inflamação das meninges – as membranas protetoras que envolvem o cérebro e a medula espinhal.

Por estar tão perto do Sistema Nervoso Central (SNC), a meningite pode progredir rapidamente para danos cerebrais, perda auditiva, sequelas neurológicas graves ou até mesmo a morte, muitas vezes em questão de horas.

Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, o conhecimento e a vigilância são as ferramentas mais poderosas contra essa doença. Saber reconhecer os sinais e agir na “hora de ouro” é o que salva vidas.

O que é meningite?

Meningite é a inflamação das meninges — as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Essas membranas são essenciais para proteger o sistema nervoso central contra traumas e infecções. Quando há uma inflamação, ocorre acúmulo de células, proteínas e outras substâncias no líquido cefalorraquidiano (LCR), o que pode comprometer a função neurológica.

A meningite pode ter diferentes causas: bactérias, vírus, fungos, protozoários ou até processos não infecciosos, como traumas, tumores ou reações a medicamentos.

O Que Acontece? Entendendo a Inflamação

A meningite é causada, na maioria das vezes, por vírus ou bactérias que invadem a corrente sanguínea e chegam ao líquido cefalorraquidiano (LCR) e, consequentemente, às meninges.

Meningite Bacteriana (A Forma Mais Grave)

  • Agentes Comuns: Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e Haemophilus influenzae.
  • Velocidade: É a forma mais perigosa e de progressão mais rápida. Ocorre uma inflamação intensa que pode levar à sepse, choque e coagulação intravascular disseminada (CIVD), especialmente no caso do meningococo.
  • Tratamento: É uma emergência! Requer internação imediata e antibioticoterapia intravenosa de amplo espectro em altas doses.

Meningite Viral (A Mais Comum e Geralmente Leve)

  • Agentes Comuns: Enterovírus (a causa mais frequente), vírus do herpes (raro, mas grave) e vírus da caxumba.
  • Velocidade: Geralmente tem um curso mais brando e é autolimitada. É a mais comum, mas raramente fatal em pessoas com bom sistema imunológico.
  • Tratamento: Não existe tratamento específico para o vírus (a menos que seja o Herpes), o foco é no suporte (hidratação, controle da dor e da febre).

Meningite fúngica

Essa forma é mais rara e costuma ocorrer em pacientes com imunossupressão, como aqueles com HIV/Aids, neoplasias, uso prolongado de corticóides ou outros fatores que comprometem a imunidade. O tratamento é prolongado, com antifúngicos específicos, e a resposta depende bastante da imunidade do paciente.

Outras meningites (parasitária, não infecciosa)

Também existem meningites causadas por parasitas (protozoários) ou por processos não infecciosos, como traumas, tumores ou reações autoimunes ou a determinadas drogas. Essas formas são menos comuns, mas não devem ser esquecidas no raciocínio diagnóstico.

Epidemiologia no Brasil

No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica, com casos esperados ao longo do ano. Observa-se uma sazonalidade: as meningites bacterianas têm maior incidência durante o outono e inverno, e as virais tendem a aparecer mais na primavera e no verão.

Segundo dados recentes, a doença meningocócica (causada por Neisseria meningitidis) tem grande importância epidemiológica. Além disso, o Brasil lançou um plano nacional para combater as meningites até 2030, com metas ambiciosas de redução de mortalidade e controle de casos preveníveis por vacina.

Sinais Clássicos: A Tríade da Suspeita

Os sintomas iniciais da meningite podem se parecer com uma gripe, mas evoluem rapidamente para a tríade clássica que exige nossa alerta máximo:

  1. Cefaleia Intensa: Uma dor de cabeça súbita e excruciante, diferente de qualquer dor comum.
  2. Febre Alta: Acompanhada de calafrios.
  3. Rigidez de Nuca (Sinal de Kernig e Brudzinski): O paciente tem dificuldade ou dor intensa ao tentar encostar o queixo no peito. Este é o sinal mais característico da irritação meníngea.
  • Em Bebês e Recém-Nascidos: Os sinais podem ser inespecíficos: irritabilidade extrema, sonolência excessiva, choro inconsolável, recusa alimentar e, o sinal mais físico, a fontanela (moleira) abaulada e tensa.
  • Sinal de Alerta: A presença de petéquias (pequenas manchas vermelhas ou roxas na pele que não desaparecem à pressão) sugere infecção meningocócica e sepse.

O Diagnóstico: A Punção Lombar

O diagnóstico definitivo é feito pela análise do Líquido Cefalorraquidiano (LCR), obtido através da Punção Lombar (PL).

Aspecto do LCR

    • Bacteriana: LCR turvo, alto número de leucócitos (neutrófilos), glicose baixa e proteínas altas.
    • Viral: LCR claro, leucócitos moderados (linfócitos), glicose normal.
  • Cuidados de Enfermagem na PL: Auxiliar o médico no posicionamento do paciente (posição fetal), garantir a técnica asséptica rigorosa e monitorar o paciente após o procedimento para detectar cefaleia pós-punção (que pode ocorrer).

Outros diagnósticos

  • Anamnese e exame físico: levantando histórico clínico, sinais neurológicos, febre, rigidez de nuca, entre outros.
  • Exames laboratoriais: punção lombar para coletar o líquido cefalorraquidiano (LCR) é fundamental. No LCR, analisa-se célula (contagem), glicose, proteínas, cultura, gram, PCR, dependendo do agente suspeito.
  • Hemocultura: pode identificar a bactéria em cultura sanguínea.
  • Exames de imagem: em alguns casos, pode-se fazer tomografia ou ressonância para verificar se há contraindicação à punção lombar ou se há complicações.
  • Notificação: no Brasil, todos os casos suspeitos ou confirmados de meningite devem ser notificados ao sistema de vigilância, conforme orientações do Ministério da Saúde.

Tratamento

O tratamento depende do tipo de meningite:

  • Meningite bacteriana: é emergencial. Antibióticos de largo espectro são iniciados o mais rápido possível, muitas vezes antes mesmo da confirmação do agente, porque cada hora conta para diminuir o risco de morte ou sequelas. Corticosteroides, como a dexametasona, podem ser usados em alguns protocolos para reduzir a inflamação e prevenir complicações neurológicas.
  • Meningite viral: como já mencionado, na maioria dos casos o manejo é de suporte — hidratação, controle de febre, monitoramento neurológico, repouso. Se o vírus identificado for, por exemplo, um herpesvírus, pode haver tratamento antiviral.
  • Meningite fúngica: o tratamento é prolongado, com antifúngicos específicos, e costuma exigir internação para monitorização. A resposta depende bastante da imunidade do paciente.
  • Outros tipos: no caso parasitário ou não infeccioso, o tratamento será dirigido conforme a causa — pode haver antiparasitários, terapia imunossupressora, cirurgia, dentre outras abordagens, de acordo com o diagnóstico.

Além disso, é importante o suporte clínico: reposição de fluidos, evitar hipertensão intracraniana, controlar convulsões se surgirem, tratar febre, entre outras medidas.

Prevenção

Como estudante de enfermagem, é importante estar atento à prevenção da meningite, especialmente das formas bacterianas mais perigosas:

  • Vacinação: no Brasil, há vacinas disponibilizadas no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para prevenir alguns tipos de meningite bacteriana. Por exemplo, a vacina meningocócica C conjugada, a meningocócica ACWY, a vacina pneumocócica (contra Streptococcus pneumoniae) e a pentavalente (inclui Haemophilus influenzae tipo b).
  • Quimioprofilaxia: em contatos próximos com casos de meningite meningocócica, pode ser indicado antibiótico preventivo
  • Higiene e controle de transmissão: como a bactéria pode se transmitir por gotículas respiratórias, a higiene das mãos, evitar compartir talheres ou objetos pessoais em surtos, e adotar boas práticas de saúde pública são medidas relevantes. Além disso, há políticas de saúde pública para aumentar a cobertura vacinal e reduzir a mortalidade. No Brasil, por exemplo, foi lançado o Plano Nacional para derrotar as meningites até 2030.

Cuidados de Enfermagem na Meningite

A enfermagem desempenha um papel central no manejo de pacientes com meningite, desde a admissão até a alta (ou alta para ambulatório, quando aplicável). Aqui estão os principais cuidados e responsabilidades:

Admissão e monitorização

Quando o paciente chega ao serviço com suspeita de meningite, a enfermagem deve:

  • Avaliar sinais vitais imediatamente e com frequência, porque a instabilidade hemodinâmica pode ocorrer.
  • Observar o nível de consciência, usando escalas como a Glasgow, para detectar alterações neurológicas rapidamente.
  • Avaliar a presença de rigidez de nuca e outros sinais meníngeos.
  • Preparar e apoiar a punção lombar, garantindo assepsia, cuidados de conforto ao paciente, explicando o procedimento (se possível) e monitorando após a coleta.

Administração de medicamentos

  • Administrar os antibióticos prescritos para meningite bacteriana, conforme ordem médica. Verificar os horários, doses, compatibilidades e reações adversas.
  • Se forem prescritos corticosteroides, garantir sua administração no tempo correto para maximizar o benefício fisiológico.
  • Prover analgésicos e antipiréticos para alívio da dor de cabeça e da febre.
  • Em caso de tratamento antiviral ou antifúngico, acompanhar os regimes de medicamentos e monitorar efeitos colaterais.

Suporte geral

  • Manter hidratação: verificar balanço hídrico, peso, ingestão e eliminação de líquidos.
  • Controlar a temperatura corporal: orientar resfriamento, administrar antipiréticos, monitorar para sinais de hipertermia ou hipotermia.
  • Monitorar sinais de aumento da pressão intracraniana: avaliação neurológica frequente, observação de pupilas, dor de cabeça, vômitos, alterações no nível de consciência. Se houver suspeita de hipertensão intracraniana, comunicar rapidamente a equipe médica.
  • Garantir repouso adequado, em ambiente calmo, escuro ou com luz baixa, para reduzir a fotofobia e o desconforto.
  • Prevenir complicações: por exemplo, risco de convulsão, de trombose por imobilização, de úlceras de pressão, de pneumonia por aspiração (se o nível de consciência estiver alterado).

Educação e suporte ao paciente e à família

  • Orientar o paciente (e a família) sobre o diagnóstico, a importância do tratamento, os riscos de complicações e a evolução esperada.
  • Explicar a necessidade de isolamento, se houver, e as medidas que devem ser seguidas para evitar a transmissão (dependendo do agente).
  • Incentivar a adesão ao tratamento e ao seguimento ambulatorial, quando houver alta hospitalar.
  • Envolver a família no monitoramento: ensinar sinais de alerta que indicam piora, como convulsões, sonolência excessiva, febre persistente, vômitos intensos, confusão.

Alta e seguimento

  • Participar da elaboração do plano de alta, garantindo que o paciente (ou a família) entenda a medicação, o acompanhamento ambulatorial, a necessidade de reavaliações neurológicas.
  • Encaminhar para reabilitação, se houver sequelas neurológicas (como déficit motor, auditivo, cognitivo), e interagir com fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros profissionais.
  • Registrar tudo no prontuário: anotações de evolução neurológica, administração de medicamentos, complicações e educação ao paciente/família.

Possíveis complicações e sequelas

A meningite, especialmente a bacteriana, pode deixar sequelas sérias se não tratada rapidamente ou ainda, apesar do tratamento. Entre as complicações mais comuns estão:

  • Hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro)
  • Convulsões
  • Déficits neurológicos: por exemplo, surdez, dificuldades motoras, déficit cognitivo
  • Abscessos cerebrais
  • Síndrome de Waterhouse-Friderichsen (em meningococcemia): insuficiência adrenal aguda devido à hemorragia nas glândulas suprarrenais
  • Morte, se o tratamento for tardio ou se o paciente desenvolver choque séptico

Por isso, a atuação da enfermagem no diagnóstico precoce, intervenção, monitoramento e educação é vital para minimizar esses riscos.

A meningite é uma condição grave que demanda rapidez no diagnóstico e na intervenção. Como futura enfermeira ou enfermeiro, você terá um papel essencial tanto na fase aguda quanto na recuperação e na prevenção. Entender os diferentes tipos — bacteriana, viral, fúngica —, conhecer os sinais, saber os cuidados de enfermagem e colaborar nas estratégias de prevenção é fundamental para salvar vidas e reduzir danos.

A vacinação, a vigilância epidemiológica e a notificação são ferramentas poderosas para prevenir surtos e proteger populações vulneráveis. E no dia a dia hospitalar, a vigilância da enfermagem, o manejo adequado e o suporte ao paciente e à família são pilares para um atendimento eficaz.

Referências:

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Meningites Bacterianas Agudas: Diagnóstico e Manejo. Disponível em: https://www.sbp.com.br/. (Buscar diretrizes mais recentes sobre manejo e vacinação).
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Vigilância Epidemiológica das Meningites. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/dathi/publicacoes/manual-de-vigilancia-epidemiologica-das-meningites.
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. “Meningite”. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/meningite.
  4.  MANUAL MSD. “Meningite bacteriana aguda”. Versão para saúde familiar. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,%20da%20medula%20espinhal%20e%20dos%20nervos/meningite/meningite-bacteriana-aguda.
  5. COFEN. “Plano Nacional para derrotar as meningites até 2030 visa reduzir óbitos em 70%”. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/plano-nacional-para-derrotar-as-meningites-ate-2030-visa-reduzir-casos-em-50-e-obitos-em-70/.
  6. TUA SAÚDE. “Meningite: o que é, tipos, sintomas e tratamento”. Disponível em: https://www.tuasaude.com/meningite/.
  7. CENTRO DE NEUROLOGIA E NEUROCIRURGIA OSWALDO CRUZ. “Meningite”. Disponível em: https://www.hospitaloswaldocruz.org.br/centro-especializado/neurologia-e-neurocirurgia/meningite/. SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS. “Meningite”. Disponível em: https://www.saude.mg.gov.br/meningite.
  8. BRASIL. Ministério da Saúde. Informe epidemiológico – meningite. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/meningite/situacao-epidemiologica/dados-epidemiologicos/informe-meningite.pdf.

Mobilização em Bloco: Como Realizar Corretamente o Procedimento

Em qualquer situação de trauma grave, seja um acidente automobilístico, uma queda significativa ou uma lesão esportiva, a prioridade máxima é proteger a coluna vertebral. A vítima pode ter uma lesão instável na coluna cervical ou torácica que, se movimentada incorretamente, pode causar danos irreversíveis na medula espinhal, levando à paralisia.

É para evitar essa catástrofe que utilizamos a técnica da Mobilização em Bloco (ou Rolamento em Bloco). Esta manobra garante que o corpo da vítima seja movido como uma unidade rígida – cabeça, pescoço, tronco e pelve – mantendo o alinhamento da coluna.

Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, dominar essa técnica com um mínimo de três socorristas é fundamental em qualquer cenário de emergência.

O que é a Mobilização em Bloco?

Trata-se de um método de transferência do paciente traumatizado em que todo o corpo é movido como uma única unidade rígida. Dessa forma, evita-se a movimentação independente das estruturas corporais, especialmente a coluna vertebral. Essa técnica é empregada principalmente quando há:

  • Suspeita de fratura de coluna cervical, torácica ou lombar;
  • Trauma de alta energia (quedas, colisões automobilísticas, atropelamentos);
  • Alteração do nível de consciência em situações de trauma;
  • Dor, formigamento ou perda de força após trauma.

A equipe responsável pela mobilização precisa de comunicação eficiente e sincronização perfeita, pois qualquer erro pode resultar em agravamento de uma lesão já instaurada.

Por Que “Em Bloco”? O Princípio da Imobilização Total

O nome “em bloco” se refere ao objetivo: mover o paciente como se ele fosse um único bloco de concreto, sem permitir qualquer flexão, extensão ou rotação da coluna.

  • Contexto de Aplicação: A mobilização em bloco é usada, principalmente, para:
    • Colocar a vítima em uma prancha rígida.
    • Realizar o exame da região dorsal (costas), essencial para avaliar lesões.
    • Mudar a vítima de posição para evitar broncoaspiração, mantendo a proteção cervical.

Passo a Passo da Mobilização em Bloco com Três Socorristas

A seguir, o procedimento completo dividido em etapas para facilitar o entendimento.

Preparação: O Papel do Líder

  1. Imobilização Cervical: Antes de qualquer movimento, o primeiro socorrista (Socorrista 1) deve aplicar o colar cervical (se disponível e após a avaliação inicial) e assumir o controle manual da cabeça da vítima, mantendo a estabilização cervical em posição neutra. Este socorrista será o Líder do Bloco e é quem comanda toda a operação.
  2. Posicionamento dos Socorristas:
    • Líder (S1): Posicionado na cabeça, mantendo o controle cervical.
    • Socorrista 2 (S2): Posicionado ao lado da vítima (no tórax), responsável pela cintura escapular e pelve.
    • Socorrista 3 (S3): Posicionado ao lado da vítima (na altura dos membros inferiores), responsável pelas pernas.
  3. Comunicação: O Líder (S1) deve informar a todos que ele será o responsável por dar os comandos. A voz de comando será: “Preparar, rolar, parar, voltar”.

Execução: Rolar e Avaliar

Posicionamento das Mãos:

  • S1 (Líder): Mantém o controle bimanual da cabeça e pescoço, estabilizando-os firmemente.
  • S2: Coloca uma mão na cintura escapular (próximo ao ombro) e a outra na altura da pelve (quadril).
  • S3: Coloca uma mão na altura da coxa e a outra na altura das pernas (próximo aos joelhos).

A Manobra:

  1. Comando de Preparação: Líder (S1) diz: “Preparar para rolar em bloco, no 3. Mantenham o alinhamento.”
  2. Comando de Ação: Líder (S1) diz: “Rolar em bloco! Um, dois, TRÊS!”
  3. Ação Coordenada: Os três socorristas movem a vítima simultaneamente para o lado (geralmente 90 graus), mantendo o tronco e os membros totalmente alinhados e rígidos, como um único bloco. O Líder controla a rotação da cabeça, garantindo que ela se mova junto com o corpo.
  4. Comando de Parada: Líder (S1) diz: “Parar.”
  5. Avaliação: Enquanto a vítima está de lado, a equipe faz a inspeção e palpação da região dorsal (costas) para buscar lesões, sangramentos e, se a manobra for para pranchamento, posiciona a prancha rígida.
  6. Comando de Retorno: A equipe se prepara para voltar. Líder (S1) diz: “Preparar para voltar. Rolar em bloco! Um, dois, TRÊS!”
  7. Ação Coordenada: A vítima é delicadamente depositada de volta na posição supina (de barriga para cima) sobre a prancha (se for o caso) ou na posição inicial.

Ajustes Finais

Após o retorno:

  • Centraliza-se a vítima na prancha.
  • Realiza-se a fixação com tiras, garantindo que tronco, quadris e pernas estejam alinhados.
  • O estabilizador lateral da coluna pode ser aplicado, se houver.

O socorrista da cabeça mantém a estabilização até o momento em que a vítima esteja totalmente imobilizada.

Cuidados de Enfermagem Relacionados à Mobilização em Bloco

A enfermagem tem papel fundamental na prevenção de danos adicionais e na condução segura da técnica. Entre os principais cuidados estão:

  • Avaliar o nível de consciência antes, durante e depois da mobilização.
  • Observar dor, alterações neurológicas ou dificuldade respiratória.
  • Manter comunicação clara e objetiva entre a equipe.
  • Garantir que o colar cervical esteja adequado, sem folgas.
  • Verificar alinhamento corporal após a imobilização.
  • Monitorar sinais vitais regularmente.
  • Registrar todo o procedimento no prontuário, incluindo horário, responsáveis e evolução do paciente.

Mais Cuidados

  1. O Alinhamento é o Rei: A função primordial dos Socorristas 2 e 3 é garantir que não haja “dobras” no corpo da vítima. Os segmentos (tórax, pelve, pernas) devem ser movidos em um ritmo uniforme.
  2. Avaliação Constante: Durante todo o processo, o Líder deve monitorar o nível de consciência da vítima e garantir que a respiração não seja comprometida, especialmente se for necessário mantê-la de lado por alguns instantes.
  3. Equipamento: Se o objetivo é pranchar, a prancha deve ser posicionada próxima ao corpo antes do rolamento e fixada com cintos de segurança imediatamente após a manobra. A fixação da cabeça na prancha é sempre a última etapa.
  4. Comunicação Clara: Em situações de estresse, a comunicação do Líder deve ser alta, clara e concisa. Nada de frases longas ou ambíguas.

A mobilização em bloco exige precisão, trabalho em equipe e conhecimento técnico. Dominar essa técnica é fundamental para qualquer profissional de enfermagem ou socorrista, pois ela pode significar a diferença entre preservar ou agravar uma lesão medular. A prática supervisionada e a capacitação contínua são essenciais para que o procedimento seja realizado com segurança e eficiência.

Referências:

  1. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS (ACS). ATLS – Advanced Trauma Life Support: Student Course Manual. 10. ed. Chicago: ACS, 2018. (Buscar o capítulo sobre Lesões de Coluna e Imobilização).
  2. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Atendimento Pré-Hospitalar (APH). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2020. (Consultar as diretrizes mais recentes sobre imobilização e remoção de vítimas). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Atendimento Pré-Hospitalar Móvel: Protocolos e Diretrizes. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br
  4. SAMU 192. Manual de Atendimento Pré-Hospitalar. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/samu. 
  5. NAEMT. PHTLS – Suporte Pré-Hospitalar ao Traumatizado. 9. ed. Jones & Bartlett Learning, 2020.
  6. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS – Advanced Trauma Life Support. 10. ed. Chicago: ACS, 2018.

Manobra de Desengasgo em Bebês, Crianças e Adultos — Atualização da American Heart Association (AHA)

Quando alguém está sufocando, cada segundo conta. As diretrizes de atendimento para obstrução das vias aéreas superiores vêm sendo atualizadas à medida que novas evidências são publicadas. Em outubro de 2025, a AHA divulgou uma revisão importante das recomendações para o manejo do engasgo (Foreign Body Airway Obstruction — FBAO) em bebês, crianças e adultos.

Este artigo visa explicar de forma acessível essas mudanças, de modo que estudantes de enfermagem entendam o que fazer, por que certas manobras continuam ou mudaram, e qual é seu papel como enfermeiro nesse contexto.

Por que a revisão?

A obstrução das vias aéreas por corpo estranho continua sendo causa de mortes evitáveis, especialmente em crianças. A AHA reconheceu que, em versões anteriores das diretrizes, havia lacunas no tratamento de engasgo consciente em adultos e na distinção entre manobras para bebês e crianças. A nova diretriz aborda essas lacunas e inclui, pela primeira vez, um algoritmo claro para adultos conscientes com obstrução grave.

Novas orientações para adultos conscientes

Para adultos conscientes que estão sufocando e não conseguem tossir de forma eficaz, falar ou respirar, a orientação foi atualizada: a sequência recomendada é alternar cinco pancadas nas costas (back blows) seguidas de cinco compressões abdominais (abdominal thrusts) até que o objeto seja expelido ou a pessoa fique inconsciente.

Antes, a prática predominante era apenas a manobra de Heimlich (compressões abdominais), sem ênfase tão clara na alternância com as pancadas nas costas.

Destaques para adultos:

  • Se a vítima estiver consciente e for capaz de alertar, inclinar‐se ligeiramente para frente e aplicar as pancadas nas costas entre as omoplatas.
  • Se isso não resolver, realizar as compressões abdominais rapidamente, certificando‐se de posicionar as mãos corretamente — acima do umbigo e abaixo do esterno.
  • Continuar alternando as ações (5 + 5) até que o objeto seja liberado ou a vítima torne‐se inconsciente.
  • Em caso de perda de consciência, iniciar imediatamente a RCP (ressuscitação cardiopulmonar) com compressões torácicas e ventilação, conforme protocolo para atendimento de vítima inconsciente.

Novas orientações para crianças (1 ano até puberdade)

Para crianças maiores de 1 ano até puberdade, a diretriz também recomenda a alternância entre cinco pancadas nas costas e cinco compressões abdominais para casos de obstrução grave de vias aéreas. A alteração destaca que o método apenas com compressões abdominais, usado anteriormente, deve ser ampliado com as pancadas nas costas como primeiro passo.

Isso significa que o enfermeiro ou cuidador deve verificar: se a criança não consegue tossir, falar ou respirar, iniciar a sequência 5 + 5 como em adulto, adaptando o posicionamento (geralmente ajoelhando‐se atrás da criança ou em nível adequado).

Novas orientações para bebês (< 1 ano)

Para bebês menores de 12 meses, a nova diretriz reforça o seguinte procedimento em caso de sufocamento grave: aplicar cinco pancadas nas costas, com o bebê posicionado de bruços sobre o antebraço ou perna do socorrista, cabeça mais baixa que o tronco, seguidas de cinco compressões torácicas (chest thrusts) usando o a base da palma de uma das mãos. As compressões abdominais não são recomendadas para bebês, devido ao risco de lesão aos órgãos internos.

Esse refinamento é importante para o enfermeiro ter clareza sobre o que fazer em ambientes pediátricos e neonatais.

Cuidados de enfermagem e atenção prática

Como estudante ou profissional de enfermagem, seu papel é vital tanto na atenção imediata quanto na prevenção. Veja os principais pontos de atuação:

  • Conhecer e treinar periodicamente as manobras de desengasgo para bebês, crianças e adultos, conforme as novas diretrizes da AHA.
  • Avaliar rapidamente se a vítima está consciente, se consegue tossir ou falar, e identificar sinais de obstrução grave.
  • Garantir ambiente seguro e estar pronto para chamar o serviço de emergência ou acionar o sistema de atendimento adequado.
  • Em ambiente hospitalar, verificar se existe protocolo interno atualizado conforme as diretrizes da AHA e se os profissionais estão treinados.
  • Após a liberação do objeto ou até chegada do suporte avançado, monitorar sinais vitais, observar por complicações como trauma torácico ou lesões decorrentes da manobra, e documentar o evento.
  • Educar familiares, cuidadores e acompanhantes sobre os sinais de desengasgo, morder alimentos adequados à idade e evitar práticas de risco, especialmente em ambientes pediátricos.

As novas diretrizes da AHA para manobras de desengasgo em adultos, crianças e bebês reforçam a importância da alternância entre pancadas nas costas e compressões específicas conforme a faixa etária, e ajustam as práticas de atendimento para alinhar‐se à evidência mais recente.

Para o enfermeiro, manter‐se atualizado e estar apto para agir com rapidez e segurança pode fazer a diferença entre vida e morte.

Referências:

  1. AMERICAN HEART ASSOCIATION. 2025 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care (ECC). Dallas: AHA, 2025. Disponível em: https://professional.heart.org/en/science-news/2025-aha-guidelines-for-cpr-and-ecc
  2. AMERICAN HEART ASSOCIATION. Child Choking Flowchart. Dallas: AHA, 2025. Disponível em: https://cpr.heart.org/-/media/CPR-Files/Training-Programs/Community-Programs/Infant-CPR/Newest_Child_Choking_Dig_Poster.pdf
  3. MAYO CLINIC. First Aid: Choking – Adults and Children. Rochester: Mayo Clinic, 2025. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/first-aid/first-aid-choking/basics/art-20056637
  4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). Diretrizes Brasileiras de Cardiopulmonar e Cardiovascular. (Geralmente adota e adapta as recomendações da AHA). Disponível em: https://www.portal.cardiol.br/

Sepse: Entendendo a Resposta Extrema do Corpo

A Sepse, popularmente conhecida como “infecção generalizada”, é uma das condições mais críticas e mortais que nós, profissionais de enfermagem, enfrentamos. Longe de ser apenas uma infecção, a sepse é a resposta desregulada do próprio organismo a essa infecção. É o sistema de defesa do corpo entrando em colapso e, em vez de proteger, ele começa a danificar seus próprios órgãos.

Para nós, estudantes e profissionais, a sepse é um chamado à ação imediata. O tempo é, literalmente, a vida do paciente. Entender o que é a sepse, como identificá-la rapidamente e qual a nossa responsabilidade no manejo é o que diferencia um cuidado bom de um cuidado que salva vidas. Vamos desvendar essa síndrome e focar na “Hora de Ouro” da enfermagem.

O que é a Sepse?

A sepse é uma resposta inflamatória sistêmica grave do organismo a uma infecção. Em outras palavras, é quando o corpo reage de forma descontrolada a um agente infeccioso, como bactérias, vírus, fungos ou parasitas. Essa resposta exagerada causa lesões nos tecidos e órgãos, podendo evoluir rapidamente para choque séptico e falência múltipla de órgãos se não for tratada a tempo.

De acordo com a definição mais recente da Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3), publicada em 2016, a sepse é considerada uma disfunção orgânica potencialmente fatal causada por uma resposta desregulada do corpo à infecção.

O Ciclo Vicioso

 A infecção libera substâncias químicas na corrente sanguínea. Em vez de ficarem localizadas, essas substâncias (mediadores inflamatórios) desencadeiam uma inflamação sistêmica e maciça.

O Dano

Essa inflamação generalizada danifica o revestimento dos vasos sanguíneos, levando a:

  1. Vazamento Capilar: Os vasos dilatam e vazam fluido para os tecidos, causando edema e reduzindo o volume de sangue circulante.
  2. Má Perfussão: A pressão arterial cai drasticamente (hipotensão), o sangue coagula em pequenos vasos e o oxigênio não consegue chegar aos órgãos vitais (cérebro, rins, coração).
  3. Choque Séptico: É o estágio mais grave. A hipotensão é tão profunda que o paciente não responde à reposição volêmica (soro) e necessita de vasopressores (como a noradrenalina) para manter a pressão arterial. O risco de morte é altíssimo.

Causas e fatores de risco

A sepse pode surgir a partir de qualquer infecção, especialmente aquelas que não são diagnosticadas ou tratadas adequadamente. As infecções mais comuns associadas à sepse incluem:

  • Pneumonia
  • Infecções urinárias
  • Infecções de pele e tecidos moles
  • Infecções abdominais (como apendicite ou peritonite)
  • Infecções hospitalares relacionadas a cateteres, sondas ou feridas cirúrgicas

Alguns grupos são mais vulneráveis à sepse, como:

  • Idosos
  • Pacientes imunossuprimidos
  • Recém-nascidos
  • Pessoas com doenças crônicas (diabetes, doenças renais, hepáticas ou cardíacas)
  • Pacientes internados em UTI

Os Critérios de Alerta: Como Identificar a Sepse (qSOFA)

O diagnóstico precoce é nosso maior aliado. Um sistema de triagem rápida, o qSOFA (quick Sequential Organ Failure Assessment), ajuda a equipe a identificar pacientes com suspeita de infecção que estão em risco de evolução para sepse.

Basta que o paciente com infecção suspeita ou confirmada apresente dois ou mais dos seguintes critérios:

  1. Alteração do Estado Mental: Escala de Coma de Glasgow inferior a 15 (paciente letárgico, sonolento ou confuso).
  2. Frequência Respiratória Elevada: Igual ou superior a 22 incursões por minuto ( irpm).
  3. Hipotensão Arterial: Pressão Arterial Sistólica (PAS) inferior ou igual a 100 mmHg ($\leq 100 $ mmHg).

Se o paciente atende a dois desses critérios e há suspeita de infecção (por exemplo, pneumonia, ITU, ferida cirúrgica infectada), a Sepse deve ser o primeiro diagnóstico a ser considerado.

Manifestações clínicas

Os sinais e sintomas da sepse podem variar, mas alguns são fundamentais para o reconhecimento precoce:

  • Febre alta ou hipotermia
  • Taquicardia (aumento da frequência cardíaca)
  • Taquipneia (respiração acelerada)
  • Hipotensão arterial
  • Alteração do nível de consciência
  • Oligúria (diminuição da produção urinária)
  • Extremidades frias ou cianóticas

A gravidade da sepse pode ser avaliada através de escores clínicos, como o SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) e o qSOFA, que ajudam a identificar disfunções orgânicas e prever o prognóstico.

Diagnóstico

O diagnóstico da sepse é clínico, apoiado por exames laboratoriais e de imagem. Os principais exames incluem:

  • Hemoculturas e culturas de outros materiais biológicos (urina, secreções, etc.)
  • Hemograma completo
  • Gasometria arterial
  • Lactato sérico (para avaliar perfusão tecidual)
  • Função renal e hepática
  • Exames de imagem (como raio-X, ultrassonografia ou tomografia) para identificar o foco infeccioso

O diagnóstico precoce é essencial, pois cada hora de atraso no início do tratamento aumenta o risco de morte.

A Hora de Ouro: O Protocolo de Enfermagem e Médico

O tratamento da sepse é uma corrida contra o relógio, e a enfermagem coordena as ações do famoso “Bundle de Sepse”, que deve ser completado na primeira hora:

Ações Cruciais de Enfermagem (O Bundle da Primeira Hora)

  1. Coleta de Exames (Lactato e Culturas):
    • Lactato: Coletar o lactato sérico. Níveis elevados indicam que o organismo está com baixa oxigenação (má perfusão).
    • Hemoculturas: Coletar pelo menos duas amostras de sangue para cultura (uma aeróbia e uma anaeróbia) antes de administrar o antibiótico. Essa é a chave para identificar o agente causador.
  2. Administração de Antibióticos de Amplo Espectro:
    • Após a coleta das culturas, o enfermeiro deve administrar o antibiótico de amplo espectro prescrito imediatamente (em até 1 hora). Cada minuto de atraso aumenta a mortalidade.
  3. Ressuscitação Volêmica (Fluido):
    • Iniciar rapidamente a infusão de cristaloides (soro fisiológico ou Ringer Lactato), geralmente 30 mL/kg, em pacientes com hipotensão ou lactato elevado, sob monitoramento rigoroso para evitar sobrecarga.
  4. Monitoramento e Reavaliação:
    • O enfermeiro monitora rigorosamente a pressão arterial, frequência cardíaca, débito urinário e, crucialmente, reavalia o estado do paciente a cada hora. Se a pressão não melhorar, o médico precisa iniciar as drogas vasoativas.

Cuidados de Enfermagem

O profissional de enfermagem desempenha um papel crucial na detecção precoce e no cuidado contínuo do paciente com sepse. Entre as principais responsabilidades estão:

  • Avaliar e monitorar sinais vitais frequentemente, especialmente temperatura, pressão arterial e frequência cardíaca.
  • Reconhecer sinais de deterioração clínica e comunicar imediatamente à equipe médica.
  • Coletar amostras biológicas corretamente, seguindo técnicas assépticas rigorosas.
  • Administrar antibióticos e fluidos intravenosos conforme prescrição médica, respeitando horários e compatibilidades.
  • Manter controle rigoroso da diurese, utilizando balanço hídrico e sondagem vesical se necessário.
  • Garantir higiene adequada e prevenção de infecções, especialmente em pacientes com cateteres, sondas ou feridas abertas.
  • Educar familiares e cuidadores sobre a importância da prevenção de infecções e sinais de alerta.

Além disso, o enfermeiro deve participar ativamente das campanhas institucionais de prevenção de sepse, promovendo treinamentos e protocolos assistenciais.

Prognóstico e prevenção

O prognóstico da sepse depende da rapidez com que é diagnosticada e tratada. Pacientes que recebem antibióticos nas primeiras horas de evolução têm maior chance de recuperação.

A prevenção é baseada em medidas simples, mas eficazes:

  • Higienização adequada das mãos
  • Uso racional de antibióticos
  • Cuidados com feridas e dispositivos invasivos
  • Vacinação adequada
  • Controle rigoroso de infecções hospitalares

A educação continuada da equipe de enfermagem é um dos pilares fundamentais para reduzir a mortalidade por sepse.

A sepse é uma emergência médica e requer atuação rápida, precisa e integrada. O profissional de enfermagem é peça-chave nesse processo, tanto na identificação precoce quanto no suporte clínico e emocional ao paciente e sua família.

Reconhecer a sepse é salvar vidas. Por isso, o conhecimento, a vigilância e o comprometimento da equipe de enfermagem são ferramentas poderosas no combate a essa síndrome devastadora.

Referências:

  1. INSTITUTO LATINO AMERICANO DE SEPSE (ILAS). Campanha Sobrevivendo à Sepse: Diretrizes Internacionais para o Manejo de Sepse e Choque Séptico. São Paulo: ILAS, 2021. Disponível em: https://ilas.org.br/.
  2. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. (Consultar os capítulos sobre choque e infecção).
  3. INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE SEPSE (ILAS). Sepse: um problema de saúde pública. 2023. Disponível em: https://ilas.org.br
  4. RHODES, A. et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2021. Intensive Care Medicine, v.47, p. 1181–1247, 2021. Disponível em: https://www.sccm.org/clinical-resources/guidelines
  5. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de Manejo Clínico da Sepse em Adultos. Brasília: MS, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude

Indicações do uso do carrinho de emergência: o que você precisa saber

Em situações de urgência e emergência, cada segundo pode salvar uma vida. Por isso, a equipe de saúde precisa estar preparada não apenas em conhecimento, mas também em recursos. O carrinho de emergência, também conhecido como carrinho de parada, é um dos principais aliados nesse contexto. Ele reúne, em um único local, os materiais e medicamentos necessários para a reanimação cardiopulmonar e outras situações críticas.

Saber quando e como utilizar o carrinho de emergência é fundamental para garantir a segurança do paciente e a agilidade da assistência prestada.

O que é o carrinho de emergência?

O carrinho de emergência é um equipamento hospitalar padronizado, organizado em gavetas e compartimentos, que contém materiais como: desfibrilador/cardioversor, cilindro de oxigênio, medicamentos de reanimação, materiais para intubação orotraqueal, acesso venoso e monitorização.

Ele deve estar sempre funcional, organizado e acessível nos locais onde o risco de emergências é maior, como UTIs, pronto-socorro, salas cirúrgicas e unidades de internação.

Indicações do uso do carrinho de emergência

O carrinho de emergência não é utilizado em todas as situações, mas em momentos críticos, onde há risco imediato de morte ou necessidade de intervenção rápida. Entre as principais indicações, destacam-se:

Parada cardiorrespiratória (PCR)

A principal situação que exige o uso imediato do carrinho de emergência é a PCR. Nesse momento, cada minuto sem atendimento adequado reduz drasticamente a chance de sobrevivência do paciente. O carrinho fornece desde o desfibrilador até as drogas de primeira escolha, como adrenalina.

Instabilidade Hemodinâmica Grave

Pacientes com choque de qualquer origem (séptico, cardiogênico, hipovolêmico) que apresentam hipotensão severa, bradicardia (frequência cardíaca baixa) ou taquicardia (frequência cardíaca alta) sintomáticas, podem precisar de vasopressores, líquidos ou medicamentos para reverter o quadro, todos disponíveis no carrinho.

Arritmias graves

Em casos de arritmias ventriculares ou supraventriculares que ameaçam a vida, o carrinho de emergência permite acesso rápido a fármacos antiarrítmicos e ao cardioversor.

Insuficiência respiratória aguda

Situações em que o paciente apresenta obstrução de vias aéreas ou falência respiratória requerem o uso de materiais de intubação e ventilação disponíveis no carrinho.

Choque anafilático

O carrinho contém adrenalina, anti-histamínicos e corticoides que devem ser administrados imediatamente para evitar o agravamento do quadro.

Crises convulsivas refratárias

Além dos medicamentos de controle, o carrinho garante acesso rápido a equipamentos para suporte ventilatório, caso o paciente evolua para rebaixamento de consciência ou instabilidade clínica.

Situações intraoperatórias

No centro cirúrgico, o carrinho é indispensável para manejar complicações anestésicas, arritmias, reações alérgicas graves e instabilidades hemodinâmicas.

Cuidados de enfermagem relacionados ao carrinho de emergência

O papel da enfermagem é essencial para manter o carrinho sempre pronto para uso. Alguns cuidados fundamentais incluem:

  • Verificação diária do carrinho, checando validade e quantidade dos medicamentos.
  • Testar equipamentos como o desfibrilador e aspirador.
  • Organização padronizada, para que todos da equipe saibam onde encontrar cada item.
  • Reposição imediata de materiais e fármacos após cada uso.
  • Registro em planilha ou checklist das checagens realizadas.
  • Treinamento contínuo da equipe, para que todos saibam manusear os equipamentos em situações reais.

Esses cuidados garantem que, no momento da emergência, não haja perda de tempo procurando materiais ou lidando com falhas de funcionamento.

O carrinho de emergência é um recurso vital na prática hospitalar. Seu uso é indicado em situações de risco iminente de morte, como parada cardiorrespiratória, arritmias graves, insuficiência respiratória, choque anafilático, convulsões refratárias e complicações intraoperatórias.

Para o enfermeiro e sua equipe, não basta apenas conhecer o carrinho: é necessário mantê-lo em condições ideais, treinado e organizado. Afinal, na emergência, a diferença entre a vida e a morte pode estar a apenas alguns segundos.

Referências:

  1. BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN nº 376/2011 – Normatiza a utilização do carrinho de emergência. Brasília, 2011. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-3762011_7410.html
  2. AMERICAN HEART ASSOCIATION. Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation, v. 142, n. 16, 2020. Disponível em: https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/CIR.0000000000000918
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de suporte avançado de vida em cardiologia (SAVC). Brasília: MS, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br.
  4. AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA). ACLS Suporte Avançado de Vida em Cardiologia. 2020. Disponível em: https://cpr.heart.org/en/resources/aha-guidelines/aha-acls-guidelines-cpr-and-ecc
  5. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Segurança do Paciente em Serviços de Saúde. Brasília, DF: ANVISA, 2013. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/manuais-e-guias/manual_seguranca_paciente_anvisa.pdf
  6. POTTER, P. A.; PERRY, A. G.; STOCKERT, P.; HALL, A. Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. (Consultar os capítulos sobre emergência e reanimação cardiopulmonar).

Classificação da Hipotermia

hipotermia é definida como a queda da temperatura corporal central abaixo de 35°C, podendo levar a complicações graves, incluindo arritmias cardíacas, falência de órgãos e morte. A classificação da hipotermia em leve, moderada e grave é essencial para determinar a abordagem terapêutica adequada.

Este artigo detalha cada estágio, seus sinais clínicos e os cuidados específicos de enfermagem necessários para um manejo eficaz.

Hipotermia Leve (32°C – 35°C)

Sinais e Sintomas

  • Tremores intensos (mecanismo de geração de calor);
  • Pele fria e pálida;
  • Taquicardia e taquipneia compensatórias;
  • Confusão leve e dificuldade de coordenação;
  • Pressão arterial normal ou levemente elevada.

Cuidados de Enfermagem

  • Aquecimento passivo:
    • Remover roupas molhadas e cobrir com cobertores secos.
    • Ambiente aquecido (25°C – 28°C).
  • Monitorar temperatura central (termômetro esofágico ou retal).
  • Oferecer líquidos quentes (se o paciente estiver consciente).
  • Evitar movimentos bruscos (risco de arritmia).

Hipotermia Moderada (28°C – 32°C)

Sinais e Sintomas

  • Tremores cessam (depleção de energia muscular);
  • Bradicardia e bradipneia;
  • Diminuição do nível de consciência (letargia, estupor);
  • Dilatação pupilar (midríase);
  • Hipotensão e diminuição do débito urinário;
  • Risco de fibrilação ventricular.

Cuidados de Enfermagem

  • Aquecimento ativo externo:
    • Manta térmica, compressas aquecidas (evitar queimaduras).
    • Oxigênio umidificado e aquecido (42°C – 46°C).
  • Monitorização cardíaca contínua (risco de arritmias).
  • Acesso venoso para fluidos aquecidos (soro fisiológico a 40°C – 42°C).
  • Preparo para intubação orotraqueal (depressão respiratória).

Hipotermia Grave (<28°C)

Sinais e Sintomas

  • Inconsciência (coma);
  • Arritmias graves (Fibrilação Ventricular, Assistolia);
  • Ausência de reflexos;
  • Pressão arterial indetectável;
  • Edema pulmonar e falência renal aguda;
  • Rigor mortis paradoxal (pode ser confundido com óbito).

Cuidados de Enfermagem

  • Aquecimento ativo interno:
    • Infusão intravenosa de soluções aquecidas.
    • Lavagem peritoneal ou pleural com fluido aquecido.
    • ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea) em casos extremos.
  • Suporte avançado de vida (ACLS) com ênfase em:
    • Desfibrilação pode ser ineficaz abaixo de 30°C.
    • CPR prolongado até aquecimento (>30°C).
  • Evitar manipulação excessiva (risco de fibrilação ventricular).

Cuidados Gerais de Enfermagem

Prevenção de Complicações

  • Monitorização contínua: ECG, temperatura central, diurese.
  • Evitar rewarming shock (vasodilatação abrupta → hipotensão).
  • Avaliar lesões associadas (congelamento, trauma).

Educação ao Paciente e Familiares

  • Grupos de risco (idosos, alcoólatras, sem-teto).
  • Roupas adequadas para ambientes frios.
  • Reconhecer sinais precoces de hipotermia.

A classificação da hipotermia em leve, moderada e grave direciona a intervenção terapêutica, desde medidas simples de aquecimento até suporte avançado de vida. A enfermagem desempenha papel crucial no monitoramento, reaquecimento seguro e prevenção de complicações, melhorando o prognóstico dos pacientes.

Referências:

  1. ZAFREN, K. et al. Wilderness Medical Society Practice Guidelines for the Out-of-Hospital Evaluation and Treatment of Accidental Hypothermia. Wilderness & Environmental Medicine, v. 30, n. 4, p. S47-S69, 2019. Disponível em: https://www.wemjournal.org/article/S1080-6032(19)30170-6/fulltext.
  2. RASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de Manejo da Hipotermia Acidental. Brasília, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude.
  3. BROWN, D. J. A. et al. Accidental Hypothermia. New England Journal of Medicine, v. 367, n. 20, p. 1930-1938, 2012. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1114208.
  4. AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA). Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation, v. 142, n. 16, 2020. Disponível em: https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIR.0000000000000916

O Papel Essencial da Equipe de Enfermagem na Parada Cardiorrespiratória

Na rotina de um hospital, especialmente em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), há momentos em que cada segundo conta. A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é, sem dúvida, um desses momentos. Ela acontece quando o coração e a respiração de uma pessoa param de repente, e sem uma intervenção imediata, o resultado pode ser catastrófico para o cérebro e outros órgãos vitais.

Para nós, estudantes e profissionais de enfermagem, é fundamental entender que, em um cenário de PCR, o o profissional de enfermagem (enfermeiro, técnico ou auxiliar) não é apenas mais um membro da equipe. Ele é, muitas vezes, o primeiro a chegar, o primeiro a identificar o problema e o líder da resposta inicial.

Este é um papel que exige agilidade, conhecimento técnico apurado e, acima de tudo, uma liderança clara e assertiva. Vamos aprofundar um pouco mais sobre a atuação da equipe de enfermagem diante da PCR e entender como a sua liderança pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

A Resposta Imediata: O Reconhecimento e os Primeiros Passos

O enfermeiro e o técnico de enfermagem são os profissionais que estão ao lado do paciente 24 horas por dia, 7 dias por semana na UTI. Por isso, a sua capacidade de identificar os sinais de uma PCR é o ponto de partida para a sobrevivência do paciente. Ele percebe a falta de resposta, a ausência de pulso e a parada da respiração. Neste instante, a ação deve ser rápida e decisiva.

O profissional inicia imediatamente o Suporte Básico de Vida (SBV), que inclui as compressões torácicas de alta qualidade, e aciona a equipe de emergência. A partir desse momento, ele se torna o maestro de uma orquestra de socorro.

A Equipe da PCR: Cada Membro em Seu Papel

Em uma PCR, o trabalho em equipe é tudo. Uma equipe bem treinada e organizada atua de forma coordenada para garantir que as intervenções sejam feitas de maneira eficaz e sem atrasos. A organização ideal de uma equipe de resposta à PCR conta com o enfermeiro como um líder central e os seguintes papéis:

  • Responsável pela Ventilação: Um profissional que garante que as vias aéreas do paciente estejam desobstruídas e realiza a ventilação com bolsa-máscara (ambu).
  • Responsáveis pela Compressão Torácica: São necessários dois profissionais para revezar as compressões torácicas, garantindo a qualidade e a profundidade adequadas sem cansaço.
  • Líder Anotador: Um membro da equipe que registra os medicamentos administrados e o tempo de cada intervenção. Esta função é crucial para o acompanhamento e a tomada de decisões.
  • Responsável pelos Medicamentos: O profissional que prepara e administra os medicamentos conforme a indicação do médico ou o protocolo.
  • Profissional ao Lado do Monitor e Desfibrilador: Geralmente um médico, este membro da equipe avalia o ritmo cardíaco do paciente no monitor e, se indicado, realiza a desfibrilação com o Desfibrilador Externo Automático (DEA) ou o manual.

O Papel de Liderança do Enfermeiro: Organização e Ação

Em meio ao caos de uma PCR, o enfermeiro atua como um coordenador. Ele é quem direciona as ações da equipe, garantindo que cada um esteja em sua posição e cumprindo sua função. Sua autonomia e experiência são fundamentais.

  1. Coordenação da Equipe: O enfermeiro-líder distribui as tarefas, assegura que as compressões sejam eficientes e que a ventilação esteja adequada.
  2. Instalação do Desfibrilador: Ele é responsável por instalar o DEA no paciente e, se o ritmo for chocável, ele mesmo pode realizar a desfibrilação.
  3. Administração de Medicações: O enfermeiro supervisiona a manipulação e a administração dos medicamentos de emergência, como a adrenalina e a amiodarona, que são cruciais para o sucesso da reanimação.
  4. Aprimoramento Contínuo: Um bom enfermeiro-líder sabe que o aprendizado é constante. Ele busca o aprimoramento de sua equipe, utilizando tecnologias e protocolos atualizados (como os da American Heart Association – AHA) para garantir que a assistência seja sempre a mais eficaz possível.

O enfermeiro na UTI, com seu perfil de liderança, não apenas executa tarefas, mas otimiza recursos humanos e tecnológicos, tornando a assistência ágil, hábil e com maiores chances de sucesso. Acreditamos que a autonomia, a organização e o treinamento contínuo da equipe, liderados por um enfermeiro preparado, são a chave para um maior êxito na recuperação de um paciente em PCR.

Referências:

  1. AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA). ACLS Suporte Avançado de Vida em Cardiologia. 2020. Disponível em: https://cpr.heart.org/en/resources/aha-guidelines/aha-acls-guidelines-cpr-and-ecc.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Protocolo de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos. Brasília, DF: ANVISA, 2013. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/manuais-e-guias/manual_seguranca_paciente_anvisa.pdf.
  3. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2016. (Referência para a metodologia de análise de conteúdo).

Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM)

A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM) é uma das infecções hospitalares mais comuns nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e representa um grande desafio para os profissionais de saúde.

Quando falamos de pacientes críticos em ventilação mecânica, o risco de desenvolver essa complicação é significativo, e por isso é tão importante que o time de enfermagem compreenda bem os fatores envolvidos, formas de prevenção e os cuidados diretos com esses pacientes.

Nesta publicação, vamos explorar a PAVM de maneira didática, compreensível e com profundidade suficiente para que estudantes e profissionais da enfermagem possam aplicar esse conhecimento no cuidado diário com segurança e qualidade.

O que é PAVM?

A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica é definida como uma infecção pulmonar que ocorre após 48 horas da intubação orotraqueal e início da ventilação mecânica invasiva. É uma forma de pneumonia hospitalar, mas com características específicas, pois está diretamente relacionada ao uso do tubo orotraqueal e à presença do ventilador mecânico.

Quando o paciente é intubado, a barreira natural do trato respiratório é rompida, permitindo que microrganismos entrem com mais facilidade nos pulmões. Além disso, a própria manipulação do circuito do ventilador e a aspiração de vias aéreas podem contribuir para a colonização de bactérias nos pulmões.

Como a PAVM se desenvolve?

A PAVM geralmente é causada por bactérias gram-negativas, como Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii e Klebsiella pneumoniae, além de gram-positivos como Staphylococcus aureus (inclusive a forma resistente à meticilina – MRSA).

Essas bactérias podem alcançar os pulmões por várias vias:

  • Aspiração de secreções da orofaringe contaminada
  • Formação de biofilme no tubo endotraqueal
  • Contaminação cruzada pelas mãos dos profissionais de saúde
  • Falhas na higienização dos circuitos respiratórios

O risco aumenta conforme o tempo de ventilação se prolonga, sendo um fator de mortalidade significativo entre pacientes críticos.

Sinais de Alerta: Como Desconfiar da PAVM?

Reconhecer a PAVM precocemente é vital. Fique atento a esses sinais no paciente intubado:

  • Febre: É um dos primeiros e mais comuns sinais de infecção.
  • Secreção Traqueal Purulenta: A secreção que vem do tubo fica mais amarelada, esverdeada, espessa e em maior quantidade.
  • Alteração na Ausculta Pulmonar: Presença de roncos, sibilos ou crepitações novas que não estavam lá antes.
  • Piora da Troca Gasosa: O paciente começa a precisar de mais oxigênio no ventilador (aumenta a FiO2) ou o ventilador precisa fazer mais esforço para ventilar (aumenta a pressão de pico).
  • Leucocitose: Aumento do número de glóbulos brancos no hemograma, indicando infecção.
  • Radiografia de Tórax: O raio-X do pulmão pode mostrar infiltrados novos ou progressão de infiltrados anteriores.

Tratamento

O tratamento da PAVM envolve o uso de antibióticos de amplo espectro, muitas vezes ajustados de acordo com a cultura e o antibiograma. O tempo de uso costuma variar entre 7 a 14 dias, dependendo do microrganismo causador e da resposta clínica do paciente.

Mas mais importante do que tratar é prevenir, e é aí que a enfermagem exerce um papel fundamental.

Cuidados de enfermagem na prevenção da PAVM

A prevenção da PAVM exige uma abordagem multiprofissional, mas a enfermagem está na linha de frente dessa missão. Vários protocolos e bundles (conjuntos de medidas baseadas em evidência) são aplicados em UTIs para reduzir a incidência da infecção. Entre os principais cuidados, destacam-se:

Elevação da Cabeceira do Leito: Manter a cabeceira elevada entre 30 a 45 graus (semi-Fowler). Isso reduz o risco de microaspiração de conteúdo gástrico ou secreções da orofaringe para os pulmões.

  • Cuidado de Enfermagem: Avaliar e registrar a elevação da cabeceira regularmente, lembrando de ajustar ao realizar alguns procedimentos (como o banho no le leito ou mudança de decúbito).

Higiene Oral Rigorosa: A boca do paciente intubado é um reservatório de bactérias. A higiene oral deve ser feita com antissépticos (como clorexidina 0,12%) a cada 6 ou 8 horas.

  • Cuidado de Enfermagem: Utilizar escovas macias, gazes e soluções antissépticas. Aspirar as secreções da boca antes e durante a higiene para evitar que desçam para os pulmões. Não esquecer da língua e das gengivas.

Aspiração de Secreções Subglóticas: Alguns tubos orotraqueais especiais possuem um lúmen acima do cuff que permite aspirar as secreções que se acumulam logo acima do balonete.

  • Cuidado de Enfermagem: Verificar se o TOT é um tubo com essa via de aspiração e realizar a aspiração conforme rotina da unidade ou necessidade.

Monitorização da Pressão do Cuff (Balonete): O cuff do TOT deve ser inflado com a pressão correta para evitar vazamentos e microaspirações. Uma pressão muito baixa permite a passagem de secreções, e uma pressão muito alta pode causar lesões na traqueia.

  • Cuidado de Enfermagem: Verificar a pressão do cuff regularmente (a cada 4 a 8 horas, ou conforme protocolo da unidade) com um cuffômetro, mantendo-a entre 20-30 cmH2O.

Avaliação Diária da Necessidade de Sedação e Extubação (Desmame): Quanto menos sedado e menos tempo no ventilador, menor o risco!

  • Cuidado de Enfermagem: Participar ativamente da discussão da equipe sobre a redução da sedação e os critérios para o desmame. Observar o nível de consciência do paciente e sua capacidade de tolerar a diminuição do suporte ventilatório. Realizar testes de respiração espontânea conforme protocolo e com o médico.

Mobilização Precoce e Fisioterapia Respiratória: Manter o paciente o mais ativo possível (mesmo no leito) e realizar fisioterapia respiratória para ajudar na mobilização de secreções e na expansão pulmonar.

  • Cuidado de Enfermagem: Auxiliar a fisioterapia, mudar o paciente de posição, incentivar exercícios passivos e ativos.

Higiene das Mãos: A regra de ouro da prevenção de infecções. Lavar as mãos com água e sabão ou álcool em gel antes e depois de qualquer contato com o paciente, o ventilador ou os equipamentos.

Cuidados com o Circuito Ventilatório: Trocar o circuito (tubos que conectam o paciente ao ventilador) apenas quando sujo ou danificado, e não rotineiramente. Isso evita a manipulação desnecessária e a contaminação.

Papel da enfermagem no manejo do paciente com PAVM

Além da prevenção, o profissional de enfermagem também tem papel importante no cuidado do paciente que já desenvolveu a PAVM. Monitorar os sinais vitais, observar alterações na secreção respiratória, auxiliar na administração correta dos antibióticos, garantir a posição adequada no leito e colaborar para o desmame da ventilação são tarefas fundamentais para o sucesso do tratamento.

A comunicação com a equipe médica e fisioterapêutica também é essencial, pois as decisões devem ser sempre compartilhadas com base na evolução clínica do paciente.

A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica é uma complicação grave, mas amplamente evitável com medidas simples e eficazes. Para os profissionais e estudantes de enfermagem, entender profundamente o processo de instalação da PAVM, os riscos envolvidos e as estratégias de cuidado pode fazer toda a diferença na vida dos pacientes internados em UTIs.

Estar atento aos protocolos, manter-se atualizado e aplicar o conhecimento técnico com sensibilidade são atitudes que elevam a qualidade da assistência e contribuem diretamente para a segurança do paciente.

Referências:

  1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde. Brasília: ANVISA, 2017.
    Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/medidas-de-prevencao-de-infeccao-relacionada-a-assistencia-a-saude/view
  2. RUN-BUISSON, C. Pneumonia associada à ventilação mecânica: uma atualização sobre prevenção e tratamento. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 29, n. 4, p. 399–407, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbti/a/3hKbZYgSPwTqKdWrTjPpNcB/
  3. KLEVENS, R. M. et al. Estimativa da incidência de infecções relacionadas à assistência à saúde nos Estados Unidos. Infection Control and Hospital Epidemiology, v. 28, n. 6, p. 409–414, 2007.Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/infection-control-and-hospital-epidemiology/article/abs/estimating-healthcareassociated-infections/
  4. INSTITUTO BRASILEIRO PARA SEGURANÇA DO PACIENTE. Bundle para prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). 2022.
    Disponível em: https://segurancadopaciente.com.br/bundle-prevencao-pav/
  5. GARNICA, D. L.; LORENZI-FILHO, G.; AMANCIO, M. D. L. Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica: Fisiopatologia, Diagnóstico e Prevenção. Jornal Brasileiro de Pneumologia, São Paulo, v. 37, n. 6, p. 778-789, nov./dez. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbp/a/yK8gC6mF4hX3jS2pQ7zW/?lang=pt.

Emergência e Urgência Hipertensiva: Entenda as Diferenças

A hipertensão arterial, ou pressão alta, é uma condição crônica muito comum. Muitos convivem com ela de forma controlada, com medicação e hábitos saudáveis. Mas, e quando a pressão sobe de repente para níveis altíssimos?

Aí, a situação muda de figura e podemos estar diante de um quadro que exige nossa atenção imediata: as crises hipertensivas.

Dentro das crises, existem duas condições que, embora pareçam semelhantes, têm implicações muito diferentes e exigem abordagens distintas: a emergência hipertensiva e a urgência hipertensiva.

Para nós, profissionais de enfermagem e estudantes de enfermagem, compreender essas diferenças é crucial para uma avaliação rápida e uma conduta que pode salvar a vida ou prevenir danos graves a órgãos.

Vamos desvendar cada uma delas?

O que é uma Crise Hipertensiva?

Crise hipertensiva é o termo utilizado para descrever uma elevação acentuada da pressão arterial, geralmente com valores acima de 180/120 mmHg. Essa condição pode se apresentar com ou sem sinais de lesão aguda em órgãos-alvo como o coração, cérebro, rins ou vasos sanguíneos.

A crise hipertensiva se divide em dois tipos principais:

  • Urgência hipertensiva: quando há elevação da pressão arterial sem sinais de dano imediato a órgãos-alvo.
  • Emergência hipertensiva: quando a elevação pressórica vem acompanhada de comprometimento agudo e progressivo de órgãos vitais.

Emergência Hipertensiva: O Perigo Iminente (Dano em Órgão-Alvo)

Imagine a pressão subindo tanto que começa a “quebrar” ou comprometer o funcionamento de órgãos vitais. Isso é uma emergência hipertensiva. Nela, a pressão arterial elevadíssima está causando ou ameaçando causar danos agudos e progressivos a órgãos como cérebro, coração, rins ou olhos.

Características Principais:

    • Valores de PA: Geralmente PA Sistólica ge 180 mmHg e/ou PA Diastólica ge 120 mmHg.
    • Presença de Lesão em Órgão-Alvo: Este é o critério DEFINIDOR. Não é apenas a pressão alta, mas o efeito que ela está causando no corpo.
    • Sintomas Graves: Os sintomas refletem o comprometimento dos órgãos.
    • Tratamento: Redução imediata e controlada da PA (em minutos a 1 hora), geralmente com medicamentos administrados por via intravenosa (IV) em ambiente de UTI ou emergência. A queda deve ser gradual para evitar hipoperfusão (falta de sangue) em órgãos, mas rápida o suficiente para cessar o dano.

Exemplos de Lesões de Órgão-Alvo e Sintomas:

    • Cérebro:
      • Encefalopatia Hipertensiva: Dor de cabeça intensa, confusão mental, convulsões, coma.
      • AVC (Acidente Vascular Cerebral): Fraqueza ou paralisia de um lado do corpo, dificuldade para falar, desvio de rima labial, alterações visuais súbitas.
      • Hemorragia Intracerebral: Sangramento no cérebro.
    • Coração:
      • Infarto Agudo do Miocárdio (IAM): Dor no peito (angina), que pode irradiar para braço, pescoço.
      • Edema Agudo de Pulmão (EAP): Falta de ar intensa, tosse com expectoração rosada, respiração ofegante.
      • Dissecção Aguda da Aorta: Dor torácica súbita e excruciante, que pode se irradiar para as costas.
    • Rins:
      • Insuficiência Renal Aguda: Diminuição acentuada da produção de urina, inchaço.
    • Olhos:
      • Retinopatia Hipertensiva: Visão turva, perda súbita da visão.
    • Outras: Eclâmpsia (em gestantes), crise adrenérgica.

Cuidados de Enfermagem na Emergência Hipertensiva:

    • Prioridade Absoluta: O paciente com emergência hipertensiva é uma prioridade CÓDIGO VERMELHO.
    • Monitorização Contínua: Monitorar a PA de forma invasiva (cateter arterial) ou não invasiva (aferição frequente), frequência cardíaca, saturação de oxigênio e nível de consciência.
    • Acesso Venoso: Garantir pelo menos dois acessos venosos calibrosos.
    • Administração de Medicação IV: Preparar e infundir medicamentos como Nitroprussiato de Sódio, Labetalol, Nicardipino, conforme prescrição médica, monitorando a resposta do paciente. Esses medicamentos exigem diluição e bomba de infusão.
    • Avaliação Neurológica: Realizar escalas neurológicas (Glasgow, NIHSS, se aplicável) e observar alterações.
    • Sinais e Sintomas: Estar atento aos sintomas relatados pelo paciente e a qualquer mudança no seu quadro.
    • Conforto e Segurança: Manter o paciente em repouso no leito, com cabeceira elevada se houver dispneia, e oferecer suporte emocional.
    • Registro Detalhado: Documentar os horários das aferições de PA, as medicações administradas, as doses e a resposta do paciente.

Urgência Hipertensiva: O Alerta Amarelo (Sem Dano em Órgão-Alvo)

Na urgência hipertensiva, a pressão arterial também está muito alta (geralmente nos mesmos níveis ou um pouco menores que na emergência: PA Sistólica ge 180 mmHg e/ou PA Diastólica ge 120 mmHg), mas a principal diferença é que NÃO há evidência de lesão aguda ou progressiva em órgãos-alvo. Os sintomas, se presentes, são mais inespecíficos.

Características Principais:

    • Valores de PA: Geralmente PA Sistólica ge 180 mmHg e/ou PA Diastólica ge 120 mmHg.
    • Ausência de Lesão Aguda em Órgão-Alvo: Este é o critério DEFINIDOR.
    • Sintomas Inespecíficos: Dor de cabeça leve a moderada, tontura, zumbido no ouvido, sangramento nasal (epistaxe), ansiedade.
    • Tratamento: Redução gradual da PA (em horas a dias), geralmente com medicamentos por via oral (VO). O objetivo é reduzir a pressão em 24-48 horas, sem pressa, para evitar hipoperfusão.
    • Manejo: Pode ser feito em ambulatório ou pronto-socorro, sem necessidade de UTI inicialmente.

Cuidados de Enfermagem na Urgência Hipertensiva:

    • Aferição Precisa da PA: Realizar várias aferições de PA, em ambos os braços, para confirmar os valores.
    • Avaliação de Sintomas: Perguntar sobre dor de cabeça, tontura, alterações visuais, e principalmente, investigar ativamente a presença de sintomas de lesão em órgão-alvo (dispneia, dor no peito, fraqueza em membros, confusão). A ausência desses é o que diferencia da emergência.
    • Acalmar o Paciente: Muitos pacientes ficam ansiosos com a pressão alta, o que pode piorar o quadro. Um ambiente calmo e acolhedor é importante.
    • Administração de Medicação VO: Preparar e administrar medicamentos anti-hipertensivos orais (ex: Captopril, Nifedipino de liberação lenta, Clonidina) conforme prescrição médica.
    • Reavaliação Periódica: Reafirmar a PA e reavaliar os sintomas a cada 30-60 minutos após a administração do medicamento oral, até que a pressão esteja em níveis mais seguros.
    • Orientação ao Paciente: Explicar sobre a importância da adesão ao tratamento, da dieta com baixo teor de sódio, da prática de exercícios e do acompanhamento médico regular.
    • Não Usar Nifedipino Cápsula Sublingual: Essa prática não é recomendada por causar queda brusca e descontrolada da PA, com risco de AVC e IAM.

Como é feito o tratamento?

O tratamento varia de acordo com o tipo de crise hipertensiva.

Na urgência hipertensiva, são utilizados antihipertensivos orais, como captopril, clonidina ou atenolol, com monitoramento em observação por algumas horas.

Já nas emergências hipertensivas, o paciente deve receber antihipertensivos intravenosos de ação rápida, como nitroprussiato de sódio, labetalol ou nitroglicerina, com redução da pressão em ambiente controlado e monitorizado, geralmente na UTI.

O Que Nos Leva a Confundir e Como Evitar?

A confusão entre emergência e urgência é comum porque ambos os quadros apresentam PA muito alta. O segredo para diferenciar é sempre procurar por SINAIS E SINTOMAS DE LESÃO EM ÓRGÃO-ALVO. Se a pressão está alta, mas o paciente está assintomático ou com sintomas leves e inespecíficos, é urgência. Se a pressão está alta e o paciente está com dor no peito, falta de ar, alteração neurológica, é emergência.

Nossa avaliação precisa e a comunicação clara com o médico são a chave para o sucesso no manejo dessas situações. Um erro de classificação pode levar a um tratamento inadequado, com consequências graves para o paciente.

Cuidados de Enfermagem

A enfermagem desempenha um papel essencial no reconhecimento, intervenção e monitoramento de pacientes em crise hipertensiva. Entre os principais cuidados, destacam-se:

Avaliação inicial

  • Verificar os sinais vitais com frequência, especialmente a pressão arterial em intervalos curtos.
  • Avaliar a presença de sintomas neurológicos, dor torácica, dispneia ou alterações na consciência.
  • Observar sinais de edema periférico, palidez, sudorese ou alterações visuais.

Administração medicamentosa

  • Administrar os medicamentos conforme prescrição médica, respeitando a via (oral ou intravenosa) e o tempo correto de infusão.
  • Monitorar os efeitos adversos dos anti-hipertensivos, como hipotensão súbita ou bradicardia.

Apoio emocional

  • Oferecer acolhimento ao paciente, explicando de forma simples o que está acontecendo.
  • Controlar o ambiente para reduzir estímulos estressores, como barulho ou agitação.

Registro e comunicação

  • Registrar todas as alterações no prontuário.
  • Comunicar imediatamente à equipe médica qualquer mudança no estado clínico do paciente.

Entender a diferença entre urgência e emergência hipertensiva é fundamental para que a equipe de enfermagem possa agir com rapidez e precisão. Em ambos os casos, o papel do enfermeiro e do técnico de enfermagem é decisivo na estabilização do paciente e na prevenção de complicações graves.

O conhecimento teórico aliado à prática clínica permite oferecer um cuidado mais seguro, humanizado e eficiente, contribuindo diretamente para a redução da mortalidade por causas cardiovasculares.

Referências:

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 116, n. 3, p. 516-658, mar. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abc/a/S9Xg4JjV9Qz2Z5T8D9kC7qH/?lang=pt
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Hipertensão Arterial Sistêmica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. 
  3. SMELTZER, S. C.; BARE, B. G.; HINKLE, J. L.; CHEEVER, K. H. Brunner & Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de Atendimento das Emergências Hipertensivas. 2022.
  5. SILVA, M. T. et al. Avaliação das Emergências Hipertensivas em Serviços de Urgência. Revista Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 56-63, 2021. Disponível em: https://www.rbcm.org.br
  6. PEARCE, C. J. et al. Crises Hipertensivas: Diagnóstico e Manejo. The New England Journal of Medicine. 2019. Disponível em: https://www.nejm.org